Data: 20.10.98, horário: 16:40 horas, “As Coisas e o Cotidiano”:

Já estava no meu local de “pouso” na Delegacia-Geral, quando recebi a visita do Delegado Braga que permaneceu distante, junto a porta entreaberta:

  • E daí foram lá? (Braga)
  • Não. Nem deu prá ir.

E fiz sinal para ele entrasse:

  • Como assim? (Braga)
  • Eu só iria se tu foste e se o Wanderley também, não ficamos de ir os três juntos?
  • Sim. Mas eu resolvi, não vou, é muita humilhação. Olha Felipe mesmo que vocês fossem eu não iria mais, pensei sobre o assunto, cheguei aqui de manhã para falar contigo, mas não te encontrei, eu iria te dizer isso e depois também eu não entendi aquela do “Sell”?
  • Pois é, mais o que tu entendesses daquela colocação dele?
  • É coisa de grupo.
  • Sim. O pessoal depois veio conversar comigo achando que o “Sell” estava de marcação comigo e eu disse a eles que não era isso que eu tinha entendido, para mim ele quis dizer que eu e o Wanderley representávamos o Júlio e só você que representava o Heitor, ficou dois a um.
  • Por isso que eu te disse “é coisa de grupo...”, eu também acho que não teve marcação alguma.
  • Eu só não entendi por que ele não indicou você e eu, já que somos dois Delegados Especiais.
  • Nem adiantaria porque eu não vou mais, nem adianta, olha Felipe e o Wanderley lá na nossa reunião com o Backes, foi tão otimista que eu pensei que ele já tinha tudo acertado com o Gabinete da Lúcia, no início eu até tinha concordado com o Backes de que ela não daria as informações, mas como o Wanderley saiu com aquela...
  • É, eu também achei ele muito otimista na resposta, e acabei ficando mais tranquilo porque pensei que ele tivesse um canal lá em cima.
  • Eu também, aí nem me preocupei.
  • Pois é, falando nisso,  eu estava hoje de manhã lá na Adpesc ouvi o Mário conversando com o Lourival ao telefone, estavam falando sobre a nossa comissão.
  • Mas o que eles estavam conversando exatamente?
  • Justamente contestavam o fato que você e o Wanderley iriam lá solicitar informações no gabinete, mas você sabe Braga que sou amigo do Mário e gostaria que isso ficasse reservado, apesar de que ele não me pediu segredo, mas veja bem  eu não concordo com essa postura pois em se tratando de um Delegado Especial o respeito é coisa muito importante e acho que a Adpesc deve é ficar do lado de todos os sócios, inclusive, dos Delegados Especiais, não da Administração.
  • O problema é que o Mário anda com um “Corsa” para baixo e para cima.

(...)

“ Heitor Segundo Braga”:

  • Mas Braga se o Heitor vier a ser o Secretário de Segurança, acho que você tem chances de ser o Delegado-Geral, mas circula por aí que serão colocados nas Regionais Delegados inativos, será que isso é verdade? Dizem que o Maurício Eskudlark seria nomeado Corregedor-Geral e assumiria no lugar do Delegado-Geral...
  • Olha o Maurício já disse aqui para o Trilha e para várias outras pessoas que se o Heitor for o Secretário ele será o Delegado-Geral, mas eu não acredito,  tem que ser Delegado Especial, isso é muito claro para mim.
  • É, inclusive, ele está muito longe de ser Delegado Especial, mas dizem que você seria escolhido para ser Delegado-Geral e te mandariam em seguida para o exterior e o Maurício assumiria.
  • Isso é mentira. Olha Felipe para aceitar o cargo de Delegado-Geral eu faria duas condições: A primeira é que não tirassem a isonomia dos Delegados. Tu não vê o caso do Jorge aí, até hoje ele sofre, eu nem tenho corajem de dizer para ele o que falam por aí,  tenho pena, ele não merece, ele foi um grande Delegado-Geral.
  • Sim, o pessoal nesse ponto é injusto, não sabem a real, eu não admito deslealdade, ingratidão...
  • Mas tudo por causa da isonomia, e a segunda é não aceitar fazer curso no exterior, olha eu fiquei vinte poucos dias fazendo curso no exterior e quase morri de tédio e saudades, nunca mais.
  • Bom, então...
  • E outra coisa, o Heitor só aceita a Secretaria de Segurança se a Polícia Militar vier junto, do contrário ele não quer.
  • É, eu acho que sei por quê, ele quer uma Pasta com força.

(...)

“ Macagnam: 'O Novo?”: 

  • E depois tu pensas que é só o Heitor e o João Rosa, eu vou te confidenciar,  tem outros nomes por aí.
  • Quem?
  • Olha eu vou te confidenciar, o Macagnam é um, é advogado e está interessado.
  • Ele é do PFL também?
  • Sim. E tem outros nomes por aí que estão sendo indicados por Deputados.
  • É, realmente aí não vai ser fácil.
  • Não!

(...)

 “Advices From Fort...”:

  • Olha e vou te confidenciar mais uma, já que tu me falaste algumas coisas também, quem me orientou a não ir até o Gabinete falar com a Lúcia foi o Márcio aqui em cima. (Braga)
  • O Márcio?
  • Sim. Ele deve ter as razões dele para ter me orientado, mas tu vê, nós não somos de perseguir ninguém, esse pessoal acha que de nós todos o que poderá exercer algum tipo de perseguição é o Wanderley, eu não acredito...

(...)

“Os Furões”:

  • Olha Braga eu também sou contra qualquer tipo de perseguição.
  • Ah sim e se tu fores ver existem muitos furos aí na Secretaria, tem gente que pode ir até preso, dizem que tem uns três ou mais corsas desaparecidos... Olha Felipe tu nem imaginas o que eu já fiz por essa Lúcia, o quanto que eu a ajudei.
  • Sim. Acredito. Mas eu também. Você vê Braga na época da Fecapoc, quando a inflação era de quarenta a cinquenta por cento ao mês eu cansei de autorizar o fornecimento vales-refeições para ela, a fim de que pudesse fazer compras nos supermercados conveniados já que ela estava devendo o cheque especial. Só que ela não pagava no final do mês, chegamos a segurar cheques dela cerca de seis meses e a Diretoria me cobrando,  querendo saber o porquê desse tratamento privilegiado para ela, só porque ela era Delegada. Alguns diretores queriam saber porquê eu não tomava providências (especialmente “Marquinhos”), não mandava para a Corregedoria, não colocava o nome dela no jornal como devedora. Eu nunca aceitei fazer qualquer coisa que pudesse prejudicá-la, e depois isso, quando ela assumiu a Secretaria de Segurança acho que ela esqueceu e acabou dando ouvidos para certas pessoas...
  • Eu ajudei ela bem mais que isso Felipe , tu nem imaginas?
  • Bom, se tu tá dizendo eu acredito sim.
  • Mas tu vê na época de transição do governo passado o Ademar colocou tudo a nossa disposição, não criaram nenhum problema, fizemos várias reuniões nesta sala.
  • Eu me lembro Braga, eu estava ali do lado, na Assistência Jurídica,  lembra?
  • Bom, eu tenho que ir, meu carro está lá no estacionamento, o cartão está vencendo, mas soubesse da última?
  • Não. Qual é Braga?
  • O Carlos Dirceu e o Thomé se filiaram ao PSDB?
  • É, o Carlos Dirceu depois que saiu o resultado das eleições trocou de partido, mas o Thomé não sabia, e é verdade isso?
  • Sim. Todo mundo já sabe. É isso aí, estou indo tirar o meu carro do estacionamento, tchal!
  • Tchal!

“Último Patamar”:

Fiquei pensando na informação de Braga sobre a possibilidade do Delegado  Maurício Eskudlark ser o novo Delegado-Geral. Acabei recordando que em 1989, quando de nossos trabalhos na Constituinte Estadual, apresentamos a proposta de Emenda Constitucional por meio do então Deputado Sidney Pacheco para que fosse inserido no texto a disposição que obrigava o Chefe de Polícia ser escolhido dentre os delegados em último patamar da carreira. Para nossa surpresa foram justamente os Delegados Maurício e Vilson Domingos (Domingão), este último ex-Delegado Regional de Tubarão que, segundo soubemos, visitaram gabinetes de deputados constituintes, pedindo que a nossa emenda não fosse aprovada.  E tive que lembrar também que que Maurício Eskudlark quando saiu da Academia foi logo em seguida nomeado Delegado Regional de Polícia de São Miguel do Oeste, sendo que daquela comarca até o momento não havia saído, inclusive elegendo-se vereador. E esse seu interesse obstinado seria assumiu o cargo de Delegado-Geral? Mas teria que ser último patamar, será que mesmo assim ela vai insistir?