Data: 28.11.98, “Total Desinteresse?”:

Pensando em voz alta

O governador Paulo Afonso argumenta que a viagem à Espanha não terá ônus para Santa Catarina. É convidado do governo da Galícia. O problema não é esse. É o ônus que ele causou e está causando ao Estado. Agora por total desinteresse.

(Diário Catarinense, Paulo Alceu, 28.11.98, pág. 8)

“Ainda, Sobre a Viagem”:

Viagem de Amin adia decisão sobre colegiado

Primeiros nomes devem ser divulgados quando governador eleito voltar dos Estados Unidos

Florianópolis

O Governador eleito Esperidião Amin deve manter a viagem marcada para hoje, às 19h, para os estados da Virginia e Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde vai conhecer a tecnologia de reaproveitamento de rejeito de carvão na produção de energia (...).  Novas listas devem ser entregues – pelo PPB – na semana que vem. O presidente do PFL, Pedro Bittencourt Neto, informou que as sugestões serão feitas diretamente ao governador eleito, quando solicitadas, e que não se referem ao primeiro escalão (...). Segundo sua assessoria, ele deve anunciar os primeiros nomes do secretariado assim que retornar dos Estados Unidos (...)

(Diário Catarinense, 28.11.98, pág. 8)

Data: 30.11.98, horário: 18:00 horas, “Massa de Pão?”

No “sala de reuniões” da Delegacia-Geral da Polícia Civil recebi a visita da Inspetora Jociane Guedes (a “Jô Guedes”) (que trabalhou comigo na Penitenciária de Florianópolis e depois da rebelião retornou para a Polícia Civil, sendo designada para atuar na “Assistência Jurídica”):

  • Oi!
  • Oi Jô!
  • Quem anda lhe procurando é o Ricardo, ele telefonou na sexta-feira e hoje já telefonou duas vezes.
  • Ricardo?
  • Sim, aquele que foi meu chefe na Penitenciária, não lembra dele?
  • Ah, sim. É que eu tenho um primo também chamado Ricardo, sei, tu estais falando do Moreira.
  • Eu nem me identifiquei, mas conheci só pela voz.
  • E perguntastes o que ele queria.
  • Não. Sabe como é.
  • Podias ter dado o meu celular.
  • Eu achei que não deveria.
  • Certo, mas ele deve voltar a telefonar.
  • Ah, se precisar que eu digite as entrevistas, a Myrian disse que conversou com ela para que fizesse.
  • É, infelizmente não deu, mas tudo bem.
  • É só trazer, eu agora estou sem fazer nada, não tenho aulas e possa fazer isso, antes não dava.
  • É, eu mandei um relatório para a Secretária e  me pediram um relatório do que estou fazendo. Na qualidade de presidente da nossa comissão encaminhei o “Estatuto”, como fiz nos anos anteriores e outros trabalhos, mas o futuro da comissão vai depender muito de quem for o Delegado-Geral. Já sabes quem vai ser?
  • Não. Não sei de nenhum nome.
  • É, parece que o Braga quer ser, dependendo, pode ser que ele pode até dar força para esse trabalho...
  • Eu só quero ficar na Assistência Jurídica, estou indo para o último ano e não quero sair dali.

(...)

Depois de externar minha convicção  “Jô Guedes” fixou meus olhos deixando transparecer um misto de incredulidade, decepção, desconfiança, enquanto completei:

  • É, ele que tem interesse em ocupar o cargo e já tem tempo para se aposentar, mas deixa eu te mostrar os trabalhos aqui que eu tenho e que encaminhei... (Felipe)

(...)”.

Depois que estávamos quase que encerrando nossa conversa, ouvimos o telefone tocar na “Assistência Jurídica”. Avisei “Jô Guedes” para que ela fosse atender a ligação. Em seguida  “Jô Guedes” retornou falando no seu celular e ao mesmo tempo fazendo sinal  que era para mim, logo imaginando que só poderia ser Ricardo Moreira, ex-Gerente de Execuções Penais da Penitenciária de Florianópolis:

  • Dr. Felipe?
  • Sim Ricardo?
  • Oi tudo bem, é o Ricardo.
  • Eu sei, mas o que que manda?
  • Eu não sei se o senhor se lembra daquela auditoria que fiz na sua época lá na Penitenciária?
  • Sim. Claro que lembro.
  • Não sabe se encaminhou aquele material para o DEAP?
  • Sim. Eu encaminhei para o Secretário, por meio do DEAP, só não sei se chegou até às mãos do Secretário da Justiça, mas por quê?
  • É, novamente aqueles problemas dos mestres com o Pamplona. Eu não sei se viu no “Diário Catarinense” uma nota que saiu nesta semana, dizendo que os mestres da Penitenciária estavam se negando a trabalhar e isso só pode ser obra do Pamplona. Eu precisava daquele processo para comprovar os problemas que já existiam naquela época.
  • Mas Ricardo,  agora? Só falta um mês para terminar o governo, se até agora não tomaram providências...
  • É mesmo.
  • Eu não sei, mas acho que este governo está no fim, isso não vai dar em nada.
  • Pois é, mas não lembra se aquele material foi adiante?
  • Olha, eu acho que nem saiu do DEAP, devem ter dado fim, acho que não tinham interesse em auditorias interna no sistema, na época eu não conseguia enxergar isso e quis começar pela Penitenciária, só depois da rebelião é que pude entender...
  • É, eu acho que não foi adiante, se estiver pode ser que esteja aqui, vou falar com o Dr. João.
  • Isso Ricardo, pode ser que esteja ainda aí.
  • Então tá Dr. Felipe, um abraço.
  • Outro Ricardo.

Como “Jô Guedes”  havia se aproximado (sabia que ela tinha sérias restrições a seu ex-chefe na Penitenciária) procurei satisfazer a sua curiosidade fazendo um breve relato sobre o que Ricardo queria tanto falar comigo. “Jô Guedes”, fazendo-se de rogada,  argumentou que não tinha interesse algum em saber o que ele desejava...  e retornamos à “sala de reuniões”:

  • Olha Jô esse livro aqui trata do DOPS..., este outro sobre os conflitos entre brancos e índios em razão das terras durante o período do Império, tendo os Presidentes da Província investido cidadãos... (Felipe)
  • ... no cargo de Delegado de Polícia...?

(...)

“Cacique Dobre”:

E dei uma virada nas páginas, procurando mostrar alguns documentos que havia levantado:

  • Olha, este documento aqui trata do pagamento de verbas aos “Guardas Nacionais” que na época auxiliavam os Delegados de Polícia, mais tarde foram substituídos pela Força Policial, nossa atual Polícia Militar. Eles se correspondiam diretamente com o Presidente da Província. Este outro documento trata de uma correspondência que o Delegado de Lages remeteu para o Presidente... e falava dos problemas com o Cacique Dobre. (Felipe)
  • Esse Cacique Dobre é bem famoso, sabia?
  • Não. Não sabia...

(...)

“Myrian Grávida?”

E, imaginei que “Jô Guedes” devesse saber alguma coisa sobre índios porque tinha alguma descendência, além do que era acima de tudo muito curiosa:

  • Este outro é uma reedição histórica da obra de Lara Ribas, “Um Punhal Nazista no Coração do Brasil”, faz um resgate..., coloca o nome do Comissário João Kuhne na capa, já que foi ele que escreveu um capítulo... Eu faço um comentário também,  tem muitas fotos e eu quero ver se acrescento mais um capítulo também considerando aquelas entrevistas que fizemos principalmente lá no Vale, lembra? Procuro mostrar como vivem hoje os ex- cidadãos remanescentes daquela época, inclusive, como esta hoje a cultura alemã, na época eles queriam nacionalizar tudo,  queriam destruir a cultura germânica e hoje temos tudo aí de volta, a Oktorberfest e tantas festas germânicas, não é?
  • Sei...
  • Atualmente estou também trabalhando em pesquisas sobre a Intendência de Polícia aqui no Estado, isso a partir de 1808 quando chegou a família real, a nossa Polícia começou aí, só escrevi umas cinquenta páginas até agora, as fontes são muito limitadas. E, também, estou trabalhando num livro para registrar o momento atual, a transição do atual governo e o próximo, isso desde o início do ano...
  • Ai, esse aí eu vou querer ver...
  • Encaminhei isso tudo, mas um relatório para a Secretária, além de já ter encaminhado o Estatuto comentado, edições de noventa e cinco e a última, de noventa e oito. Infelizmente eles não demonstraram muita sensibilidade para o assunto e a nossa comissão ficou a ver navios, isso acaba refletindo um estado de animus e o descaso com aquilo que deveria ser algo de muito valor para todos nós, mas eu procurei mesmo assim produzir...
  • Mas esse trabalho é só seu, ele não é da comissão...
  • Não é bem assim. Quando eu lutei para criar a comissão, uma das condições que eu fiz foi ter plena liberdade para planejar e conduzir todo o trabalho, bem do meu jeito. Assim, vocês estariam me auxiliando, no teu caso pedi para que acompanhasse os Diários e assinalasse aquilo que interessa. Já a Myrian ficaria com a carga de trabalho reduzida... Mas vamos esperar para ver se eles mandam alguma coisa para a comissão, porque do contrário a gente vai entender como encerrado os trabalhos.
  • Sabia que a Myrian está grávida!

(...)

(Jô Guedes estava falando da Inspetor de Polícia Myrian Isabel Lisboa Muller que trouxe para a Assistência Jurídica no ano de 1991 para trabalhar comigo e que quase foi para a Penitenciária no ano de 1995...) 

“ Pô, Jô! Passou...!”.

  • É, o Valério está no Detran, ocupando cargo comissionado lá... (Felipe)
  • Mas pode ser que o próximo governo dê força...
  • Olha Jô hoje eu já não me empolgo mais como antigamente, vou fazendo as coisas, se tiver mais apoio tudo bem, se não tiver vou levando do mesmo jeito e quem sabe um dia eles publiquem alguma coisa, como eu te disse este governo foi uma decepção, não demonstraram nenhum interesse sobre o nosso trabalho. Sábado agora saiu em encarte no DC sobre a revolução de 1932 e justamente o que tinha lá? A história da Polícia Militar. Todos valorizam a sua história, aqui é diferente, preferem valorizar o momento, mostrar um pobre diabo nos jornais com um policial ao lado, mostrando serviço, há um choque ideológico muito grande, só que eles são a maioria.
  • É, a gente quase não conversa, lembra o ano passado quando eu disse que ficaria um ano por aí e não parece, mas como passou rápido, a gente nem viu...
  • Sim, eu lembro e você ainda disse para eu ir para a Corregedoria já que eu tinha sido convidado, lembra?
  • Claro que lembro...
  • Pô Jô, como esse ano passou rápido...

(...)”.