Data: 04.01.99, horário: 18:15 horas:

Antes de deixar a Delegacia-Geral resolvi dar uma passada pelo setor de cópias para tomar um cafezinho e ver como estavam as coisas. No momento que estava me servindo fui interpelado pela telefonista Glória:

  • Doutor Felipe então o senhor vai ser o nosso chefe?
  • Não! Não não estou pleiteando o lugar do Osnelito.
  • Ah, mas Doutor Felipe que bom se o senhor fosse o nosso chefe, vê se assume isso aqui.
  • Não, de repende pode ser o Chico.
  • Chico?
  • É aquele que trabalhou na época do Doutor Jorge, o Francisco Kalbuk?
  • Ah, sim sei quem é, mas eu acho que não, é muita gente disputando cargos, vai faltar cadeira, e aqui eles devem colocar alguém por indicação política.
  • Que pena! E o doutor Braga heim, deixaram ele de fora?
  • É mesmo? Ele não vai assumir nenhum cargo?
  • Não! Deram uma rasteira nele.
  • Puxa! Ele não merecia isso!.

(...)”.

E deixei o prédio da Delegacia-Geral pensando na conversa com a telefonista  Glória, e que tinha uma torcida no andar térreo esperando que eu assumisse alguma posição...

Data: 05.01.99, horário: 10:00 horas, “O Papel...”:

Jorge Xavier telefonou via celular e foi direto para o assunto:

  • Eu fiquei esperando o teu retorno? (Jorge)
  • Sim, do quê que tu tá falando? (reconheci a voz)
  • Não ficastes de falar com o Julio e dar um retorno?
  • Ah, é, mas desisti, ele vai ser Secretário Adjunto dos Transportes.
  • Sim, e tu achas que nós vamos ficar fazendo papel de palhaço? Tu não achas que ele tem compromisso com o nosso grupo?
  • É verdade Jorge, eu sei disso, mas acho que ele não quer mais nada conosco, não telefona, não dá notícias, sei lá, acho que é só perda de tempo.
  • Não! Mas ele tem que dar uma explicação, o que é isso, onde já se viu,  ficar fazendo papel de palhaço!
  • Tá bom Jorge, eu vou tentar localizá-lo e depois dou um retorno para ti,  talvez à tarde, certo?
  • Certo! Eu aguardo.

“Desesperança?”

E ao desligar o telefone lembrei da Tereza e conclui que deveria fazer contato com ela no gabinete do Julio para obter alguma informação antes de falar com ele. Jorge Xavier estava cheio de razão e se ficasse confirmado meu pressentimento, ou seja, para não fazermos papel de palhaço e não nos sentirmos traídos, não custava fazer mais um contato derradeiro com Julio Teixeira para que desse pelo menos uma satisfação, para tanto iríamos convidá-lo para um último jantar com o pessoal do grupo que tanto havia sido solidário e fiel com ele. Também, recordei a nossa última conversa por telefone que tivemos, em cuja ocasião ele voltou a falar no nosso “Plano” e de que não era o nosso negócio ir atrás de “carguinhos”. Fiquei a medidar se Julio Teixeira estaria falando sério, ainda mais considerando que ele iria assumir o cargo de Secretário Adjunto dos Transportes, quando dizia que era certo noventa por cento que seria o Adjunto da Segurança Pública.  

Horário: 13:40 horas, “A Marca do Homem...”:

E liguei para o Gabinete de Julio Teixeira para ver se conseguia falar com Tereza, mas o telefone tocou, tocou, tocou... e do outro lado um silêncio total.

Horário: 13:45 horas, “Julio: o fora de área!”:

Resolvi insistir e telefonei novamente para Julio Teixeira, tinha o número do seu celular que Krieger havia me passado no jantar, depois de três chamadas:

  • Alô, alô...
  • Alô, quem é? (reconheci a voz de Julio).
  • Júlio é o Felipe!

E um som agudo tomou conta do aparelho, dando a nítida impressão de que a ligação foi interrompida bruscamente. Tentei ligar mais três vezes e surgiu aquela típica voz eletrônica:

  • O telefone chamado encontra-se fora da área de serviço ou temporariamente desligado...

Horário: 14:15 horas, “Julio Ocupado!”

Tentei ligar novamente e o celular de Julio Teixeira continuava com aquela voz, só que agora a mensagem havia mudado:

  • O telefone chamado está ocupado!

Pensei comigo: “Vou continuar insistindo até conseguir” e  vou tentar convidá-lo para nosso jantar, alguma coisa tem que ser feita...

Horário: 14:20  horas, “Julio continua ocupado”:

  • Ocupado, Telesc...!

Continuei firme no meu propósito, ou seja, farei mais algumas tentativas, isso para desencargo de consciência.

Horário: 14:25 horas, “Alô, Julio, Julio, Julio!

E finalmente o telefone dá sinal de que está chamando:

  • Alô, alô!
  • Alô, alô! (respondeu Julio)
  • Julio!

E logo que termino de invocar o nome dele novamente a ligação foi interrompida como da primeira vez, sem qualquer retorno. Reiterei a ligação:

  • O telefone chamado está ocupado!

Horário: 14:30 horas, “À Residência de Julio”:

E resolvi ligar para a residência de Julio, cujo número era 234-3217 e o telefone tocou, tocou e ninguém atendeu.

Horário: 14:35 horas, “Na Pele!”

E mais uma tentativa para o seu celular...:

  • O telefone está fora da área de serviço ou desligado.

Concluí facilmente que Julio Teixeira estava utilizando o telefone celular para contatos, quando não o fazia deixava o aparelho desligado, só que algumas vezes precisava deixar o aparelho em ‘stant by’ porque deveria estar aguardando alguma ligação, aquelas julgadas inconvenientes eram descartadas e essa sensação eu experimentei na pele, tive que pagar esse mico especialmente por causa do registro histórico.

Horário: 14:40 horas, “Julio: Tudo em Vão!”

E ouvi novamente aquela voz repetindo a mensagem que já havia escutado anteriormente, ou seja, que o telefone encontrava-se ‘fora da área de serviço ou...’.

E neste momento lembrei de Maurício Eskudlark,  que na eleição de 1994 fez campanha para o Julio Teixeira, arregaçou as mangas e na de 1998 não quis nem saber mais do seu candidato... por quê? Lembrei naquilo que a Tereza tinha me falado sobre Maurício e cheguei a recordar do Delegado Roberto Schulzle, Vereador na cidade de Rio do Sul e de seu rompimento com esse parlamentar, parece que as coisas agora estavam ficando bem mais claras, ou seja, será que as máscaras estavam caindo?.

E o mais importante era deixar as coisas seguirem o seu curso normal. Certamente que Julio acharia o seu destino e tudo que ele semeou. Agradeci a Jorge Xavier por ter insistido que eu tentasse fazer contato com Julio Teixeira,  talvez ele também tenha tentado em vão......

Horário: 15:00 horas, “Grande Estilo: Passagem de Comando do Coronel  Lemos para o Coronel Backes”:

E no Diário Catarinense constava a notícia que todos já conheciam, do outro lado triunfava o estilo sereno e diplomático do Coronel Backes, tudo indicando que não sofreu qualquer tipo de pressão ou ameaça de concorrentes, não houve ingerências de políticos, preponderou o espírito de corpo e a ética:

Será hoje às 19h, no Centro de Ensino da Polícia Militar, na Trindade, em Florianópolis, a solenidade de passagem do comando da PM/SC do Coronel Valmir Lemos para o coronel Walmor Backes.

(Diário Catarinense, 5.01.99, pág. 3)

“A Posse de Moretto”:

E, na página de polícia, uma nota sobre a posse de Moretto que não teve o mesmo prestígio de Backes que contou com a presença do Governador Amin:

Moretto empossado na Geral

O secretário de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina, Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, empossou ontem à tarde o novo Delegado-Geral da Polícia Civil, Evaldo Moretto, 48 anos. Moretto tem 27 anos de atividade na corporação. A cerimônia foi realizada na Academia de Polícia Civil (Acadepol), na Capital. O Delegado-Geral defende investimentos na polícia técnica e científica e o prosseguimento dos cursos de aperfeiçoamento dos policiais civis catarinenses.

(Diário Catarinense, 5.01.99, pág. 3)

Despedida Feliz

Um mistério sempre cercou o comportamento do ex-governador Paulo Afonso que, rejeitado pelas pesquisas, insistia em proclamar uma vitória eleitoral. A linguagem usada por muitos de seus colaboradores na transmissão  do cargo, no decorrer do dia de ontem, ajudou a entender parte do enigma. Muitos fizeram questão de repetir a surpreendente colocação – ‘eu estou feliz’ – feita pelo ex-governador na Sexta-feira passada. Não se sabe se assumindo uma co-responsabilidade ou revelando inconscientemente a influência exercida sobre o ex-chefe, conduzindo-o a declarações longe da realidade. E como. As manifestações de felicidade feitas também ontem ajudam a entender o cerco e a péssima assessoria a que foi submetido. Mal informado julgou-se capaz de tudo. Faltou, inclusive, tratamento.

(Diário Catarinense, Paulo Alceu, 5.01.99, pág. 8)

“Coronéis Backes e Tramontin”:

Moacir Pereira também noticia a transmissão de comando:

Coronel Walmor Backes assume hoje, às 19 horas, o comando da Polícia Militar do Estado. O novo chefe do Estado Maior da PM é o coronel Aristides Enéas Canela Tramontin.

(‘O Estado’, 5.01.99, opinião, pág. 2)

“Delegado Regional de Joinville?”

Pode ter sido definido ontem o nome do novo titular da Delegacia Regional de Polícia de Joinville. Duas indicações foram parar na mesa do secretário de Segurança Pública. Da delegada de Mulher em Joinville, Marilisa Boehm, e do delegado Zulmar Valverde. Ambos profissionais competentes e de bom trânsito junto a comunidade. Pode surgir um terceiro nome se não houver consenso na escolha.

(‘A Notícia’, Alça de Mira – Antonio Neves, 5.01.99, pág. A-6)