Data: 03.11.98, horário: 09:45 horas, 03.11.98, “Kurtz e Napoleão Amarante”:

Garcez telefona no celular e pedi que ligasse para minha residência:

  • Alô Felipe, tu bem? Eu acho que tu queres me pegar de pau.
  • Por quê?
  • Não, sabe Felipe, naquele dia da reunião eu fui, mas peguei um engarrafamento na BR 101 e acabei me atrasando, cheguei por volta de dez e meia e acabei desistindo, mas se tu duvidas eu encontrei o Rachadel e ele me cumprimentou, abanou a mão.
  • Ah, tu falas da reunião nossa lá com o Backes, tudo bem, eu imaginei que se tu não fosses seria porque tu tivesses algum problema de última hora.
  • Mas podes confirmar com o Rachadel que me viu chegando.
  • O Rachadel também não foi à reunião.
  • O quê? Que bom.
  • Garcez deixa para lá, se tu não fostes foi porque não deu, pronto!
  • Tudo bem, mas tu sabes como é que eu sou... Alguma novidade lá?
  • Reunião, conversas, o “Pedrão” aprontando as deles lá comigo...
  • Olha Felipe o pessoal tem falado muito nos nomes do Kurtz e do Napoleão Amarante, tais sabendo de alguma coisa?
  • Garcez, se o Kurtz vier a ser escolhido pode ser que não fique muito bom para o nosso “Plano”, imagina, Ministério Público, eles querem uma Polícia operacional e, ainda, tem aquele acidente que eu já te contei, eles não esquecem....
  • Eu sei, tu já me contaste.
  • Pois é...
  • Olha Felipe se for ele vai ser muito ruim, eu já te contei os problemas que aquele meu conhecido que é Procurador de Justiça enfrentou com ele, o Braulino, as perseguições... o caso resultou num livro onde ele conta as barbaridades que ocorreram com ele, tudo por causa desse Kurtz...
  • Garcez eu sei que ele joga pesado, não sei, mas ele possui um time pesado lá no Ministério Público,  muita gente que entrou na época dele, num processo de muitos anos em que ele mandou e desmandou lá...
  • Eu sei, esse meu amigo sabe muita coisa, no livro dele conta muita coisa...
  • Garcez, quanto ao Napoleão Amarante a situação é bem melhor, ele já trabalhou na Segurança Pública, inclusive na Polícia Civil... é uma boa pessoa, equilibrado...
  • O quê? E não sabia disso...
  • Foi na época do Pelágio Parigot, ele é daquela leva que veio lá de Videira, durante o governo do Heriberto Hulse, logo após a morte do Jorge Lacerda. Veio também os irmãos Schüller, o Felinto, o Otacílio e o Rodolfo. O Napoleão, segundo eu soube, foi trabalhar na Armas e Munições. Depois fez Direito e ingressou no Ministério Público, isso em 1964. Foi Procurador e depois a Desembargador.
  • Eu não sabia disso.
  • Então, realmente é uma pessoa bem mais identificada conosco, agora o Kurtz pode ser outra história, ele, o Arno Schmidt, o Borini e outros tiveram também ligações com a Polícia Civil. O Kurtz, acredito que na segunda metade da década de sessenta  foi nomeado Delegado de Polícia ou quase foi nomeado..., acho que vou conversar com ele prá ver se consigo marcar uma entrevista aí ele esclarece...

(...)”.

“Projeções e Pretenções”:

Outro assunto que conversei com Garcez foi o caso do ex-Delegado Alcino, novamente trocamos ideias sobre a forma como foi tratado pela gestão Lúcia e Lourival. Garcez argumentou que não sabia que nosso colega havia sido demitido. E, cheguei a questionar o papel dos nossos julgadores, aqueles que na época detinham o poder e decidem entre o bem e o mal.

Garcez relatou ainda que havia se envolvido num choque de veículo no seu último plantão. Segundo seu relato havia deixado a Central de Plantão Policial da Trindade e levando em conta a exaustão dos serviços, os flagrantes... no retorno para sua residência na cidade de Biguaçu,  no trajeto da BR-101, dormiu no volante e acabou chocando o veículo em que estava com o pneu de um caminhão estacionado no pátio de uma empresa, conseguindo evitar que batesse num monte de tijolos.

Garcez insistiu novamente na questão Adpesc, enfatizando a necessidade no próximo ano de nos mobilizarmos para chegar à presidência da Associação dos Delegados. Já tínhamos conversado sobre o assunto e eu manifestei a minha preocupação porque o interesse maior era o nosso “Plano”, nada mais poderia interessar. Mas concordei com ele que a entidade era importante como fonte geradora de opinião, na difusão de política institucionais, no fomento de uma nova doutrina e, também, como vetor de novas ideologias e laboratório de projetos...

No final da conversa Garcez externou uma certa decepção com a internet. Argumentou que estava lendo muito, como sempre... Além de Gramsci, também lia Pedro Demo. Esqueci de comentar que de vez em quando esse autor estava na Folha de São Paulo, mas sugeri que lesse “Baruch Spinoza” (Bento), nascido em terras batavas, mas filho de portugueses judaicos, especialmente o seu tratado sobre “Ética”, também "metafísica" e o que escreveu sobre a liberdade de expressão e consciência... Spinoza tinha tudo haver com Garcez (também filósofo) e influenciou muitos (até Einsten), especialmente sobre o seu conceito de "Deus" representado pela natureza, o sustento de vida por meio do conserto de lentes para óculos como consequência das perseguições que sofreu da "inquisição" (foi excomungado por renegar o Deus que os homens criaram, era vítima de piadas, atentados..., porém, respeitadíssimo por intelectuais...). Na verdade tinha boas lembraças de nossos bate-papos nos tempos que trabalhamos juntos "Assistência Jurídica" (levei Garcez para trabalhar comigo na época da gestão de Jorge Xavier - 1991 - 1994) especialmente sobre filosofia... 

Horário: 12:00 horas, “Um Documento a Favor?”

Telefonei para o Júlio, em sua residência na Capital:

  • Alô!
  • Júlio?
  • Sim.
  • Júlio é  o Felipe. Estais almoçando?
  • Não. Fala Felipe.
  • E daí? Alguma novidade?
  • Não Felipe. Por enquanto ainda não, acho que domingo vai ter alguma definição.
  • Ah sim, e o que  tu estais achando do cenário?
  • Está bom, está indo muito bem,  mas ainda não tem uma definição.
  • Certo. Tu estivesses em Rio do Sul?
  • Sim.
  • E como é que está o pessoal lá?
  • Tá bom, muito bom, tu precisas ver o pessoal do diretório, todo mundo lá deu um voto,  não digo nem de lealdade,  mas de fidelidade, chegaram a assinar um documento que seu eu não assumir um cargo no primeiro escalão o pessoal todo sai do partido, tu precisavas ver, foi muito bom mesmo Felipe.

(...)

“Legado de Kleinubing e o Conceito de Honra em Política”:

  • Olha, realmente muito bom, mas tu tiveste aquele encontro com o Amin naquela Sexta feira?
  • Sim, eu estava lá com ele no diretório. Também estava o Amaro, mas aí ele recebeu a notícia do estado do Kleinubing, foi para o Hospital e eu saí com o Amaro  e fui direto para lá. Acabamos nos encontrando novamente lá no Hospital de Caridade.
  • Sim, sim! Escuta Júlio e o Kleinubing, ficou algum legado?
  • Como assim?
  • Algum compromisso contigo, é claro, ainda em vida?
  • Ah sim, o Esperidião ainda lá no Hospital, nesse dia me chamou e disse: “Julinho o Kleinubing há uns dez dias atrás conversou comigo aqui no hospital e me fez prometer,  não precisava nada disso, mas ele quis assim”.
  • Então realmente houve esse legado de Kleinubing no leito de morte?
  • Sim, houve!
  • Fica mais fácil. Vamos ver se o Amin vai honrar? Mas o pessoal tem falado aí de dois nomes.
  • Quais nomes?
  • O do Kurtz e do Napoleão Amarante.
  • É bom eu saber, mas qual é a fonte disso?
  • Olha Júlio no caso do Kurtz o motorista do Procurador-Geral de Justiça, lembra do Osnelito, a esposa dele, a Iziete é irmã...
  • Sei, sei, o Moacir pôrra!
  • Sim, o Procurador-Geral de Justiça estava viajando para o interior com outro Procurador e o motorista, sabe como é, numa viagem eles falam de tudo e de todos e não pedem para o motorista guardar segredos... Então, ele ouviu os dois comentarem que o preferido do Amin era o Kurtz para assumir a Segurança Pública...
  • Ah é?
  • Agora isso não significa nada porque também não se sabe se há algum fundo de verdade nessa informação, além disso a gente tem que levar em conta o legado do Kleinubing para o Amin...
  • É, o Kurtz é Procurador-Geral da Prefeitura.
  • Isso, e Napoleão comentam também, mas também não sei a fonte, só sei que ele quando veio para Capital atuou na Segurança Pública, tem algum conhecimento...
  • Eu sei.
  • Segundo eu tenho conhecimento, ele trabalhou no setor de Armas e Munições.
  • Eu sei.
  • Trabalhou na época do Pelágio Parigot.
  • Eu sei.
  • No final da década de cinquenta.
  • Sim!

(...)

“Uma Inflexão Diante de um Jantar Postergado e a Notícia Definitiva”:

  • Também, não sei se há algum fundo de verdade nisso, mas eu estava conversando com o nosso pessoal e eles propuseram que eu te convidasse para um jantar com a gente,  não sei como é que está o teu tempo?
  • Pois é Felipe, eu ainda não tenho nada de concreto, era bom a gente esperar porque ir assim sem nada definido, quanto ao tempo...
  • Tu tá sem muito tempo?
  • Não. Bem pelo contrário, não tenho compromissos, mas só que não tenho nada ainda de concreto e eu gostaria de ter uma definição para poder dar uma notícia definitiva.
  • Entendo, estais certo, mas o nosso jantar é mais de confraternização.
  • Eu sei, mas existe uma expectativa e eu acho melhor aguardar, dentro dos próximos dez ou quinze dias com certeza nós teremos uma definição, podes ter certeza e eu quero ligar para ti dando a notícia, preciso de ti para dar um norte às coisas.

(...)

“Disparidades e Disparates”:

  • Sim, sozinho não se consegue nada,  outra coisa Júlio se vier a dar certo a tua situação no comando uma coisa que nós temos que rever é essa situação de vantagens financeiras,  não é possível se trabalhar de graça,  é preciso se estabelecer uma isonomia entre os comandos das Polícias Militar e Civil para efeito de se auferir vantagens financeiras iguais.
  • Certo, é verdade!
  • Mas cada coisas no seu devido tempo, agora é só aguardar.Mas Júlio, não vou tirar mais o teu tempo, quando é que tu tens uma definição sobre a tua situação?
  • Acho que até domingo.
  • Então tá, eu ligo para ti na sequência, certo?
  • Certo.
  • Um abraço.
  • Outro.

“Ceticismo em Grau Máximo”:

À tarde li na coluna do Paulo Alceu uma informação que me fez refletir sobre a situação de Heitor Sché, afinal, qual seria a sua atitude, caso não vingue (se realmente essa fosse a sua vontade)  seu convite para o cargo de Secretário de Segurança? Como ele agiria na Assembleia Legislativa como parlamentar? Como ficaria um projeto para as Polícias, já que dependeria da bancada governista?  Também, me perguntei:  “Qual era o significado de tanto silêncio por parte de Heitor naqueles momentos decisivos? O que estaria por trás das afirmações do Delegado “Pedrão” em querer me rotular como futuro “Chefe de Polícia”, seria queimação mesmo ou estariam na posição de “adivinhos”?

‘Preocupado com o amigo

A formação do colegiado de Esperidião Amin (PPB) também é assunto para o senador Casildo Maldaner (PMDB). ‘Já falei para o Amin que vai ser difícil acomodar o interesse de 12, 13, 14 partidos. Ele vai ter problemas. Pode anotar.’ Maldaner aposta que divulgados os nomes dos secretários surgirão os primeiros descontentes que vão atrapalhar a administração Amin e arranhar a aliança. Não sei ao certo se ele está prevendo, ou desejando.’

(Diário Catarinense, 3.11.98, pág. 8)