DATA: 07.10.98, horário: 17:15 horas, “Lua de mel?”

Ao sair do gabinete do Deputado Júlio Teixeira questionei  Jorge Xavier o que poderiam estar fazendo os policiais Moreto e Clesio Moreira de plantão naquele local, inclusive, argumentei que achei muito esquisita a conduta dos mesmos. Na avaliação de Jorge Xavier esses dois policiais estavam apenas cumprindo ordens do Delegado Wanderley Redondo para que ficassem de “guarda”.

Na sequência, fomos procurar o Deputado Gilmar que segundo informação de uma das pessoas do seu gabinete ele só retornaria na semana seguinte, isso a partir de terça. Imaginei o descanso merecido depois daqueles dias finais, em tom de brincadeira, ainda arrisquei perguntar se Gilmar estava em “lua de mel”. Ninguém poderia jamais negar que Knaesel era aquele velho amigão de todos os encontros, irradiava simpatia, alegria...

Na saída da Assembleia, na parte da frente, encontramos quem justamente esperávamos encontrar só na terça, era ele em carne e osso – “Gilmar Knaesel”, de terno preto, uma gravata bem colorida, falando ao telefone celular e ao seu lado uma “galega” de Blumenau (advogada). Olhei bem para ver se não era um sósia dele ou parente, mas Knaesel era único. Jorge Xavier foi de encontro ao parlamentar e ao se aproximar dele, sem ligar para a interlocução via celular e já bem próximo, quase se tocando as barrigas, resolver permanecer parado até o término da ligação. Quando foi possível Jorge Xavier iniciou a conversa:

  • Gilmar, mais uma vez meus cumprimentos.
  • Obrigado, obrigado!

E, o nosso sorridente Knaesel apresentou a advogada de Blumenau:

  • Esse aqui é o doutor Jorge e esse aqui. (Knaesel)
  • Doutor Felipe. (Jorge)
  • É o doutor Felipe Genovez, são meus amigos Delegados. (Knaesel)
  • Olha Knaesel, parabéns pela votação expressiva. (Felipe)
  • Olha Felipe, eu fiquei alegre e triste ao mesmo tempo, claro que fiquei contente com a minha votação, mas senti porque o meu amigo não foi. (Knaesel)
  • Pois é Knaesel, ele vai precisar muito de ti nessa hora, podes ter certeza que o Júlio é uma pessoa que tem história, tu sabes bem como foi o processo para abortar a candidatura dele. (Jorge)
  • Sim, eu tentei falar várias vezes com ele pelo celular, mas está sempre fora de área, até agora não consegui. (Knaesel)
  • Mas hoje tu podes ligar que vais conseguir, nós falamos com ele no início da tarde. (Felipe)
  • Eu acho que ele estava lá pelo interior do Vale e fica fora de área. (Jorge)
  • Eu acho que ele deve estar a caminho daqui, não sei. (Knaesel)
  • Knaesel, eu conversei com o Geraldo sobre o jantar lá no restaurante com o teu pessoal..., pode ser na terça feira...? (Jorge)
  • Sim, não tem problema. (*Knaesel)
  • Pois é eu já conversei com o Júlio sobre esse jantar, Knaesel. Nós conversamos com o Júlio para fazer um jantar com o nosso pessoal e com a tua presença, a fim de darmos uma força para ele, para fazermos um balanço sobre o nosso plano, afinal, você está junto nele. (Felipe)
  • Não, esse jantar que eu estou falando é outro que o Geraldo quer fazer. (Jorge)
  • Mas não tem problema, vamos levar o Júlio lá, acho importante, é bom a presença dele lá. (Knaesel)
  • Bom, mas tem que ver se fica bom para o Júlio também? (Jorge)
  • Por que Jorge, eu acho que não vai ter problema algum. (Felipe)
  • Vamos conversar com o Júlio então. (Jorge)
  • Gilmar eu queria pedir para que tu dessa uma olhada com carinho na situação do Júlio, até para fortalecer a situação dele junto ao Amin e você é a pessoa ideal para isso, estamos juntos no “Plano”, até se for o caso liga para ele, dá uma força. (Felipe)
  • Sim, como eu disse tentei várias vezes falar com ele no celular.(Gilmar)
  • Bom, vamos indo, o Deputado deve estar com a cabeça cheia, depois a gente confirma o jantar, certo? (Felipe)
  • Certo. Eu aguardo. (Knaesel)
  • Faremos contato. (Felipe)

Deixamos o local e fiquei imaginando “que lua de mel nada”, estava ali Gilmar Knaesel integral, com todo o gás,  chutando a bola para frente. Certamente, mais uma vez pude constatar que além de ser uma pessoa aberta ao diálogo, Knaesel fazia isso com certa humildade, era franco e transparente. Lembrei também do Gerente de Jogos e Diversões da Policia Civil naquela época, companheiro de noitada com Knaesel, sendo que depois de alguns tragos no “Scuna Bar”, embaixo da Ponte Hercílio Luz (Florianópolis), sem conseguir enxergar muito bem, veio a se desentender com uma amiga do parlamentar (cuja irmã trabalhava no gabinete do parlamentar) o que veio lhe causar constrangimentos em razão dos fatos terem um fim derradeiro lamentável no prédio onde a moça residia (altos da Rua Tenente Silveira, em frente a Biblioteca Pública do Estado – centro de Florianópolis). Knaesel me relatou os fatos, mas pediu reserva, por isso deixei de registrá-lo na totalidade, mesmo porque deve ter ocorrido num momento de infelicidade e motivado pelas circunstâncias etílicas dos protagonistas e que não trouxe consequências maiores no âmbito policial. No nosso retorno:

  • Olha Jorge se não fosse pelo Júlio, sinceramente esse Gilmar é uma pessoa que inspira confiança, realmente, sem comentários, esse é político!
  • Ele é fantástico!

Depois disso, já recolhido no meu silêncio e caminhando, a pergunta que não poderia calar era se Knaesel, em sendo Fiscal da Fazenda do Estado, realmente estaria disposto a lutar por um “Plano” na área de segurança pública para Santa Catarina e para o Brasil? Tinha que se levar em conta que desde o início o parlamentar apoiou o nosso “Plano”, chegou a subscrevê-lo, esteve na reunião com o Senador Esperidião Amin, quando apresentamos uma introdução a respeito do assunto, então era só  esperar para ver o que o tempo iria nos revelar!

Horário: 17:30 horas, “As Senhas”:

Quando estávamos chegando no carro, Jorge Xavier começou mexer nos bolsos e não encontrava a chave de seu carro, olhou para mim e percebeu que eu estava com um meio sorriso nos lábios e disse:

  • Tu tá gozando, mas a situação é muito séria.
  • Não é isso.
  • Parece que está faltando algo, já sei é a chave do carro, acho que deixei no gabinete do Júlio, vou lá, tu aguardas aqui.
  • Certo!

Enquanto aguardava o seu retorno fiquei pensando naquilo que ele tinha dito e ao retornar disse:

  • Jorge, eu não estou com esse ar de gozador, muito pelo contrário, sei que a situação é muito séria, acho que você fez uma interpretação errada dos fatos.

Já manobrando o carro no local, Jorge Xavier comentou que a chave estava com Tereza e aproveitou para perguntar a ela se aqueles dois policiais estariam de plantão ali (alguma coisa assim) e ela respondeu que mais um pouco precisariam de senhas para entrar no gabinete (“então estariam mesmo de ‘Guarda’”? pensei). E eu disse a Jorge que Tereza mais uma vez deu uma demonstração de que não estava se sentindo à vontade com aquela situação, mas que isso era bom porque era assim que as pessoas se revelavam, tudo no seu devido tempo... e Tereza conseguiria enxergar melhor as coisas (mas não quis insistir mais nesse assunto porque Jorge era muito cético a essas coisas metafísicas, lê-se em seu rosto, parecia esoterismo ou algo transcendental e que aparentava não ter valor, talvez, salvo se fosse magia negra...).

A seguir fomos em direção ao centro da cidade e passamos a conversar se devíamos ou não levar Júlio Teixeira na festa que Geraldo queria dar para o Gilmar Knaesel.   Jorge Xavier explicou que essa festa o Geraldo estaria fazendo para homenagear os fiscais da fazenda que coordenaram a campanha desse parlamentar. E até entendi a preocupação de Jorge Xavier no sentido de que Júlio Teixeira pudesse se sentir deslocado, mas considerando que os dois deputados não viam nenhum problema em estarem no restaurante naquelas circunstâncias...

Aproveitei para ler a carta de João Rosa. Jorge Xavier comentou que não recebeu o documento, tão somente de outros candidatos, mas rasgou, exceto a de Sidney Pacheco que guardou para mostrar para o grupo o que ele andou escrevendo . Pedi a Jorge Xavier que me desse essa carta, evidente que queria também fazer o devido registro para a posteridade.

Diante da reação de Jorge Xavier, ainda no trânsito, resolvi telefonar para o Júlio Teixeira a fim de informá-lo a respeito desse convite para a festa de Geraldo e colher a  sua opinião. Júlio Teixeira comentou que não havia problema algum, pois era amigo da maioria dos fiscais da fazenda. Ainda, aproveitei para dizer que estivemos no gabinete dele e conversamos com o João Luiz que esclareceu que Sidney Pacheco tinha feito um acerto com vários candidatos e Júlio retrucou dizendo que o seu chefe de gabinete (João) não poderia ter dito aquilo, não estaria autorizado.

No mais, Júlio Teixeira informou, ainda, que as conversações estavam andando muito bem (pensei: “seria como na campanha?”), esperava que não. Comentei sobre a  importância de Gilmar Knaesel ajudá-lo naquele momento e ele concordou, inclusive, no sentido de que poderia ajudar a fazer frente a Heitor Sché, para que ele não quisesse dominar tudo sozinho e nesse caso Knaesel seria uma peça fundamental. Júlio Teixeira ainda fez uma consideração reservada para aquele momento:

“(...)

  • Olha Felipe, o que mais me deixa sentido é que eles estão nos tratando como se tivéssemos trabalhado para o Paulo Afonso, para o PMDB, tu acreditas nisso?
  • Sim!
  • Então,  nesta altura do campeonato temos que nos unir, todos, para combater o que se chama Heitor Sché, mas isso fica aqui, nem é bom passar isso para frente.

(...)”.

Nem quis comentar nada para o Jorge Xavier que estava na direção do “Apollo” sobre o que tinha acabado de ouvir, mesmo porque nunca tinha considerado Heitor Sché assim como foi descrito anteriormente, tinha firmado meu ponto de vista e  porque Jorge Xavier também tinha essa visão de que com Heitor nós não teríamos a mínima chance, e eu talvez não levasse isso tão a sério, poderia haver um fio de esperança.... (mas teríamos que dar tempo ao tempo e espero estar vivo para escrever mais essa história...).

Horário: 18:30 horas:

  • Alô, Júlio, sou eu, Felipe.
  • Fala meu irmão!
  • Escuta, eu me esqueci de dizer para ti que o Gilmar tentou várias vezes para falar contigo, mas o teu celular estava sempre desligado.
  • Não! Estava ligado.
  • Júlio, só a partir de hoje à tarde que consegui falar contigo, antes também só dava desligado.
  • Eu também tentei falar com ele não e consegui.
  • Mas o celular dele está atendendo, na hora que nós estávamos com ele atendeu várias vezes o telefone.
  • Está certo, vou ligar para ele já.
  • Certo. Já fala com ele sobre o jantar.
  • Esta bem.
  • Então tá!

Horário: 20:00 horas, “A Sabedoria Popular”:

Ao sair da Delegacia-Geral, passei pela portaria e Walter estava sentado assistindo televisão. Não pude me conter e lancei uma pergunta recorrente:

  • E daí Walter, como estão as coisas?
  • Tá uma merda!
  • Por quê?
  • Aquela mulher ali agora tirou a minha mesa.
  • A que mulher tu estais te referindo, é por acaso aquela galega?
  • Sim, é essa mesmo. Tu vê, ela resolveu tirar a minha mesa que é a única que tem chave e nas gavetas eu tenho sempre os documentos do Grêmio, brincadeira!
  • É mesmo?
  • Não vê o que essa mulher fez com o Osnelito, para sair tem que pedir autorização para ela, se não...
  • O quê? Não acredito.
  • Rapaz, outro dia o “neguinho” que faz o serviço de entrega de correspondência aí, não tem? O Osnelito mandou ele sair para fazer um serviço e ela na hora telefonou para a Ana lá em cima entregando.
  • Qual “neguinho”?
  • Esse que trabalha aqui, está sempre aqui embaixo.
  • Ah, sei quem é. Falando nisso, tem muita gente que faz esse tipo de coisa, fica fazendo fofoca?
  • Olha, é o que mais tem, além dessa galega, tem o Moacir, motorista do Trilha, é outro, vê o que ele aprontou, eu tinha comentado aqui que o Amin iria ganhar as eleições com uma margem de um milhão de votos e  ele escutou, numa viagem a Blumenau onde eles foram participar de uma reunião me entregou para o Trilha. No outro dia o Trilha entrou no elevador com o DPL e me chamou a atenção dizendo,  e o DPL só ria.
  • Dizem que o peixe morre pela boca, né Walter? O jeito é ficar quieto, evitar comentários.
  • Genovez, tu sabes eu não consigo me conter, falo mesmo, não quero nem saber.
  • Pois é, mas o Amin não ganhou com uma margem de um milhão?
  • Novecentos mil votos.
  • Então é praticamente um milhão, o que tu disseste foi uma verdade.
  • Bota verdade nisso!

E saiu do local pensando no um milhão de votos de diferença e na responsabilidade de Amin em administrar isso, seus projetos, seus desafios de governo...