Data: 12.11.98, horário: 09:45 horas:

Na “sala de reuniões” da Delegacia-Geral da Polícia Civil fui surpreendido com a visita do Escrivão Osnelido (estava de férias) que como sempre, da segunda porta me cumprimentou:

  • Oi!
  • Fala “Lito”!
  • Já chego aí!

Depois de alguns minutos de espera, enfim, escutei o barulho da descarga e o “Mané” da Costeira do Pirajubaé Lito deixou o banheiro e demorou alguns instantes para se aproximar, dando a impressão que não havia muito para se conversar:

“O Preâmbulo: Princípios e ética”:

“(...)

  • Mas se tu fores convidado para ser o Delegado-Geral tu vais aceitar, não vai ficar nessa de projeto, de “planinho”, vais?..
  • Não sei mais nada “Lito”, eu já te disse, agora já estou mais próximo é da “Assistência Jurídica”...
  • Não adianta, não vem com essa de humildade, você como Delegado-Geral vai ter condições de fazer muito mais, de ter prestígio. Como delegado você é apenas o Delegado Felipe Genovez, nada mais, agora ocupando um cargo desses você passa a ter prestígio.
  • Olha “Lito” é tão bom entrar num restaurante e não ser conhecido, andar pelas ruas da cidade, supermercados, lojas, no meu condomínio, respirar essa liberdade, realmente eu não tenho esse apego ao poder, prefiro esse mundo de estudos, de pesquisa é muito mais empolgante. Ontem ainda fui levar dois exemplares do meu Estatuto edição de 1998 para compor o acervo da Biblioteca Pública. Hoje devo levar para a Universidade Federal,  a fim de serem utilizados por estudantes de Direito, historiadores,  pesquisadores, isso sim é muito gratificante.
  • É, eu entendo.
  • Agora, sso não significa que eu vou fugir ao meu destino, se houver oportunidade de se implantar aquele nosso “Plano”, nem que seja em partes, certamente que eu vou à luta, não vou deixar escapar essa oportunidade.
  • Tu tens que ver que os policiais podem querer que você seja o Delegado-Geral.
  • Sim, mas tem outros nomes, como o Grubba e o Renato Ribas, estão falando nesses dois nomes, ainda ontem falei com o Braga sobre isso.
  • Esse Grubba tem história? Ele é lá de Brusque?
  • Não. É de Jaraguá.
  • Isso. Eu tive vendo o encarte sobre história que está saindo no Diário e esse sobrenome “Grubba” é citado, participou da colonização por volta de 1850.
  • Olha, parabéns, deve ser avô do Grubba.
  • É bem possível, depois aparece um outro Grubba por volta de 1932.
  • Sim, deve ser tio dele,  tinha armazém lá em Jaraguá.
  • Era Delegado de lá e prendeu os alemães e depois tem esse outro nome,  o Renato, esse eu não conheço.
  • Ele é vereador pelo PFL, é Delegado Regional, mas tu vê, coisas do PMDB.
  • Mas o PMDB não perseguiu ninguém, muitas pessoas que ocuparam cargos no governo passado permaneceram, foi o caso do Braga, se bem que depois ele se deu mau, acho que a Lúcia não gosta dele, o Lorival ou o Trilha, é acho que o Trilha não gosta dele.
  • Mas ele se dá bem com o Trilha, sempre conversa com ele, pelo menos é o que ele tem dito para mim.
  • Confia nisso? Só para ti que ele é muito bonzinho.
  • Pois é “Lito”, mas tu já pensou, ser Delegado-Geral, e colocar a minha foto aí na galeria,  e se eu vier aqui tu vais ver a minha foto ao lado do Trilha?
  • É mesmo.
  • Já sei, vou tirar a minha foto olhando para o lado,  para ele e ainda de chapéu.
  • Primeiro tu tens que ver como é que ele vai sair na foto, o doutor Jorge saiu de frente, o Ademar... , esse filha da p... olha só a cara dele?
  • Pois é “Lito”, você já imaginou, só em pensar que os policiais vão chegar aqui nesta sala e olhar para a minha foto e me chamar de tudo...,  cretino, safado... será que eu quero isso? Eu acho que os nossos policiais têm um espírito muito pesado por causa da nossa missão..., e isso cria um clima muito ruim..., de mais a mais eu lembro que quando o Bado foi Superintendente, chegou a desmaiar no elevador de tanta pressão,  o Jorge quase enfartou, tem traumas até hoje em razão do que fizeram com ele, o Oscar esses dias ficou doente...
  • Doente, por quê?
  • O Thomé andou escrevendo no jornal da Adpesc sobre o atraso das promoções e culpou ele, todo mundo sabe que é verdade porque tudo começou ali, só que a coisa continuou e nesse governo foi uma loucura, e até tem essa carta ali, coincidentemente está aqui em cima da mesa...
  • Que carta?
  • A que o Wilmar Domingues escreveu criticando a Adpesc de ter colocado o artigo do Thomé, e acabou o Oscar ficando doente.
  • Mas esse velhinho s. até que merece isso.
  • O Ademar é uma pessoa muito preparada e foi exceção, apesar de ter ficado pouco tempo, soube administrar e se saiu bem e, por último, o Moretto. A última vez que conversei, ele disse que estava tão estressado que não conseguia ler mais nada, qualquer frase que ele lia não conseguiu mais gravar,  então tu achas que é isso é o que eu quero para mim?
  • Bom...
  • E outra coisa, não é o caso de ser só convidado, não quero que se repita o que aconteceu lá na Penitenciária, quando assumi o cargo de Diretor em 1995  todo o time já estava montado, todos os gerentes já haviam sido indicados politicamente e eu fui fazer o papel de maestro. Se vier a ser Delegado-Geral quero escolher o time, até aceito discutir nomes, desde que me provem que realmente existe algo contra eles.... certamente já tenho prioridades, como a Lei Orgânica da Polícia Civil, essa é uma das prioridades, o governo terá que se comprometer com isso e não como lá no sistema penitenciário, fiz um anteprojeto de lei propondo a criação do plano de carreira, regulamentação da Lei de Execução Penal e tudo ficou na gaveta, o Secretário só queria saber de política e havia ainda os puxa-sacos. Outra prioridade seria dar todo apoio a Fecapoc e ao Clube, como na época do Bado, mas isso já é um problema, tenho consciência disso,  só que o seu Ademir Figueiredo, depois que eu o coloquei na Presidência do Clube ele simplesmente nos abandonou, numa mais nos procurou, isolou-se com o Sérgio Guiraldelli, e eram só eles que mandavam, não havia mais prestação de contas depois que eu saí. Só que eu não posso optar em apoiar só a Adpesc se sempre acreditei no todo, defendi os policiais civis, a união, um compromisso com todos é só olhar o preâmbulo do Estatuto da Federação o que diz, deixa eu te mostrar...

Fui apanhar o  Estatuto da Fecapoc e li não só o preâmbulo, como também os primeiros dispositivos, o capítulo que tratava da ética:

(...)

  • Osnelito, ontem eu encontrei o Carpes, lembra dele? E o que ele anda fazendo?
  • Sebastião Carpes, claro, ele está fazendo investigações particulares.
  • Olha, eu não sabia, mas ele é bem relacionado com todo mundo.

(...)

“As férias de Osnelito”:

(...)

  • Olha só sei que tenho umas três ou quatro férias aí para tirar e logo que mudar o governo eu vou gozá-las.
  • É “Lito” você me lembrou quando eu saí da “Assistência Jurídica” no iníco de 1995. Eu tinha umas nove férias vencidas, nunca havia gozado licença-prêmio e, também, esperava pelo menos descansar uns quatro meses. Moral da história, caí do cavalo. O Braga assumiu a DPL e determinou que eu assumisse a Segunda Delegacia do Saco dos Limões e que essa era a ordem. Tentei contra argumentar e não adiantou nada, ele não deixou nem eu falar, só disse que o gozo de férias estavam cancelados.
  • Mas Delegados eles notam mais, agora um Escrivão como eu quem vai se importar?
  • Não. Você é muito conhecido, e estais num cargo importante, chamas a atenção.
  • Bom eu espero que se tu fores o Delegado-Geral..., e depois eu tenho que ver onde vou trabalhar.

(...)

“Telhado de Vidro”:

Ainda sobre o concurso na Polícia Civil que continuava a render comentários pelos bastidores:

(...)

  • Esse último concurso aí foi a maior bagunça, quem mandou em tudo foi o Peixoto e o Poeta. O Peixoto teve até aquele problema de coração,  fizeram tanta coisa, depois teve aquele acidente e o Poeta agora está lá, ele é esperto, é mais esperto que o Peixoto e ele não gosta de mim, acho que foi por causa daquele problema que houve com o Aldo Rocha e o Chico,  tu não te lembras?
  • Não. Deve ter sido na época do governo Kleinubing?
  • Não sei, não lembro, deixa eu ver..., é acho que sim, logo no início, o Poeta estava na Armas e Munições, o Aldo Rocha na Jogos e Diversões e o Chico (Escrivão Francisco Kallbuk) ali no meu lugar e eu peguei eles criticando o governo Kleinubing.
  • Eu não meu lembro disso “Lito”.
  • Claro, eu já te contei, eu não admiti que eles estivessem em cargo em comissão e criticando o governo. Eu te contei ali na “Assistência Jurídica”,  e acho que tu falaste alguma coisa, cobrastes na época e eles ficaram de cara virada comigo, desde aquela época que o Poeta tem problemas comigo...
  • Olha, eu nem lembrava mais desse fato...
  • Mas eu te falei daquele advogado Ballested, lembras?
  • Sim.. do Edson Volpato Dutra...
  • Isso, ele estava dizendo que dois não fizeram o psicotécnico e o T. como é que é mesmo..., assinou...
  • Sei, tu queres dizer homologou...?
  • Isso..., e a filha do L. nem chegou a fazer a prova física... não teria condições de ser aprovada... mas passaram ela do mesmo jeito... Esse concurso ficou na história..., eles não respeitaram nada que estava na lei, no edital e a OAB ficou calada, o Ministério Público também ficou calado,  sabem de tudo, mas não quiseram tomar providências nenhuma...
  • Mas por quê? Será que eles têm telhado de vidro ou queriam ficar bem com o Governo?
  • Bom, tu já fizesses concurso lá e te barraram, tu me contasses, sabes muito bem como é que funciona, é como eles querem... e aqui não foi diferente.

(...)”.

Horário: 12:00 horas, “O Futuro do Detran”:

Depois do “Caso Maguila”, ao meio-dia os noticiários na televisão não se cansavam de denunciar o derrame de carteias de habilitação na cidade de Araranguá... Especialmente a “RBS” que divulgou o furo de reportagem desde o dia anterior. No jornal do almoço uma reportagem especial com o Delegado Regional – Dr. Camparelli (um dos supostos implicados no caso) e, também, uma entrevista com o Delegado Mauro Dutra – Diretor-Geral do Detran. Segundo a reportagem estariam mandando um Corregedor para a cidade... A reportagem denunciava que gaúchos estariam vindo do Rio Grande do Sul fazer a carteira que custava dez vezes menos e onde não precisavam fazer exames...

E ao verificar a capa do Diário Catarinense não deu outra, o derrame de carteiras era manchete de página inteira.

Com essa última matéria bombástica fiquei pensando no Coronel Backes que vinha insistindo em transformar o Detran em autarquia, estaria ali um prato cheio para insistir na sua ideia.

Outra questão que veio à tona foi o problema da falta de informações,  realmente a Corregedoria deveria passar por uma reformulação geral.

Horário: 14:40 horas, “Programa ‘Cesar Souza’ e os Cães Farejadores”:

Helio Costa imitando o apresentador “Ratinho” trouxe uma reportagem com o Delegado Acione Souza Filho. O repórter utilizava expressões tais como: “vagabundo”, “caco”, “pacotão de cocaína” e no meio disso aparece a autoridade policial no vídeo ao vivo, contrastando com todo aquele cenário, trajando terno e gravata, dentro do seu corpo estufado:

  • Delegado o “Rubão” é traficante? (Hélio)
  • O “Rubão” é traficante de maconha e cocaína, construiu uma fortaleza. Com a ajuda de cães farejadores da Polícia Civil apreendemos maconha, cocaína, balança de precisão... O elemento foi autuado no artigo doze e  está aguardando vaga no Presídio Masculino... (Acione)

(...)

Olhei para “Rubão”, não era político corrupto, empresário sonegador e pagador de propina, nem um comerciante como o “Dimas”, nem banqueiro como os que faturam bilhões, era nada mais nada menos que um “pobre diabo”, um traficante chinelão, muito provavelmente sem propriedades, dinheiro guardado..., não é dono de quase nada. Porém, Acione apresentava o nascimento de mais um novo “monstro” social mitificado pela mídia “porta de cadeia”, mais uma vítima do “sistema”,  mais um “bode expiatório”  para execração da mídia barata e aberta para o “povão”. E lembrei do curso na Acadepol noticiado na imprensa na última semana, tratava dos ‘cães farejadores’ ... de todos nós!

E, também, veio no pensamento a grande reforma que se deve fazer na preparação do policial dentro de um novo “modelo de polícia”, aliás, desde os critérios de engajamento, formação, acompanhamento de suas funções, atualizações...