Data: 19.10.98, horário: 12:10 horas, “Querelas e Pendengas”:

Estávamos ainda na Praça Getúlio Vargas (centro de Florianópolis), depois de encerrada a reunião com o Cel Walmar Backes e, juntamente com os Delegados Jorge Xavier, Rubem Garcez e Cesar Krieger nos reunimos para fazer um balanço do que havia sido tratado. Naquele clima fraternal, devido ao adiantado da hora, fomos nos despedindo para que cada seguisse o seu destino.

Nesse instante fiquei pensando que tinha dado para perceber que meus companheiros estavam mostrando certa preocupação com a possibilidade de que Wanderley Redondo viesse a dar uma rasteira no nosso pessoal, a começar por puxar o tapete quanto a audiência com a Secretária Lúcia Stefanovich. O fato é que eu havia dito a eles que confiava em Redondo quanto a esse compromisso firmado na reunião. Já quase deixando o local ofereci uma carona para Garcez até o terminal urbano. Durante o trajeto Garcez trouxe novamente à tona aquelas supostas resistências que “Sell” e “Pedrão” quanto a minha pessoa:

(...)

  • Não é que eles não gostam de ti, eles tem é temor, sabem da tua competência, que dentre nós você é a pessoa que tem condições de comandar a instituição, que você é o mentor intelectual de tudo isso.
  • Olha Garcez tu dissesse isso lá para o pessoal, se não fosse assim nós não estaríamos disputando de igual para igual, eu não tenho qualquer receio Garcez, não tenho medo de encarar qualquer situação e eles sabem disso,  sempre foi assim, eles sempre bateram de frente comigo, desde a luta classista. (Felipe)
  • A minha preocupação é que depois haja retaliação a nossos nomes. (Garcez)
  • Não. Isso não. Por isso Garcez que é importante a consolidação do nosso grupo, do nosso “Plano”. (Felipe)
  • Ah, sim, eu noto que o Wanderlei Redondo não fala mais direito comigo,  ele quis me cooptar, lembra? Eu já havia te dito isso.
  • Sim, claro que lembro.
  • Pois é, depois daquilo ele não fala mais direito comigo, ficou esquisito. Mas como eu estava te dizendo, tem que ficar claro que nós ficamos com o Amin, mesmo que o Júlio não venha ser o Secretário. (Garcez)
  • O importante disso tudo foi que constituímos um grupo e estamos participando de igual para igual neste processo,  agora eu não estou nisso para aceitar qualquer coisa, nosso pessoal tem cara, tem ideologia, estamos de igual para igual, ninguém vai se vender, tem personalidade, não vai transigir,  não vai se corromper, lutamos até aqui por ideais. Essa é a  nossa cara Garcez. Eu duvido que você teria coragem de aceitar um cargo numa administração que exigisse que fizesse coisas que vão contra os teus princípios, contra o que nos defendemos. Se fosse assim nada teria sentido,  eu me sentiria muito pequeno. (Felipe)
  • Concordo, de jeito nenhum.
  • Então, aceitar um cargo em comissão para ganhar setecentos reais a mais nos vencimentos, dá licença, será que é isso que nós estamos procurando? Sinceramente, outra coisa Garcez, na minha concepção a ideia de grupo prepondera sobre o interesse particular, qualquer oferta passa pelo nosso “Plano”, eu prefiro ficar em último lugar para aceitar qualquer convite, mas quero ver todos bem e lutando pelo que defendemos, do contrário nada vai ter sentido para mim. (Felipe)
  • Olha Felipe como é difícil...

(...)".

Com essas palavras não pude deixar de recordar Luiz Flávio Borges D’Urso que durante a nossa conversa usou aquele mesmo chavão quando fiz alguns relatos a respeito de disputas similares a que estávamos vivenciando naquele momento (“como é difícil...”). E, assim, nos despedimos no Terminal Urbano, com a recomendação de Garcez para que ficasse de olho vivo, especialmente no que dizia respeito ao encontro com a Secretária de Segurança (referia-se a tomar cuidado para que Wanderley Redondo não...).

Horário: 13:20 horas, “Mobílias e Secretariado”:

Depois de deixar Garcez, me dirigindo de carro até à Av. Trampowsky (centro de Florianópolis),  onde costumava estacionar, girei o “dial” para ouvir os comentários da equipe esportiva comandada por Roberto Alves na rádio CBN-Diário, com a participação dos jornalistas J.B. Telles, Paulo Brito e Marcelo Fernandes. O assunto na ordem do dia era a “via expressa sul” (acesso ao Aeroporto HL e ao Estádio de Futebol da Ressacada).  As ponderações dos jornalistas giravam em torno da dúvida se o futuro governador do Estado iria terminar essa importante obra. E no decorrer da "conversa" afirmaram que seria muito difícil falar com o senador naquele momento, isso porque para chegar nele teriam que passar primeiramente pelo “Zico” e “Amaro”.  Nisso “Zico” entrou na ar em linha direta com o programa, via celular. Depois dos confetes de entrada eis que surge o próprio Senador Amin no programa, também, falando ao celular,  afirmando (com a respiração levemente apertada) que naquele momento estava saindo do seu dentista (era próximo do meu destino final) e que havia sido informado dos comentários no programa, inclusive, sobre a goleada do dia anterior em que o seu time o Avai havia dado de quatro a zero no time adversário: 

"(...)

  • Meu amigo Roberto Alves, eu estou caminhando aqui pela Trompowsky,  tem lixos por todos os lados, garrafas, estou no celular, acabei de sair do dentista, estava arrumando a mobília e agora estou indo para a casa da minha mãe a pé. (Amin)
  • Mas governador, andando a pé...? (Roberto - risos)

(...)

Em determinado momento da entrevista o jornalista Paulo Brito perguntou ao Senador Amin:

  • Mas Senador quando é mesmo que o senhor vai anunciar o seu secretariado?
  • Olha Paulo se depender de mim só em dezembro...

(...)”.

E por falar no mobiliário do futuro governo do Estado de Santa Catarina,  ficou patente naquele papo informal (de improviso) que ficaríamos esperando até dezembro para sabermos qual seria o mobiliário com que Amin iria decorar o seu futuro "stablishment". Até lá as expectações deveriam ser grandes e não haveria outra alternativa a não ser se aguardar as movimentações tipo "tira", "bota", "solta no ar", "esconde", "guarda", "deixa", "me lança", "ninguém fala nada", "deixa se queimar"... e, "este é o cara!"