Dia 22.09.98:

 

“A verdade sempre deve ser dita?”

Enfim, a porta do banheiro é travada no auditório do prédio da Delegacia-Geral e  estava eu sentado no mesmo lugar, como fazia nos últimos meses, todas as manhãs das sete às nove horas (depois me retirava para o Arquivo Público do Estado). Osnelito, como de costume todas as manhãs deu o ar da sua graça:

  • Tudo bem?
  • Fala Litão?
  • Nem te falo, a coisa tá preta.
  • Qual é o problema dessa vez?
  • Amanhã é a solenidade de posse dos novos policiais, passaram cada traste, um bando de safado, eu estou muito revoltado. Esses concursos têm sido uma maracutaia atrás da outra, noutro ano chegaram a passar um surfista lá do Rio de Janeiro, e eu estou eu aí me arrombando.
  • Pois é Lito, e como é que está lá embaixo, e a “Galega” (me referia a “Guinivere”).
  • Ela está querendo mandar mais do que eu, ontem quis determinar que eu fizesse tal coisa... e eu não aceitei. Ela correu para a Dra. Ana (Botelho) contar, mas eu não ligo não.
  • Lito, mas você não é o Gerente lá?
  • Eles fizeram isso para me humilhar, tu não vê, mas eu só quero ver na hora que esse governo mudar.
  • Não é fácil, mas existe aquela máxima da poetisa Cora Coralina: “a verdade sempre tem que ser dita, não é? ”
  • Não! É porque eu estou precisando do dinheiro e tenho que me manter no cargo, . já falei com a Iziete (esposa) e ela achava que eu tinha que pedir exoneração,  mas não adianta, até o final do ano eu tenho contas para pagar. Eu já decidi, talvez vote no Andrino, no restante eu nem sei. Quando o Andrino falou com a Lúcia para que me ajudassem no concurso ela disse que tudo era computadorizado, o mesmo fez aquele ex-Secretário bêbado do P. (Juiz de Direito Á. P.) que eu acho que até já deve estar no inferno, uma mentirada, passaram todo mundo.
  • Olha Lito, o meu concurso foi sério, quando eu passei havia estudado muito e você sabe que eu estava preparado, inclusive, a própria administração na época estava sendo pressionada em razão da minha competência e grau de estudos, além disso, eu também estava participando da Acapoc (ex-Fecapoc, depois Sintrasp, ajudando o Acy (ex-presidente).
  • Eu só queria saber por que neste último concurso o filho do Jorge (Delegado Jorge Xavier) foi reprovado.
  • Isso é fácil, acho que não foi por causa da Lúcia e do Trilha. O problema é que na época em que o resultado estava para ser publicado a Lúcia inventou uma viagem para a Europa e o Lorival ficou com toda a responsabilidade pela divulgação do resultado.
  • Entendi.

Nisso tocou o meu celular e do outro lado atendo o Wildemir Vieira (filho do Comissário Arno Vieira e sobrinho do Delegado Wilmar Domingues), responsável por organizar o pessoal da Penitenciária de Florianópolis e que levei para trabalhar naquele estabelecimento no início de 1995 quando fui nomeado Diretor. Wilde queria  saber sobre a nossa festa da próxima sexta-feira. Comentei que o Júlio Teixeira não poderia ir e que não gostaria de  mentir para ele, mas que não dissesse isso ainda para o pessoal. Confirmei o churrasco e reiterei que financiaríamos o evento.

“O Homem do Casaco na Cadeira”:

Depois do telefonema, aproveitei para perguntar a Osnelito:

  • Seria bom você ir, já que não vai ter nenhum político no local e o nosso pessoal antigo da Fecapoc  vai estar lá, o Arno, Aguiar, Marcos, Rita.
  • Olha Felipe, bem que eu gostaria de ir, mas tu sabes, sempre tem esses olheiros por aí, controlam tudo, se alguém me ver lá vai trazer quentinho para a Lúcia ou para o Trilha.
  • Será Lito?
  • Claro, tem gente que anda vigiando o comitê do Heitor Sché só para saber quem é que está frequentando o local.
  • Mas a Lúcia tem alguma coisa contra ele?
  • Não gosta dele, tanto que ela vive dizendo por aí que ele é “o homem do casado na cadeira”.
  • Como é que é, de onde ela tirou isso?
  • Isso daí foi da campanha do Amin para a Presidência, quando saiu a reportagem na revista “VEJA” e o Heitor teria rompido, deu a entrevista saindo a frase em destaque que ele só servia para ser: “o homem do casaco na cadeira do Amin”. E depois tu vê, tem esse Prates (Delegado Aldo Prates) que é o espião da Lúcia, o Carlos Garcia, Escrivão que é o leva e trás do Trilha, o Marlon, o Walter que fala de todo mundo, tu vê, todo esse pessoal, inclusive o Schmidt (Delegado Schmidt) e o Coimbra (Delegado Coimbra) que não votam no PMDB e estão todos aí.
  • É Lito, eu sempre gostei muito do PMDB histórico, acho que tu deves realmente votar no Andrino que é do PMDB histórico, tu não és filiado ao partido?
  • Sou.
  • Então, é uma questão de coerência, de ética, hoje o PMDB pode sair do governo, mas depois pode voltar, e é assim a política, depois você pode estudar e passar ainda no concurso para Delegado, já pensou? De qualquer maneira, se você puder arranjar uns votinhos para o Júlio...
  • Tranquilo, eu vou falar com as minhas irmãs que não tem candidato ainda, o Andrino telefonou ontem lá para minha casa querendo que eu chamasse o pessoal para o seu comício neste próximo final de semana. Eu já decidi, não vou ao comício e não vou organizar coisa nenhuma, talvez vote nele.
  • Uma coisa eu quero que você não esqueça, o Júlio é o único dos candidatos que tem uma proposta inovadora para a Polícia Civil, ele representa a esperança de melhorias, para tanto basta você ver as pessoas que estão no nosso grupo: Eu, Jorge Xavier, Krieger, Garcez, Wilmar Domingues, Cláudio Palma..., são pessoas com outra mentalidade. E com relação ao concurso público é preciso que se considere não só as provas, mas, também, os títulos, e isso vai ser mudado se depender de mim. Evidente que existem outras pessoas que também estão apoiando o Júlio, como o Wanderley  Redondo que está fazendo um bom trabalho e pode ir para o Detran ou Sistema Penitenciário, o Lipinski e o Rachadel que podem ir para a Corregedoria-Geral, Diretoria de Polícia do Interior ou Litoral.
  • Esses aí para a Diretoria de Litoral ou do Interior seria uma boa porque precisa de gente com firmeza. (Osnelito)

E, finalmente de pé, apontando para os quadros dos ex-Chefes de Polícia, passa a esbravejar:

  • Eu sei, tu podes até achar que eu tenho que estudar, mas a maioria dessa “c.” aí, à exceção de uns dois ou três..., entraram tudo pela “j.”