PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA – 1998/2002 - PARTE CLVIII: “MORETO MINADO?”
Por Felipe Genovez | 16/04/2018 | HistóriaData: 28.01.98, horário: 09:10 horas, “O Poço”:
Estava na “sala de reuniões” (Delegacia-Geral da Polícia Civil) e como precisei usar o “telefone vermelho” para fazer alguns contatos, me dirigi até o andar térreo, onde encontrei Osnelito lendo as notícias dos jornais em sua mesa:
- Osnelito e a Guinevere, onde é que ela anda?
- Quem?
- A Guinevere?
Até então “Lito” não tinha entendido nada, na verdade dei um nó nele porque nunca tinha utilizado esse nome para “Rosângela”. Mas pudera, tinha feito aquela provocação propositalmente, mas não é que ele me surpreendeu:
- Ah, sim, ela foi embora, já faz dias, nem sei prá aonde.
- O apelido dela é Guinevere, não sei se tu sabias?
- Não...! Telefonaram lá do gabinete me convidando para ir a solenidade de colocação do retrato da Secretária na Galeria e sabe o que eu disse? “por mim vocês podem colocar esse retrato num poço”.
Como messe momento estava tentando completar uma ligação, fiz um gesto para que Osnelito completasse:
- Poço do quê?
- É bem isso, num poço de m.!
- Poço de m.?
- Eu falei bem isso, semana passada eles me convidaram para ir a inauguração da Delegacia de São José, ora se eu iria, fazer sala para Lúcia, Lourival, eles colocaram todos os p. d. na P. C. e para mim o que sobrou? Não! Não sei ser falso, não gosto de falsidade, cambada de s. v., s...
- É Osnelito, ainda bem que nenhum parente meu entrou na Polícia nos últimos vinte anos, nem o meu irmão para Médico Legista, ele continua sendo Técnico em Necrópsia, acabou se prejudicando por minha causa...
- Sim, é por isso que eu falo essas coisas para ti, por que sei que tu tens moral e o teu irmão não passou porque eles têm medo, ele pode assumir a Diretoria de Polícia Técnica e já vistes?
- Não! Meu irmão não iria aceitar ser Diretor..., reprovaram ele no concurso por minha causa, foi para me atingir, coisa da greve dos Peritos e meu irmão aqui resolveu assinar uns laudos urgentes e acabou sendo queimado pelos médicos legistas lá que estavam em greve, foi na época do Jorge Xavier, mas isso é outra história...
- Outra merda que eu não vou apertar a mão é desta aí em cima...
- Tu tá falando aqui do prédio?
- Sim, é bem aqui...
(...)”.
“O Ovelha”:
E consegui, enfim fazer um contato com “Marquinhos” que naquele final de semana não estava trabalhando:
- Alô!
- Oi.
- Quem fala?
- É o Marcos.
- Marcos, você está sendo procurado.
- O quê? Procurado? É o Felipe.
- Como é que tu sabes?
- Conheço pela voz.
- Puxa, quer dizer que a minha voz é fácil.
- Sim, o pessoal quer saber se a festa vai ser mesmo na quarta-feira?
- Eu estou telefonando exatamente para isso, vamos fazer a festa na quarta-feira, tens alguma sugestão?
- Ah, meu Deus, eu não aguento mais comida, acho que a gente podia fazer uma ovelha, o que acha?
Não pude conter a minha surpresa pois “Marquinhos” além de ser inspirado e um excelente cozinheiro, também sabia surpreender e me virei para o Osnelito e exclamei:
- Osnelito, o “Marquinhos” quer comer ovelha
E Marcos ouvindo meu comentário, intercedeu do outro lado da linha:
- Olha, eu não sou ovelha não, não tenho lã!
Esse é o estilo “Marquinhos”, sempre pronto para brincar, especialmente, quando se tratava de qualquer assunto picante:
- Pode ser ovelha! (lançou Osnelito com um sorriso bem malicioso)
Continuei a conversa com “Marquinhos”:
- Marquinhos, está bom, pode ser.
- Escuta, quantas pessoas vão?
- Umas vinte,. deixa que a cerveja fica por minha conta, cada um ajuda com uns cinco reais.
- Eu tenho conta lá no Mercado.
- Bom, amanhã eu dou uma chegada aí na tua casa entre treze e quatorze horas, tu me aguardas.
(...)
“Moreto Minado?”
E, em seguida liguei para o Mário Martins e fui informado que estava no terreno da BR 101 (imóvel repassado por meio de contrato de comodato entre Governo e Adpesc), em cujo imóvel estavam construindo alguma coisa:
- Alô!
- Mário, é o Felipe.
- Fala Felipe. Eu pedi para a secretária te ligar hoje de manhã, ela te ligou?
- Não. Pedistes para ela ligar?
- Sim. Aquele negócio acabou não dando certo e abriu uma brecha, acho bom tu fazeres contatos.
- Mas que negócio Mário, eu não estou entendendo?
- O Moretto, parece que ele não vai mais ser o Delegado-Geral e acho bom tu fazeres algum contato, eu acho que aquele nosso trabalho deu certo, surtiu efeito.
- Tu estais me dizendo que o Moretto não vai ser mais o Delegado-Geral?
- Sim.
- Quer dizer que minaram ele?
- Por quê “minaram”?
- Não. Eu quis dizer que está minada a nomeação dele.
- Sim. Podes anotar isso “o Moretto não vai mais ser o Delegado-Geral” e acho bom tu fazeres algum contato.
- Mas Mário eu não estou pleiteando o cargo.
- Não Felipe! Acho que tu tens que pensar seriamente nisso, já te falei!
- Quem está querendo é o Braga.
- Bom, tu já sabes.
- Tudo bem, mas Mário mudando de ares, escuta quando é que nós poderemos fazer aquele contato com o Kuster?
- Ah, sim, ainda esta semana, deixa que amanhã eu tento falar com ele, marco um horário e nós vamos lá.
- Bom, tu podes marcar a qualquer hora que eu estarei a tua disposição. Certo?
- Certo.
- Então aguardo o teu contato.
- Tá bom Felipe.
E depois que encerrei a ligação: ...
- Que bom! (Osnelito)
- Por quê?
- Tanto este que está atualmente como ele não fizeram nada, isso aqui ficou uma bagunça, sabe prá que o Moretto servia e nisso ele atuou muito bem?
- Não?
- Para representar a Polícia Civil no Mercosul, no Codesul, isso ele soube fazer bem, eu pude ver lá na Polícia Militar.
(...)
E antes que deixasse a sala do “telefone vermelho” olhei do outro lado e percebi a presença da Escrevente Policial Ledanir verificando uns Diários Oficiais. Em razão disso perguntei para Osnelito:
- Puxa, quem diria a Ledanir trabalhando, heim?
- O quê? Ela que se cuide, pediu para sair daqui, foi lá para o primeiro “DP” e saiu porque não se adaptou, depois foi para a Identificação e saiu porque também não se adaptou, voltou para cá e eu tive uma conversa muito séria com ela: “Minha filha, aqui é o seguinte, se tu não te adaptares só tens um caminho, tu vais ser apresentada na Corregedoria, vais responder sindicância e vais para rua, a decisão é tua”.
- Sei lá Osnelito, quem somos nós para julgarmos quem?
(...)”.
E fui deixando a sala de Osnelito recordando da época que ele trabalhava comigo na “Assistência Jurídica”, quanto eu me esforcei para ajudá-lo a se adaptar aos serviços, quanto tempo em vão, quantas faltas, chegadas tardias... E agora estava ele na condição de “Gerente” de Fiscalização de Jogos e Diversões da Polícia Civil, com as baterias carregadas, pronto para fazer justiça com uma pobre funcionária subalterna...numa instituição cheia de problemas.