DATA: 04.10.98, horário: 17:26 horas, “O Dia ‘D”: 

  • Alô, Felipe sou eu, Jorge, tubo bem?
  • Tudo certo!
  • Eu liguei para o teu celular de manhã, mas estava desligado.
  • Sim. Eu desliguei, fui almoçar na Lagoa.
  • Eu estava pensando em ir até o ginásio Senac ou Sesc para acompanhar a votação, pensei em ir lá pelas oito horas, tu não queres me acompanhar, não sei se já tens algum compromisso para hoje à noite?
  • Sim. Eu tenho que ir lá no meu pai daqui a pouco.
  • Tudo bem, então eu vou,  tu não sabes se é lá no Senac ou no Sesc?
  • Não sei.
  • Mas então tá, amanhã a gente se fala para fazer um balanço.
  • Está certo, qualquer coisa a gente se fala.
  • Está bem.

DATA: 05.10.98, horário: 09:25 horas, “O The Day Affter”:

  •  Booommm Diaaááá!!! 

Osnelito estava postado junto a porta da sala de reuniões da Delegacia-Geral, em cujo interior lá estava eu sentado. Estranhei que naquela manhã ele veio primeiro até a mesa onde eu estava sentado fazendo a leitura dos Diários de Justiça, e a impressão era que o banheiro não importava mais. Meu visitante mais assíduo sentou-se na minha esquerda pensativo e ao perceber seu silêncio:

  • E aí “Lito”, como é que está o negócio? (Felipe)
  • Pois é, a coisa agora ficou séria, o pessoal do PMDB achava que iria ficar em segundo lugar, estão longe do Milton Mendes.
  • Isso é o retorno que o povo deu a Paulo Afonso e serve de exemplo para o nosso pessoal da Secretaria de Segurança.
  • É, lá na Secretaria eles achavam que iriam para o segundo turno. Essa Lúcia é uma inocente.
  • É, quanto às eleições proporcionais muita coisa ainda pode acontecer.
  • Como é que está o Júlio?
  • Segundo o último boletim que ouvi no rádio ele esta com um pouco mais de quatro mil votos.
  • É, o Heitor está com onze mil. (Osnelito)
  • É. Mas é muito cedo ainda, até agora contaram somente cerca de quarenta e três por cento dos votos, temos que ver se já foram contados os votos da região do Alto Vale.
  • É, se ele fez quatro mil votos até agora, mais os votos lá ele deve terminar com uns sete ou oito mil votos.
  • Como eu disse é muito cedo, mas tu sabes como é que é a contagem dos votos,  nunca se sabe realmente. Mas tenho esperança ainda que com os votos da Região de Rio do Sul talvez ele possa ainda se dar bem, segundo as pesquisas ele sairia da região do Alto Vale com uns dezessete mil votos, então vamos ver.
  • É, o Heitor fez uma boa votação aqui na região de Florianópolis onde o Júlio não estava tão bem, agora lá pode se inverter.

Nisso ouvimos o Delegado Braga chegar na Assistência Jurídica e antes uma saudação que não chegava a ser eufórica, mas que tinha um conteúdo de virtuosidade, sua característica marcante e que provavelmente fora  direcionada para o pessoal do Setor de Recursos Humanos, mais ou menos uma coisa assim:

  • Booommm Diaaááá!!!

Depois de ouvirmos a frase reverberar pelo ambiente do primeiro andar, continuamos nosso diálogo:

  • Pois é Lito, pode ser que se elejam até os dois, mas é cedo ainda.
  • É, vamos aguardar. (Osnelito)
  • Agora uma coisa podes ter certeza o Júlio para nós é o melhor candidato, inclusive, para a própria Polícia Civil e para a atual administração. O nosso grupo está direcionado a construir, o mesmo não podemos assegurar quanto aos outros grupos.
  • É, mas o problema é que circularam por aí na última hora que se o Júlio se eleger o Rachadel vai ser o Delegado-Geral e um monte de policiais não gostam dele,  não querem saber dele, eu sei porque fui falar com muitos deles na última hora e me disseram que votar no Júlio era uma fria por causa do Rachadel. (Osnelito)
  • Isso é um absurdo, primeiro porque o Rachadel não é Especial, é de Quarta Entrância, segundo porque ainda não tem nada definido quanto a isso.
  • É, mas o pessoal não sabe desses detalhes. (Osnelito)
  • Eu sei, provavelmente isso foi trabalho de contrainformação, alguém jogou isso para prejudicar o Júlio.
  • Certamente. (Osnelito)
  • E o Walter como é que está lá embaixo?
  • Está feliz, só ri. (Osnelito)

Em seguida Osnelito levantou-se e se dirigiu, enfim, para o seu “trono”.

Horário; 10:10 horas, “O ‘boon’ inicial do Heitor”:

Braga chegou até à porta da sala de reuniões  e ali permaneceu, dava para ver  claramente seu semblante bastante aceso, sedento de novidades acerca dos resultados eleitorais das últimas horas:

  • E aí, mais alguma novidade? (Braga)
  • Olha, o Amin já faturou.
  • Será, não sei.
  • Olha Braga, ele está com um percentual de mais ou menos cinquenta e oito por cento, o que tu queres?
  • Não se..
  • O Heitor é que está bem, cerca de onze mil votos. (Felipe)
  • Surpreendeu, ele está com treze mil e a previsão era de vinte oito mil, vai ultrapassar os trinta mil, só aqui na Capital ele já superou três mil, além da expectativa. (Braga)
  • E o Júlio estava com quatro mil votos, mas acho que os votos da região dele não vieram ainda. (Felipe)
  • É, eu também acho.
  • Pois é, tu vê, onde o Heitor e o Júlio são fortes ainda não vieram os votos, nem Balneário Camboriú,  ninguém sabe nada da região deles. (Felipe)
  • Vamos aguardar.
  • Mas tu vê, sabes quantos votos o Heitor fez só aqui na Capital até agora? (Felipe)
  • Acredito que no mínimo uns cinco mil votos.
  • Sete mil! Olha, foi além da expectativa, mas a culpa disso tudo é da Lúcia  e foi muito bom, eles não se preocuparam em traçar uma política para os nossos policiais, apenas fizeram política para eles e os policiais votaram em massa no Heitor. (Felipe)
  • Não surpreende o Milton Mendes estar em segundo.
  • Não. Mas o Paulo Afonso vai para o segundo, agora começam a aparecer os votos dos pequenos municípios, até agora vieram os votos dos grandes, administrados pelo PT, Chapecó, Blumenau, Florianópolis, Criciúma... (Felipe)

(...)”.

Horário: 10:25 horas, “O Ser Humano...”:

E depois de um tempo Braga retornou até a “sala de reuniões”:

  • Felipe só para completar, mas essa postura da Lúcia e da cúpula deve servir de lição para futuras administrações da Secretaria, seja, Heitor, Júlio, Kurtz, não se pode desprezar o nosso policial, querer só se preocupar com a construção de prédios.
  • Realmente, eu sei, estais falando do “fator humano”. (Felipe)
  • Também, eu não sei se esses setenta e nove ocupantes de cargos comissionados vão entregar seus cargos com a mudança? (Braga)
  • Eu acho que a vitória do Esperidião vai resultar numa mudança geral. (Felipe)
  • Nós que poderemos ocupar cargos de diretor, gerente, temos que nos preocupar com isso, será que vão manter pessoas como Carlos Dirceu, Toigo, Sala, Lima, Bahia, Hilton Vieira nesses cargos aí? Isso não significa dizer que não existem pessoas que possam permanecer, como é o caso do Valério.
  • É, o Valério é uma boa pessoa confiável, ele é ético. (Felipe)
  • Além do Valério existem outros nomes, mas tu vê, quando o Moreto assumiu só trocou dois nomes, mas isso que fizeram deve servir de lição.

(...)”.

Horário: 12:10 horas, “A ligação”:

  • Alô, sou eu, Jorge.
  • Oi, e daí, tudo bem?
  • Tudo certo. Alguma novidade? (Jorge)
  • Não.
  • Eu acabei de falar com o João Luiz, lá do gabinete do Júlio.
  • E daí?
  • É, as urnas lá da região do Júlio agora de manhã que começaram a serem abertas,  tu estais sabendo de alguma coisa?
  • Não. Começaram a abrir as urnas de manhã. O Júlio estava com um pouco mais de quatro mil votos e o Heitor treze mil.
  • É, o Heitor estava com doze mil.
  • Eu estava falando com o Braga de manhã e ele disse que a expectativa de votos do Heitor aqui na Capital era de cinco mil votos e já superou em três mil.
  • É realmente surpreendente, mas o Badu trabalhou muito para o Heitor aqui, meu Deus. (Jorge)
  • O negócio é aguardar a contagem de votos lá da região do Júlio. O que o João Luiz achou desse resultado de quatro mil e poucos votos do Júlio até agora? Porque na verdade a maioria desses votos é daqui da região.
  • O João Luiz disse que o Júlio triplicou os votos aqui na região. (Jorge)
  • Pois é, o que nós conseguimos de votos, realmente não poderia ser diferente,  mas o negócio é esperar.
  • Vê se tu consegues falar com o Júlio no celular. (Jorge)
  • Jorge, o celular dele está dando sempre fora de área.
  • Mas tu tentas novamente depois.
  • Certo Jorge!
  • Qualquer coisa tu me ligas.
  • Certo!

Horário; 15:20 horas, “Atendimento ‘VIP’”:

  • Alô!
  • Alô, Leninha o Jorge está aí?
  • Sim!

 (...)

  • Alô Jorge, sou eu...
  • Oi.
  • Eu tentei falar com o Júlio, mas não adianta. O celular dele só dá fora de área.
  • Mas eu telefonei lá para o Gabinete do Júlio e falei com a Tereza. Achei ela muito fria comigo. Me senti mal. Ela não sabia dar notícia nenhuma, só disse friamente que o Júlio estava com treze mil votos. Eu queria notícia e não consegui mais nada. Aquele outro que eu te disse que conversei de manhã me atendeu muito bem.
  • Sei, o João Luiz.
  • Isso. Disse para ela que naquele dia da festa lá nos tivemos alguns... (Jorge)
  • Nem devias ter tocado nesse assunto da festa nesta hora. Jorge, ela deve estar com a cabeça cheia, é um “buzinaço” e nesta hora tem que se dar um desconto enorme para ela.
  • Mas eu em seguida liguei para o Gabinete do Gilmar Knaesel e falei com o... e tive um atendimento excepcional, em detalhes, o Gilmar está com vinte e quatro mil votos.   (Jorge)
  • O Gilmar está eleito e o Heitor como é que está?
  • O Heitor está com dezenove mil.
  • Então, ele  está eleito também.
  • Ainda não está eleito, mas achei a Tereza muito diferente dos outros dias. (Jorge)
  • Jorge, numa hora dessas vai se esperar um atendimento “VIP”, ela deve estar com a cabeça girando a mil, imagina quantas pessoas estão ligando para lá hoje e ela não deve aguentar dar mais tanta explicação. Eu vou tentar falar ainda com o Júlio, deixa que eu vou ver se consigo mais informações.
  • É, porque se o Heitor se eleger e o Júlio não adeus nosso projeto, vai tudo para o espaço e acabamos chupando os dedos.

Nesse momento acabei rindo e Jorge perguntou:

  • Do que que tu estais achando graça?
  • Lembrei de uma coisa, mas outra hora eu te conto.

Na verdade lembrei da esposa de Jorge Xavier (Leninha), na festa, quando disse que nós acabaríamos no “inferno”.

  • Mas vê se tu consegues informação. (Jorge)
  • É, eu vou ver o que consigo, mas é hora de manter a calma, no caso da Tereza temos que dar um desconto na décima potência, ela é uma conselheira mais espiritual do que operacional do Júlio, diferente do assessor lá do Gilmar, não podemos nessa hora ofender as pessoas e esperar atendimento “VIP”, temos que sentir os limites e os nossos limites também, a Tereza é uma pessoa muito boa e acredito que seja uma aliada nossa.
  • Bom, depois dessa aí, vou brigar comigo mesmo.
  • Fica calmo e vamos ver o que conseguimos, só não vou pedir informação para o Wanderley nesta altura, né?
  • É claro!
  • Então tá, depois a gente conversa.
  • Está certo.