Data: 29.10.98, 11:35 horas, “O ‘Feedback’”:

Depois da reunião com o Coronel Backes para tratar do “Plano de Governo” Amin para a área de Segurança Pública, nos dirigimos para frente do Edifício Dona Angelina (Praça Getúlio Vargas – centro de Florianópolis) a fim de fazermos umas considerações finais sobre a reunião. Estavam nesse “trio”, além de mim, Jorge Xavier e Krieger (que havia encontrado no último domingo na Churrascaria Pegorini do Shopping Beira Mar). No portão do prédio ainda  estavam  Redondo e Quilante.

“(...)

  • ... É, enfim, o sol, que dia... (Krieger)
  • Olha o Redondo está voltando! (Jorge)
  • Esse Redondo realmente é uma figura difícil. (Krieger)
  • Ah, não, tem que ficar de olho nele. (Jorge)
  • Realmente. (Felipe)

Depois da observação de Jorge Xavier olhei para Krieger  pisquei o olho, mudando de assunto:

  • Pois é, temos que fazer um jantar daqueles. (Felipe)
  • Como daqueles? Regado a camarão...  lá no Candeias? (Krieger)
  • É, até pode ser, mas cada um dá sua cota, o que não dá era para ser como antigamente, o nosso candidato não se elegeu e está lá o saldo para pagarmos. (Jorge)
  • Sim, pode ser na próxima terça-feira, eu convido o Julio. (Felipe)
  • Não! Mas então  tem que ser antes da nossa reunião aí com o pessoal. (Jorge)
  • É, eu pensei em convidar o Júlio, acho que não vai ter problema. (Felipe)
  • Ah, sim, claro... (Jorge)

(...)

Depois que nos despedimos peguei uma carona com Jorge Xavier até o meu carro que estava na Trompowsky. No trajeto ele aproveitou para comentar que o Cel. Backes estava tendo uma postura de futuro Secretário de Segurança Pública, como se já tivesse sido convidado:

(...)

  • ... Teve uma época em que eu achei que esse fosse o melhor encaminhamento, já que o projeto do Julio não deu certo, mas agora já estou em dúvidas, mas entre o Heitor e o Backes eu não tenho dúvidas.
  •  Olha Jorge, entre o Heitor e o Backes eu sou Heitor toda vida, não tenho dúvidas, ele é um Delegado, tem compromissos conosco, já o Backes com o Ib e outros são uma incógnita.
  • O quê? Então tu achas que vais ter alguma oportunidade com o Heitor, vais mofar!
  • Mas eu não estou preocupado com isso, estou nisso tudo pelo nosso projeto Jorge. A nossa instituição está acima de tudo, não me importo de ficar de fora mesmo, contanto que a instituição vá bem.
  • Ah, sim!

(...)

Ao chegar no meu carro  Jorge Xavier estacionou um pouco mais à frente, sob aquele sol que anunciava que o verão estava muito próximo, seu rosto transpirava excessivamente e aproveitei para esticar nossa conversa:  

  • Olha Jorge eu acho muito difícil o nosso projeto dar certo.
  • Tu achas isso?
  • Sim, não tenhas dúvidas.
  • Mas, por quê?
  • Veja bem, o nosso projeto prevê não só a integração, mas algo muito mais arrojado que é a unificação dos comandos, o segundo grau na carreira, sem contar a criação da Superintendência de Polícia Prisional. Pelo visto nada foi falado sobre isso até agora. O  Villela e o Pedro Fernandes estão direto lá na Penitenciária e eles não têm nenhuma ligação com as nossas ideias.  O Backes também recebeu cópia naquele dia lá no Comando-Geral, lembra? Eu fui entregar pessoalmente o projeto para ele, só que até hoje não se posicionou, não disse nada, absolutamente, ele é aquilo que a gente já conhece, um conservador, não vai ter coragem de querer fazer parte dessas reformas. Já o Júlio que era o principal protagonista não se elegeu, o Gilmar Knaesel desapareceu, o Redondo e seu grupo também nunca estiveram identificados com as nossas propostas e o Heitor nem se fala. E tem mais, você prestou atenção que o Backes falou em autarquização do Detran, o que não fecha com mo nosso “Plano”. Então tu vê Jorge, tudo isso só nos diz que eles não querem mudar nada, só maquiar, criar uma coisinha ali outra lá e manter tudo do jeito como está...
  • Espera aí, que grupo do Redondo? É só ele. Ele não tem grupo nenhum!
  • Como assim?
  • Tu não vais pensar que ele tem grupo, sabes por quê o Quilante veio hoje à reunião?
  • Não!
  • Porque eu o convidei. Passei o telefone ontem para ele que não sabia de nada, estava por fora de tudo.
  • Muito bom, fizeste bem em convidá-lo, é uma boa pessoa.
  • Claro...Então é isso, é o Wanderley e só.
  • Pois é Jorge, não que o nosso projeto seja impossível neste momento, mas acho muito difícil ele ser viabilizado, a não ser que o Esperidião impusesse a sua implantação, lembra que eu te disse outro dia que a minha esperança seria o Heitor entrar na parada, o que acho que beira o impossível neste momento. Se nós tivemos uma chance pequena de pelo menos assumiu a Delegacia-Geral a gente poderia começar com uma mini reforma... Mas isso também teria que passar forçosamente por um entendimento entre o Heitor, Julio, João Rosa.
  • Sei, tu falas daquele encaminhamento?
  • Sim... Heitor Senador e Júlio Deputado para 2002.
  • É, e teria que ser aberto espaço para o Heitor na Secretaria.
  • Sim, Detran,  Delegacia-Geral, não vejo maiores problemas para isso, desde que comecemos a Procuradoria-Geral por dentro da Polícia Civil, o ideal já seria por cima, mudando a Secretaria de Segurança Pública, com os Procuradores somente vinculados ao final da carreira de Delegado.

(...)”.