Dia 15.09.98 - Pintando um cenário:

Eram cerca de 10:30 da manhã e me encontrava  na sala de reuniões da Delegacia Geral da Polícia Civil eis que recebi a visita do Delegado Lauro Cesar Radka Braga (Assistente Jurídico da Delegacia-Geral). Apesar de estar cumprindo expediente naquela local, ao lado Assistência Jurídica,  avistávamo-nos poucas  vezes. Segundo disseram era o Delegado Braga era o candidato preferido de Heitor Sché para ser Delegado Geral...mas, segundo Walter da portaria (que apoiava integralmente Heitor Sché) os Delegados “Pedrão” e “Sell” não gostavam dele. E tal um grande encouraçado estava ele ali bem na minha frente à deriva, mesmo assim alimentando o sonho de comandar uma tripulação revoltada, no afã de pretender assumir os destinos da Polícia Civil do Estado. Pensei: “só resta mesmo é aguardar o desenrolar dos acontecimentos de cinco de outubro quando saberemos, finalmente, quem é quem (Júlio Teixeira, Heitor Sché (os dois do PFL, ambos Delegados e com a mesma base eleitoral - Rio do Sul, com a diferença de que Júlio era candidato à reeleição e Sché deseja retornar a vida pública) ou o Coronel reformado Sidney Pacheco (ex-PFL, na época filiado ao PPB do Senador Amin, na mesma situação de Sché, com base eleitoral na Capital e São José, além de contar com apoios dentro da Polícia Militar). Lembrei que nos últimos tempos eram mais frequentes os nossos encontros na sede do Comitê de campanha do candidato Amin ou no Hotel Castelmar,  do que no próprio âmbito da Polícia Civil. 

Caminhando ao meu encontro soaram as primeiras frases: ‘Tu vê eu não sei mais de nada. Não fui mais informado de reunião alguma.

- Tu foste à reunião ontem no Hotel Castelmar?

- Fui e não perdeste nada em não tendo comparecido ao evento. 

Comentei que os Delegados Garcez e Krieger (apesar de inicialmente contrariado) que também não foram.

Perguntei a Braga se ele não estava comparecendo mais no comitê do Heitor Sché, obtendo como resposta que o seu candidato estava há cerca de trinta dias direto em campanha na região de Rio do Sul. No escritório de Florianópolis somente encontravam-se os Delegados Sell e Pedrão (Artur Sell e Pedro Benedeck Bardio). Braga fez o seguinte comentário:

- Eu não tenho comparecido mais no comitê do Heitor nos últimos tempos e também não fui mais no Comitê de campanha de Amin”.

Não sei por que, passamos a conversar sobre o nosso “Plano” de criação da Procuradoria-Geral de Polícia. Braga declarou o que era uma tônica nos últimos meses em todas as repartições policiais: “Se o Heitor Sché se eleger deverá ser o Secretário de Segurança Pública”. A não ser que o projeto da Procuradoria vier a dar certo. Se Júlio se eleger ele é que vai ser o Secretário e se Heitor e Júlio se elegerem a preferência é do Júlio. Nisso Braga me questionou sobre a impugnação do Coronel Pacheco:

- Já se sabe o resultado do recurso em Brasília sobre a impugnação de Sidney Pacheco?

Lembrei que o Coronel Freitas havia feito um comentário de que o recurso já havia sido julgado na Capital Federal foi mantida a impugnação. Passei de graça essa informação a Braga sem declinar a fonte e sem ao menos ter certeza sobre esses fatos serem verdadeiros.

De repente me vi fixando os quadros existentes na galeria dos ex-Chefes de Polícia. Braga tinha mencionado o nome de Bado como um dos ex-Chefes de Polícia mais incompetentes que existiu e que ficava trancado em seu gabinete. Imediatamente contestei Braga em defesa  do Delegado Antonio Abelardo Bado (sem procuração para isso).  Fiz questão de dizer que pensava exatamente o contrário. Frisei que graças a Bado conseguimos criar a Federação Catarinense dos Policiais Civis, viajar todo o território estadual  desenvolvendo esforços para que se criassem as associações regionais, sem contar as promoções realizadas para angariar recursos para estruturação material das entidades. Braga fez questão de dizer que naquela época era inimigo (vamos traduzir isso para contestador ou um termo mais concreto...) dos Delegados Lúcia Stefanovich e Lorival Mattos, mas não poderia deixar de reconhecer o que ela teria feito de bom em termos de construção de Delegacias e aquisição de viaturas e computadores. Interrompi Braga para perguntar como Lúcia teria agido para que isso tivesse ocorrido?  Braga imediatamente respondeu: “com recursos do Fundo!”. Perguntei a ele se sabia quando havia sido criado o Fundo? Ele voltou-se para os quadros de ex-Chefes de Polícia e ficou sem saber responder, até que ligou meu questionamento à administração Bado e, enfim, exclamou: “Ah, é foi durante o período Bado”.  Novamente, olhei para a galeria e afirmei que dava para fazer uma avaliação sobre as gestões de todos aqueles ex-Chefes de Polícia. Fixando-me na foto de cada um iniciei meus comentários que vem a seguir:

(...)

Depois de tecer alguns comentários sobre cada um dos notáveis, também não sei como, Braga começou  a traçar um cenário sobre aquele momento:

- “Ela nunca trabalhou. Por que L.e o T. tomaram conta de tudo? Porque ela nunca aparece para trabalhar...”.

- “Nós ficamos quatro meses antes do governo Paulo Afonso trabalhando no Plano de Governo, quando ele ainda estava lá embaixo nas pesquisas. Era a Lúcia, Lorival, Trilha e eu, somente nós quatro...”.

- “O Lorival queria ser Diretor da Academia e o Trilha queria ser o Corregedor-Geral...". 

- “Depois que Paulo Afonso foi eleito governador ficou acertado entre nós que seria dado quarenta e oito horas de folga para todos os que participaram do ‘Plano de Governo Paulo Afonso’, a fim de que o pessoal descansasse um pouco...”.

- “Segundo fiquei sabendo, a Lúcia havia indicado o meu nome para ser Delegado-Geral. Lorival foi contra e eu era ainda Delegado de Quarta entrância, estava sendo promovido para Especial. Acho que foi a Lúcia que conseguiu que os atos de promoção fossem publicados...”.

- “Hoje uma das minhas maiores curiosidades é saber como é que o Moreto foi escolhido Delegado-Geral porque Lorival era contra. Ele dizia que o Moreto era um traidor porque quando foi exonerado do cargo do PMDB em 1990 aceitou cargo no governo Kleinubing...”.

- “Lorival que não era ainda final de carreira queria ir para a direção da Academia e nós não deixamos. Tivemos que colocar ele no cargo de Secretário Adjunto da Segurança Pública para inviabilizar sua nomeação para a ACADEPOL...”.

- “No Conselho todos falam de todos. O Bahia, o Lima e o Optemar são contra tudo...”.

- “Com relação as Leis Complementares 55 e 98 todos no Conselho chegaram à conclusão de que o importante é que temos essas legislações, no entanto, já os críticos radicais...”.

- “Eu nunca imaginei que tivesse um Delegado-Geral melhor de coração do que o doutor Jorge, mas o Moreto foi uma mãe...”.

- “Tive alguns ‘pegas’ feios com o Optemar no Conselho. O Moreto foi a meu favor. O Optemar tem mania de dizer que o problema é que eu quero ser ‘bonzinho’ com os policiais...”.

- “No Conselho tem muita ‘fofoca’. Eu já me acostumei às críticas. Todos criticam todos...”.

- “Não é possível haver mais perseguições na Polícia Civil. Acho que esse é o desafio da próxima direção: não haver mais qualquer espécie de perseguição, mas todos têm que trabalhar, ela (Delegada Lúcia) entrou em 1972 e sempre foi uma (#@*$%) ...  vai ter que trabalhar...”.

- “O teu nome, o meu e o do Wilmar Domingues são os mais cotados para ser Delegado-Geral. Eles acham que em primeiro lugar está o teu nome...".

- “Se o Heitor assumir a Secretaria certamente irá aproveitar aposentados em alguns cargos, também os policiais de outras carreiras para preencher cargos comissionados e que não exijam necessariamente um Delegado de Polícia de carreira...”.

- “O Sell e o Pedrão são os homens mais bem relacionados com Heitor Sché. O Lênio Fortkamp não está com essa bola toda...”.

- “O Pedrão e o Sell não gostam de mim...”.

- “O Trilha outro dia me perguntou se o Sell iria ser o Diretor da Academia da Polícia Civil caso Heitor viesse a ser o Secretário...”.

- “O T. odeia o Sché porque diz  ter sido perseguido por ele no passado...”.

- “Olha Felipe não vamos ter mais um Delegado-Geral que tenha a força que tinha o Jorge, meu Deus isso nunca mais...”.