PARTE CCI -  “A MORTE DO SECRETÁRIO CARVALHO E SEU LEGADO”

Por Felipe Genovez | 23/04/2018 | História

PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA (1998 – 2002) - PARTE CCI -  “A MORTE DO SECRETÁRIO CARVALHO E SEU LEGADO”.

Data: 10.06.99:

Em todos os jornais catarinenses e na própria mídia nacional não havia outro assunto, que não fosse a morte de Carvalho..., agora parece que transformado em mito...:

Queda de helicóptero mata secretário

Aeronave, um Águia Uno da Polícia Militar caiu por volta das 23h30min. E explodiu ao bater em um morro. Além do secretário, morreram dois oficiais da PM, o coronel Maiochi e o tenente Guimarães. Governador Esperidião Amin foi avisado do acidente em Brasília, onde estava em reunião com FHC

O secretário da Segurança Pública, Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, e mais dois oficiais da Polícia Militar de Santa Catarina morreram ontem, por volta de 23h30min em acidente envolvendo o helicóptero Águia Uno da PM. Eles voltavam de uma viagem a Joinville quando a aeronave caiu num morro perto de Morretes, município de Biguaçu, a 60 Km ao Norte de Florianópolis. A base aérea ficou sabendo do desastre somente à uma hora da madrugada de hoje (...). Promotor – Luiz Carlos Schmidt de Carvalho tinha 47 anos, era casado e tinha três filhos. Natural de Lages, era formado em Direito pela Univali. Promotor de Justiça desde 1980, foi chefe do Departamento de Direito Público na FURB e professor da Escola Superior da Magistratura e professor permanente da Escola Superior de Advocacia. Também foi professor de Direito e vice-diretor da Univalli. Exerceu ainda o cargo de secretário de Planejamento e Desenvolvimento de Itajaí. No currículo profissional do ex-secretário da Segurança, que era doutorando em Direito da USMA, em Buenos Aires, consta a especialização em Direito Internacional pela Illinoys Wesleyan University de Chicago, nos EUA, além de ter feito especialização em Direito Público, na UFSC. No governo Vilson Kleinubing, Carvalho foi titular da Secretaria da Justiça e da Administração. Durante os quatro anos em que o PMDB ficou no governo, Schmidt de Carvalho voltou para Blumenau, onde reassumiu as funções de promotor da 4a Vara Cível, até ser convocado pelo governador Esperidião Amin para assumir a pasta da Segurança Pública, que passou a acumular a de secretário da Justiça. O governador Esperidião Amin foi comunicado do acidente em Brasília.

(‘O Estado’, 11.06.99, pág. 03)

Sim, Carvalho estava trilhando um projeto de integração, mas tinha limites e sabia muito bem disso. Quanto ao projeto de unificação, não se sabe o que poderia advir. Mas essa entrevista mostrava toda a sua sabedoria, sintonizada, num primeiro momento,  com uma boa polícia operacional e, talvez,  fornecendo as bases para uma futura polícia de Estado? Se isso fosse verdade, seria uma ousada estratégia do Governador Amin, do ex-Deputado Julio Teixeira, também, do Deputado Knaesel, Coronel Backes e do Delegado-

Geral Evaldo Moreto. Mas isso só o tempo é que poderia prestar os devidos esclarecimentos e revelar qual seria verdade:

(...)

Tolerância zero marcou a curta gestão

(...)

Autor de propostas inovadoras para a segurança em Santa Catarina, Carvalho ganhou destaque com a proposta de implantação do plano de tolerância zero, para tornar a polícia mais eficiente.

Foi buscar inspiração no modelo adotado pela prefeitura de Nova York, para onde viajou no início do ano integrando a comitiva da prefeita de Florianópolis, Angela Amin.

Carvalho defendia a modernização da polícia tecnológica Santa Catarina para aumentar a eficiência na solução de crimes. “Precisamos formar uma polícia quase cibernética”, declarou ao Diário Catarinense em janeiro, menos de um mês depois de tomar posse.

Sonhava com o aparelhamento da corporação e justificava que exames como o de DNA eram fundamentais para a solução de crimes. Criticava a falta de computadores nas delegacias e defendia o treinamento dos policiais em informática.

Uma das bandeiras que o secretário empunhava era a integração entre as polícias Civil e Militar. “Os sistemas de rádio das duas corporações não se comunicam entre si”, exemplificou após assumir, queixando-se da falta de sintonia entre as corporações.

Determinou que todos os cursos promovidos pela Polícia Civil tivessem representantes da Militar entre os participantes, e vice-versa. “Mas não se pode quebrar uma cultura de 100 anos em 10 dias”, resignava-se, dando a entender que o caminho para a integração era longo.

Esta semana, afirmou que não tinha intenção de concorrer nas eleições municipais do ano que vem, mas vinha sendo cortejado por partidos principalmente em Blumenau. Não era filiado a nenhum partido político.

(Diário Catarinense, 11.06.99, pág. 23)

“Tenente-Coronel Dácio José Maiochi e o 2o Tenente Alan Vargas Guimarães”:

Emoção no enterro dos oficiais:

Os pilotos da aeronave  foram sepultados no final da tarde de ontem na Capital

Florianópolis

Num clima de emoção, companheiros e familiares de dois pilotos mortos no acidente aéreo, tenente-coronel Dácio José Maiochi e o tenente Alan Guimarães, ocorrido por volta de 23h30min, desta Quinta-feira, lotaram as dependências do Comando da Polícia Militar, no 4o Batalhão, em Florianópolis.

Os dois pilotos eram reconhecidos por sua capacidade e dedicação à corporação. O tenente-coronel Dácio era um piloto experiente. Aos 48 anos, era comandante do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (GRAER) e pilotava a aeronave Esquilo. O catarinense nascido em Rodeio era casado e deixa dois filhos, Alessandro, 9 anos, e Andressa, 12 anos. Maiochi ingressou na PM em 13 de outubro de 1971, completando 30 anos.

O militar foi pioneiro no serviço aéreo da Corporação, com vários cursos especializados em outras polícias militares e Forças Armadas. Da PM recebeu medalhas e condecorações por Tempo de Serviço Categoria Bronze e Prata (10 e 20 anos) e Brasão Mérito Pessoal, 3a e 2a categoria.

O 2o Tenente Alan Vargas Guimarães, 25 anos, era oficial integrante do Grupamento Aéreo da Polícia Militar de Santa Catarina. O copiloto nasceu em 17 de novembro de 1973 no Rio de Janeiro. Era filho de Luiz Gonzaga Machado e Josefa Antônia Vargas Guimarães. O tenente estava há seis anos e três meses na PM e possuía cursos específicos em pilotagem. Guimarães recebeu Brasão de Mérito Pessoal 3a categoria.

No final da tarde desta Sexta-feira, o tenente-coronel Dácio José Maiochi foi sepultado no Cemitério Porque Jardim da Paz, no Norte da Ilha. O copiloto, tenente Alan Vargas Guimarães foi enterrado no Cemitério da Armação, no Sul da Ilha.

(Diário Catarinense, 12.06.99)

“Heitor Sché e Julio Teixeira novamente”:

Adjuntos assumem as duas secretarias vagas

Governo só deve começar a estudas nomes para substituir Carvalho na próxima semana

(...)

Para a Secretaria da Justiça, desde que o deputado Jaime Duarte (PPS, ex-PSDB) deixou o cargo em abril, já foram cogitados vários nomes de tucanos. Do próprio adjunto, Léo Rosa, do advogado e presidente do Instituto Teotônio Vilela, Jacó Anderle, e daquele que, aparentemente, conta com a simpatia das bancadas estadual e federal do PSDB, o promotor de Justiça de Joinville, Paulo César de Oliveira Ramos. Apesar de que há mais de um mês a lista com esses nomes tenha sido entregue pela direção do PSDB ao governador, nenhum deles conseguira a nomeação. Inclusive porque o governador não tinha pressa; reiterava que a Justiça “estava em boas mãos”.

O impacto da tragédia ocorrida com Carvalho deve criar dificuldades adiconais para a substituição na Segurança. Sem filiação partidária por exigência da função de promotor público, o ex-secretário mantinha estreitas relações com o PFL e a admiração e confiança do governador. Ao seu currículo de profissional competente e dedicado aos temas da promoção da cidadania, bastaram  os primeiros  meses de trabalho, para que acrescentasse o respeito irrestrito dos colegas de colegiado.

Esteve na dianteira no lançamento de programas de repercussão social nessa primeira etapa do governo. E, conseguiu transitar como poucos pelos desgastes do período de afinação política da coligação o nome do delegado e deputado Heitor Sché, ex-secretário de Segurança Pública no primeiro governo de Amin e ex-presidente da Assembleia Legislativa.

Ele nunca escondera sua frustração por não Ter sido convidado em primeira mão, quando fora montada a equipe de governo. Há versão de que seu nome tenha sido vetado pelo ex-deputado e atual suplente do PFL, Júlio Teixeira, também delegado de Polícia, com quem dividiu a base eleitoral no Alto Vale do Itajaí. Ontem, Sché cumpriu viagem programada a Rio do Sul, depois passaria em Blumenau. Seus assessores evitaram comentar o assunto, diante do impacto causado pela morte de Carvalho.

(Diário Catarinense, 12.06.99)

“Carvalho: Coordenação e integração das Polícias”:

Perda lamentável:

O prematura desaparecimento do secretário da Segurança Pública, Luiz Carlos Schmidt  de Carvalho, em acidente aéreo ocorrido na noite de Quinta-feira, priva Santa Catarina de um dedicado servidor público e de uma nova liderança que vinha se afirmando no cenário estadual com a marca da seriedade de propósitos, e passando ao largo do muitas vezes pesado jogo político-partidário que, não raro, transforma cargos em moeda de troca eleitoral (...). Por ironia do destino, Luiz Carlos Schmidt de Carvalho não poderá ver o resultado de um trabalho a que vinha dedicando tempo quase integral nos últimos meses.

O projeto Tolerância Zero, cuja inspiração fora buscar em Nova York, onde o prefeito Rudolph Giuliani o aplicou com sucesso e apoio popular, fica como marca de sua breve gestão cortada pela fatalidade. Resta esperar que nãos seja interrompido por quem o suceder na chefia do setor da Segurança.  Não apenas como homenagem à memória de um dedicada homem público. Mas também porque o projeto responde a um anseio da sociedade, amedrontada com a escalada da violência e da criminalidade em todos os seus níveis (...). Registre-se ainda, como uma homenagem a memória do homem público, sua bem-sucedida política de coordenação e unificação dos trabalhos das polícias Civil e Militar.

(...)

(Diário Catarinense, 12.06.99, pag. 12)

“Incrivel”:

Um bom exemplo

No mês passado o secretário de Segurança, Luiz Carlos de Carvalho, esteve na redação da RBS TV conversando com os jornalistas. Veio mostrar como funciona a secretaria, suas obrigações, trâmites e necessidades. Trocou ideias com os profissionais que levam a informação à opinião pública. Se permitiu ao diálogo aberto, franco e profissional. Era esse o perfil do jovem secretário, além de atuante e perseverante. Carvalho lenta e gradualmente vinha mudando a mentalidade e atualizando uma atividade que está exigindo uma atenção toda especial e moderna. A linguagem culta e avançada integrava o discurso de Carvalho. Certamente, nesse setor o governador Amin, apesar de atento, não tinha surpresas desagradáveis. O programa Tolerância zero estava sendo implantado. Dá para afirmar que os catarinenses estavam bem representados na área de segurança. Pelo menos nas boas intenções e idealismo do secretário. Perda lamentável.

Incrível

As declarações do delegado Wanderley Redondo à CBN/Diário foram estarrecedoras. Ele, que foi com o secretário de Segurança de helicóptero a Joinville, decidiu retornar de carro. Escapou da morte. Disse que já estava na Capital quando perto das 21h30min recebeu um telefonema de Carvalho: “Me deixou sozinho. Não quis voltar comigo. Ficou com medo de morrer? Redondo, em tom de brincadeira, respondeu que morreria abraçado com o secretário.

(...)

(Diário Catarinense, 12.06.99, pág. 16)

Data: 13.06.99 – “Carvalho e suas habilidades”:

Também, os jornais de domingo ainda davam destaque a morte do Secretário Carvalho, sua passagem pela Segurança Pública, e ele entrou definitivamente para a História da Polícia de Santa Catarina:

Compromisso com a informação

(...)

O desastre com o helicóptero do governo do Estado no final da noite de Quinta-feira destruiu parte dessa retoma de insensibilidade. Chocou pela fatalidade do destino, pois o secretário Luiz Carlos Schmidt de Carvalho conquistou entre os jornalistas o respeito pela determinação como encarava a administração pública. Mesmo com todas as dificuldades e deficiências, Carvalho acreditava ser possível mudar conceitos e modificar a realidade na área de Segurança. Sonhava com a integração entre as polícias Civil e Militar. A voz macia e a simplicidade faziam acreditar que esse blumenauense de coração conseguiria atingir seus objetivos à frente da secretaria.

Uma das habilidades de Schmidt de Carvalho era a negociação, como a que ele realizou no início de maio com os detentos amotinados na Penitenciária de Florianópolis, através dos microfones da Rádio CBN/Diário, com o comando de Mário Motta. Mesmo distante da Capital, o secretário conseguiu negociar e acalmar os ânimos dos presos, encaminhando para o encerramento da rebelião.

(...)

(Diário Catarinense, 13 de junho de 1999, pág. 2)