Data: 29.10.98, 17:20 horas, “Nós e Eles”:

Estava na “sala de reuniões” da Delegacia-Geral e o Delegado Braga veio para mais um bate-papo, com aquele seu estilo de entrada:

  • Fala doutor Felipe, não esconde nada!
  • Oi, tubo bem?
  • Mas essa indefinição aí de quem vai ser o Secretário, heim? Eu acho que eles deveriam definir logo isso, até para evitar que a gente fique nessa indecisão.
  • É verdade.
  • Está no jornal de hoje, não sei se tu viu, o PFL vai ser reunir, o PSDB também.
  • É, vai ficar lá para o final de novembro...
  • Mas a reunião hoje, o que foi aquilo, heim?
  • O quê?
  • Esse negócio do Detran, o Backes já tinha falado sobre isso, no primeiro encontro que tivemos.
  • Ah, sei, a tal da proposta de autarquização.
  • Isso.
  • Eu não concordo, tu vê eles ficam querendo discutir esse assunto, o Backes já foi diretor, conhece o assunto e está de olho..., especialmente, depois da Constituição Estadual que dispôs que a parte administrativa é da Polícia Civil, cresceu o olho por causa das taxas...
  • É, o Detran é nosso. Eles querem discutir o que é da Polícia Civil, assim não dá.
  • O Detran não é nosso Braga, pelo menos ainda não é.
  • Sim, mas está vinculado a Secretaria de Segurança.
  • Sei, tu queres falar sobre a autarquização, mas só faltava nós propormos a autarquização do “Corpo de Bombeiros”, dá licença.
  • Pois é, vê se eles falam eu autarquizar a Polícia Rodoviária Estadual?
  • Sim, era o que eu estava acabando de falar, vê se falam do “Corpo de Bombeiros”? Agora fica fácil falar do “Detran”...

(...)

“Saco de Pancadas":

  • Exatamente. Mas Braga eu acho que se for para ser Delegado-Geral nessas condições,  perder o fundo, o Detran virar autarquia, não se falar em isonomia..., eu sou um que estou fora.
  • Não! Eu já estou com o tempo,  não fico mesmo, para servir depois de saco de pancada, e com esse pessoal dizendo para resto da vida que nós é que fomos os traidores, os responsáveis por isso, não...!

(...)

“O Filme”:

  • Nós já conhecemos o filme, erramos uma vez. Eu que era “Assistente Jurídico”, você que era Diretor...,  na época do Pacheco deveríamos ter pego o pessoal, reunido e junto com o Jorge,  todos deveríamos ter colocado nossos cargos à disposição... e não fizemos isso porque acreditávamos que o quadro poderia ter sido revertido, o que não ocorreu e sofremos um desgaste muito grande. De mais a mais, quando é que se ganha para ser Delegado-Geral? (Felipe)
  • Nada! Que eu saiba, nada!
  • Não é quinhentos, setecentos reais?
  • Não. Com o teto não recebe nada.
  • Então, só para colocar o quadro aí na galeria?
  • Olha, sinceramente Felipe, se for para assumir o cargo de Delegado-Geral perdendo o Detran, sem isonomia... eu sou um que vou embora.
  • Mas falando em Secretário, vamos ver se definem, o Heitor é muito difícil chegar?
  • Dizem que o nome forte é o do Julio, está todos os dias nos jornais. Dizem que é por causa do Kleinubing.
  • É, realmente parece que houve um compromisso ainda em vida.
  • E, o Julio foi uma pessoa importante no episódio das letras.
  • É, enquanto o Kleinubing batia em Brasília o Júlio batia aqui e, em razão disso parece que houve esse compromisso, nessas circunstâncias se ele for o Secretário..., pode até ser que eu aceite ser o Delegado-Geral, mas vai depender das condições, do nosso projeto, estou nisso tudo por ele.
  • É, mas o teu nome é muito forte, pela competência.
  • Não sei, como tu sabes eu gosto de escrever, pesquisar, estudar... , estou mais próximo da uma área jurídica. Mas há outros nomes.
  • Quais?
  • O Ademar Grubba, o Renato Ribas, por exemplo.

(...)

“O enígma 'Moretto'”:

  • O Renato Ribas sim, mas o Grubba não, ele sempre foi do PMDB, se bem que está aí o Moretto como exemplo,  no início do governo Paulo Afonso ele era tido como o grande traidor do PMDB. O Lourival não podia nem ouvir falar nele, não aceitava que ele fosse o Delegado-Geral e ele acabou sendo. (Braga)
  • É, tu já tinhas me contado isso,  parece que esse é o teu enigma, até hoje tu queres saber como é que ele conseguiu chegar ao cargo de Delegado-Geral te dando uma rasteira?
  • Sim, esse é um dos meus enigmas.
  • Falando nisso o Ademar Rezende está sempre por aí, ontem ainda ele esteve aqui, me cumprimentou, o que isso? Será que ele está pleiteando alguma coisa?
  • Sim, o Ademar está sempre pleiteando, ele é uma pessoa perigosa, tu poder ver, a gente fala com ele e nunca sabe o que ele está pensando, é pegajoso.
  • É, porque eu não sei se ele está querendo alguma coisa, será?
  •  Mas Felipe eu queria pedir para ti ver aquele negócio que eu te falei hoje de manhã lá na reunião, lembra?
  • Sim, da Polícia Militar.
  • Isso, sobre a “Operação Veraneio”, o pessoal da PM que participa da operação tem assegurado por lei receber o auxílio alimentação em cheques, totaliza vinte se reais por dia,  dez dias...,  imagina...,  isso iria facilitar um monte para a gente.
  • Vou ver sim.
  • Mas o teu nome, o meu o do Wilmar são os credenciados para ser Delegado-Geral. Eu não vejo outros.
  • Olha Braga, se o Júlio vier a ser o Secretário certamente que tanto você como o Wilmar serão bem aproveitados, não se preocupe.

(...)

“Tudo é força, só Deus é poder”:

  • Dizem que a Lúcia foi lotada na Quinta Delegacia, dizem que já saiu no Diário Oficial. (Braga)
  • O que adianta, se eu for o Delegado-Geral não vou aceitar que nenhum Delegado Especial trabalhe em Delegacia, salvo raras exceções...
  • Mas ela tem lotação antes da lei,  não podem mexer nela.
  • O quê? Ela pode ter lotação lá, mas o poder convocatório é do Delegado-Geral, ninguém estará suprimindo o seu direito.
  • Mas ela não pode ser convocada assim, não tem amparo legal.
  • Mas claro que tem, o poder convocatório está, inclusive, previsto no decreto quatro mil cento e noventa e seis de noventa e quatro.
  • Bom, não sei, ela não tem tempo, depois convocar ela para fazer o quê aqui?
  • Não precisa ser aqui, existem vários órgãos em que ela poderá atuar.

(...)

“Espíritos Vagantes": 

  • Tu vê, eles não estão mandando nada para mim ali na Assistência Jurídica, chamam direto a “Jô” e os mandados de segurança do concurso é o Ademar que está respondendo.
  • O quê? Mas isso é uma afronta, o Ademar já está exonerado, você um Delegado Especial, dá licença Braga.
  • É.., tá certo que eu não gosto daquilo ali, mas eu poderia ir fazendo e aprendendo, mas até entendo, esse último concurso aí teve... , eles não querem que eu esteja sabendo de nada, bom tu sabes..., todo mundo fala desse concurso...
  • Olha Braga eu acho humilhante esse tratamento dispensado a alguns Delegados Especiais,  é impossível  isso ficar assim e ninguém fazer nada...
  • Mas eu estou fazendo como tu, aprendi contigo, faço de conta  que não vejo nada, não sei de nada, fico na minha...
  • Como é que é?
  • Tu não disseste naquele caso do Thomé, lembras, quando ele pediu para o Trilha informar sobre o que nós estávamos fazendo? Pois é,  tu mesmo orientasse nós que não devêssemos dar importância para o assunto, que devíamos esquecer  e seguir em frente, que tudo iria passar e que assim seria melhor do que ficar dando importância.
  • Sim, lembro.
  • Então,  aprendi contigo, vou fazer vistas grossas e deixa eles falarem!

 

(...)”.