Data: 01.12.98, horário: 17:45 horas, “Os Carecas”:

Estava deixando a Delegacia-Geral para ir até a Adpesc levar um exemplar do meu Estatuto Anotado – 1998, sendo que no andar térreo, junto a recepção encontrei o Delegado Wilmar Domingues com sua cabeça quase que só no couro:

  • Ohhoôô doutor e daí?
  • Tudo bem Wilmar?
  • Alguma novidade?
  • Não. Tudo igual.

E ele me olhou firme nos olhos para dizer:

  • Não tem nada não, né?
  • Por enquanto tudo parado, vamos aguardar.
  • A última que eu soube aí é que o Napoleão...
  • O Amin está certo, jogou um balde de água fria e tirou o time de campo, é muita pressão, assim ele se resguarda e deixa o pessoal cogitando por aí.

E nisso chegou da rua o Escrivão Osnelido com aquele jeito de manezinho de sempre. E do setor de “cópias” saiu o policial “Balinha” (segundo soube estaria atuando na Diretoria de Polícia Técnica) e depois de nos cumprimentar, Wilmar em tom acentuado disse:

  • E daí Balinha?

Atrás desse policial saiu também uma policial civil que já conhecia de vista e veio sorrindo na nossa direção. Procurei corresponder ao aceno com um sorriso o mais franco possível, porque o lugar já estava propício a “politequices”.  e os dois em fila indiana estavam deixando o prédio, ficando nós três ali postados junto ao elevador:

  • Com o novo horário estas vindo à tarde?  (Osnelito)
  • Sim. Mas tenho sempre chegado depois das dezessete horas, tenho te procurado no final de tarde no teu gabinete, mas o pessoal tem informado que tu estais saindo mais cedo. (Felipe)
  • Alguma novidade? (Osnelito)
  • O doutor aí é que sabe das coisas. (Wilmar)

E movimento a cabeça com um sorriso contido para demonstrar que não sei nada...

  • Esse homem aí é daqueles que está careca de saber tudo e nós ficamos a perguntar, e ele já está careca, só fica ouvindo e colhendo... (Osnelito)

E enquanto os dois companheiros ficavam aos risos, fui me afastando a fim de cumprir o meu destino e, saindo de mansinho, apontei uma árvore de natal que enfeitava a portaria da Delegacia-Geral:

  • É natal! É natal! É natal!

E, caminhando, lembrei que aquela árvore deve teria o dedo de Guinevere.

Horário: 17:55 horas, “É Verão”:

Cheguei na Adpesc, depois de uma caminhada rápida e para minha surpresa a porta estava fechada, não havia mais ninguém e o jeito era retornar, custando acreditar pois ainda não eram dezoito horas e com o horário de verão que levava o expediente até as dezenove horas...

Horário: 18:25 horas, “Pareceu”:

Fui surpreendido com Guinevere que veio até a “sala de reuniões” para conversar comigo, mantendo aquela sua discrição impecável, sem perder a ternura e a doçura:  

  • Oi! A moça falou que tinha um monte de papeis aí no chão.
  • Sim, teve votação para o Conselho.
  • Mas, era para jogar fora?
  • Sim. Era.
  • Ah, bom. Ela veio limpar e não sabia o que fazer, jogou tudo fora...
  • Não tem problema. Era para fazer isso mesmo.
  • Então tá!
  • Tá bom. Muito obrigado...

E lá se foi ela, deixando a porta entreaberta, pois estava desde o ano passado com a fechadura danificada. Para variar, Osnelito até então não havia resolvido o problema. Levantei-me e fui lá mexer na fechadura para liberar a lingueta que trava a porta que ficou emperrada no interior da caixa quando acionada a maçaneta. Depois que sua silhueta desapareceu pela porta fiquei pensando naquela balada “Can We be friends?” de Todd Rudgren...