Leonice Silva Ferreira

A psicanálise é uma teoria que possui como característica inicial o determinismo psíquico, sua função é explicar que nada acontece por acaso, ou seja, não há descontinuidade na vida mental. Existe uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação.  Cada evento mental tem explicação consciente ou inconsciente, mas eles ocorrem tão espontaneamente, que Freud os descreve ligando um evento consciente a outro.

A constituição teórica mais importante de Freud é a de que o comportamento humano é governado por processos inconscientes e não somente pelos processos conscientes.

A importância da palavra aparece em vários trabalhos de Freud ao longo da sua obra. Os textos sobre a psicopatologia da vida cotidiana, a leitura dos atos falhos, dele e dos outros, que o autor realiza em diferentes momentos de sua teorização, são provas da estreita ligação da psicanálise com a palavra dita, escrita, ouvida e lida.

Assim Lacan afirma que “o sujeito advém pela linguagem, mas, perde se nela, por sempre estar ai apenas representado. Mas, ao mesmo tempo, a verdade do sujeito só advém na articulação da linguagem, em sua enunciação. O sujeito do desejo deve ser situado ao nível do sujeito da enunciação”.

Trata-se, pois, de um sujeito que “é mais falado do que fala” e, consequentemente, é constituído a partir da linguagem. Dessa forma, é essencial que reconheçamos, então, que o sujeito do inconsciente, fundado na psicanálise, é um sujeito incompleto, um sujeito cuja subjetividade não é passível de totalização.

No campo linguístico, isso se torna evidente na medida em que a linguagem, assim como o sujeito que a pratica, não é algo transparente, mas sim um sistema translúcido, marcado por deslizamentos por parte do sujeito que representam as manifestações de ordem inconsciente. LACAN (1998): Quanto à psicopatologia da vida cotidiana, outro contorno      da fala, justamente pelo quadrante necessário para que um bom entendedor encontre ali sua meia palavra. 

É necessário que seja comentado algum caso de deslize que denote a determinãncia do inconsciente sobre a linguagem, como o caso narrado por Freud sobre o esquecimento do nome próprio Signorelli (FREUD, 1901). Neste caso, o autor lança mão de uma situação de esquecimento nominal pela qual passou não só para apontar que o esquecimento, em grande parte dos casos, culmina na lembrança de outro nome e não aquele que se quer lembrar, mas também para afirmar que o deslocamento levado a tal escolha não é psiquicamente arbitrária, mas sim uma trajetória previsível determinada pelo inconsciente, o principal responsável por este funcionamento translúcido da linguagem.        

Referências bibliográficas 

FELIPETO, Cristina; CALIL, Eduardo. As marteladas do ato falhoRevista Língua, ano II – Especial Psicanálise & Linguagem, novembro, 2008.

FONTENELE, Laéria. Inconsciente e linguagemRevista Língua, ano II – Especial Psicanálise & Linguagem, novembro, 2008.

FREUD, Sigmund. (1901) Sobre a psicopatologia da vida cotidiana. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. vol. VI. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

————. (1912) Nota sobre o inconsciente na psicanálise. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.vol. II, Rio de Janeiro: Imago, 1996.

————. (1923) A Consciência e o que é Inconsciente. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.