A Psicologia Humanista começou a surgir na década de 50 e ganhou força nos anos 60 e 70, ela veio como uma reação adversa às ideias do behaviorismo e da psicanálise, e ficou conhecida como a terceira força da psicologia. Tinha o intuito de ver o homem como um todo; em sua ontologia e não como um objeto de estudo clínico/laboratorial.

Essa abordagem faz críticas ao comportamentalismo e à psicanálise; no qual, uma reduz o homem em sua subjetividade e por considerar o dualismo entre mente/corpo proposto por René Descartes. Decidiu assim, não aceitar essa distorção da imagem do homem para a adequação ao método científico.

Outrossim, a Psicologia Humanista defronta com a psicanálise por considerar o inconsciente, no qual não há nexo para a visão humanista; pois aqui, será considerada uma psicologia com um viés eu-consciente e responsável. Para Carl Rogers, definitivamente o homem não é uma máquina, nem, muito menos, um ser guiado por forças inconscientes, mas uma pessoa em vias de autocriação. Diante do contexto histórico, político e social de sua época. Rogers apresenta, como tese central para a sua proposta de psicologia, uma outra concepção de homem, fundamentalmente construtiva e auto reguladora. Para esse psicólogo, “toda pessoa possui dentro de si os recursos necessários para o seu próprio crescimento”. (CAMPOS, 2005; apud BOAINAIM JR, 1998).

O movimento humanista teve seu início no território norte-americano, após a Segunda Guerra Mundial, foi quando começou um debate sobre crise existencial, onde os líderes desse movimento começaram a questionar os métodos defendidos pelo Behaviorismo, método científico, e contra a imagem do homem e dos métodos terapêuticos da Psicanálise.

A Psicologia Humanista teve grande influência das filosofias existenciais e da fenomenologia. O existencialismo tem o homem como o ponto de partida, e busca valorizar o que existe de superior na personalidade do ser. O ser e a existência do todo é a sua questão central.

Humanismo, porque lembramos ao homem que não há outro legislador senão ele mesmo, e que é no desamparo que ele decidirá por si mesmo; e porque mostramos que não é voltando-se para si mesmo, mas sempre buscando fora de si um fim que consiste nessa liberação, nessa realização particular, que o homem se realizará precisamente como humano”. (SARTRE, 2010).

            Os psicólogos humanistas querem estudar o homem ao todo, em todos os aspectos da sua vida, e todos os momentos. A fenomenologia diz que cada ser é único, e trás toda uma cultura construída ao longo do tempo; é ontologicamente diferente dos outros seres, e considerado um feixe de possibilidades que tem variadas formas de se manifestar no mundo e de se realizar de si, se expressa através das relações do/com e para o homem, que está sempre se movimentando, em busca do conhecimento de si e do que está a sua volta. O homem sempre está se desenvolvendo e construindo algo a sua volta a partir da relação com os outros.

Somos meios uns para os outros para realizar nosso ser; sem as mediações sociais não nos humanizaríamos, não superaríamos a condição de animais comuns. É o processo de socialização, ou seja, o tecimento afetivo, existencial com os outros que me são significativos e que, por isso mesmo, ajudam a definir o contorno de meu ser (valores, crenças, concepções de vida e de mundo, enfim, racionalidades), delineando meu projeto. É preciso compreender, então, que o outro é mediação para mim na medida exata em que sou mediação para ele. (SCHNEIDER, 2011).

            Enquanto método apreendido pelo movimento humanista, o existencialismo fenomenológico é marcado por três questões: redução fenomenológica (considera a totalidade e a busca em chegar ao fenômeno em sua essência); intencionalidade (buscar o sentido dos fenômenos, onde a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo estão unificados, e a intencionalidade só ocorre após a compreensão da realidade, obtida pela redução fenomenológica); subjetividade e a intersubjetividade (o encontro da própria subjetividade do homem, e a do outro. É a através dessa pluralidade de constituições de vários sujeitos, dá sentido ao mundo).

            Como já fora apresentado, houveram grandes contribuições de teóricos fenomenológicos e existencialistas para a Psicologia Humanista, entre eles: Edmund Husserl, Soren Kieerkgaard, Jean-Paul Sartre, Karl Jaspers, Viktor Emil Frankl, Martin Heidegger, Abraham Maslow, Carl Rogers, entre outros. Tais teóricos têm pensamentos em comum que: a existência precede a essência; ou seja, primeiramente o homem é lançado ao mundo e, a partir daí, começará a formar sua essência, que será única; considerando fatores biológicos que carrega consigo. E que somos livres, ontologicamente, para realizar escolhas.

“Assim, nem atrás de nós, nem à nossa frente, ou no domínio numinoso dos valores, dispomos de justificativas ou escusas. Nós estamos sós, sem escusas. É o que exprimirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, pois ele não criou a si mesmo, e, por outro lado, contudo, é livre, já que, uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo que faz”. (SARTRE, 2010).

O movimento humanista, em seu início, atraiu todo tipo de contestadores do sistema e logo sofreu críticas de quem o acusava de ser um movimento pouco sério.  As principais críticas a psicologia humanista são atribuídas a sua finalidade vaga e a sua falta de cientificidade, tendo seus próprios expoentes reconhecidos e a sua não aceitação na filosofia na ciência. Outras questões a esse ponto, estão relacionados que a teoria não daria um suporte necessário as pessoas com distúrbios mais graves.

Embora a psicologia humanista tenha recebido muitas críticas ao decorrer da sua construção, ela fora muito importante; pois realizou uma mudança de visão, tanto em termos ontológicos, quanto epistemológicos nas teorias causalistas e empíricas da época. A superação da filosofia fora de suma importância, pois finalmente era possível colocá-la em prática. Da mesma forma, esse movimento contribuiu para uma nova visão de psicopatologia, entendendo, agora, o homem a partir da doença e não o contrário. Permitindo uma reflexão sobre as condições de possibilidades de ocorrer aquela psicopatologia, ao questionar a estrutura do corpo e da vida humana que permitiam as condições daquele adoecer.

Eis aqui um breve esboço sobre a psicologia humanista, destacando algumas das contribuições importantes em seu âmago. Instaurando um olhar horizontal sobre o campo epistemológico, teórico e ideológico sobre a compreensão do homem em sua relação; não assumindo uma perspectiva mentalista e subjetivista. A superação de tais impasses fora responsável por um novo modo de pensar dos psicólogos, filósofos e sociólogos.

 

Referências

AMATUZZI, Mauro Martins. O significado da psicologia humanista, posicionamentos filosóficos implícitos. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2016.

CAMPOS, Ronny Francy. A Abordagem Centrada na Pessoa na história da psicologia no Brasil: da psicoterapia à educação, ampliando a clínica. Psicol. educ., São Paulo, n. 21, p. 11-31, dez.  2005 .   Disponível em . Acesso em:  03 abr.  2016.

CASTAÑON, Gustavo Arja. Psicologia Humanista: a história de um dilema epistemológico. 2006. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2016.

MACEDO, Josué Campos. OS PRINCÍPIOS DA PSICOLOGIA HUMANISTA. 2014. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2016.

MEIRA, Isabela F. Psicologia Humanista. 2012. Disponível em: . Acesso em: 01 abr. 2016.

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

SCHNEIDER, Daniela Ribeiro. Sartre e a psicologia clínica. Ed. Florianópolis: UFSC, 2011. 290 p.