Cretinices e Surrealismo:

Por volta de dez horas da manhã sou surpreendido na Galeria do ex-Chefes de Polícia pela visita esperada do Escrivão Osnelito, Gerente de Fiscalização de Jogos e Diversões da Delegacia-Geral da Polícia Civil que dessa vez não veio para seu habitual “descarrego”:

  • Olha tu conheces o tal do Ballstaedt? (Lito)
  • Ballstaedt? Acho que já ouvi falar nesse nome, é policial?
  • Não. É advogado, acabei de encontrar ele no lá no centro. Ele me contou que fez o último concurso para Delegado e também não passou. Disse que esse último concurso da Polícia Civil foi todo com cartas marcadas, as provas foram bem difíceis de propósito para ninguém passar, depois eles aprovaram quem eles quiseram. Esse advogado é amigo do Edson Volpato, cunhado da Lúcia. Ele disse para ele que é formado em curso superior, que há anos não estuda nada e não sabia nada e que foi fazer o concurso e que a L. simplesmente colocou o nome dele na lista de aprovados. Disse mais ainda, que o Paulo Afonso não quis nem saber e mandou colocar dois nomes na lista de aprovados, um era de um ex-Prefeito de uma cidade do Sul do Estado e um outro... O L. colocou parentes dele...
  • É mesmo Lito, tu tens certeza disso que tu estais me relatando?
  • E aquele palhaço cabeçudo que estava lá na Academia, como é o nome dele mesmo...?
  • Palhaço cabeçudo? Acho que tu estais falando do Delegado C.?
  • É esse aí mesmo, ele teve a coragem de dizer que o concurso é sério.
  • Ele já se aposentou.
  • Olha o Andrino me telefonou ontem a noite para que eu fosse hoje no comício dele. Eu disse tantos desaforos para ele, que bando de safados essa turma do PMDB, na época que ele havia falado com a Lúcia para que me ajudasse no concurso, ela respondeu que era tudo computadorizado, uma mentirada, falei como eram feitas as provas, para ninguém passar, e depois eles passam quem eles querem e sabe o que o Andrino me respondeu? Ele me disse que também estava indignado com o partido e que depois das eleições haverá uma reformulação. Eu disse prá ele que não adianta e que talvez só vote nele para Deputado Federal, e tu vê, eu bem que poderia estar me formando com a turma hoje à noite, já decidi, vou votar no teu candidato, não conheço ele, mas vou votar para estadual no Júlio e para Federal no Luiz Alberto envolvido com as APAES,  ele é meu vizinho e é do PPB.
  • Tu te das bem com ele? Não é o Luiz Alberto da Silveira, o médico?
  • Não, é Silva, é meu vizinho e me dou muito bem com ele.
  • É, o voto é secreto.
  • Isso é uma vergonha, uma safadeza nesses concursos, olha eu não vou votar em ninguém do PMDB, só não vou a tua festa lá na Cassol porque...
  • E a galega lá embaixo está ainda pegando no teu pé?
  • Não. Ela que não se meta comigo, eu não dou arrego.
  • Mas eu estive outro dia lá embaixo e vi ela conversando normalmente com o pessoal.
  • Sim, ela conversa, mas é metida a autoridade, vive chamando a atenção de todo mundo pelo uso do telefone, anota as chegadas tardias do pessoal.
  • É mesmo? Ela tinha que pegar é no pé do Walter.
  • Aquele é um covarde, pode se dizer qualquer coisa na frente dele que ele não faz nada, só sabe falar pelas costas, não vale nada, ela pode dizer um monte de coisa que ele aceita tudo, é um covarde fofoqueiro.

Justinianus:

Enquanto Lito continuava com sua conhecida língua afiada e soltava uma saraivada de impropérios, veio a lembrança o Delegado Garcez e seu esgotamento nervoso em razão daquela sindicância que instauraram contra ele por não ter comparecido no dia do concurso, quando convocado pelo Delegado-Geral – Dr. Trilha para fiscalizar o famoso concurso da Polícia Civil de 1998. E depois, o peso daquelas manifestações de Lito acerca desse concurso esbarravam numa máxima bastante elementar: “A prova incumbe a quem afirma e não a quem nega a existência de um fato (Dig. XXII, 3,2). E, fiquei ainda a rememorar os tempos em que ele atuou comigo na “Assistência Jurídica” da Delegacia-Geral (1991-1994) se preparando para o concurso..., aquele conceito de Hegel que lhe passei sobre “Justiça”, que várias vezes tive que encetar, mas que ele nunca conseguiu assimilar ou memorizar: “Justiça é um complexo de condições existenciais da sociedade, asseguradas pelo poder público”. E se não bastasse isso, também as diferenças “academicistas” entre os concursos formal, material, delito continuado no Direito Penal, também, o conceito de “crime complexo”... E lá veio Lito outra vez com sua “saraivada” ácida de adjetivações:

  • Bando de safados e aquela cretina da Secretária, passaram todo mundo e eu fiquei de fora, é por isso que tu tens que entender a minha revolta.
  • É, se eu tiver poder lutarei para mudar esses concursos, acho que no próximo governo pode-se passar o concurso por exemplo para a Universidade Federal e eles dão a relação final dos aprovados, por isso que votar no Júlio é importante e acho que estais fazendo uma boa opção Lito, você vê, nesse episódio das letras, ele poderia ter negociado o voto dele, havia a questão da isonomia dos Delegados e ele deixou tudo isso de lado, mas tu sabes que não existe político honesto.
  • Ah sim, o político que for honesto não se elege e sei que o Júlio foi passado no concurso..., me disseram que no dia que ele foi fazer a prova estava b...
  • Será que isso é verdade, qual é a fonte?
  • Eu sei,, eles fazem uma prova bem difícil que não passa ninguém e aí eles aprovam quem eles querem, sempre foi assim, inclusive, na época daquele secretário beberão um bando de safados, sem vergonhas, olha eu disse tanto desaforo para o Andrino que acho que ele ficou com o ouvido cheio. A Iziete que estava por perto ouvindo a conversa  depois me perguntou por que eu falava tantas palavras de baixaria e eu respondi que eles estavam acostumados com isso.

Martelus ad pregus:

Nesse momento lembrei do Diretor da Academia da Polícia Civil na época que fiz concurso para Delegado. Depois que fiz meu primeiro concurso no ano de 1984 havia sido reprovado e então fui procurá-lo para pedir revisão de prova. A resposta foi que ninguém havia sido aprovado, apesar de ter estudado muito. Realmente ninguém passou e marcaram uma nova data e o Diretor me deu um tapinha nas costas me advertindo que tinha que estudar mais, preferi não comentar nada porque estava há mais de um ano estudando muito e inclusive me preparando para o concurso da magistratura.

E, já próximo da porta de saída Lito soltou a sua última pérola do dia:

  • Quando eu te digo que a minha vontade era quebrar todos esses quadros é por causa disso tudo, gostaria de trazer um martelo aqui e quebrar todos eles, um por um só de raiva deles...

Pensei em seguida no “Terceiro Estado”: Lá vai um jacobino exaltado, um verdadeiro Montanhês no nosso meio que bem talvez nunca irá ter o seu coração curado.