Data: 17.10.98, horário: 09:00 horas, “Ó Ká? Ó Ká!”:  

No início daquela manhã resolvi ligar para a residência de Jorge Xavier:

  • Alô!
  • Alô!
  • É da residência do doutor Jorge?
  • Sim.
  • Leninha?
  • É.
  • Leninha, o Jorge está aí?
  • Está sim, só um momento.

Depois de alguns instantes...

  • Alô!
  • Oi Jorge.
  • Ah sim.
  • E daí, tavas dormindo?
  • Não, mais ou menos, mas não tem problema.
  • Puxa, se eu soubesse, é que eu levando muito cedo.
  • Não tem problema.
  • E esse tempo, muito chuva.
  • É, realmente.
  • Eu não consegui ainda falar com o Júlio, o celular dele está desligado direto, para falar com ele tem que ligar para sua residência, não tem outro jeito, quero ver se faço isso neste final de semana.
  • É bom.
  • Mas ontem, no final da tarde, o Backes me ligou, chegou a ligar para ti?
  • Não.
  • Pois é, ele telefonou para dizer que na segunda-feira, às dez horas de manhã, haverá uma reunião lá no Edifício Dona Angelina, é sobre a transição de governo, ele pediu para que eu entrasse em contato contigo e com o restante do nosso grupo. Você sabe Jorge que ele está como coordenador e eu não sei quantas pessoas ele está convidando, mas eu queria ouvir a tua opinião.
  • Nós temos que ir, certamente o pessoal do grupo do Heitor vai estar lá e tu disseste que ele iria convidar o Wanderley Redondo?
  • Sim, agora Jorge, eu falei para ele que o nosso grupo iria em bloco.
  • Mas tu achas que isso é interessante? Eu acho que não.
  • Tu falas em ir só nós dois?
  • Sim, eu acho.
  • Olha Jorge, eu acho que não. É uma oportunidade em que se vai discutir a transição, tu ouviste naquele dia o Backes dizendo que nós vamos precisar fazer um levantamento de como se encontra a Secretaria de Segurança e isso vai requerer a formação de diversos subgrupos, para isso é importante que estejam todo o nosso pessoal lá, o Garcez, Krieger, Wilmar e Cláudio..., para que sejam distribuídas as tarefas.
  • Ah, mas tu achas que o pessoal do Heitor e do Wanderley também não vão querer participar?
  • Sim,  eu sei disso. Mas veja bem Jorge, a coisa vai ser distribuída por áreas, uns ficam com a parte financeira, outros com a Polícia Científica, Detran, Sistema Penitenciário e assim por diante. Agora é importante nós estarmos lá em peso até porque teremos condições de ocupar mais espaços e até te indicar como coordenador da área de Segurança.
  • Então tu achas que nós devemos convidar todo o nosso pessoal?
  • Sim, inclusive, é bom para o próprio Wilmar.
  • Tu falas para ver a posição dele?
  • Não. Não é isso, eu não tenho dúvida nenhuma com relação a posição dele, eu me refiro que ele e o Cláudio até o momento não participaram de nenhuma reunião com todo o pessoal.
  • Ah, sim,  entendi, é então eu acho que todos devem ir.
  • Pois é, então ficamos assim, tu falas com o Krieger e o Cláudio que eu falo com o Garcez e o Wilmar, certo?
  • Sim, mas era importante conversar com o Júlio também.
  • Certo. Eu vou tentar falar com ele neste final de semana, até porque eu não sei se tu te lembras, mas lá no almoço ele disse que era importante nós não faltarmos a nenhuma reunião para a qual formos convidados, pois estaremos representando ele.
  • Certo.
  • Mas Jorge, é importante que a gente veja como é que vai ficar o plano de governo. Lá na Delegacia-Geral correu a informação de que o Wanderley esteve anteontem lá e disse que o nome do Júlio estava forte ainda para ser o Secretário e que está existindo uma guerra por trás dos bastidores, isso significa que o Júlio está ainda no páreo.
  • Isso é bom, ele esteve lá dizendo isso.
  • É Jorge, agora uma coisa é certa, nós nos diferenciamos dos demais porque a nossa prioridade é o nosso projeto e não cargos, é evidente que isso é uma consequência natural da implementação do nosso “Plano”, mas a gente sabe que os outros estão em busca de cargos, por isso que é importante o nosso pessoal ir em peso na segunda-feira, estaremos fazendo a diferença, pois temos um projeto institucional, enquanto eles estão unidos para buscar cargos.
  • É verdade, mas vê se fala com o Júlio então.
  • Vou ligar para ele hoje ou amanhã.
  • Sim. Depois tu me ligas, Ó ká?
  • Ó ká Jorge.
  • Então tá.
  • Ó ká, eu te ligo até o domingo à noite., Ó ká!

Após encerrar a conversa com Jorge Xavier fiquei pensando no Coronel Backes (que já conhecia desde os tempos que era ainda o "Capitão Backes",  Diretor do Detran, isso no final das décadas de setenta e início de oitenta, cujo órgão funcionava no andar térreo, juntamente com a Academia da Polícia Civil (Bairro Estreito - Rua Marinheiro Max Scharann), andar superior. Quando me veio a imagem de Walmor Backes o questionamento era se ele teria a grandeza de analisar nosso "projeto" na sua essência, não como algo apresentado para dar visibilidade a "agentes" de um processo que buscava projeção pessoal e cargos no futuro governo. A minha esperança era que ele passasse a cristalizar aquela ideia que defendíamos (pelo menos da minha parte), única e exclusivamente, que se traduzia em semear uma estrada para o futuro em termos de aspiração da sociedade que clama por ter um sistema policial unificado, totalmente integrado em termos de informações, de custo bem mais baixo, que pusesse fim às rivalidades frívolas e às disputas de "egos", acabasse por vez com subserviência midiática em termos de favorecer a projeções pessoais e institucionais monopolizada por miriades de alto-falantes..., tendo como foco quase que de maneira geral os excluídos, a grande massa de consumo e a força motriz a serviço do poder econômico,  como principais protagonistas,  seus repórteres julgadores bem pagos e o público alvo De outra parte, esses ventos das mudanças seriam relevantes para os próprio policiais na medida em que preservaria as suas instituições e suas respectivas histórias, entretanto, sob um único comando hierarquizado dentro de novos paradigmas, princípios e doutrina, isto é, uma Polícia Estadual de características civil, moderna e, preferencialmente, federal (noutro momento futuro). Acredito que a sociedade agradeceria muito se tivéssemos a humildade para nos despirmos da arrogância e déssemos vazão à coragem para mudar esse modelo de "velhas polícias" que já cumpriram os seus papéis históricos ao longo dos séculos, mas que agora estariam propondo as mudanças necessárias (para Santa Catarina e para o Brasil) para construirmos uma sociedade com maior justiça social, minimizasse as desigualdades e a exclusão social, combatesse eficazmente a corrupção no território do Estado com ciência, técnica e inteligência e, ainda, servisse de suporte e última fronteira na defesa de todos os interesses da sociedade em quaisquer circunstâncias de perigo, catástrofes... Nessa visão a força policial não estaria sob o comando dos governos e políticos, isto sim, da própria sociedade para quem prestaria contas quer por meio da Assembleia Legislativa quer por meio de um Conselho Estadual de Justiça integrado por representantes da Ordem dos Advogados, Ministério Público e Poder Judiciário. Uma das condições para viabilização desse projeto seria a autonomia financeira. Certamente que a sociedade agradeceria muito. A pergunta, então, era se o Coronel Walmor Backes estaria à altura desses desafios ou se iria preferir  apenas um cargo de destaque pessoal no futuro governo como o de "Comandante-Geral" da Políca Militar, garantindo a sua foto (pintura) na Galeria dos ex-Comandantes-Gerais, sob olhares de praças incorporando o espírito de tantos "Litos" de farda, tanto quanto, revoltados, indignados... ... Só o tempo é que poderá nos dar essas e outras respostas para as grandezas e desafios desse homem pensante, silencioso...

Horário: 14:00 horas, “Só o Tempo”: 

Ao ler a coluna daquele sábado do jornalista Paulo Alceu, não pude deixar de lembrar da situação de  Júlio Teixeira e das palavras de Esperidião Amin que, naquela reunião no Castelmar, quando do lançamento do seu “Plano de Governo”, teria dito que faria como o Kleinubing fez na montagem do seu Colegiado, ele teria a cara da Assembleia Legislativa e também o que Redondo andou dizendo na Delegacia-Geral de que pelos bastidores estavam disputando a Secretária de Segurança:

Pensando em voz alta

Será que os deputados do PFL e do PPB, derrotados pelas urnas, serão aproveitados no novo governo da coligação Mais Santa Catarina?

Diário Catarinense, 17.10.98, pág. 8)

E no DC de domingo, sobre a transição de governo, Amin dá a seguinte entrevista...:

“Já os coordenadores da transição, Celestino Secco e Antônio Carlos Vieira, colocam a mão na massa atrás de uma receita que garanta, para começo de conversa, o pagamento em dia dos salários do funcionalismo e o ajuste da estrutura de pessoal. Na sexta-feira passada, no Palácio Santa Catarina, eles estiveram reunidos com o interlocutor do governo do Estado, secretário de Qualidade, César Barros Pinto, a quem solicitaram informações sobre 32 itens que vão desde a proposta orçamentária para o ano que vem até a situação da obra da Via Expressa Sul ou dos contratos da Cohab, passando pela estrutura organizacional do governo... Sobre a folha de pagamento do Estado – o ingrediente que tem entornado o caldo da governança – Barros Pinto alega que existem hoje apenas 1,2 mil cargos comissionados – segundo ele, haviam cinco mil no governo anterior de Amin, 3,5 mil no de Pedro Ivo Campos e 1.050 no de Vilson Kleinubing – que consomem menos de 1% da folha de pagamento. ‘Se quiser resolver o problema começando por este ponto, não vai obter muito resultado’, aconselha (Cesar Barros Pinto). No total, são 92 mil servidores ativos para os quais são pagos cerca de R$ 125 milhões mensais – 67% do que é arrecadado pelo Estado...’

(Diário Catarinense, 18 de outubro de 1998, pág. 6)

“Mantelli Vive!”:

E, ainda nesse mesmo jornal, as palavras de Mantelli sobre a sua reeleição...:

"O Impeachment ficou para trás

... Mantelli revelou que mesmo dentro da Polícia Militar, sua base eleitoral – ele é sargento reformado – não havia unanimidade em relação à sua candidatura. ‘Dentro da corporação tinha um grupo que me apoiava e outro que foi contra’. Além do aumento conseguido para a PM logo depois da votação do impeachment, Mantelli considera que seus trabalhos em prol da Segurança Pública foram decisivos para sua reeleição. ‘Não tenho apenas eleitores na PM, também a Polícia Civil e o sistema penal me apoiaram...’.

(DC, 18.10.98, pág. 10)

Eu fui um dos que torci muito pela reeleição de Mantelli porque sabia que ele representava não só a classe de Sargentos e Subtenentes, mas todos os policiais militares. Na minha visão se tratava de um sonhador, idealista e batalhador para seus pares e, também, para policiais civis e o pessoal do sistema prisional. Mantelli vinha de origem simples, muito embora sabia que com poder e a passagem do tempo as pessoas podem apresentar mudanças imprevisíveis (seria esse o caso também desse nosso personagem?). Conheci Mantelli no ano de 1986, no início do segundo semestre, quando estava em campanha à Câmara Federal e fui até a sua residência localizada no alto de um morro, próximo da BR-101 (Rio do Sul). Naquela época fazia dobradinha com o Coronel RR Sidney Pacheco (PM-SC) que era candidato à Assembleia Legislativa (primeira eleição) fazebdi "dobradinha" comigo. Nessa época Mantelli era um dos principais cabos eleitorais do Cel. Pacheco na região de Rio do Sul e nosso discurso era defendermos representantes das polícias na Assembleia Legislativa do Estado e na Câmara Federal (Constituinte de 1988), cuja pretensão já era defender a ideia da unificação dos comandas das Polícias no âmbito dos Estados, a partir do segundo grau e criação da Procuradoria-Geral de Polícia no lugar das "Secretarias de Segurança Pública (esse projeto já tinha defendido em Congresso dos policiais civis no ano de 1986 realizado no Estado de São Paulo e ganhou simpatia dos presentes, inclusive, passou a ser apoiado pela Associação dos Delegados do Estado de Pernambuco que se fez presente no evento). Recordei que Mantelli nas Assembleias da Fecapoc (Federação Catarinense dos Policiais Civis) realizadas na Rio do Sul, sentando em uma das cadeiras bem à frente,  à esquerda, trajando farda da PM, estava sentado o “Delegado de Pouso Redondo”, isso ainda na gestão do Secretário de Segurança Pública - Delegado Heitor Sché.  E, Júlio Teixeira era o Delegado Regional de Rio do Sul.