Data: 07.10.98, horário: 11:30 horas, “Prudente como a Serpente”:

O Deputado Júlio Teixeira ao telefone:

  • Alô, Júlio!.
  • É o Felipe.
  • Sim.
  • Olha, eu estava conversando com o Braga hoje de manhã e ele comentou que o Ademar teria conversado com ele repassado a informação que tu vai assumir uma Diretoria ou um órgão de uma outra Secretaria.Segundo o Braga o Ademar disse que o próximo passo seria tu disputar a Prefeitura de Rio do Sul, tá certo isso?..
  • Espera aí, quem falou isso foi o Jorge Bornhausen ou  Vilson Kleinubing?
  • Não, não entendesse, quem falou isso foi o Lauro Braga. Ele conversou hoje de manhã ali na “Assistência Jurídica” com Ademar Rezende que repassou essa informação
  • Tu não entendesses, eu satirizei essa colocação.
  • Ah, certo.
  • Felipe querido, por enquanto não tem nada definido.
  • Sim, isso é a título de informação, não esqueça: ‘prudente como a serpente’, por isso que fui direto na fonte chegar.
  • Sim, sim e eu agradeço isso, quando tu tiveres qualquer coisa me passa, tá bom?
  • É só para você ficar inteirado do que corre por aí, mas também poderia já ter alguma coisa acertado nessas conversações aí.
  • Eu sei, eu sei e agradeço, é muito bom que tu fiques antenado, mas não tem nada ainda, qualquer coisa eu te aviso.
  • Então tá Júlio, até mais.
  • Até mais Felipe.

Horário: 19:30 horas, “Uma questão de honra?”

Ao sair da Biblioteca Pública no final daquela manhã resolvi dar uma passada na Delegacia-Geral e lá estava Walter como sempre de plantão na portaria, atento a tudo e a todos que chegavam e saiam do prédio:

  • Quer um cafezinho? (Walter)
  • Tem?
  • Tem sim, eu vou buscar um copo.
  • Obrigado Walter, e como é que estão as coisas?

(...)

Depois das mesmas respostas de sempre (“Tudo guarda-chuva velho lá em cima...”), como não poderia deixar de ser, passamos a conversar sobre política:

  • Pois é Walter, agora você vê, o Júlio foi uma pessoa que batalhou muito nesse caso das Letras, trabalhou afinado com Amin, com Jorge Bornhausen e Vilson Kleinubing, por isso é que eu entendo que ele tem que ter assegurado um espaço no governo.
  • É claro,  numa diretoria, noutro órgão, tudo bem, também acho que ele merece, ajudou a dar um pau naquele governador.
  • Veja bem, o Heitor iniciou a campanha dele em agosto do ano passado e nessa época onde é que andava o Júlio?
  • É, ele estava na Assembleia, os outros já estavam fazendo campanha, é claro.
  • Exatamente, envolvido até o pescoço com o caso das letras, investigando o esquema, pedindo a cabeça dos colegas de partido que negociaram os votos.
  • É, eu sei, os três deputados...
  • Não. Foram quatro.
  • Quatro não. São cinco, tem aquele da Educação que também se elegeu.
  • Isso, mas veja bem, enquanto o Heitor estava fazendo campanha e se preparando para o pleito, o Júlio estava na Assembleia à frente de tudo, sem tempo para viajar pelo Estado, pela região dele que é Rio do Sul e isso durou até há alguns meses atrás, então você acha justo agora virarem as costas para ele que fez vinte e um mil votos, mas não se elegeu?
  • Claro que não, por isso que eu digo que ele tem que ser aproveitado noutra secretaria ou órgão.
  • Eu entendo que hoje é uma questão de honra o Júlio ser preparado para voltar em 2002 como um dos deputados mais votados, assim como o Paulo Afonso fez com o pessoal que negociou na Assembleia, praticamente todos se elegeram e muito bem.
  • Olha Genovez, eu não me importo se o Secretário vai se o Heitor ou o Júlio, o que eu quero é que esse pessoal do PMDB saia de vez daqui.
  • Bom, eu posso dizer para você o seguinte, hoje a pessoa que mais tem méritos políticos é o Heitor, ele foi o grande vencedor, até pela história dele, por isso está na frente, mas o Júlio está junto e além disso também tem o João Rosa que tem lá seus méritos.
  • Esse aí não vai apitar nada, vai ficar lá na Assembleia num canto, só isso.
  • Olha,  não é bem assim, quantos votos você acha que o Amin tem na Assembleia?
  • Dezoito.
  • Pois é, e quantos votos você acha que ele precisa para aprovar seus projetos?
  • Ele já tem mais do que o suficiente., não é?
  • Não. Ele precisa de no mínimo vinte e um votos, então veja bem aí entram os votos do PSDB, sem os quais ele não aprova nada,  e é por isso que o João Rosa vai ter força, ele é uma pessoa inteligente e tem projetos na área de segurança pública, acho que o Heitor deveria tomar a iniciativa e chamar esse pessoal para conversar.

(...)

“Uma prova física?”

E mais a seguir observei no mural uma informação sobre a data da posse dos novos policiais civis recém formados na Academia da Polícia Civil (famosa turma de 1998):

  • Mudaram a data de formatura mesmo? (Felipe)
  • Isso é uma vergonha, o pessoal que passou foi todo indicado por eles, quando tem um monte de gente aí que merecia passar, que são funcionários e deveriam ser indicados, tem aqui em cima essa menina, a K., filha do J.S. que passou, tem o R. que passou...
  • Essa K. trabalha aqui?
  • Sim, é uma magrinha de cabelo curto.
  • E esse R. ?
  • É o R. K..
  • Ah, certo,  mas tu falaste que eles foram também indicados, eu não entendi.
  • Sim, foram indicados.
  • Bom, não entendi, mas deixa para lá...
  • Uma das coisas que o Heitor tem que fazer é acertar a vida desse pessoal administrativo que trabalha aqui, tudo ganhando uns duzentos e oitenta reais por mês, coitados, eu não quero nada para mim, mas espero que seja acertado isso, eu sei que tu já disseste que isso não dá para fazer porque tem problemas. É verdade, não mesmo?
  • Sim Walter, isso que você quer e que andaram dizendo para esse pessoal não tem amparo, antigamente, antes de 1988 era possível, mas agora não dá mais.
  • Mas o Heitor já fez.
  • Pois é, mas isso foi antes de 1988, bom Walter eu procuro ser franco nas minhas colocações, seria muito fácil eu concordar contigo, mas prefiro te dizer a verdade.
  • Eu sei disso.
  • Então, é só esperar para ver.
  • Bom, já fizeram tanta coisa nesses concursos, quando a filha do Lourival faltou ao concurso, porque ela não pode comparecer na prova os psicólogos foram até a casa dela, depois do prazo e fizeram a prova física lá,  isso tudo está errado.
  • A prova física? Psicólogos, prova física?
  • É, a prova física.
  • É, mas acho que foi ‘a prova física’, e sim o exame psicotécnico, não tem sentido, bom Walter com essa eu já estou indo.

Horário: 20:15 horas, “Notícias do Paulo Alceu: Os Julius”.

No Supermercado Angeloni da Beira Mar Norte acabei adquirindo o Diário Catarinense para checar a coluna do Paulo Alceu, coisa que já tinha feito rapidamente cerca de uma hora antes noutro local:

‘Os Secretários de Amin

Embora cedo, mas nunca tarde, começam as articulações nos bastidores  do novo governo em torno de nomes que poderão compor o colegiado de Espiridião Amin. Entre os cotados estão os deputados federais do PPB, Leodegar Tiscoski, Hugo Biehl e Eni Voltolini. O pefelista Paulo Gouvêa seria uma alternativa polivalente. Já ocupou vários cargos no Executivo. Uma opção para a Saúde vem do PSDB, o médico Vicente Caropreso. Péricles Prade o substituiria na Câmara dos Deputados. Saindo dois ou três da bancada PPB/PFL permitiria o ingresso na Câmara  de Raimundo Colombo e Pedro Bittencourt Neto, os dois com uma votação considerável. Da Assembléia poderá sair Heitor Sché interessado em voltar a ocupar a secretaria de Segurança. Foi secretário no primeiro governo Amin. Mesmo indicado não abre vaga para Júlio Garcia, que passaria a ser o primeiro suplente. Pelo visto não há interesse, de líderes da coligação, em abrir espaço para Garcia. Por enquanto alguns nomes. Com o passar dos dias muitos outros irão surgir. Faz parte’ (DC, 8 de outubro de 1998, pág. 6).

E ao que tudo indicava o nome do Julio Teixeira não iria mesmo ser lembrado para o primeiro ou segundo escalão, muito provavelmente o seu passado não interessa mais, simplesmente porque perdeu a utilidade (ficou sem mandato...),  exceto o outro Julio. Nesse jogo político parece que usaram Júlio Teixeira, aproveitando-se talvez da sua ingenuidade, do seu "ego", do seu senso e discursos eloquentes, tudo isso permeado por um motorzinho de "DKV", enquanto os seus concorrentes estavam na estrada com seus motores turbinados.