PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA (1998 – 2002) - PARTE CXCII - “FOGO AMIGO: MAIS PLANOS E CONFRONTOS”
Por Felipe Genovez | 23/04/2018 | HistóriaData: 13.05.99, “Novos Planos?”:
Havia recebido o novo informativo da Fecapoc e a impressão era que finalmente conseguiram meu endereço pois começaram a me mandar correspondências. No item: “Legislativo” constava um encontro com Heitor Sché. Segundo poderia se intuir dessa nova fase, o Delegado Julio Teixeira havia sido definitivamente banido pelos “fecapoquianos” dando lugar ao Deputado Heitor Sché, prenúncio de uma nova onda, aparência de novos tempos, abertura de novos canais de poder:
LEGISLATIVO
Em 19.04 estivemos em audiência com o Deputado Heitor Sché, onde manifestamos nossa preocupação com a atual situação da Polícia Civil. Para corrigir algumas distorções detectadas em nossa carreira, estamos encaminhando ao Deputado uma proposta de Projeto de Lei que altera o Plano de Cargos e Salários da Polícia Civil, onde três pontos básicos se evidenciam: reestruturação da carreira, definição de funções e adequação salarial, aplicável aos ativos e inativos.
(Fecapoc - informa – Especial, 27.04.99)
“Pragmatismo ‘fecapoquiano’: A audiência com o Secretário Carvalho”:
No mesmo informativo constava ainda esclarecimentos acerca da audiência com Carvalho:
AUDIÊNCIA COM O SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA
No mesmo 19.04, em audiência com o SSP, questionamos sobre a Pauta de Reivindicações deixada na audiência anterior (publicada em nosso informativo de fevereiro/99). Não houve nenhum encaminhamento concreto. Com isto alertamos para a atual situação que é bastante preocupante e que envolve o pagamento dos salários, das promoções e dos precatórios em atraso. Defendemos, ainda, a manutenção da Hora Extra e Adicional Noturno dos plantonistas, escrivães (sobreaviso) e responsáveis por DPMUS, esclarecendo ser inconcebível qualquer redução salarial.
(Fecapoc – Informe Especial, 27.04.99)
16.05.99 – “A indústria política e midiática da violência e o sensacionalismo de massas”:
O jornal ‘A Notícia’ fez um balanço sobre a violência em Santa Catarina:
Violência aumenta em Santa Catarina
Em Florianópolis as ocorrências cresceram 47% desde ano passado
Aline Felk e Jeferson Savedra
Joinville/Florianópolis – A criminalidade está mostrando suas garras nestes primeiros quatro meses de 1999. Embora longe de ganhar contornos de tragédia, o crescimento da violência no quadrimestre está escorado em índices superiores a 40%. Se nada for feito, o número de homicídios em Joinville terá dobrado de tamanho até o final do ano. É apenas um exemplo. Na Capital, os computadores da Polícia Militar revelam um aumento de 47% nas ocorrências. Isto, porém, não é um sintoma apenas das maiores cidades. Municípios de médio porte, como Mafra e Rio do Sul, amargam uma escalada semelhante. Para tentar recuperar o terreno perdido, a PM lançou na última Segunda-feira o Plano Ação Dez, um programa alicerçado por informações prestadas pela comunidade. A meta é dar um corte de 20% na criminalidade. (...) Se a Polícia Militar reforça o policiamento ostensivo, a Polícia Civil tem dificuldades de mobilização. De acordo com a própria PM, a Civil não mantinha delegados de plantão à noite, atrapalhando o registro de flagrantes. Na última Quarta-feira, a delegada regional, Marilisa Boehm, anunciou a criação de um plantão noturno.
Secretário de Segurança rebate números da PM
O secretário de Segurança Pública do Estado, Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, prefere rebater os dados que apontam para um aumento na criminalidade em Florianópolis. ‘Isso não está certo. Nossos números não mostram a mesma coisa’, comentou. O secretário informou que não tinha os dados à disposição para comparar com os fornecidos pela Polícia Militar, e criticou o levantamento. ‘Por isso estamos criando uma central de informações de todo o Estado’, acrescentou, lembrando uma das etapas do Tolerância Zero. Para Carvalho, o aumento da violência policial registrada em Nova York com o avanço do programa não é motivo de preocupação em relação ao policial catarinense. ‘Além de termos adaptado o projeto à nossa realidade, o policial daqui tem formação diferente e possui bom caráter. Por isso não será afetado’, assegura, garantindo também ‘desconhecer’ a denúncia de que oito pessoas teriam sido espancadas durante operações policiais batizadas de ‘barreira’, que iniciaram o Tolerância Zero catarinense. (...).
Tolerância Zero prevê redução de criminalidade
Florianópolis – A nova etapa do programa Tolerância Zero, anunciada no início da semana em Florianópolis, pretende reduzir em até 20% a criminalidade no Estado. Mas somente na grande Florianópolis, segundo um levantamento da PM, a criminalidade cresceu 47% nos primeiros quatro meses do ano, comparados ao mesmo período de 1998. O comandante geral da PM/SC, coronel Walmor Backes, explica que o percentual foi traçado a partir de uma redução considerada possível de ser alcançada. ‘É uma meta corajosa, que tentaremos cumprir em etapas’, avalia. O projeto que prevê a redução sistemática dos crimes batizado de ‘Plano de Ação 10’, busca ajuda na população – durante 10 semanas, a PM vai buscar soluções para o problema em discussões comunitárias. Mas uma análise do próprio coronel sobre a situação dos 11,2 mil policiais militares em atividade no Estado mostra que a população catarinense tem motivos de preocupação além dos números. O atraso salarial de três meses herdado do governo de Paulo Afonso Vieira (PMDB) provoca intranquilidade no efetivo, de acordo com Backes. ‘Qualquer cidadão é afetado psicologicamente quando falta o dinheiro que lhe é de direito. Hoje a ocorrência acontece ao lado do policial, e ele com a cabeça nas contas que deixou em casa. Isso preocupa, pois ele é um juiz com uma arma na mão, e precisa decidir num segundo como agir’, desabafa o coronel. Mas ninguém pode ilustrar melhor o problema que o presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos da PM, José Andrino Mafiolletti. ‘Não passo um dia sem solicitações de auxílio para empréstimos pessoais e pagamento de contas de água e luz atrasadas’, atesta. A associação fez um levantamento e comprovou que 20% do salário atual dos policiais militares é destinado ao pagamento de juros.
Sociólogo critica adoção de programa
Joinville – O crescimento da violência policial tirou o manto de unanimidade que cobria o festejado Tolerância Zero em Nova York. O programa que realmente diminuiu os índices de criminalidade na maior cidade americana já aponta sinais de desgaste. ‘Qualquer pesquisador sério já é contra o modelo americano de Tolerância Zero, imagine esse que estão tentando implantar no Brasil’, provoca o doutor em sociologia do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal de São Paulo (USP), Luís Antônio de Souza. As diferenças entre os sistemas são gritantes. Em primeiro lugar, a polícia norte-americana aplicou o Tolerância Zero sobre si mesma. Vários chefes foram demitidos, foram criadas inclusive auditorias externas e os salários foram aumentados. Ninguém começa a trabalhar na polícia recebendo menos de dois mil dólares. Um ano depois, o salário chega a U$ 3 mil. Em Santa Catarina, policiais estão com três folhas de pagamento atrasadas, ainda referentes ao ano passado. Nascida do princípio de que crimes menores devem ser punidos para evitar que os transgressores se aventurem em ações mais graves, o Tolerância Zero também incentivou a participação da comunidade. Opiniões de associações de moradores e conselhos comunitários de seguraná passaram a ser respeitadas.
Armas
Além de treinamento de dois anos, os policiais recebem equipamentos. A arma só deve ser utilizada em último caso. ‘No Brasil, o policial só conta com o revólver’, lamenta o sociólogo. Mesmo com as vantagens sobre seu similar brasileiro, o Zero Tolerance, hoje transformado em Minimal Tolerance – o modelo americano – já gera controvérsias. ‘A violência policial ficou maior. Minorias como negros e latinos seguem perseguidas. E, não podemos esquecer, que uma economia aquecida e um sistema de bem-estar social ainda estão longe de chegar ao Brasil. Isso sim ajuda a diminuir a criminalidade’.
(‘A Notícia’, Geral, 16.03.99, pág. A-3)
Horário: 16:00 horas – “Projeto de Lei Orgânica Nacional da Polícia Civil?”
Jô Guedes chegou na “sala de reuniões” da Delegacia-Geral com um bloco de folhas na mão, se aproximando com aquele seu andar nervoso, agitado e barulhento:
- Doutor Felipe o doutor Moretto mandou entregar isso aqui para o senhor para que desse uma estudada!
E foi só. Assim como ela entrou também saiu. E eu abri o material e verifiquei que se tratava do anteprojeto de Lei Orgânica Nacional das Polícias Civis.
Data: 17.05.99, horário: 09:00 horas, “Reverberação à Bragança”:
Braga entrou na “sala de reuniões” parecia que tinha mania de telefone, ficava próximo à porta de entrada que estava com a fechadura estragada e quando tocava o telefone do “Setor de Recursos Humanos” ficava dividido se voltava correndo para a “Assistência Jurídica”, na dúvida, era um vai e volta, ensaiava uma corrida rápida e retornava depois que percebia o equívoco, enquanto que eu apenas contemplava:
“(...)
- Pode deixar, é lá no “Recurso Humano” que está tocando! (Felipe)
(...)
Ele não dá muita bola mesmo assim, parece que não ouviu o que eu havia falado ou tinha problema de audição, saía e voltava às pressas. Na verdade queria conversar um pouco comigo, mas talvez estivesse esperando alguma ligação importante. No mais, também era uma forma de liberar endorfinas numa interlocução, deixar a solidão de lado quando se encontrava sozinho na “Assistência Jurídica”, parecia não suportar aquele silêncio, as leituras jurídicas, documentos... , bem diferente da época que ”comandava” como um “encouraçado” do período “Jorge Xavier”. e depois Diretor de Polícia do Litoral... Conseguia entender por que ele costuma dizer que o Diretor de Polícia do Litoral tinha mais poder do que o próprio Delegado-Geral:
(...)
- Eu não pedi cargo algum, como tu já sabes... (Braga)
- Sim...
- Mas o pessoal não vê com bons olhos esse negócio de tu estares colaborando com a administração...
- Olha Braga eu já me preocupei uma vez com isso, hoje já não...
- Ficas aí ajudando eles...
- Cumpro com minhas obrigações, faço a minha parte pela instituição, pelos policiais...
- É mais o pessoal pode não concordar contigo...
- É verdade?
(...)
Era evidente que a turma do Heitor Sché estava fazendo oposição ao Secretário Carvalho e quanto pior..., podia ouvir as críticas de “Pedrão”, “Sell” e outros... Depois Braga olhou para as fotos dos ex-Chefes de Polícia, especialmente, para Ademar Rezende e fez o seguinte comentário:
(...)
- Eu até tenho resistência ao Ademar, mas na época em que ele foi Delegado-Geral ele colocou todos os diretores Delegados Especiais, exceto o Rachadel que foi para a Academia.
- Realmente, o Ademar foi um Delegado-Geral que teve visão, depois do Jorge...
- É, eu só não posso perdoar o que ele fez com o Jorge, ninguém me tira isso da cabeça, ele tramou a queda do Jorge, para mim o Jorge foi o melhor Delegado-Geral.
- É verdade, mas o Jorge foi alertado, eu tentei...
- É... foi o Ademar e o Oscar... e que depois assumiram o lugar dele... isso não dá para esquecer nunca...
(...)
Horário: 09:30 Horas, “Os (tres)loucados”:
Voltei da lanchonete do “Café Pão de Queijo” e resolvi passar na sala do “Xerox” para o cafezinho tradicional. Logo que fiquei à vontade no local percebi que no ex-gabinete de Osnelito estava sentado o Delegado Wilmar Domingues. Num primeiro momento até achei que era momentâneo, mas não era, estava ocupando aquele espaço que se encontrava sem um titular. Fiquei pensando como as coisas estavam erradas, Braga contra à vontade na Assistência Jurídica, eu na solidão da “sala de reuniões” e o Wilmar na sala que pertenceu ao Osnelito, ao lado do “Xerox”, do barulho, da falta de privacidade, expostos à passagem de pessoas a todo instante, do depósito de documentos, contracheques..., e todos Delegados Especiais. A impressão era que realmente não estávamos só deslocados, mas que a instituição estava realmente muito doente, e já fazia muito tempo:
“(...)
- Aqui doutor, estou encaminhando este documento ao Conselho pedindo a minha renúncia.
- É mesmo Wilmar?
- Sim...!
(...)
E li seu despacho no rosto da comunicação interna de convocação, claro que tinha tudo haver com aquele caso das “promoções” que ele ficou isolado, pois queria que fosse inviabilizado os processos promocionais antigos e que não foram realizados pela gestão anterior:
- Wilmar eu não sei, até respeito a tua posição, mas eu mesmo sendo suplente do Conselho fui eleito, muitos acreditaram em mim e agora se eu renunciar, será que é o camimnho? Não acho correto, além do mais bem feito para mim que resolvi submeter meu nome ao crivo dos colegas, hoje me arrependo, deveria ter solicitado a minha exclusão já que não concordo com a forma como os Delegados-Gerais tratam o colegiado...
- Eu respeito a sua posição doutor, eu respeito...
(...)”.