1 “[...] segundo ele não existia isso que se chama incontinência. Ninguém, depois de julgar - afirmava -, age contrariando o que julgou melhor [...]” (Ética a Nicômaco, VI, 2, 1145b). O texto citado é um comentário de Aristóteles sobre a ética socrática. Sócrates foi o fundador da Ética Filosófica, e mesmo com uma reflexão ética extremamente simples, influenciou o pensamento de vários filósofos. Analisando o fragmento acima, explique a ética socrática. Resposta: A ética socrática é baseada na alcunha de que basta conhecer o bem para praticá-lo, uma teoria ingênua e frágil, porém foi a primeira concepção. Para Sócrates, a essência do homem é a sua alma, o corpo é mais que um automóvel neutro. O homem enquanto ser justo e bom é, por certo, o homem virtuoso. O Conhecimento ou a razão socrática, tem papel primordial, uma vez que sua tese traz a ciência e a virtude andando juntas. Todavia, o conhecimento é dividido entre o popular ou doxa, e o verdadeiro ou epistemi, para isso, a virtude seria alcançada mediante do conhecimento verdadeiro de bem, logo desse conhecimento é alcançada a aretê. O homem que conhece o verdadeiro sentido do saber, do belo, do justo e etc. expõe todos os conceitos aprendidos na vida pragmática. Ressaltemos que em Sócrates, a alma como sendo essência, quando essa conhece e pratica o justo, além de imortal, torna-se divina, pois aquele que conhece a essência da justiça, é o homem virtuoso e, por certo, aquele que detém o poder do julgamento é o divino. 2 Em sua mais importante obra ética, diz Aristóteles: “Que é pois o bem de cada uma delas? Evidentemente, aquilo em cujo interesse se fazem todas as outras coisas. Na medicina é a saúde, na estratégia a vitória, na arquitetura uma casa [...]” (Ética a Nicômaco, I, 7, 1098 a ). Considerando o texto citado, explique qual a relação que existe entre os conceitos de Felicidade, Razão e Virtude segundo o filósofo grego. Resposta: Para Aristóteles, a felicidade é o bem supremo do homem, isto é, que tem um fim em si mesma. A virtude, para ele, é a mediania(=meio-termo) entre o demasiado e o deficiente. A razão é uma função peculiar ao homem. Já que o homem/alma é dotado de razão e essa é exclusiva desse, o papel da razão é encontrar, por meio do cálculo racional esse equilíbrio/mediania chamadavirtude. Ora, seria a virtude a chave para o encontro ou o conceito de felicidade? Para Aristóteles, a virtude é incompleta, uma vez que o homem que é coberto de intempéries da vida pode não ser virtuoso, dessa colocação a felicidade e a virtude andam em consonância para a busca da alma racional, já que para o pensador a vida teórica/razão/conhecimento é a felicidade do homem. Logo, o papel da alma racional é encontrar o caminho da mediania ou essência humana. 3 “[...] é provável que quando estivermos mortos teremos a sabedoria pela qual ansiamos e da qual afirmamos ser amantes – e não quando vivermos” (PLATÃO, Fédon, 66e). Considerando o texto citado, disserte acerca da ética de Platão. Resposta: A ética platônica é alicerçada no ascetismo, aretê e eudaimonia; em Platão o dualismo corpo-alma prevalece em sua teoria pós-socrática, todavia, além do ideal que a alma seja a quem determina o corpo, esse não a interferisse em nada, nessa teoria, o corpo também irá determinar a alma, o que torna-se um problema, pois a interferência do corpo à alma é ainda maior. Para Platão, a alma precede o corpo, ela fica na contemplação do mundo das ideias gozando de princípios, tais como o bem, o belo e o justo, mas quando a alma se volta para o mundo material e almeija-lo, o Demiurgo a pune, deixando-a aprisionada ao corpo: “O corpo é o cárcere da alma”. Não obstante, quando a alma começa a gozar dos prazeres oferecidos pelo físico/material/corpo, o Demiurgo a pune mais uma vez, o corpo que antes era o cárcere, se torna um túmulo, pois a alma morre, só que essa morte é metafórica, pois ela deixa/perde a essência do que é ser alma, essa punição é dada por cada dor, fome, sentimento e etc. que o corpo interferiu na alma, cada elemento desse se torna um cravo(=prego) adicional à esta ao corpo, logo ficando-a mais aderida ao corpo. Para ou tentando buscar uma melhor situação, Platão traz à tona um certo vestígio apológico ao suicídio, pois para a alma, matando o corpo ela se libertaria do cárcere, aquela ideia de fuga da prisão, ou ela reencarnaria do túmulo, mais ainda não para o mundo inteligível pois ela ainda não estaria purificada. Nessa relação corpo-alma, Platão afirmava que o corpo desvia o indivíduo do caminho do bem, e para retornar ao caminho sozinho a jornada seria árdua e suada se buscada sozinho, logo precisaria de outrem(=sociedade, pólis) para encaminhar-lhe à esse trilho. 4 Considerando a etimologia e as camadas de significação histórica dos termos ética e moral, disserte acerca da diferença entre ética filosófica e moral, sem esquecer de explicar a tese defendida no livro de Lima Vaz. Resposta: Ética provém do grego Êthos que, em suma, poderia ser moradia, casa e etc. Moral provém de Éthos que significa costumes, hábitos e etc. Nos textos traduzidos pelos latinos, as duas palavras se reduziram a uma única denominada“Mos”, dizendo-o eles que tanto ética quanto a moral são as mesmas coisas, isto é, mesmo significado. Em contraposição a tal, Pe. Lima Vaz, diz que apesar de sinônimos, a ética ascende a moral, prevalece sobre essa. Dito isto, ele partiu do pressuposto da moradia(=ética) e do hábito(=moral), dizendo ele que o homem que tem uma moradia ou mora em condições deploráveis e subumanas, esta influenciará em suas ações, hábitos e etc. Dessa perspectiva, é usada o homem e a natureza, diz-se que o homem natural busca, por instinto, perpetuar sua vida(=sobrevivência), mas Lima Vaz diz que o homem é muito mais complexo do que puro instinto e satisfação de necessidades biológicas. Ao longo dos tempos, ética se tornou as leis e a moral a obediência dessas leis. A ética passa a ser um estudo/olhar filosófico acerca do comportamento do homem, isto é, a ética é teórica e reflexiva e a moral passa ser a ciência dos costumes e ela é puramente prática. REFERÊNCIAS: Emanuel Isaque Cordeiro da Silva http://lattes.cnpq.br/8455592829863253 Recebeu nota 9,00 nessa prova. Técnico em Filosofia pelo Colégio de Aplicação da UFPE; Especialista em Filosofia Política pelo Colégio Adventista de Recife; Licenciando em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense – UFF-RJ. Leituras: Fédon, Platão Ética a Nicômaco, Aristóteles.