RESUMO

Perlin afirma que o surdo vivente dentro de uma cultura ouvinte é um caso de identidade reprimida (PERLIN,2010 p.53). O trabalho deste artigo nasce no ano 2013 no interior do estado do Paraná, Brasil e propõe divulgar a importância do atendimento psicológico para sujeitos surdos, bem como ilustrar bons resultados na auto estima e na saúde mental destes indivíduos.  Ajudando a reconhecer-se dentro da sociedade e nas variáveis que controlam seu comportamento, especialmente as variáveis internas, de seu próprio sistema de respostas, como suas necessidades, prioridades; ensiná-las a manipular, ou contra-controlar, essas variáveis e, assim sucessivamente, a cada nova habilidade e novo objetivo.

Levando o indivíduo surdo à efetivamente lidar com variáveis que afetam seu comportamento e identidade, permitindo uma generalização do aprendizado, para outras situações e outras categorias de comportamento, além daquelas abordadas na terapia.

 A satisfação das necessidades e do conhecimento pessoal adquirido é visto como motivador intrínseco e extrínseco, (pré-condição ou conseqüência para determinada mudança).. Os dados apresentados podem servir de informação para a reflexão sobre as práticas ao atendimento psicológico com pessoas surdas.

 

INTRODUÇÃO

Os surdos até meados do século XVI, conforme Dias (2006) eram vistos como ineducáveis; em conseqüência disto, considerados como inúteis à coletividade. Devido a este fato enfrentavam o preconceito, a piedade, o descrédito, e até mesmo a denominação de loucos. De modo geral, quando analisamos as formas de tratamento oferecida às pessoas surdas percebemos que estas se desenvolvem em função da concepção do homem, difundida nos diferentes períodos do percurso da humanidade.

No início do século XVI temos registros das experiências do médico pesquisador italiano Gerolamo Cardano, que viveu no período de (1501-1576), o qual “concluiu que a surdez não prejudicava a aprendizagem, uma vez que os surdos poderiam aprender a escrever e assim expressar seus sentimentos” (JANNUZZI, 2004, p.31).  

Segundo Soares (1999), Cardano afirmou que o surdo possuía habilidade de raciocinar, isto é, que os sons da fala ou idéias do pensamento podem ser representados pela escrita, desta maneira, a surdez não poderia se constituir num obstáculo para o surdo adquirir o conhecimento.

Marques (1998) diz que a forma como o surdo apreende o mundo é pela visão. Apresenta um pensamento que atravessa idéias e comportamentos através de uma linguagem que existe pelas imagens e representações mentais que informam a percepção de acordo com características intelectivas próprias.

            Apesar de muitos pesquisadores afirmarem as potencialidades do surdo, se sabe através de sua trajetória na educação ainda temos que dar grandes passos, a educação oralista por exemplo que privilegiou o ensino da fala através de métodos centrados na reabilitação e pautados na representação social da deficiência deixaram para segundo plano a inserção do surdo no ensino.  Primeiramente o mesmo deveria ser submetido ao projeto de reabilitação e, ao atingir os objetivos de uma fala razoável, era encaminhado a escola. Conseqüentemente, o acesso a escolarização se dava de modo tardio. Ao chegarem à sala de aula, ficavam totalmente descontextualizados da idade dos colegas de sala, não compartilhavam a mesma língua do professor e dos colegas, inviabilizando uma interação satisfatória. Não são poucos os depoimentos de surdos a esse respeito. Imagine os aspectos psicológicos reprimidos. Na atualidade, infelizmente, ate mesmo os países de primeiro mundo  apesar de serem muito organizados, o oralismo predomina, pois acredito que estão pensando errado, a preocupação das grandes potencias  é que os sujeitos surdos aprendam a oralizar e fazer leitura labial. Verificando os dados o oralismo predomina na maior parte dos países desenvolvidos por  ainda privilegiarem a educação oralista em vez de uma educação bilíngüe que já demonstra bons resultados e menos sofrimento psíquico a estes indivíduos.

Em geral os surdos descrevem esse período como muito sofrido devido a barreira lingüística e ao preconceito e discriminação por parte de colegas e professores ouvintes. Como não possuíam acesso a língua oral nem pela oralidade e nem pela escrita, ficavam na sala observando, tentando entender o conteúdo, mas só o conseguindo de modo fragmentado. Possuindo dificuldades em interpretação, abstrações e compreensão dos conteúdos apresentados, apresentando grande falta de conhecimento, insegurança na execução de avaliações, falta de leitura do mundo e de conceitos próprios, acarretando num ‘atrofiamento’ de conhecimento que levava a uma dificuldade de assimilação e compreensão.

Mais tarde, mesmo os surdos que possuíam acesso à língua de sinais tardiamente, ainda assim apresentam poucos recursos simbólicos para fazer perguntas, pois foram ensinados de forma errada o que acaba por gerar um atraso no entendimento das perguntas, dificuldades de reflexão sobre o que está sendo discutido, o vocabulário adquirido é reduzido, há concretude de pensamento, dificuldades para ler e escrever existindo uma visão limitada de mundo.

Todos pensam que o surdo sabe ler e escrever bem, mas isto só ocorre quando o mesmo nasce ouvinte de depois perde audição, infelizmente os que nascem surdos com perda severa e profunda possuem grande dificuldade de compreensão em qualquer texto, sendo necessário ler varias vezes e outra pessoa auxiliar com relação a duvidas para ter o entendimento real do texto do contrario, infelizmente muitos não passam de analfabetos funcionais e por isso muitos testes psicológicos devem ser adaptados o teste de QI por exemplo, mas não que o QI do ouvinte seja superior ao QI do surdo, veja a dificuldade de leitura e escrita pelos surdos decorre não de falta de inteligência, mas da estrutura da Libras e do Português.  Pensar em Libras é diferente de pensar em Português. O sujeito surdo apenas precisa aprender a pensar em Português desde a infância sendo ensinado corretamente. Quando o ouvinte não consegue pensar em Libras, tem a mesma dificuldade de entender Libras e usa o "Português sinalizado".

Então por mais que a Libras foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão das pessoas surdas do Brasil, instituída pela Lei 10.436 de 2002. Ainda falta muito para que a sua difusão, inclusão e adequação nas grades curriculares de diversos cursos de graduação, sobretudo da área da saúde, sejam efetivados, gerando, assim, mudanças na qualidade da atenção à pessoa surda e seus aspectos emocionais.

Sabendo de toda trajetória frustrante do sujeito surdo e a convivência de vinte anos com surdos, existe ainda muito pouco a respeito de estudos psicológicos sobre estes indivíduos. Então divulgo minhas considerações sobre a importância do atendimento psicológico para sujeitos surdos, bem como ilustrar bons resultados na auto estima e na saúde mental destes indivíduos.

Ajudando a reconhecer-se dentro da sociedade e nas variáveis que controlam seu comportamento, especialmente as variáveis internas, de seu próprio sistema de respostas, como suas necessidades, prioridades; ensiná-las a manipular, ou contra-controlar, essas variáveis e, assim sucessivamente, a cada nova habilidade e novo objetivo. Levando o indivíduo surdo à efetivamente lidar com variáveis que afetam seu comportamento e identidade, permitindo uma generalização do aprendizado, para outras situações e outras categorias de comportamento, além daquelas abordadas na terapia promovendo informação e ensinamentos para vida mental saudável do surdo.

OBJETIVO GERAL:

Divulgar a importância do atendimento psicológico ao surdo.

Objetivos Específicos:

  1. Mostrar ao surdo como se dá o acesso ao atendimento psicológico.
  2. Ilustrar a dinâmica do atendimento psicológico as estratégias e recursos utilizados.
  3. Verificar e ilustrar para o sujeito surdo suas potencialidades através do atendimento psicológico.

METODOLOGIA

A presente pesquisa tem caráter exploratório e utilizou a abordagem qualitativa. Para Cervo e Bervian (2002), estudos exploratórios têm como objetivo familiarizar-se com o fenômeno ou obter novas percepções ou idéias acerca deste.  Já a abordagem qualitativa consiste na escolha de métodos e teorias oportunas, no reconhecimento e na análise de diferentes perspectivas, nas reflexões dos pesquisadores a respeito da pesquisa como parte do processo de produção de conhecimento e na variedade de abordagens e métodos (FLICK, 2004).

A pesquisa de caráter exploratório e abordagem qualitativa foi utilizada para alcançar os objetivos deste trabalho, sendo que o objetivo geral e conhecer, praticar e divulgar o atendimento psicológico terapêutico oferecido aos surdos. A abordagem qualitativa foi utilizada pois possibilita conhecer mais profundamente este fenômeno para que os objetivos do trabalho sejam atingidos.

Segundo Cardoso e Capitão (2007) há relevância de estudos que viabilizem avaliações psicológicas mais precisas sobre os aspectos da surdez, pois quando se refere a surdos há uma escassez quanto a instrumentos validados e o uso apropriado das técnicas de avaliação requer que esse profissional se atenha às inúmeras atividades e processos psicológicos envolvidos.

Nos casos clínicos com cinco surdos oralizados, do sexo masculino, com idades entre 18 e 32 anos ambos filhos de pais ouvintes, foi trabalhado duas abordagens psicológicas: Fenomenológica e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem diretiva, focada na resolução de problemas. Primeiramente possuindo uma compreensão inicial fenomenológica do caso para uma posterior aplicação de técnicas e estratégias da TCC; o atendimento de se deu por meio de libras e oralizacao, os cinco surdos atendidos faziam parte ativamente da comunidade surda, três possuíam ensino médio e trabalhavam, enquanto os outros dois mais novos e com família de maior poder aquisitivo pagavam ensino superior aos filhos e os mesmos ainda não possuíam experiência no mercado de trabalho. Os dois mais velhos eram casados, um com outra surda e outro com esposa ouvinte e moravam sozinhos, os demais moravam com a família. 

RESULTADOS

Segundo Skliar 1997, o período em que modelo clínico terapêutico na psicologia teve mais força foi nos anos 50 e 60, quando surgiu a denominação Psicologia da Surdez. Neste período as dificuldades motoras, inteligência concreta, lentidão na aprendizagem, agressividade, dificuldade de aceitar limites e impulsividade eram consideradas  inerentes ao indivíduo com deficiência auditiva. Nesta época considerava-se relação direta entre as deficiências auditivas e alguns problemas emocionais, sociais, lingüísticos e intelectuais. Afirmava-se que esses sintomas seriam inerentes à surdez e comuns a crianças, jovens e adultos surdos.

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