Data: 21.10.98, horário: 08:00 horas, “Personas Non Gratas”:

Escutei na rádio CBN o repórter Marcelo Fernandes dizendo aquilo que já tinha ouvido no dia de ontem à noite sobre o estado de saúde do Senador Vilson Kleinubing: “... o Senador e ex-Governador, segundo boletim assinado pelo médico Marcelo Colato, tem comprometido 93% de sua capacidade pulmonar, afetada pela sua doença...”.

E diante dessa informação, voltei meus pensamentos em fração de segundos para o segundo semestre de 1986, quando estava gravando um programa para o horário político na subidado do “Morro da Cruz” (Florianópolis), numa residência improvisada para o nosso partido (PFL). Enquanto estava revendo a minha gravação Kleinubing me surpreendeu por trás e me tocou o ombro com certa pressão, apontando ao mesmo tempo com a outra mão a minha imagem no vídeo e disse:

- Já sabe quem é aquele ali?

Fitei Kleinubing, nosso candidato a governador, e retribui seu gesto com um leve sorriso. Esse foi o nosso primeiro contato. Depois disso foram poucas às vezes que nos encontramos e conversamos. Durante o seu governo estive duas ou três no Palácio da Agronômica participando de reuniões com o Secretário Sidney Pacheco e o Delegado-Geral Jorge Xavier (por convocação deste, porque se dependesse da minha vontade certamente que não aceitaria em razão de ser quarto escalão na hierarquia dos cargos comissionados).

E, também na Beira Mar Norte, quando algumas vezes o encontrei caminhando, isso quando já estava doente. Mesmo durante o seu governo, nessa época ele corria e andava muito depressa, mostrava um preparo físico muito bom e, mais tarde, já detectada a doença, era outra pessoa, já não corria, só caminhava, apesar de que ainda às pressas. E teve uma certa oportunidade, acho que foi no final do ano de 1996, que encontrei ele e seu irmão Gilberto e mais os familiares na “Toca da Garoupa” à noite, no Centro de Florianópolis (próximo do Shopping Beira Bar Norte). Kleinubing estava alegre, falante e com um aspecto melhor.

Sempre que pensava em Kleinubing vinha a imagem de Marta (descendente de alemães e que falava a língua de seus antepassados com muita fluência), uma cidadão de São Carlos (oeste catarinense), amicíssima também de Cilene Meirelles (nasceu também nessa mesma cidade e foram amigas de infância até os tempos atuais) que segundo soube foi residir na Alemanha pelas  mãos de Kleinubing quando foi Secretário da Agricultura do Estado de Santa Catarina. Sempre foi um enigma saber como os dois se conheceram e fizeram amizade (digamos, um segredo guardado a sete chaves).  Acabei por tabela fazendo amizade com Marta, porém, nunca tive liberdade para perguntar como os dois se conheceram e também como foi ajudada  na sua viagem para aquele país já que não possuía recursos para isso. Marta acabou indo residir em Munique, primeiramente foi cuidar de um magnata solitário (outro enigma:  quem a indicou para esse senhor de idade avançada? Segundo a própria relatou quando vinha para Florianópolis e São Carlos, toda semana eles viajavam duas, três vezes de avião para almoçarem juntos numa capital da Europa ou da Ásia...) veio a se casar com o amigo e médico desse senhor na Alemanha e se deu muito bem na vida, inclusive, adquiriu e reformou a casa mais famosa localizada no centro de São Carlos (pertencia a um médico da cidade), realizando seu sonho de infância.    

E, finalmente, lembrei também daquela declaração oficial da Associação dos Delegados de Polícia, assinada pelo Delegado Alberto Freitas, declarando Vilson Kleinubing e Sidney Pacheco “personas non gratas”.   

Tudo isso muito lamentável, pura pressão do Ministério Público que soube negociar principalmente com Jorge Konder Bornhausen pelos bastidores. Evidente que Kleinubing não teve como resistir as pressões do MP (e de JKB), enquanto que Pacheco se apequenou entrando de gaiato nessa história, já que se tivesse visão e coragem, deveria ter aproveitado o momento e a “traição” aos “Delegados” para voltar à Assembleia Legislativa, mudado de partido, indo para o PMDB, seu sonho antes de se eleger no primeiro mandato (1986). Com isso, talvez, tivesse se reelegido deputado estadual, o que acabou colocando fim aos seus sonhos.

Horário: 08:30 horas, “Tucanato”:

Wilder da Penitenciária me telefonou para dizer que naquele estabelecimento corria a informação de que Júlio Teixeira seria o Secretário de Segurança e que Heitor Sché estava fora do páreo, além do que o Coronel Pacheco estaria queimado em razão de problemas com o Tribunal de Contas. Em síntese, disse que os comentários apontavam Julio Teixeira como o nome mais forte. Contra-arrazoei, afirmando que não tinha nada definido.

“(...)

  • Doutor, o pessoal tá vindo todo atrás de mim...

(...)”.

Argumentei que o Deputado Mantelli havia optado por permanecer no PDT e que esse partido era um verdadeiro ninho de problemas, faltava muita coisa, especialmente pessoas que defendessem princípios, ética e uma conduta... e que tivessem coragem de dizer não a negociatas de cargos. Mencionei o caso de um ex-Secretário de Justiça do meu tempo à frente da Penitenciária de Florianópolis que havia procedido de forma censurável, mas quando constatou que seu partido era uma canoa furada, seus sonhos foram se dissipando e partir para o PSDB. Já o vereador Gean fez a mesma coisa. Depois, também, segundo o Delegado Braga, até o Delegado Carlos Dirceu (tradicional peemedebista) havia passado para o ninho dos  tucanos. Comentei, ainda, que os Deputados Mantelli, Dércio Knopp, além de “Carlinhos Tucano” e outras lideranças poderiam partir para o PSDB. No caso de Mantelli, até para as Polícias essa migração de partido seria muito importante pois na Assembleia já havia o Deputado João Rosa que era Delegado e poderiam formar uma frente.

Horário: 09:05 horas, “O Ofício”:

  • Alo!
  • Alo!
  • Felipe é o Wanderley.
  • Ah, sim.
  • Aquela nossa reunião prevista para amanhã às dez horas, eu acabei de falar com o Backes, como a gente não tem nada ficou para terça feira, às dez horas, podemos fazer lá na sede do PPB, lá na sede do comitê.
  • Certo.
  • Nós não temos as informações, eu conversei isso com o Backes e vamos fazer o ofício por meio do Celestino.
  • Certo. Escuta, alguma novidade lá de cima?
  • Não. A gente poderia se reunir antes para verificar o que a gente quer, falei com o Backes, seria orçamento, viaturas, teríamos que nos reunir para fazer um levantamento das informações que vamos colocar no ofício, pode ser na sexta feira, nos reunimos uns trinta minutos, tu avisas o pessoal, o Garcez, o Kriguer.
  • Sim, mas não precisa todo o pessoal participar dessa reunião, pode ser só nós três.
  • Ah, sim.
  • Então eu aviso o Braga.
  • Está certo, aviso o pessoal também de que a reunião lá não deu certo.
  • Tudo bem. Essa reunião fica para sexta feira.
  • Eu te confirmo ainda, está certo?
  • Certo!
  • Um abraço.
  • Outro.

Horário: 10:00 horas, “O Golpe Mortal”:

Era o que faltava: Deu no Diário Catarinense:

Delegado e Investigador demitidos

O Governador Paulo Afonso Vieira demitiu nesta semana o delegado da Polícia Civil, Alcino José da Silva, e o Investigador Jorge Francisco da Silva. Alcino, da delegacia de Santo Amaro da Imperatriz, é acusado de desviar dinheiro público. Jorge, que trabalhava na 8a DP da Capital, foi preso por colegas ao tentar vender um carro roubado. A portaria declara que o delegado está incompatilizado para o exercício de qualquer cargo ou emprego público por oito anos, e o investigador pelo período de seis anos.’

(Diário Catarinense, 21.10.98, pág. 33)

Se não bastassem as publicações de portarias e atos punitivos no Diário Oficial, fiz este meu registro e protesto pela forma como estavam sendo tratadas as infrações disciplinares naquele momento. Não há dúvida que todo policial corrupto deveria ser extirpado da instituição, entretanto, não poderia concordar com o tratamento dado à improbidade no serviço público com a aplicação de dois pesos e duas medidas, sob a égide da desproporcionalidade nos tratamentos e entendimentos correicionais e políticos, ou seja, para os amigos os benefícios da lei e para os inimigos ou sem significância os rigores... Mas o que mais saltava os olhos nesse caso era ver como fabricavam um “bode expiatório” ou se operava uma vingança interna, no final de um governo, só porque se tratava de uma pessoa que não tinha padrinhos, madrinhas, relações de compadrios,  grandes influências, rabos-presos... Na verdade gostaria muito que o pessoal da Corregedoria (lembrei por exemplo citado sobre o dossiê que estava de posse do Delegado E.V contendo uma série de casos de protecionismo interno, quando deveriam gerar punições...) tivesse um pouco de coragem para mostrar certas verdades que se perdem no esquecimento,  estão perdidas nos porões daquele órgão. Sim, uma Corregedoria integrada por Delegados indicados por ingerência política interna sempre estará sob o comando dos simpatizantes dos governantes, por isso tudo a importância,  antes de tudo, de prevenir, orientar, controlar, fiscalizar... e, aí sim, aplicar punições isentas e justas, nunca permeadas por critérios políticos.