DATA: 06.10.98, horário: 10:30 horas, “Mário Martins: Mau de Prognósticos”:

Estava na “sala de reuniões” da Delegacia-Geral e ouvi o Delegado Braga ao lado conversando ao telefone com um tal de Mário. Logo me veio à cabeça o Delegado Mário Martins, Presidente daa ADPESC, e na solidão do ambiente onde me encontrava numa espécie de castigo forçado,  eu e aqueles imortais que pareciam me fitar o tempo todo e invocarem o espírito do revoltado Escrivão Osnelito. Acabei recordando que os prognósticos que Mário Martins havia feito outro dia não se confirmaram. Mário Martins tinha dito que Heitor Sché era homem, primeiramente de doze mil votos, depois de dezesseis mil, porém, Heitor de maneira surpreendente fez quase trinta mil votos. Quanto à sua “amiga” Hebe Nogara, disse que estava eleita, mesmo tendo os Delegados sido convocados para descontarem uma parcela de seus salários para colaborar com a sua campanha em razão da sua luta pela causa da  isonomia salarial com os Procuradores de Estado, fato até hoje nebuloso... (0va que não deixa de ser vergonhoso, onde é que já se viu o governo do Estado barganhar em cima de uma decisão judicial, como era sabido, decisão judicial não se discute, cumpre-se, mas nesse caso foi diferente, os Procuradores do Estado, em igual situação aos Delegados, vinham recebendo a isonomia desde novembro de 1996, enquanto isso, nós tínhamos que suplicar ao governo que cumprisse a liminar da Justiça, sem comentários, mas esse era o discurso). Nessa conversa argumentei para Mário Martins que a Associação dos Delegados deveria estudar a possibilidade de trabalhar com alguns candidatos à Câmara Federal, cheguei a citar Tiscoski do PPB e outros de partidos diversos. Mário Martins contra argumentou que esse candidato iria fazer votos só na região sul e que não passaria de vinte e seis mil votos. Bom, outro prognóstico furado, Tiscoski não só fez quase cinquenta mil votos, como se elegeu. No mais, tinha que se levar em conta que Mário Martins também não deveria estar bem informado. porque não previu a eleição de João Rosa, que inclusive era do seu partido, o PSDB (vale lembrar que Mário Martins por um triz não saiu candidato à Deputado Federal por esse partido, tendo sua candidatura sido fulminada pela própria cúpula da Secretaria de Segurança, segundo ele próprio me disse na ocasião).

Horário: 11:00 horas, “Muita água sobre a ponte”:

Resolvi dar uma chegadinha no andar térreo para tomar um cafezinho e como não poderia deixar de ser  fui até a sala do Osnelito, antes, porém, deu uma espiada e percebi “Guinevere” na sua máquina como sempre trabalhando. Notei que ela já percebia a minha presença, não que gostasse, mas que havia se familiarizado, como se estivesse aberta a um cumprimento, um aceno, um “bom dia”, infelizmente, eu já tinha mudado a direção do meu olhar e não deu “liga” (sim, nós tínhamos um grau de timidez e o ambiente não ajudava...). Cada vez mais respeitava aquela profissional, invocava os bons anjos para que a protegesse, principalmente, daqueles de espírito baixo, do futuro incerto, e logo que Osnelito percebeu minha presença lançou uma pergunta:

  • Como é que ficou a situação do teu candidato?
  • Olha Lito, ele ficou na terceira suplência.
  • É mesmo, que pena que não deu para chegar. (Osnelito)
  • É, infelizmente, o negócio agora é esperar, a situação ficou bem complexa. Elegeu-se o Heitor pelo PFL, o João Rosa pelo PSDB. De qualquer maneira o Júlio fez vinte mil votos e tem uma história, foi fulminado também pelo esquema do PMDB. Certamente o Amin vai encontrar dificuldades em montar seu secretariado.
  • É,  realmente. (Osnelito)
  • Pelo que o Amin disse o seu secretariado terá a cara da Assembleia, isso significa que os suplentes serão aproveitados e o jeito é esperar para ver como vai ficar as coisas, muita água vai rolar por debaixo da ponte.

(...)”.

Horário: 11:15 horas, “Ortiga neles”:

Dei uma chegada até a “Assistência Jurídica” para saber das últimas com o Delegado Braga que estava sentado conversando com a Inspetora Myrian:

  • E daí, alguma novidade? (Felipe)
  • Eu estava dizendo aqui para Myrian que a situação dos Delegados ficou muito boa, colocamos o Heitor, mais o João Rosa e ainda o Ivo Konell que é pai de uma Delegada nossa, imagina que bancada? (Braga)
  • É, e o Júlio também ficou na terceira suplência. (Felipe)
  • Não. Na Quarta. (Braga)
  • Quarta? Olha, segundo me consta foi na terceira.
  • Olha aí Myrian. (Braga)

(...)

  • Eu não sabia que esse Salvati, que é o primeiro suplente, é também do PFL. (Felipe)
  • É sim, ele é o quarto, mas está bom. (Braga)
  • É. (Felipe)
  • Eu antes falei com o Mário,  a Denise lá da ADPESC tem o número do telefone do João Rosa, tentei falar com ele para parabenizá-lo, mas ainda não consegui,  depois se tu quiseres eu tem passo o número. (Braga)
  • Obrigado.
  • Vem cá, o Pacheco vai ser o Secretário de Segurança? (Braga)
  • Não sei. (Felipe)
  • Pelo menos ele está dizendo para todo mundo aí, a semana passada quando retirou a candidatura ele telefonou dizendo que estava passando todos os votos dele para o Heitor. (Braga)
  • É mesmo? (Felipe)
  • Sim! (Braga)
  • A situação da Secretaria de Segurança é muito complexa. (Felipe)
  • Mas tu não foste naquele seminário de lançamento do plano de governo, o Amin disse que iria levar em conta a representação política e isso significa não só os deputados eleitos como também os suplentes, tu vê, o Heitor e o Júlio somaram cinquenta mil votos. (Braga)
  • Não entendi  Braga. (Felipe)
  • Os votos do Heitor e do Júlio somam cinquenta mil votos. (Braga)
  • Ah, certo, certo, entendi,  tu falas em termos de peso político.
  • Depois tem os votos do João Rosa e do Carlos Dirceu. (Braga)
  • Sim. A votação do Carlos Dirceu me surpreendeu, ele fez mais de treze mil votos, não esperava tudo isso, acho que os Delegados Regionais ajudarem. (Felipe)
  • Alguns Regionais ajudaram ele sim. O Heitor esperava mais votos em Rio do Sul,  o Júlio fez cerca de quatro mil votos e o Heitor cerca de mil e quinhentos, isso dentro da cidade, na região eu não sei. Mas a Lúcia é que mandou o Ortiga sair candidato para queimar o Heitor e o Júlio. (Braga)
  • É mesmo? (Felipe)
  • E o Mantelli? Todo mundo achava que não iria chegar, que estava morto, e chegou, foi o único da Polícia Militar.
  • Mas se não houvesse o Heitor no páreo, eu teria votado no Júlio ou no próprio João Rosa  e se eles não estivessem concorrendo eu votaria tranquilamente no Mantelli, ele foi meu Delegado lá em Ponte Alta na época que eu era Delegado Regional de Rio do Sul, me dou bem com ele. (Braga)
  • Eu também.
  • Lá em Jaraguá do Sul foi uma surpresa para o Heitor,  só a minha família fez uns trinta votos. (Braga)

(...)”.