2. APRESENTAÇÃO

A organização de serviços de atenção às vítimas de violência física ou verbal no ambiente de trabalho requer o empenho de equipes multiprofissionais, articuladas a outros serviços das redes de atenção à saúde e de proteção social. No caso do enfermeiro, prima-se pela aceleração no acolhimento, com vistas a desburocratizar o atendimento para que a ocorrência não fique sem solução.

Aos demais profissionais de saúde cabe a discussão dos procedimentos a serem
realizados e o atendimento qualificado. A acolhida, a capacidade de escuta, a garantia de
sigilo e o respeito às escolhas são condutas que precisam ser rotineiramente trabalhadas.

Além disso, os encaminhamentos de um setor a outro, obrigando a pessoa que sofreu a violência a repetir a história várias vezes, resultam em demora no atendimento, e, consequentemente, no descrédito à conclusão e agravo do abalo emocional.

Independente de qual setor seja a porta de entrada para o atendimento às violências
contra enfermeiros no ambiente de trabalho, os procedimentos devem ocorrer no sentido de
uma assistência psicológica imediata, bem como no exame de corpo de delito, que tem como
o objetivo detectar lesões causadas por qualquer ato ilegal ou criminoso, e pode ser aplicado
em diversas situações.

A atenção à violência contra o enfermeiro no exercício de suas funções também exige disponibilização de meios especializados em período integral, o que demanda a harmonização dos serviços localizados em cada município e nas regiões de saúde. Portanto, a organização do processo de trabalho é um instrumento importante para viabilizar o cuidado humanizado, que propomos com as ações descritas neste protocolo.


3. JUSTIFICATIVA

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) define violência como o “uso
intencional de força física ou do poder, real ou uma ameaça, contra si próprio, contra outra
pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulta ou tenha grande possibilidade de
resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.

O trabalho da enfermagem quase sempre é realizado em ambientes tensos e precários. Esse profissional lida com o imprevisível, pois dispensa cuidados a outros seres humanos, que são indivíduos com dor, com perdas, com temores. O enfermeiro trata da vida, sempre disposto a vencer a doença, curar a ferida, estancar a dor. Eles são treinados para isso e sabem usar as palavras e os instrumentos do próprio trabalho. Porém esses profissionais não são treinados para o desrespeito, não precisam passar por situações constrangedoras e até mesmo de risco. Por isso é necessário evitar tal tipo de situação.

O exercício profissional da enfermagem no setor de emergência hospitalar torna
possível ao enfermeiro vivenciar situações diferenciadas das demais repartições que compõem
uma unidade hospitalar terciária, sendo frequente a ocorrência de situações de violência que
atingem os profissionais de enfermagem. Embora esta afirmação seja hipotética e baseada em
experiências pessoais a partir de coleta de dados com enfermeiros do setor de emergência de
um hospital da Baixada Fluminense, frequentemente são noticiados, através de veículos de
comunicação, eventos bárbaros protagonizados por desfrutadores do sistema de saúde nas
emergências hospitalares.

Diante disso, numa reflexão acerca do o impacto da violência na vida profissional do
trabalhador de enfermagem, tal como no processo de trabalho em saúde e nas organizações
institucionais, estudos relacionados à violência no ambiente de trabalho da enfermagem têm
contribuído com as instituições hospitalares nesse sentido. De igual maneira, auxiliam na
manutenção de um ambiente de trabalho seguro e humanizado para o desenvolvimento das
atividades laborais em saúde, conforme preconizado pela Política Nacional de Humanização
(BRASIL, 2004) e avivam o debate acerca do tema na comunidade científica, colaborando
para o aprofundamento das discussões sobre o processo de trabalho em enfermagem.




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4. ACOLHIMENTO ÀS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

O acolhimento da pessoa em situação de violência deve traspassar todos os locais e momentos do processo de produção do cuidado, diferenciando-se da seleção usual. O acolhimento representa a primeira etapa do atendimento e nele são fundamentais: ética, privacidade, confidencialidade e sigilo.

A vítima deverá ser acolhida em ambiente reservado assim que sinaliza o fato que a levou a buscar por atendimento. Neste momento pode-se observar se existe a presença de alguma pessoa que possa coibir o relato (seja colega do setor ou profissional do serviço) e verificar a possibilidade de entrevista na presença de outro técnico ou sem o colega.

Tais informações preliminares deverão ser registradas em prontuário para que a pessoa não necessite repetir várias vezes o fato ocorrido. Cabe aos profissionais informar sobre os procedimentos e medidas que serão realizadas.