Data: 23.09.98, 11:00 horas:  

Redondamente enganados:

O Delegado Krieger me telefonou perguntando se eu havia recebido um telefonema do Delegado Redondo acerca da carreata do Júlio Teixeeira no sábado à tarde. Respondi  que não sabia de nada e ele pediu para ver se a gente poderia trocar a data do churrasco de sexta-feira para sábado porque ficaria difícil dois churrascos um atrás do outro. Argumentei que iria ver o que poderia ser feito, mas que por enquanto estava de pé o churrasco da sexta.

Em seguida liguei para Júlio Teixeira no seu celular e atende o seu motorista Carlos que informou que, à noite o candidato viria para Florianópolis à formatura dos novos policiais na Academia de Polícia (surgiu uma preocupação, por que na reunião de ontem havia explicado para o pessoal que Júlio Teixeira até as eleições não poderia mais sair de Rio do Sul em razão do grande número de compromissos e agora sou surpreendido com duas informações de que Júlio estaria na formatura da Acadepol à  noite e, também, na “carreata” de sábado que provavelmente estva sendo articulada pelo Delegado Wanderley  Redondo). O motorista disse mais, ainda, que na tal da pesquisa o Júlio Teixeira estaria para sair só em Rio do Sul com cerca de vinte e cinco dos cento e quarenta mil votos existentes na região, sem contar os votos das outras regiões. Achei melhor esfriar a cabeça, mas estava ficando evidente que Júlio Teixeira estava me mantendo a uma certa distância, evitando aproximações para não despertar rivalidades internas (e veio a lembrança, principalmente, dois episódios anteriores: a entrega do nosso “Plano” para o Amin sem a nossa participação, depois a minha indicação para integrar o grupo de governo que somente veio a ocorrer na última hora, isso porque no dia, coincidentemente, fui conversar com Júlio Teixeira para obter algum retorno do Senador Amin acerca do nosso “Plano”, quando o nome do Delegado Rachadel havia sido indicado, isso tudo temperado pela presença ostensiva de Redondo no Gabinete de Júlio). Parecia que algo estava acontecendo e também me preocupava as relações de Júlio com todo o pessoal comissionado do PMDB, de uma hora para outra várias pessoas estavam apoiando a sua candidatura, como o Delegado Peixoto – Diretor da Acadepol, Poeta, Neves do Gabinete da Secretária Lúcia (e de lambuja, o Delegado Krieger também era amigo do Delegado Neves e havia confidenciado esse fato no nosso último jantar quando disse inclusive que havia convidado o mesmo para integrar o nosso grupo). E lembrei ainda o dia que Júlio Teixeira me disse em seu Gabinete que doravante teríamos que ficar mais de fora para sermos preservados naquela altura, isso porque seríamos os executores do “Plano” (diante dessa última lembrança, resolvi então me acalmar, sem saber onde é que vai dar isso tudo, coisa que só o tempo poderá revelar a verdade de desmascarar as faces neste jogo político, espero estar vivo até lá para registrar os acontecimentos que ainda irão se suceder). E voltei meus pensamentos àquele excesso de otimismo... um filme que espero já não ter visto antes...

Exatamente às 13:40 horas:

  • Alô, Jorge?
  • Fala Felipe, telefonei para ti no final da manhã.
  • Eu sei,, recebi o teu recado. Escuta tu estais em casa?
  • Sim estou. Daqui a pouco eu vou sair, mas sobre a nossa festa eu falei com o Geraldo e ele se prontificou a ajudar na festa com a carne, frango, salada. Uma beleza. Calculamos comida para cerca de oitenta pessoas, como ele é exagerado deve dar para cerca de no mínimo oitenta e cinco pessoas, e isso vai dar uns trinta reais para cada um.
  • Está excelente o preço, mas tu me aguardas que eu preciso falar contigo em seguida  e é urgente. Volto a ligar daqui a pouco.
  • Tá bom!

Horário: 14:00 horas:

Ig  NOBEL:

Recebo em casa o recado da minha secretária de que Wanderley e Jorge Xavier telefonaram ainda na parte da manhã. Imediatamente liguei para Wanderley Redondo, já sabendo do que se tratava:

  • Alô, Wanderley, é o Felipe!
  • Oi Felipe tudo bem. Telefonei para ti de manhã. Vê se deixa esse teu celular ligado.
  • Eu tive um problema nesse horário e não deu para atender.
  • Entendi.
  • Mas e daí?
  • Eu falei com o Krieger de manhã. Tu sabes há mais de um mês e meio que eu acertei com o Júlio para a gente fazer uma carreata e só agora é que eu consegui, vai ser no sábado.
  • Pois é, nós temos a festa na sexta-feira à noite. Já está tudo certo. O nosso grupo ontem inclusive esteve reunido.
  • O grupo? Quem?
  • O nosso pessoal de sempre. Tu sabes, eu, Jorge, Krieger, Garcez, o Wilmar Domingues.
  • Não brinca? O quê? Esse cara? Meu Deus, como é que o Wilmar Domingues está com vocês?
  • Wanderley, é o Wilmar Domingues. Eu acho que não estamos falando da mesma pessoa.
  • Eu sei. É ele mesmo. Esse cara é o maior mordedor de b. do b. que existe. Só tem cara de sério.
  • Não é possível! Wanderley, eu estou falando do doutor Wilmar Domingues. Acho que tu estais confundindo com outra pessoa.
  • Não! É esse mesmo. É o Especial. Inclusive, na semana passada eu fui procurado por um b. aqui da Capital que disse estar sendo pressionado por ele que quer três mil reais de qualquer jeito. Como é que esse cara está com vocês?
  • Não acredito. Não é possível!
  • Então tá! Mas sobre a festa de vocês na sexta-feira acho que nós poderíamos fazer tudo junto no sábado.

(...)

Por um voto de confiança:

Procurei ainda me refazer do susto. E, evidentemente, sem acreditar em nada daquilo que acabara de ouvir, mesmo porque imediatamente lembrei que havia comentários de que a esposa de Wanderley  também esteve envolvida (ou autuada) com um caso de b. de b., mas aquilo era outra coisa e que eu também só ouvi comentários. Enfim, retomei o norte e fui ao que interessava, na nossa conversa:

  • O Krieger me falou, acho que não há problema algum, de qualquer maneira tenho que falar com Jorge porque nós já acertamos com o Geraldo do Candeias para ajudar na festa. (Felipe)
  • Eu também posso ajudar, também o Gervásio Maciel que é candidato a Federal foi convidado e pode ajudar (Redondo).
  • Tudo bem, isso até facilita porque o Geraldo também está trabalhando para o Gervásio e segundo calculamos que daria uma cota de trinta reais para cada um, considerando que iremos convidar umas oitenta pessoas e fica melhor fazer no sábado por causa da presença do Júlio, quantas pessoas tu achas que vão participar do teu lado?
  • Eu calculo de duzentas a duzentas e cinquenta pessoas e nesse caso eu posso ajudar com uns duzentos reais, podemos fazer um carreteiro.
  • Nós pensamos num churrasco.
  • Eu consigo uma carne de primeira a dois reais e cinquenta centavos.
  • Pois é, de qualquer maneira eu vou falar com o pessoal, depois te dou um retorno, mas já posso dizer que concordo com a mudança de data, apesar de que tenho que falar ainda com o pessoal da Penitenciária.

Horário: 14:40 horas:

Mão-na-massa:

  • Alô! Krieger!.É o Krieger?
  • Fala amigo!
  • Acabei de falar com o Wanderley. Realmente eu acho uma boa a mudança de data.
  • Eu também. A presença do Júlio é importante.
  • Eu nem falei com o Jorge ainda, mas tudo bem.
  • Abraço.
  • Ok.

Em seguida toca o telefone celular. Era o Agente Prisional Wildemir da Penitenciária. Como já sabia que se tratava também sobre a festa pedi para ele ligar depois de cinco minutos e continuei a conversa:

  • Pois é Krieger, é o pessoal da Penitenciária. Eu tenho que ver ainda se eles concordam com a mudança de data. Eu acho que não vai ter problema.
  • Até é melhor, inclusive, tem o problema de limpeza. Se houver duas festas seguidas quem é que vai limpar no dia seguinte?
  • Isso não tem problema. O pessoal limparia o local para deixar preparado para o sábado, mas se eles insistirem em fazer na sexta tudo bem. Eu dei a minha palavra e aqueles que quiserem voltar no sábado poderão participar também.
  • Certo. E tem o problema da vala lá que nós temos que tapar, mas isso não tem problema. A gente pode ir lá de manhã e fechá-la.
  • Não tem problema. Eu também me disponho a isso, mas depois a gente conversa.  Tchau!

Depois disso voltei meus pensamentos para a disposição do Delegado Krieger para botar a mão na massa o que aumentava bastante a sua credibilidade em razão do comprometimento com a nossa causa.

Horário: 15:00 horas

 Abacaxi’s:

  • Alô! Jorge, estou retornando. Estou com um abacaxi. Vamos ter que descascar juntos.
  • Sim. Vamos ver o que é que podemos fazer.
  • Não é tão grave assim. Primeiramente eu naquela hora não pude abrir o jogo para você até para te poupar.
  • Sim.
  • Escuta, tu sabias que o Júlio vai estar sábado aqui e que vai participar de uma carreata com o Wanderley?
  • Olha ó!
  • Pois é, mas o Wanderley  quer fazer a festa dele junto com a nossa no sábado, lá na Cassol. O Krieger já me ligou e também concorda. Ele acha importante a presença do Júlio, mas eu disse a eles que teria ainda que conversar contigo.
  • O quê? Mas isso ficou esquisito. Como é que o Júlio pode participar da carreata do Wanderley  e não pode participar da nossa festa na sexta?
  • É isso aí, mas quanto a isso eu já me refiz. Escuta, estais sentado?
  • Sim,  estou sentado.
  • Fica assim porque isso ainda não é nada, mas quanto à festa, o Redondo me falou que iria levar o Gervásio Silva. Mas agora tu vê, tu sabias que o Júlio vai estar hoje aqui para a solenidade de formatura dos novos policiais na Academia?
  • O quê? Mas isso é ruim! Será que nós estamos assim sem prestígio com ele? Acho que o Redondo ocupou um espaço muito grande. Como é que ele vem numa solenidade do PMDB?
  • Não sei. Mas hoje começo a compreender bem o bom relacionamento que ele tem com o pessoal da Academia, com o Peixoto, com o Poeta, tanto isso é verdade que pouco antes desse último concurso o Júlio me telefonou pedindo informações sobre o Poeta e dei boas recomendações, no que ele concordou. Acho que ele como candidato realmente tem que manter um bom relacionamento com todo mundo que esteja disposto a apoiá-lo, prefiro pensar naquilo que ele sempre disse para mim um outro dia em seu gabinete: “nessa hora Felipe eu tenho que te poupar para não te desgastares” ou quando ele disse para nós que seríamos os executores do “Plano”, lembras? Temos que confiar nele a essa altura do campeonato.
  • Executores?
  • Sim, mas quem executa tem que comandar também, não achas? De qualquer maneira temos que confiar nele e esperar o depois de tudo para ver no que vai dar tudo isso.
  • É, nisso tu tens razão, mas ficou ruim. Não podemos nem dizer isso para o restante do nosso pessoal porque vai até ficar chato.
  • Sim. Cria até um clima negativo. Psicologicamente fica uma situação de impotência, desgaste, mas também o nosso pessoal é fiel e forte. E depois tem uma coisa, né Jorge, o Júlio sabe quem é quem. Assim eu espero, o Wanderley  está fazendo um bom trabalho político e é isso que pesa nesta hora. Se o caso dele for a direção do Detran – muito que bem – acho que é possível não só por isso, mas também pela vinculação  partidária. Ele é competente no que faz.
  • Realmente.
  • Mas qual é a tua opinião sobre a festa?
  • Eu tenho que falar com o Geraldo. Parece que ele tinha um problema para o sábado. Ele me falou, parece num casamento. Vou ter que falar com ele para ver como fica.
  • Acho bom e esse negócio de transferir a festa tem que ser analisado também por outra perspectiva. O Wanderley  poderia no sábado fazer uma festa independente de nós, com aquele pessoal dele e isso ficaria até chato porque como é que iríamos justificar a ausência do Júlio para o pessoal. Nesse sentido ele foi muito coerente, estamos todos juntos nesse barco.
  • Sob esse ponto de vista tu tens razão. Ficaria chato para nós. De qualquer jeito o Júlio ficou devendo uma explicação. Acho que tu deverias telefonar agora para ele.
  • Eu já fiz isso. Falei antes com o motorista dele, o Carlos que disse que o Júlio está numa reunião e pediu para que eu ligasse mais tarde, na hora da formatura. Disse ainda que naquela pesquisa o Júlio está previsto para arrancar com vinte e cinco mil votos só em Rio do Sul, fora a região e outros locais, já pensou?
  • Se isso for verdade é muito bom, mas eu fiquei preocupado. Acho que tu deves tentar falar com ele ainda.
  • Vou tentar. Mas escuta tu estais ainda sentado?
  • Estou!
  • Então te prepara. Quando eu falei do grupo e mencionei o nome do Wilmar Domingues, o Wanderley ficou bastante indignado por ele estar conosco. Ele chegou a dizer que ele é um baita de um enganador, que morde no j. do b. O que é isso? É impossível. O que tu achas disso tudo?
  • É coisa antiga, da época da Furtos ainda. Inclusive, tinha o nome do Irá, do Arno envolvidos.
  • Mas isso é coisa antiga. Ele está falando de coisa atual?
  • Não é coisa antiga, daquela época.
  • Jorge eu não acredito em nada, o Wanderley Redondo não é daquela época. Dizer que o Wilmar está pressionando b. para receber três mil reais, dá licença.
  • Mas o que o que Wanderley está pensando? A mulher dele foi quase p. (não consegui entender bem o que Jorge falou em razão talvez da emoção...) por estar envolvida com b. de b.. Tu não sabes, saiu até na imprensa?
  • Eu ouvi falar e parece que vi a matéria, mas tudo isso pode ser invenção. De qualquer maneira eu acredito na idoneidade do Wilmar e sobre a festa então vamos ficar assim, fica  para sábado, certo?
  • É, eu vou falar com o Geraldo, mas é isso aí. Depois eu te ligo e tenta falar com o Júlio, depois tu me das um retorno.
  • Certo. Estou em casa até às dezessete horas.

Horário: 15:20 horas:

  • Alô!  Fala Wilder.
  • Ô Dr. Felipe!

(...)

  • Escuta Wilder, sobre a festa de sexta está transferida para sábado. Esse é o problema.
  • Não brinca, já foi transferida outras duas vezes. Essa vai ser a terceira.
  • Paciência, é importante a presença do Júlio, não é?
  • Realmente, mas eu tenho que falar com o pessoal aqui, nem eu sei se poderei ir. Trabalho sábado até às dezoito horas.
  • Wilder dá um jeito. Te vira, explica para o teu pessoal aí. A festa será sábado a partir das dezesseis horas. Fala com o pessoal e me dá um retorno depois.