Por Ludmilla Paniago Nogueira e Maria Zilda da Silva Barbosa

Este artigo tem como questão norteadora o diagnóstico psicopedagógico, fundamentos e o processo de  aplicação, bem como um repensar sobre o que é aprendizagem, e o que leva o indivíduo a fracassar no processo de aprender. Para que se realize um bom diagnóstico é necessário que o psicopedagogo tenha um olhar abrangente sobre as causas das dificuldades de aprendizagem. Indo além dos problemas biológicos, rompendo assim com a visão simplista dos problemas de aprendizagem, procurando compreender mais profundamente como ocorre este processo de aprender numa abordagem integrada, na qual não se toma apenas um aspecto da pessoa, mas sua integralidade. Analisar as várias facetas que podem compor tal problema, verificar como o indivíduo aprende e o que está dificultando o desenvolvimento de suas potencialidades, bem como entender como o processo de aprendizagem acontece, garante ao psicopedagogo uma atuação realmente eficaz.  Tudo isso é possível através   do uso dos instrumentos  adequados a cada indivíduo.  Dessa forma, através de pesquisa bibliográfica é possível conhecer o que  teóricos relatam sobre essas questões, pois as contribuições dos mesmos ajudarão na prática daqueles que se propõe a investigar as causas que levam o sujeito ao "não aprender". 

A Psicopedagogia, área responsável pelos estudos da aprendizagem e de todos os transtornos que podem aparecer neste processo, herdou um método clínico que lhe permite intervir junto a um sujeito ou um grupo de sujeitos que aprende, em situação terapêutica ou educacional, considerando o dito e o não dito, a ação do sujeito sobre o objeto de aprendizagem, que não é paciente e sim agente. 

O olhar clínico em psicopedagogia é um olhar que tem a intenção de perceber um sujeito que aprende, de forma inteira, em relação com os outros sujeitos, com a cultura, com a história, com os objetos de aprendizagem e com as normas estabelecidas no contexto em que vive. 

Cabe apresentar a consideração acerca do psicopedagogo citada por Beuclair.

 O psicopedagogo é um pesquisador permanente, um sujeito que, a cada movimento, ação e conduta enquanto profissional busca alternativas para os dilemas, tensões, limites que lhe surgem, vislumbrando sempre novas possibilidades.  E tudo é processo, movimento (BEUCLAIR, 2004, p. 12).

A preocupação com os problemas da aprendizagem teve origem na Europa, ainda no século XVIII.  Médicos, psiquiatras, e filósofos do Iluminismo deram ênfase às causas orgânicas nos comprometimentos na área escolar, buscando identificar no físico as determinantes das dificuldades do educando. 

A psicopedagogia nasceu em função da necessidade de atender crianças com dificuldades de aprendizagem cujas causas eram anteriormente estudadas pela medicina e psicologia. O 1º Centro Psicopedagógico foi criado em 1946, em Paris, com o objetivo de desenvolver um trabalho cooperativo médico-pedagógico para crianças com problemas escolares, ou de comportamento. Estas crianças eram definidas especificamente como aquelas que apresentavam doenças crônicas tais como: diabetes, tuberculose, cegueira, surdez ou problemas motores, e cujo atendimento tinha em vista a melhora do seu estado geral de saúde. 

BOSSA (2000, p. 48) destaca que a crença de que os problemas de aprendizagem causados por fatores orgânicos perduraram por muitos anos. Nas décadas de 40 a 60, na França, a ação do pedagogo era vinculada à do médico. O trabalho cooperativo entre médico e pedagogo era voltado às crianças com problemas escolares ou de comportamento. 

A França leva à Argentina seus aportes teóricos sobre o tema da problemática escolar. A Argentina exporta para o Brasil não só uma literatura, como também profissionais da psicopedagogia que se puseram a estudar em cursos de pós-graduação, permanecendo no Brasil ministrando cursos e ocupando espaços de trabalho. Os argentinos, junto com os profissionais brasileiros, começaram então a firmar a psicopedagogia no Brasil. 

De acordo com Bossa (2000), nas décadas de 50 e 60 os profissionais da área de psicopedagogia organizaram-se no país e efetuou a divulgação da abordagem psiconeurológica do desenvolvimento humano. É também neste contexto que surge o Serviço de Orientação Psicopedagógica da Escola Guatemala, na Guanabara, com o objetivo de melhorar a relação professor-aluno. 

Nas décadas de 70 e 80 ocorreu o segundo momento da psicopedagogia no Brasil, cujo centro das preocupações era o processo de aprendizagem humana, seus padrões evolutivos normais, patológicos e a influência do meio. A ênfase pedagógica era variada e dependente das articulações feitas pelos psicopedagogos com as demais ciências. É caracterizado pelo aspecto interdisciplinar da psicopedagogia. 

De acordo com a ABPp[1] (Associação Brasileira de Psicopedagogia), os estudos referentes à Psicopedagogia no Brasil datam de uma história de aproximadamente 30 anos, cuja preocupação inicial era a pesquisa acerca da prática educacional. Na década de 70 os primeiros cursos na área de Psicopedagogia foram oferecidos. No entanto, foi a partir dos anos 90, que estes cursos proliferaram pelo Brasil. A maior demanda de cursos de especialização e de trabalhos realizados encontra-se nas Regiões Sul e Sudeste. 

De acordo com o site da ABPp, essa associação teve seu início em 1980 através de um grupo de estudos, formado por profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem. Este grupo tornou-se a APp (Associação Paulista de Psicopedagogia), com o intuito de conquistar o âmbito nacional. 

Atualmente, a ABPp, busca o reconhecimento da profissão. Conforme divulgado no site da mesma, em 1997, o Deputado Federal Barbosa Neto, atendendo ao pedido de algumas psicopedagogas, criou o Projeto de Lei nº. 3124/97 que dispõe sobre a regulamentação da profissão de Psicopedagogo, cria os Conselhos Regionais de Psicopedagogia e determina outras providências.

O referido projeto foi encaminhado à Comissão de Trabalho no dia 15/5/97 e aprovado pela mesma Comissão no dia 3/9/97. Após esta aprovação este Projeto de Lei foi encaminhado à Comissão de Educação, Cultura e Desporto onde permaneceu por quatro anos e também foi aprovado, com algumas emendas, no dia 12/9/01.

Em 20/9/01, o projeto de lei nº. 108/01 foi aprovado no Estado de São Paulo, autorizando o poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público.

Em São Paulo, profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem das crianças brasileiras juntam-se para analisar e discutir o assunto. Em 1979, no Instituto Sedes Sapientiae, foi criado o primeiro curso de Psicopedagogia, em nível de pós-graduação, iniciativa de Maria Alice Vassimon, pedagoga e psicodramaticista, e de Madre Cristina Sodré Dória, diretora daquele Instituto.

 Rubinstein destaca que: 

[...] num primeiro momento a Psicopedagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma. E, ainda, a partir do momento em que o foco de atenção passa ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a mesma, o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico, e o principal objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, considerando todas as variáveis que intervém neste processo (RUBINSTEIN, 1992, p. 103). 

A psicopedagogia procura ter uma ação mais alargada do que a prestação de apoio a dificuldades de aprendizagem. É certo que o diagnóstico de necessidades educativas especiais e seu posterior acompanhamento, constituem uma das tarefas do psicopedagogo, mas o seu papel não se resume a isso. Cabe à psicopedagogia orientar todo e qualquer aluno no seu percurso escolar, incentivando-o a criar o seu método de estudo, a desenvolver a sua capacidade de aprendizagem e de resolução de problemas. 

Desta forma, a psicopedagogia evoluiu e se ampliou para constituir-se numa área aplicada, interdisciplinar e transdisciplinar. Segundo Fernández (1991), ela integra e constrói sua própria síntese a partir das contribuições de várias áreas de conhecimento, tais como a pedagogia, a psicologia, a psicolingüística, a sociologia, a epistemologia, a genética, a neurologia e a psicanálise, buscando não só uma intervenção, mas também a prevenção das dificuldades no processo de aprendizagem do indivíduo. 

A busca por um profissional fora do espaço escolar apresenta alternativas às sugestões e condições existentes na escola. Nesse contexto o atendimento diferenciado pode ir além das questões-problema atreladas à aprendizagem podendo esclarecer as razões que desencadeiam as necessidades individuais, muitas vezes externas ao fator escola, que de algum modo fazem com que as crianças e adolescentes sintam-se excluídos do sistema educacional. 

Segundo Fernández (1991), o papel do profissional (psicopedagogo) caracteriza-se por uma atitude que envolve o escutar e o traduzir, transformando-se em uma testemunha atenta que valida a palavra do paciente; completamente inerente às relações entre ele e sua família. Assim a psicopedagogia pode ser considerada como uma forma de terapia. 

De acordo com Gonçalves (1997), o psicopedagogo é um terapeuta ao trabalhar com a aprendizagem, uma característica humana. Para a autora, todo trabalho "psi" é clínico, seja realizado numa instituição ou entre as quatro paredes de um consultório. O olhar do psicopedagogo, além de lúcido deve ser esclarecedor, sem julgamentos ou restrições. Diante de um olhar assim, a aceitação flui naturalmente. E esta aceitação é a condição primeira, a mais necessária para que se inicie o caminho de cura, aliando a teoria à prática. 

Diante de tudo que foi discorrido, fica a certeza de que analisar a  dificuldade de aprendizagem de um sujeito requer conhecimento de aspectos variados no qual está imerso. Isso, pois, a dificuldade de aprendizagem surge muitas vezes por questões afetivas, emocionais, orgânicos, ambientais, específicos, psicogenos e outros. E quando se observa que a criança está com alguma dificuldade escolar é necessário fazer uma avaliação criteriosa para averiguar e identificar a origem do problema, assim como a melhor maneira de cuidar do mesmo. 

O olhar crítico e imparcial do psicopedagogo e a escolha dos instrumentos adequados constituem-se elementos essenciais para que se realize um bom diagnóstico psicopedagógico. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS 

ABPp. Associação Brasileira de Psicopedagogia. Disponível em www.abpp.com.br. Acesso em 18/12/2009. 

BARBOSA, L. S. Psicopedagogia: um diálogo entre a psicopedagogia e a educação.  4º Ed. Curitiba. Bolsa Nacional do livro, 2007. 

BEUCLAIR, João. PSICOPEDAGOGIA: trabalhando competências, criando habilidades. WAK Editora, 2004. 

BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes Médicas Sul, 2000. 

FERNÁNDEZ, Alícia. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. 2ª reed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1991. 

FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto alegre: Artmed, 1995. 

GONÇALVES, Júlia Eugênia. (1997). Competência do Psicopedagogo. II ENCONTRO MINEIRO DE PSICOPEDAGOGIA. Belo Horizonte - MG, 1997. Disponível em www.aprender-ai.com.br. Acesso em: 18/12/2009.