Data: 19.10.98, horário: 11:35 horas:

“O Contato com a Delegada Ana Kriguer”:

Ao término da reunião com o Coronel Walmor Backes (Edifício Dona Angelina, em frente a Praça Getúlio Vargas, centro de Florianópolis) o Delegado Wanderlei Redondo veio ao meu encontro para dizer:

  • Felipe tu faz contato lá com a Ana marcando a audiência? (Assessora da Secretária de Segurança Pública)
  • Wanderlei tu mesmo podes fazer, não tem problema.
  • Tá bom, tu estais com o celular ligado?
  • Sim!
  • Então eu ligo para ti.
  • Certo.

“O Tempo e o Vento”:

De saída da reunião fui me despedir dos Coronéis Backes e Ib que permaneceram no local porque tinham algo ainda a discutir reservadamente. E, nós fomos para a praça em frente fazer uma avaliação de tudo. Jorge Xavier, sob efeito das endorfinas, ainda nos corredores do prédio comentou:

  • Mas eu estou impressionado como esse pessoal “Sell” e “Pedrão” não suportam o Felipe, ficou mais uma vez muito claro isso, vocês viram o que ocorreu ali na reunião?
  • É, realmente ficou claro que eles tem fortes resistências contra o Felipe.(Garcez)
  • Mas esse pessoal, realmente, como é que podem... (Krieger)
  • O problema é que eles têm um passado e eu estou aqui com as mãos limpas! (Felipe)
  • Como é que pode isso? (Krieger)
  • Olha pessoal eu não achei isso não. Essa não foi a minha leitura do que aconteceu ali na reunião. Acho que o “Sell” quis dizer foi outra coisa bem diferente. Ele pediu para indicar o Braga e o Redondo para haver maior equilíbrio de forças, pois do contrário ficariam dois representantes do Júlio e só o Braga como representante do Heitor. E tem mais ainda,  quanto ao Braga acho que o “Sell” não gostou muito da indicação dele porque é sabido e o próprio Braga diz isso para todo mundo que o “Sell” e o “Pedrão” não gostam dele. (Felipe)
  • É mesmo, mas se eu soubesse disso antes em vez do Braga eu teria indicado o próprio “Sell”. (Jorge)
  • Jorge isso não adianta porque você entraria em contradição, lembra que você deu ênfase aos ativos, pô!. (Felipe)
  • Mas eu teria mudado o discurso. Achei bom que só veio nós aqui, foi melhor assim. (Jorge)

“O koringa”:

  • Falando nisso eu não telefonei para o Wilmar, achei melhor deixar ele de fora, quis poupá-lo, já que ele não participou até agora de nenhuma reunião e o filho dele apoiou o Heitor. (Felipe)
  • Está bom assim e tem que se considerar que nós eles conhecem, agora o Cláudio e o Wilmar não participaram de nenhuma reunião. (Jorge)
  • É,  o Wilmar vai funcionar como coringa, se por acaso houver problema com o meu nome e o do Braga o Wilmar cresce, fica com o seu nome resguardado e pode ser um candidato forte para Delegado-Geral, além disso ele é mais antigo do que nós dois. (Felipe)
  • É, ele é mais antigo. (Krieger)
  • Assim ele funcionará como um coringa, na última hora eu pensei nisso e achei melhor. (Felipe)

“O Segundo Homem”:

E na praça o assunto continuou girando em torno dos lances ocorridos na reunião do grupo:

  • Pois é o Backes é o segundo homem da Maçonaria no Estado, né? (Krieger)
  • Não sei? (Jorge)
  • Sim, está na Internet, saiu a relação do “Grande Oriente”, ele está na lista como o segundo homem no Estado. (Krieger)
  • Eu sabia que ele era maçon. (Felipe)
  • Mas eu gostaria de saber quais as relações de Backes com o Amin? Qual o papel dele nesse processo? Por que ele se apresenta como o coordenador? (Garcez)
  • O Backes está cotado para ser o Comandante-Geral da Polícia Militar, além disso ele é amigo pessoal do Amin e faz a ponte com o Celestino. (Jorge)
  • Certo, e ele estaria cotado para ser o Secretário de Segurança? (Garcez)
  • Claro que sim Garcez só que eu acho que a Polícia Militar não vai abrir mão do seu “status”  de Secretaria de Estado, vai? Claro que não! (Felipe)
  • Sim. (Jorge)

“Krieger,  o Homem Ideal?”                  

  • Mas Jorge quando você me indicou eu achei melhor que fosse o nome do Krieger, mas recuei quando você disse que não, até entendo o momento e isso não significa que eu quisesse fugir dessa responsabilidade. Mas acho que o Krieger seria o nome mais apropriado. (Felipe)
  • Tu estais louco? Você é Especial e não podemos abrir mão desse espaço. Vê se amanhã tu colocas um paletó, uma gravata,  para te apresentar lá para a Lúcia. Você tem que mostrar para ela que é um Delegado Especial. (Jorge)
  • Mas doutor Jorge não seria bom o senhor também ir? (Krieger)
  • Não. Eu sei que se eu for lá ela vai me receber. (Jorge)
  • Mas o Senhor acha que ela poderá criar algum problema? (Krieger)
  • Não. Bem pelo contrário. É capaz dela fazer uma festa para me receber. Eu justamente agora estou me escondendo dela, não quero ir lá. (Jorge)

“Twister”:

  • É, ficou visível que o pessoal, o “Sell” e o “Pedrão”, tem uma resistência muito grande contra o Felipe.  Eu nem digo resistência, acho que é um temor. Eles temem o Felipe. Sabem do seu potencial e que ele é uma ameaça para eles. Sabem da sua competência intelectual e que ele é capaz, está por trás de tudo isso. (Garcez)
  • Espera lá Garcez, não é bem assim. (Felipe)
  • É sim!. (Jorge)
  • Mas que coisa isso, como é que eles podem levar para esse lado? (Krieger)
  • Pessoal vocês sabem que se nós estamos aqui foi porque houve um trabalho e hoje nós somos um obstáculo para os interesses deles. A nossa participação incomoda, além do mais é fácil acertar com o Wanderlei, mas conosco não tem acerto. Temos espírito de corpo,  temos objetivos comuns (Felipe)
  • Evidentemente, não, olha ó!. (Garcez)
  • Estamos unidos em função de um “projeto”. Já eles buscam simplesmente o poder pelo poder. A nossa união incomoda muito, tudo seria bem mais fácil se não existíssemos nessa disputa. (Felipe)
  • Eu tenho fé que o Júlio vai ser ainda o Secretário. (Krieger)
  • Não sei. A coisa está muito indefinida como vocês já sabem. (Felipe)
  • Felipe tu tens o telefone do Júlio? (Krieger)
  • Sim!. (Felipe)
  • Uma coisa tem que ficar clara, mesmo que amanhã o nome do Heitor venha ser o indicado para Secretário eu acho que nós temos que estar aqui na próxima quinta-feira até para ver a reação do Backes. Eu tenho liberdade com ele até quero dizer: “pois é Backes e agora?”. Pois se nós ficamos todos do lado do Amin, por que vocês sabem que pelo Heitor nós estamos fora, não vai sobrar nada para nós, tenham essa certeza, não se iludam. (Jorge)

(...)

“O Desconhecido”:

Aproveitei para fazer uma retrospectiva rápida sobre a última conversa que tive com Júlio no dia anterior. Disse a eles da importância de Wanderley Redondo no processo. Jorge Xavier adicionou que foi por isso que fez questão de indicar o nome dele para participar da comissão. Reiterei as palavras de Júlio Teixeira quanto à necessidade de bom entendimento com Wanderlei, apesar de ser uma unanimidade entre nós que ele continuava sendo uma pessoa não confiável, na verdade entre nós havia sérias restrições ao seu nome, inclusive, chegando a se comentar que ele estaria fazendo acertos com o grupo de Heitor Sché. E, lembrei o pessoal que na Delegacia-Geral havia comentários que ele esteve lá outro dia lá e disse que não importava quem fosse o Secretário, se Julio ou Heitor, pois, de qualquer maneira ele ficaria bem (com certeza, se bem que a meu ver a preferência dele era totalmente por Júlio Teixeira). Na verdade eu ainda não conseguia entender Wanderlei Redondo, era uma pessoa que não inspirava segurança, compromisso com o institucional, ligação  e empatia com o nosso pessoal. Além disso, havia ainda aquela consideração acerca de Wilmar Domingues que até então eu não tinha entendido, sem bem que depois que soube da história da prisão da esposa dele..., acabei sem conseguir formar um juízo pró e contra. Talvez estivesse até supervalorizando demais por tudo o que diziam e, de repente, poderia ser uma pessoa simples e um grande amigo.

Ficou acertado que na quinta-feira nós nos reuniríamos novamente naquele mesmo local e que até o dia seguinte, provavelmente, teríamos uma informação sobre o futuro de Júlio Teixeira.