DATA: 03.10.98, horário: 18:00 horas, “Caminhando legal”:

Havia chegado por volta de dezoito horas de viajem da cidade de Tubarão, onde fui garimpar alguns votos para o Júlio Teixeira e Dércio Knop. Logo que cheguei fui ouvir um recado na secretária eletrônica. Era o Jorge Xavier dando ciência de que havia estado em Governador Celso Ramos na sexta-feira fazendo campanha para Júlio Teixeira e que havia conseguido uns trinta votos que estavam destinados para Heitor Sché. Relatou que o Delegado Aurino e um Vereador se comprometeram arranjar esses votos. Essa era a mensagem:

“Oi Felipe, é o Jorge. É só para te dar a notícia que eu estive ontem à noite em Governador Celso Ramos, lá nos Ganchos. Aí eu tive uma reunião lá com o vereador que eu te falei que ia fazer juntamente com o Aurino – O Delegado. A região lá, em que pese ser do PMDB, é área do PFL, foco do Paulinho Bornhausen, mas consegui rachar uns votos com o Heitor Sché. Então está na expectativa de uns trinta a quarenta votos na região pelo trabalho que nós fizemos ontem. A coisa está caminhando legal. OK. Depois nos conversamos melhor. Tchal!”

 Lorival Fez Escola:

Por volta de vinte e duas horas resolvi telefonar para o Jorge Xavier que estava na residência do seu filho “Cesinha”:

  • Alô!
  • Sim, alô.
  • Quer falar com quem?
  • O Jorge está aí?
  • Sim.
  • É a Giza que está falando?
  • Não. É a irmã dela. Quem quer falar com ele?
  • É um candidato ao Governo do Estado.

E ouço aquela voz chamar Jorge Xavier e dizer-lhe que era um candidato do governador.

  • Alô!
  • Jorge, sou eu, Felipe.
  • Oi Felipe, deixei um recado na tua secretária.
  • Eu sei, cheguei de Tubarão no início da noite.
  • Ah, esse recado eu deixei de manhã.
  • Mas estive lá em Governador Celso Ramos, fui diretamente para a Delegacia, lá o Delegado é o Aurino, também conversei com um vereador que é meu conhecido.  O Lorival pressionou muito o Aurino, quis tirá-lo de lá mas não conseguiu, mas ficou bom esse vereador e o Aurino acertaram comigo, rachar votos do Heitor,  deve dar uns trinta votos para o Júlio,  ficou bom.
  • Mas Jorge eu estava passando lá pela portaria da Delegacia-Geral e ouvi o pessoal comentando que o Wanderley havia estado lá. Teria dito para o pessoal, quando perguntado se iria ser o Diretor do Detran, que se quisesse até seria, mas esse não era o seu objetivo pois pretendia ser Secretário Adjunto. Olha, o Lorival fez escola, parece que o objetivo é deixar o Secretário fazer política e o adjunto controlar outras coisas.
  • Isso me preocupa, o Aurino que está sempre em contato com o Delegado Regional disse que se fala muito no nome do Wanderley na Delegacia Regional. Eu disse a ele que o nosso colega poderia ficar com o Detran e ele ponderou que achava que o Wanderley não iria se contentar com tão pouco.

As negociações dos militares ligados à Pacheco:

  • Mas Jorge, tem outra coisa, ontem eu fui apanhar uma parente da Dinha que reside no Saco dos Limões para passar o final de semana conosco. Ela trabalha na Assembleia e durante o trajeto me contou que esteve no Gabinete do Júlio para apanhar material de propaganda e lá encontrou o Chefe Militar da Assembleia,  lembra daquele Coronel?
  • Sim. Claro que lembro.
  • Pois é, estava ele e mais uns onze tenentes. Gilsa estranhou aquilo e perguntou para um dos tenentes que era seu conhecido o que estavam fazendo ali e ele respondeu que todos eles votariam no Júlio, que muitos oficiais vão votar no Júlio.
  • O quê?
  • Sabes o que aconteceu? Lembra que a candidatura do Pacheco estava sob liminar?
  • Não Felipe, a candidatura do Pacheco foi impugnada, houve uma manifestação oficial, deu até jornal, todos os votos que fossem dados para ele seriam anulados.
  • Tens certeza?
  • Claro que tenho.
  • Então é isso.  Eu conversei com Júlio ontem à noite por telefone e ele me contou tudo.

“Balinhas amargas”:

  • Isso me preocupa. (Jorge Xavier)
  • Mas estais sempre dizendo isso.
  • Não, mas agora me preocupa mais ainda, é muita divisão.
  • Eu sei, é  como um bolo, as fatias vão ficando menores.
  • E vai acabar sobrando balinha para nós, espero que não sejam daquelas amargas.

“João Borracha”:

Nisso Dinha veio com o outro telefone na mão dizendo que o “João” da Penitenciária queria falar comigo. Pedi licença para Jorge e atendi o João Mattos, conhecido na minha época como “João Borracha” ou “João Polícia”:

  • Fala João!
  • Doutor Felipe como é que vai, eu soube que o senhor está trabalhando para um candidato aí?
  • É verdade,  temos um amigo.
  • Pois é, eu devo muito para o senhor.
  • Não, João, aquilo que em fiz por vocês foi minha obrigação, foi defender vocês contra injustiças.
  • Eu sei e agradeço.
  • Então, na época, inclusive, o meu pai foi advogado de vocês e deu tudo certo.
  • Mas quem é o seu candidato?
  • Olha João, é um amigo que é também Delegado, o número dele é 25.155, é o Júlio Teixeira, podes ter certeza que é uma boa pessoa e tem um projeto para toda área de segurança.
  • Isso é muito bom.
  • Tens candidato para Federal?
  • Não. Eu não tenho candidato nenhum..
  • Bom, o candidato a Federal é o Dércio Knop.
  • Eu sei quem é, qual é o número dele?
  • É bem fácil, 1234.
  • E para governador?
  • Vamos de Amin, o restante é por tua conta.
  • Está bom,  pode deixar que o nosso voto vai aparecer.
  • O Euclides também está conosco, conversa com a tua família e amigos que não tiverem candidato, vamos somar.
  • Pode deixar.
  • João, fiquei muito contente com o teu telefonema, podes ter certeza, depois daquela rebelião a gente não pode conversar assim.
  • Pois é.
  • E tu sabes que passamos por momentos difíceis e aquilo foi tudo dirigido para derrubar a gente.
  • A gente sabe disso.
  • Mas é isso João, a gente volta a se falar oportunamente.
  • Certo.

“O papel do Delegado Landman”:

  • Fala Jorge, desculpa, eu estava atendendo o João da Penitenciária.
  • Sim, mas lá em Governador Celso Ramos a Prefeitura é do PPB, mas eles estão apoiando o Paulinho Bornhausen.
  • Pois é Jorge, vamos fazer aquela nossa reunião na terça-feira?
  • Não. Temos que nos reunir antes, temos que conversar já na segunda-feira,  temos que fazer uma avaliação, tu sabes onde vai ser a contagem dos votos?
  • Não. Eu não sei.
  • Será que é lá no ginásio, na época do Pacheco ele acompanhou tudo de sua casa com várias televisões ligadas ao mesmo tempo, não sei se o Júlio vai acompanhar lá de Rio do Sul, mas na segunda podemos ir cedo para a Assembleia, não podemos deixar o Wanderley tomar conta de tudo e depois de uma semana eles lembrarem de nós, “ah! é mesmo, tem o Felipe...”.
  • Pois é Jorge, temos que trabalhar o teu nome para ser o adjunto.
  • Pode ser o teu nome.
  • E se for o caso,  você pode assumir uma assessoria especial, mas o teu nome é para Adjunto.
  • E você Delegado-Geral, com o Júlio na Secretaria.
  • Vai depender muito da situação do Wanderley e agora temos o Pacheco.
  • É muita divisão.
  • Se bem que o Júlio me disse que o pessoal do Pacheco quer discutir os quatro projetos de interesse da Polícia Militar que tramitam na Assembleia Legislativa, dos quais dois ele é relator. Ele disse os Oficiais não pediram nada para eles.
  • Então eles não vão querer só isso?
  • Seria bom se o Wanderley fosse para o Detran.
  • Ele poderia até mesmo ir para o Palácio assessorar o Amin, desempenhar o mesmo papel do Landman na época do Konder Reis, lembra disso?
  • Lembro. Olha, está aí uma boa alternativa, Jorge, mas, temos que trabalhar o Júlio nesse sentido.
  • Podemos conversar com Júlio e demonstrar que essa é uma boa alternativa.
  • Olha Jorge, tudo vai depender do nosso projeto, ele é a razão de tudo, eu não vou servir de palhaço, já conheço bem esse filme, já carreguei piano e sei como é,  não adianta chamarem a gente para fazermos projetos, realmente se a coisa não for mais ou menos dentro daquilo que foi planejado eu sou um que estou de fora,  a minha decisão passa pelo grupo, todos têm que estar  bem, se não atender a todos,  também não me interessa.
  • Eu também penso assim, todos têm que estar bem.
  • Acho que não é hora para se discutir isso, teremos tempo, mas o importante é que o Júlio saiba quem são os amigos da primeira hora, que trabalharam num projeto e eu confio nele, e a hora é de somarmos.
  • O momento agora é de somatório, depois é outra coisa.
  • Assim esperamos, e o Júlio sabe disso, assim eu espero.
  • Olha Felipe, faz tempo que eu não saio por aí pedindo votos, e desta vez eu fiz isso, tu fizeste, temos que fazer valer nossa posição, tu vê só o “Cesinha” no restaurante conseguiu uns quarenta votos para o Júlio, todos votos certos e terá que se desdobrar amanhã para levar o pessoal para casa, levar ao local de votação.
  • Que bom Jorge,  vai dar tudo certo, o negócio agora é esperar para ver.

 

(...)”.