Data: 19.11.98, horário 09:30 horas, “Delegados Corruptos e Delegados Honestos”:

Recebi uma ligação via celular do Delegado Rubem Garcez:

  • Alô, Felipe é o Garcez.
  • Oi!
  • Estais ocupado no momento?
  • Estou no trânsito.
  • Estais dirigindo?
  • Não! Pode falar.
  • Vem cá Felipe, sabe o que é hoje de manhã eu fiquei pensando naquilo que tu me dissestes, é sobre o Douglas ter te procurado.
  • Sim, sei.
  • Pois é, mas eu sou inimigo desse cara, não sei se tu sabes, já tive sérios atritos com ele e fiquei pensando a pretexto do que ele anda te procurando agora?
  • Olha eu não sabia disso Garcez, até pensei que ele me procurou porque sabia que tu estavas no nosso grupo. Mas ele anda me procurando para pedir orientação sobre a sua tese de final de curso e dei a ele um exemplar daquela minha obra, até pensei que fostes tu que havia me indicado?
  • Eu não!
  • Inclusive, quando ele me procurou da primeira vez citei o teu nome porque já sabia que vocês trabalhavam juntos, mas ele não comentou nada e ficou nisso.
  • Ah, bom, em tá Felipe não vou tirar mais o teu tempo. Alguma novidade?
  • Tudo velho.
  • Qualquer coisa, me liga.
  • Certo. Um abraço.
  • Outro.

E lembrei que alguém teria comentado que o Delegado Douglas havia comentado coisas que poderiam comprometer a moral de Garcez,  tipo; “olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é?” Coisas sem qualquer sentido e que certamente poderiam afrontar a grandeza de Garcez, tanto como pai de família, exemplo de dignidade e um profissional da maior estirpe, mas que em razão de seu temperamento morisco ou basco, não tivera maiores oportunidades na instituição durante o transcorrer dos anos. Também, fiquei imaginando que Garcez tinha que se expor ao convívio com servidores que estavam muito longe do seu nível intelectual e de sua grandeza espiritual.  Infelizmente esse era o preço que se pagava de trabalhar no meio policial, um mundo machista, onde prosperava facilmente arquétipos, rótulos, esteriótipos... Não bastassem os fora da lei, existiam também os inimigos internos, especialmente, dentre nossos pares... Garcez era um dos raros profissionais que adquiriu e cultuou o arrefecimento dos efeitos pernósticos que causavam o exercício da atividade policial a média e longo tempo, mercê especialmente de sua dedicação quase que obstinada aos livros não só jurídicos, mas especialmente, na área filosófica. E dicotomizar, policialescamente falando,  fazendo um trocadilho “Shekespeariano”, os nossos Delegados que poderão se resumir na seguinte fórmula: DPs=DC(s) x DH(s):?

Data: 20.11.98, horário: 09:00 horas, “Zunzuns”:  

Resolvi ligar para Jorge Xavier:

  • Alô!
  • Alo, Leninha o Jorge tá aí?
  • Sim!.

E escutei o eco da chamada:

  • Negôôô é o Felipe!

Logo em seguida:

  • Oi!
  • Oi Jorge, como estão as coisas?
  • Alguma novidade?
  • Não! Tudo do jeito que a gente já sabe,  acho que só a semana que vem mesmo é que vamos ter novidade.
  • É, mas naquele dia lá,  depois da reunião, senti que tu não falaste tudo. O Julio falou realmente que ele não vai ser o Secretário de Segurança Pública e que tem um terceiro nome?
  • Sim Jorge, e aquilo que tu dissesses faz sentido. Realmente o Backes mudou de comportamento, está mais seguro, senhor de si, mais autoconfiante e isso pode levar aquilo que tu concluístes: Um Coronel e um Delegado para Secretário e Adjunto, talvez dê certo desta vez.
  • Sim, mas tu tens que assumir a Delegacia-Geral.
  • Pois é, se eu tiver que ir para o sacrifício então irei, não vou fugir ao meu destino, mas temos que ver como vai ficar, de repente tu podes assumir a Assistência Jurídica?
  • Que Assistência Jurídica? Eu quero ver se vou lá para o Gabinete.
  • Sim, podes assumir o cargo de assessor especial do Secretário Adjunto, é isso. Não sei se tu sabes, o Secretário Adjunto tem um assessor só para ele?
  • Não sabia, quem é atualmente?
  • Parece que é o Neves. Eu não tenho bem certeza, mas sei que existe o cargo.
  • Olha, então, eu não descarto essa possibilidade, é uma boa.

(...)

“A Fera e a Pedra”:

  • Depois o Krieger pode assumir o “Planejamento”, o Garcez a “Assistência Jurídica”, o Wilmar a Corregedoria-Geral ou o próprio Braga e o Valério a Academia de Polícia.
  • Isso ficaria muito bom. Mas a Leninha estava falando com alguém lá da Acadepol e disseram para ela que corre o “zunzum” de que o Heitor vai ser o Secretário e o Rachadel será o Diretor da Acadepol. A Leninha mandou uma contrainformação dizendo que o Rachadel teria dito que se ele for o Diretor  não vai ficar pedra sobre pedra, com isso o pessoal já levou um banho de água fria.

(...)”.

E conclui o telefonema, dizendo para Jorge Xavier que iria viajar para o oeste do Estado, mas que na segunda-feira deveria conversar com Júlio Teixeira para saber das novidades.