Data: 27.10.98, horário: 20:00 horas, “O Pentelho”:

Fui até a residência de Jorge Xavier acompanhado de meu primo Hipólito que permaneceu no carro.  Depois de me mostrar as obras do esgoto no fundo de sua casa, fomos para a sala, onde conversamos um pouco sobre os últimos acontecimentos:

“(...)

  • Mas no dia do velório o Julio me viu e veio conversar, eu já tinha dado os pêsames para a Dona Vera, já tinha cumprimentado o Amin e o Jorge  e estávamos ali próximo da escada que dá acesso ao gabinete da Presidência da Assembleia. Eu estava de frente e o Julio que estava de costas para a saída. Enquanto o Julio dizia que iria até o banheiro eu percebi que vinha na nossa direção ali pelo corredor o Amin e o Jorge. Eu  já tinha cumprimentado eles antes, mas cumprimentei novamente e o Julio acredito que o Julio havia desistido de ir ao banheiro e se foi junto com eles conversando.  (Jorge)
  • É,  tu já tinhas me contado essa passagem.
  • Mas tu vê que está tudo muito estranho, neste final de semana um casal lá de Joinville que são muito amigos da Dona Odete.
  • Odete?
  • É a minha sogra, eles são também muito chegados à Angela Amin, disseram que ela própria disse que o Secretário de Segurança vai ser o Júlio.
  • É, também tu já tinhas me contado isso.
  • Pois é, agora eu não entendo é porque a gente não sabe de nada e de repente o Redondo sabe de tudo, não dá para entender.
  • Olha Jorge, é difícil, mas nós temos que confiar no Julio, ele sabe o que está fazendo.
  • Eu entendo e acho que ele já está garantido, vai certamente ter um cargo, mas nós não temos garantia alguma, que garantia nós temos? O nosso projeto a gente nem sabe se vai ser implementado.
  • É, o Redondo eu acho que pretende ser o Secretário Adjunto, ou algo assim, se bem que se for criada a Procuradoria-Geral..., bom, não tem previsão desse cargo.
  • Olha o Wanderley pode pegar um cargo de Diretor.
  • Como o Detran? Mas tem aquela situação que tu mesmo recomendaste, lembra?
  • Exato, como assessor especial junto ao Governador, seria excelente, como o Landman foi na época do Antonio Carlos Konder Reis, fazia o papel de intermediador, só que chegou um determinado momento que o Landman não ouvia mais ninguém, ele chegou a ser mais forte do que o próprio Chefe da Casa Militar, ele levava tudo para o Governador, e era um sufoco, ele fez aquele trabalho do Estatuto da Polícia Civil, foi ele lá no Palácio que propiciou os contatos, só que ele ficou tão forte que não ouvia mais ninguém,  só agora que ele ouve, mas como aposentado, aí para né!
  • É, mas de qualquer maneira o saldo foi positivo, ele desempenhou um bom trabalho na época do nosso primeiro estatuto.
  • Sim, e o Redondo pode muito bem assumir esse papel, se bem que existem esses riscos.
  • Ele já faz trabalhos de informações para o Amin, ele detém certas informações privilegiadas e isso já é um canal.
  • Pois é, mas só para tu teres uma ideia de quem é o Redondo e como ele me incomodou, eu que o levei para a Delegacia-Geral, para o Instituto de Identificação, ele e o Gentil não saiam aqui de casa, nas quartas-feiras tinha o jogo de futebol e eu não perdia, era o momento de contato e lá estava o Wanderley e o Gentil, era toda hora pedindo coisas, às vezes eu estava lá no Gabinete com o Pacheco e quem eu encontrava? O Wanderley Redondo, aí fui ver ele fazia trabalho duplo, pedia toda hora coisas para mim e pedia para o Pacheco, não dava para aguentar.  Eu assisti um filme na televisão que passou agora e se chama ‘O Pentelho’, olha só que nome, dá mais ou menos para se ter uma ideia do Wanderley, o cara queria ser amigo de todo mundo e se envolvia de tal forma com as pessoas que causava um monte de problemas, ninguém suportava mais e o filme termina com o cidadão que socorreu ele no hospital, ao estender a mão disse que queria ser seu “amigo” e o filme termina com a frase: “ser seu amigo” seguido de três pontinhos...
  • Ah, sei, seguido de reticências.
  • Isso, tu vê um cara desses vem aqui, convive com a gente e depois vai ajudar em um documento para me derrubar, dá licença?
  • É difícil aceitar uma coisa dessas.
  • Mas esse é o Redondo, por isso que seria bom ele lá junto com o Amin, bem longe de nós,  onde poderia fazer um bom trabalho.

(...)

E fui ao telefone, ainda na residência de Jorge Xavier,  e liguei para a residência de Julio Teixeira, tendo sido atendido por sua esposa que disse que ele tinha saído com Paulinho Bornhausem para um jantar.

E voltamos a nossa conversa e Jorge Xavier acabou citando o Coronel Pacheco, seu amigo de trinta anos que botou toda uma amizade a perder por causa de seu temperamento centralizador, isso quando de sua passagem pela Secretaria de Segurança Pública. Nesse embalo, fez ainda referência ao Coronel Guido Zimermann com quem ficou quase uma madrugada toda conversando e chegaram a mesma conclusão... Relatei a conversa que tive dias atrás com o Coronel Freitas no Shopping Beira Mar... , inclusive, que ele desabafou que até aqueles dias tinha sérios problemas de saúde, a exemplo do próprio Jorge Xavier...

Já de saída pedi desculpa pela minha pentelhagem na sua casa até aquela hora, lembando outros pentelhos...