Data: 02.12.98, horário: 16:00 horas

Já havia retornado para a “sala de reuniões” da Delegacia-Geral da Polícia Civil e eis que recebi a visita do Delegado Braga:

  • Doutor Felipe, conta as novidades!

(...)

Imediatamente interrompi minha digitação:

  • Olha Braga tá tudo velho, ninguém sabe de nada.
  • Estão dizendo que o Secretário vai ser mesmo o Backes, se for isso então o Heitor não vai ser mais.
  • Não sei, eu estava antes com o Trilha e ele disse que seria o Napoleão Amarante e o Julio de adjunto.
  • Não! Essa era a conversa até sexta, mas já mudou tudo, de segunda-feira para cá o que se conversa é que o Backes foi convidado e o Julio seria o adjunto. Eu notei nos últimos encontros que ele estava bem diferente.
  • Essa é uma hipótese bem provável, mas não dá para descartar nada pois não tem nada definido, mas até a posse tudo pode mudar.
  • Nós estávamos conversando lá e o Noronha acha que nós não temos que dar espaço para a Polícia Militar, ele disse que temos que manter distância deles. Eu não concordo com isso, sempre fui favorável a uma aproximação com eles, claro que isso não significa que a gente vai fazer o que eles querem.
  • Olha Braga o que o Noronha acha ou pode não achar não é o que eu penso ou o que tu pensas, cada um é cada um e quanto à Polícia Militar eu acho muita bem vinda qualquer aproximação,  esse é o nosso futuro e não podemos fugir a esse determinismo histórico, é o que a sociedade gostaria que acontecesse, é o que precisa ser feito, então vamos fazer acontecer a começar por aqui em Santa Catarina.
  • Claro, eu sei disso.
  • E quanto ao Delegado-Geral, o pessoal tem comentado alguma coisa? Eu estava falando com o Trilha e ele disse que nós, eu, você e o Wilmar são os nomes mais comentados.
  • É, mas o meu nome e o teu são os mais fortes, todo mundo comenta, mas o teu é mais forte.
  • Não sei, é aquilo que eu já te disse, eu tenho dez anos de polícia pela frente e você se pode se aposentar a hora que você quiser.
  • É Felipe, mas se tu fores convidado não podes fugir, tens que aceitar. Quando é que tu vai ter outra chance dessas? Não vais querer deixar um Lima. ser nomeado, não!
  • Braga, tudo no seu momento, vamos aguardar para ver como é que as coisas vão ficar, ainda não tem nada definido.
  • Qualquer coisa eu me aposento, é claro que eu gostaria de ser convidado, só não queria voltar para a Diretoria de Polícia do Litoral, poderia ser o Detran, sabe que eu gostaria de ir para lá, mais sei que vai ser muito difícil,  vai ser um cargo muito disputado.
  • Mas Braga tem a Corregedoria-Geral, acho que você tem que ser aproveitado numa Diretoria, se não for o Delegado-Geral, por exemplo e o DEIC?
  • Não sei, aquilo tá uma bagunça, parece que o Acioni foi convidado para ser o Delegado Regional de São José.
  • O Acioni, o quê?
  • Sim. O Detran não é da Polícia Civil e acaba nós perdendo, tu vai ver,  infelizmente a Lúcia não resolveu isso.
  • É, ela tinha tudo para resolver esse problema e estão aí esses escândalos lá em Araranguá, ficaram criticando aquelas leis complementares, gastando tempo falando mal do governo passado...

(...)

E Braga foi se afastando em direção a porta, enquanto fui concluindo nossa conversação:

  • É, o Jorge foi crucificado por causa da isonomia, e a Lúcia agora com esse problema do Detran, cada administração com os seus problemas, é aquela história do “novo” e do “velho”.

Braga já da porta se despediu:

  •  ... E isso tem que ser dito, nós temos que falar para as pessoas!

Horário: 21:45 horas:

Garcez telefonou para minha residência:  

  • Alô, Felipe, é o Garcez!
  • Oi. Tudo bem?
  • Sabe o que quê é, eu não pude ir à última reunião, é difícil eu me locomover e depois não tinha nada para ser deliberado.
  • É Garcez, realmente não havia muita coisa para ser deliberada.
  • Que eu saiba não foi decidido nada, tu me desculpas!
  • Garcez eu também não fui.
  • Pois é, ir lá só por ir? E já saiu alguma coisa sobre o nome do Secretário?
  • Não. Tá tudo indefinido.
  • Mas o Julio será que tem chance?
  • Não, nem o Júlio e nem o Heitor. Acho que o Julio deve ser o adjunto, não sei.
  • Mas para nós se o Backes for o Secretário está bom?
  • Sim, temos trabalhado com ele, seria muito bom. E quais são os nomes que correm aí para Delegado-Geral?
  • O pessoal tem falado muito no teu nome e do Braga, são os dois nomes mais fortes.
  • Mas o Braga está mais forte, não?
  • Não. Os dois estão fortes, existem aqueles que defendem o teu nome e há aqueles que defendem o Braga, depende.
  • É...
  • Eu estava falando com o André, não sei se tu conheces, ele tira plantão no CPP, é um de cabeça branca.
  • Sei quem é, conheço o André.
  • Eu perguntei o que ele achava, sempre faço isso para ver o posicionamento do pessoal e ele é mais simpático ao nome do Braga. Ele disse que: “o Felipe é muito fechado”, e aí vem aquela ladainha de sempre e que tu já sabes: “o Felipe legislou em causa própria, chegou a Delegado Especial em tempo recorde”.
  • Sem comentários, e o que tu dissestes?
  • Não, eu disse para ele o que sempre digo, que mal com a legislação pior sem ela, que elas apresentam defeitos e devem ser melhoradas, mas que bom que temos essas legislações, procuro fazê-los entender isso, mas não é fácil...
  • Pois é, mas Garcez a Constituição Federal não tem defeitos? Não precisa ser revista?
  • Claro que precisa!
  • Então, esse pessoal fica inventando coisas, a solução é se melhorar essas leis no devido tempo ou então revogá-las e fazer os Delegados a voltarem a ter estrutura de carreira por classes como todos os servidores, em vez de entrâncias, exigir os primeiro e segundo graus para ingresso na Polícia Civil, acabar com prerrogativas da inamovibilidade para os Delegados, critérios de promoção como era antes, só se fazia promoções por merecimento por critérios políticos, talvez aí o pessoal vai achar que nós evoluímos, dá licença, né Garcez!
  • Ah é, vai nessa! Esse André só para tu teres uma ideia nos dias úteis ele sai e vai jogar carteado, e faz isso numa boa.
  • Pois é Garcez e esses são os nossos julgadores, eu já conheço algumas histórias do André lá de Blumenau, aí a gente entra naquele esquema de ser fechado, antipático, orgulhoso, justamente porque não se comunga com o estilo, como o modo de vida de muitos de nossos colegas e se entra num choque ideológico..., enquanto esse pessoal tem tempo para jogar, ir a boates e etc.,  nós não temos tempo sequer tempo para ir no banheiro, é tanta coisa para se ler e pensar que acabamos absorvidos e quando sentimos o dia já terminou, não é assim?
  • É verdade, mas Felipe tu podes ficar tranquilo que eu tenho o meu julgamento.
  • Eu sei disso, sempre confiei no teu discernimento e tem que ser assim,  temos que ser abertos para as críticas e tu me conheces bem, tens condições de fazer um julgamento sobre a minha pessoa porque trabalhasses diretamente comigo, mas esses nossos colegas que nem conhecem a gente um pouquinho...

(...)”.