DATA: 02.10.98, horário: 18:15 horas, “Guinivere e o ‘Tapete Vermelho’”:

Desci até a sala do Gerente Osnelito para usar o “telefone vermelho” e pela segunda vez encontrei Guinevere naquela tarde se desdobrando de um lado para outro, atenta a tudo, como sempre, procurando organizar uma coisa ali e outra lá. Antes de chegar no meu destino cruzei com o Walter e resolvi fazer um comentário:

  • Que tapete é aquele ali?
  • É o tapete que estava no hall de entrada, só mudaram de lugar.
  • Ah, sei qual é, mas puxa isso melhorou bastante o visual da entrada, e como melhorou, já não parece mais um “guarda-chuva tão velho”, parece?

Walter logo que ouviu aquilo, como se não gostasse da minha observação e vendo que a Delegada Ana  também estava por perto, simplesmente deixou escapar umas palavras quase inaudíveis:

  • Ainda bem que isso está acabando.

Fiquei olhando para ele e como não se arriscou a dizer mais nada fui até o telefone onde me encontrei com Guinevere e a cumprimentei, sendo correspondido pela primeira vez de maneira bem mais efusiva, chegando a notar um brilho no seu olhar, como se esperasse um elogio ou quisesse saber se havia gostado. Não tive dúvidas, não poderia deixar escapar aquele momento e, então expressei minha opinião:

  • Melhorou bastante por aqui.
  • Tem uma correspondência para o senhor.

E trouxe a correspondência que era política, eu agradeci, concluindo que estava respirando, enfim novos ares e pensei: “Acho que ela gosta de mim um pouquinho...”.

Horário: 19:40 horas, “O Fator Pacheco”:  

Ao apanhar “Gilsa” na pensão de “Saint Clère” (Bairro Saco dos Limões – Florianópolis) para passar o final de semana na minha residência, logo me veio a lembrança que ela também trabalhava na Assembléia Legislativa, mas não em gabinete de parlamentar como Tereza, isto sim, realizando “serviços gerais”  restaurante. Logo que entrou no carro disse que havia estado naquela tarde no gabinete do Deputado Júlio Teixeira para apanhar mais uns santinhos e observou algo diferente:

  • Estava no Gabinete o Coronel que é o Chefe Militar, mais vários tenentes e conversavam com o pessoal lá.
  • Sim, e você conseguiu saber do que estavam tratando? Ouvistes alguma coisa?
  • Eu conversei um pouco com um dos tenentes que vai sempre lá no restaurante e quando soube que eu estava apoiando o deputado ele confidenciou que todos eles ali iriam também votar no Júlio. e que muitos militares também votariam nele.
  • Tu tens certeza disso?
  • Mas claro, por que ele me diria isso?

(...)”.

Depois dessa informação lembrei imediatamente que aquilo cheirava “Pacheco”, pois Braga já havia me dito que ele havia retirado a sua candidatura.

Horário: 20:30 horas, “O 'Handicaps'”:  

Logo em seguida liguei para Júlio Teixeira para sondar e saber de alguma novidade, especialmente sobre a campanha naqueles momentos finais:

  • Alô!
  • É o Júlio?
  • Sim.
  • Júlio, é o Felipe. Tudo bem?
  • Fala meu irmão, soubeste já da última?
  • Da última? Não!
  • Então eu vou te contar com calma, é um último “handicap”, tu sabes que o Pacheco tinha garantido a candidatura dele com liminar no Supremo, é uma linha bem tênue, o Vilson Kleinubing ligou para ele e o Jorge também. Ontem o Pacheco fez algumas reuniões, estava presente o Major Bueno, o Coronel Cesar e resolveu retirar sua candidatura, anunciou que estava passando todos os votos possíveis para mim. O Moreto já esteve hoje em Araranguá, foi levar material para o pessoal dele, de cara são uns três mil votos, já pensou que coisa boa?
  • Qual Moreto?
  • O Moreto do Nono DP, já tinha uns trinta carros lá esperando por ele, já fizeram contatos com Chapecó, Canoinhas, Porto União, Benedito Novo, em todo o Vale.
  • Ah sei, aquele Moreto lá da festa?
  • Isso! O Major Bueno ligou já umas duas vezes, passaram telex, fax para todas as associações, clubes de policiais militares.
  • Major Bueno?
  • Sim, aquele de Canoinhas, conheces?
  • Ah! Agora sei quem é...!
  • Isso! 
  • Mas Felipe, eu acho que essa manifestação do Pacheco tem haver com aquele meu telefonema na época em que houve a impugnação da candidatura dele, lembras que eu te disse que telefonei para ele?
  • Sim. Eu lembro.
  • Pois é, eu me solidarizei com ele, acho que isso pesou muito nessa hora, olha, cada vez eu passo a admirar mais esse Coronel, é uma questão de combater o inimigo comum.
  • Qual Coronel Júlio?
  • O Pacheco, é claro! E eles não querem nada, apenas negociar os quatro projetos de interesse da Polícia Militar que estão tramitando na Assembleia e dos quais dois eu sou o relator.
  • Ah sim! Bom Júlio, tu sabes que em política a gente tem que somar e sabes o que estais fazendo, espero, de mais a mais, quem vai ter o “cacifão” é você para buscar a implementação do nosso projeto.
  • Sim, sim, mas manténs isso meio em reserva, não divulga, sabes como é nessa hora.
  • Pode ficar tranquilo Júlio, talvez eu só converse com o Jorge, mas amanhã ou depois.
  • Certo, é bom manter assim nesta hora.
  • Sei, sei! E a campanha?
  • Está muito boa, muito boa mesmo!
  • Que bom Júlio, nós aqui também estamos trabalhando, eu estava pensando em ir amanhã para Tubarão, temos alguns votos lá, vou ver se vai dar para ir amanhã.
  • Tá bom, isso Felipe!
  • Mas então vamos esperar a hora da festa, certo? E se precisar de alguma coisa estamos por aqui.
  • Certo, da mesma forma meu irmão.

Depois dessa conversa com Jorge Xavier fiquei pensando que Sidney Pacheco não era alguém talhado somente para defender assuntos institucionais. Era um especialista em estudar a psique das pessoas que o cercava, saber aceitá-las ou descartá-las na primeira oportunidade e dependendo da sua utilidade, Mais, ainda, sabia usar o jogo de habilitades para driblar obstáculos que encontrasse pelo caminho ou negociar com quem tivesse algum destaque ou serventia. No caso de Wanderley Redondo, certamente que no Detran poderia servir para alguma causa pessoal, ainda mais que o obediente Redondo estaria à sua disposição permanente para servir. Então, o que poderia Sidney Pacheco cobiçar na área do Detran? Bom, só o tempo poderia responder essa pergunta, não neste momento onde o plantio era a palavra de ordem. Quanto aos projetos de interesse da PM a que Júlio Teixeira se referiu, bom, eles poderiam mostrar o visível, porém, jamais o invisível, os reais intesses não acessíveis ou impensáveis.