"SENADOR ESPERIDIÃO AMIM – CANDIDATO AO GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA(1998): PROJETO NA ÁREA DE SEGURANÇA PÚBLICA PARA O NOVO MILÊNIO”

No início do mês de fevereiro  de 1998, foi  marcado o encontro com o Senador Esperidião Amim, o que veio a ocorrer no dia dez, por volta de treze horas,  na sede do PPB (atual PP), localizado na Rua Arcipreste Paiva, centro de Florianópolis - SC. No referido local, ao chegar encontramos o Deputado Gilmar Knaesel e o Delegado Jorge Xavier, ambos já me aguardando para cumprir o que estava programado para logo em seguida.

Durante os minutos de espera na antessala do segundo andar da sede do partido  permanecemos aguardando bastante ansiosos, enfim, iríamos nos avistar com o virtual governador (ainda na condição de pretenso candidato). As dúvidas eram muitas, entretanto, havia a certeza de que estávamos fazendo o que era certo para aquele momento, mesmo porque de nada adiantaria desenvolver esforços em propostas e estudos que não dessem em nada,  manifestos que sequer sairiam do papel.

Em determinado momento, fomos informados por uma secretária que  poderíamos entrar no recinto onde se encontrava Esperidião Amin. Já no recinto, um local bastante espaçoso pude observar uma mesa de reunião com vários lugares. De início não deu para ficarmos muito a vontade porque o prefeito de Urussanga – Roberval Pilotto – que nos antecedeu havia permanecido sentado na ponta da mesa (e parece que foi proposital), mas parecendo na condição de ouvinte e participante da nossa conversa (a impressão que tive foi que ambos já estavam tratando de algum assunto, cuja conversa não havia sido terminada ou então poderia ser aquilo que em política chamamos de “arte cênica ‘jegos’”). No entanto a nossa presença fez com que fôssemos recebidos no curso derradeiro dessa "trova a dois" que poderia terminar mais cedo ou mais tarde, dependendo do encaminhamento.

Knaesel fez as nossas apresentações (dispensável até porque todos nós já conhecíamos pessoalmente o Senador Amin). Nessa introdução Knaesel de cara já se cometeu uma gafe, pois ao apresentar-me ao Senador Amin disse-lhe que eu era um velho filiado ao PPB (na verdade este autor nunca foi filiado ao PPB). O único partido que fui filiado foi o PFL para garantir minha candidatura à Câmara Federal no ano de 1986.

Feitas essas abstrações e voltando ao encontro, Jorge Xavier começou fazendo um relato de seu rompimento com o Cel Sidney Pacheco (ex-Secretário de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina). Sua narrativa dava a impressão que obrigava a uma atenção forçada do Senador que – apesar da experiência política - nessas circunstâncias não escondia a sua ânsia por avançar para o próximo passo, ou seja, era como se dissesse:  “vamos ao que interessa”.  Enquanto transcorria a narrativa de Xavier, Amin se abastecia de algo que parecia ser iogurte natural com mel e granola. Sim, era o seu almoço e ele – com os egos nas alturas - parecia que se deliciava com aquilo (a arte de fazer política), liberando seus neurotransmissores e despertando ainda mais sua aguçada atenção. De um lado a ingestão da boa comida e do outro o jogo político que parecia também alimentar o seu espírito, pude então concluir o porquê do seu excesso de peso.

De vez enquanto dava uma olhada geral no ambiente, pois já conhecia a história de Jorge Xavier. Amin, mostrando-se atento a esses movimentos, me questionava ao mesmo tempo que revelava sua percepção singular. Nesse contexto a narrativa de Jorge Xavier já mais parecia  lânguida para o momento e o que mais interessava eram as pessoas, não as ideias.

Em determinado ponto da conversa, Jorge Xavier lembrou nossa participação na proposta entregue à Ângela Amin durante o processo eleitoral de 1994, do qual Heitor Sché também havia participado diretamente, assessorando a candidata. Quanto a isso, Amin – dando a impressão que preferia ficar na superfície - apenas se reportou dizendo que Sché havia sido um bom Secretário de Estado da Segurança Pública durante o seu governo (1982-1986). Retruquei que isso era verdade, porém, deixei claro que durante a sua gestão fiz oposição, considerando principalmente a nossa  participação sindical. Ainda, quando Jorge Xavier se reportou às dificuldades que a Segurança Pública tinha enfrentado durante o Governo Paulo Afonso, Amin, de imediato e de maneira muito categórica fez questão de deixar registrado que a Titular da Pasta da SSP tratava-se de uma verdadeira... Bom, talvez Sua Excelência  quisesse dizer que ela era uma ‘espertalhona’. Evidente que, principalmente, por razões éticas preferimos não nos manifestar, em especial sobre essas ponderações, mesmo porque não era nosso objetivo atacar quem quer que fosse, ainda mais, em se tratando de uma policial civil (essa postura de Amin deixou claro que o mesmo estava sendo bem informado sobre a Segurança Pública e com informações acerca da vida dos policiais civis, com os tais dossiês..., bom pelo menos era o que aparentava).  E ficou um imenso vazio, ‘impreenchível’, parece que a falta de eco frustrou as expectativas de nosso interlocutor-mor. E fiquei a me perguntar: “Quem seria a figura útil dentro nossos pares? Haveria um Delegado-Informante-Mor?”

Retomado o prato principal, passou-se a discutir propostas para mudanças na área de Segurança Pública. Knaesel interferiu pedindo para que eu me manifestasse sobre o assunto que norteou a nossa vinda até aquele local. Contudo, Jorge Xavier previamente designado como porta-voz do grupo, mediante a minha discrição e prudência, passou a discorrer sobre a nossa disposição em trabalhar em um plano de governo.  Amin deixou registrado que concordava com a unificação das polícias e que deveria ser constituído um colégio de Delegados e Oficiais Superiores com incumbência para dirigir todo o aparelho policial do Estado. A seguir, Amin perguntou como é que era no Rio Grande do Sul. Procurei responder que naquele Estado vizinho a Pasta é denominada Justiça e Segurança, estando todos os órgãos policiais, incluindo o Sistema Penitenciário e DETRAN. Argumentei  em síntese sobre o caos no sistema penitenciário e da necessidade de agregar os estabelecimentos penais à Segurança Pública do Estado, aproveitando as estruturas e recursos humanos que possuem as duas polícias estaduais.

Mais a seguir, de maneira direta o Senador Amin dirigiu-se a minha pessoa pedindo que me reportasse sobre possíveis propostas com vistas a um projeto na área de segurança pública. Respondi-lhe prontamente que o próprio candidato já havia dado a solução e que tudo podia ser sintetizado em duas palavras: sinergia e evitar a diáspora no sistema de segurança pública. 

Amin, pareceu compreender a resposta lacônica e de pronto declarou que não havia solicitado a qualquer outro grupo que fizesse um projeto para área de segurança pública, mas que estaria disposto a receber do grupo um projeto específico para o aparelho policial do Estado, com vistas ao seu futuro governo.

Nesse interregno já havia se juntado ao grupo o Deputado Lício Mauro da Silveira que (politicamente correto) permaneceu atento e em silêncio ouvindo quase toda a nossa conversa.

Acertada a entrega de uma proposta – sem se especificar nada acerca de seu conteúdo, fizemos questão de registrar que o Deputado Júlio Teixeira integrava o grupo e que por razões de força maior estava ausente.

Amim ainda queixou-se que nenhum Delegado havia se lançado candidato pelo seu Partido (PPB).

Saímos da sala, deixando para trás Lício e Tiscoski com Amin. E já na saída do . fazíamos um “animado” balanço do encontro e aproveitou para produzir um quase sussurro aos nossos ouvidos:

“(...)

  • ... Foi bom, foi bom, o homem gostou, ficou impressionado, vocês só têm que ter um pouco de calma, pelo que vi ele ficou bastante satisfeito com a proposta.

(...)”.

Pensei comigo: "O que quê é isso 'Roberval Taylor'?"

E seguimos nossos destinos, eu mais dando a impressão que estava com uma pulga atrás da orelha, enquanto que Jorge mais eufórico com o contato. E, também, restou aquela a imagem da saída com Knaesel, mais à vontade, radiante, efusivo, participante, solícito..., enfim, deixando transparecer que a coisa estava indo muito bem(?!?!).

No carro, de carona até à Trompowiski, centro de Florianópolis, Jorge se mantendo enterrado no seu enfeitado terno, com aquele seu tique piscando os olhos continuamente e com sua voz meio grave entoando frases cadenciadas, mantinha uma postura bem característica daqueles momentos pós "ensaios senatorias" que mais parecia "pavonear", magnânimo, formal, com gestos pausados, enquanto eu procurava refletir todo o seu "alter ego", porém, para guardar bem as imagens, insistia sempre em ficar com um pé atrás e a duvidar, e questionar o filme que havia se desenhado, contudo, deixando uma porta aberta para o otimismo que apaixona e também nos cega, até para não delatar algum resquício de chiste.

No meu íntimo, já refrigerado, me perguntava: "Esperidião Amim estaria à altura de protagonizar/implementar no seu futuro governo algum "modelo ideal de polícia“ dentro da Segurança Pública, começando uma revolução pelo nosso Estado?  Também tínhamos que lidar com contingências representadas pelos Deputado-Delegado Julio Teixeira e Gilmar Knaesel? Também, pensei: “Será que Esperidião Amim chegaria ler o nosso projeto?” Só o tempo, talvez, nos dará essas e outras respostas.

Aliás, só o tempo seria capaz de mostrar a verdade e quais caminhos seriam trilhados por todos nós...