Data: 21.12.98, horário: 15:00 horas, “Moreto: Delegado-Geral”:

Na parte da manhã recebi um recado de que Mário Martins queria falar comigo,  entretanto, resolvi telefonar somente por volta de quinze horas...

  • Alô!
  • Alô!
  • O doutor Mário Martins está?
  • Quem deseja falar com ele?
  • É Felipe Genovez.
  • Doutor Felipe só aguarda um instante.

E depois de menos de alguns segundos Mário veio atender a ligação com  aquela sua introdução:

  • Tais bonsinho?
  • Estamos indo, não sei para aonde, mas estamos indo.
  • Como é que estão as coisas?
  • Não sei, estamos aguardando, já tens alguma novidade aí?
  • Olha faz meia hora que o Secretário me telefonou, já tem o Delegado-Geral.
  • É mesmo o Braga?
  • Não. É o Moreto.
  • O Moreto?
  • É. Eu não sei se tu sabes, atrás do Moreto vem Ademar Rezende, Valkir, Braga, todo aquele pessoal que tu já conheces. Eu falei isso para o Secretário, mas parece que já está tudo definido, não tem retorno e eu me preocupei, disse para ele que tem outros nomes. Falei: “Secretário tem um nome que é o Felipe Genovez...”, não sei se adiantou, ele falou que já estava decidido e eu disse que tu eras do partido deles.
  • Tudo bem, se tu falastes isso é um julgamento teu, é pessoal, não tem problema, não foi encomendado, até aí tudo bem.
  • Sim, porque além disso, não sei se tu sabes, haverá outros desdobramentos, não vai ficar só nisso, e me preocupo.
  • Como assim?
  • Como é que eu poderia te dizer, bom eles vão colocar um “Celito Cordiole” na Direção da Polícia Técnica, o que contraria a nossa legislação.
  • Eu sei, tu  queres dizer que existe preocupação também com a situação do Detran, com o nosso Fundo, com a isonomia.
  • Pois é, poderão rasgar a nossa legislação e aí como é que fica? E quem deve estar soltando foguetes a esta hora é o pessoal lá do Gabinete, eu disse para o Secretário que o Moreto era pessoa ligada a administração passada.
  • Mas eu pensei que tivesse sido indicado o nome do Braga, parece que  teve uma reunião na sexta-feira e teria sido homologado o nome dele, não é?
  • Não! Brigaram e não chegaram a lugar algum, estavam lá o Julio, o Heitor, o Gervásio, todos reunidos com o Jorge Bornhausem e saíram de lá sem nada.
  • O quê? Dizem que essa reunião foi muito comentada, tu estivesses lá?
  • Não. Eu não fui, me contaram.
  • Onde foi?
  • Foi lá no diretório do partido do PFL.
  • Certo. E estavam lá o Julio, o Heitor, o Gervásio e o Jorge Bornhausen?
  • Sim, todos eles reunidos com o Jorge, e não se chegou a consenso algum.
  • Certo, e a situação do Julio, como é que ficou?
  • Olha, o pessoal da Polícia Militar com essa de retornar à Secretaria de Segurança ponderou que quem comanda a Polícia Militar deve ser um Coronel, quem comanda a Polícia Civil deve ser um Delegado, acima deles não aceitam nenhum Delegado.
  • Ah, sim, então o Julio está numa situação difícil?
  • É, eu disse há quatro anos atrás, quando encontrei o Julio entregando santinho na frente da Delegacia-Geral, que fosse para a região dele fazer campanha, que era lá que  conseguiria os votos para se eleger e  ele foi e se elegeu. Agora o Roberto Schulze que está mais forte do que ele, está lá na região dele e é candidato fortíssimo à Delegacia Regional. No final só falta o Julio brigar com o Roberto Schulze pelo cargo de Delegado Regional e eu não duvido.
  • É, mas essa situação do “Moreto” foi coisa da maçonaria.
  • É, com certeza que foi coisa da maçonaria.
  • Sim, o Mário tu lembras do Narbal?
  • Lembro.
  • Pois é, ele é Superintendente da mesma Loja em que está o Moreto. Outro dia o encontrei e ele me disse que no final de 1994 foi a Loja dele que colocou o Moreto no cargo de Delegado-Geral. Depois, eu estava conversando com o Braga e ele também me disse que estava tudo certo para ser o Delegado-Geral naquela época, tinha o apoio da Lúcia e que o Lourival não podia nem ouvir falar no nome do Moreto porque ele havia trabalhado para o governo anterior. Só que na última hora o Moreto deu uma rasteira no Braga e assumiu a Delegacia-Geral contra Lúcia, Lourival,  e o Braga me disse que até hoje sabe por quê, também não contei para ele.
  • Pois é, e agora a mesma maçonaria está colocando o Moreto novamente no cargo.
  • Sim, mas sinceramente, eu não sabia que o Moreto pretendia voltar, isso para mim foi um surpresa, ele havia dito para mim outro dia que estava estressado e com o tempo já para se aposentar, que não conseguia ler mais nada...
  • É.
  • Agora tem um detalhe Mário, o Moreto é uma boa pessoa, é amigo.
  • Sim, eu falei isso também para o Secretário, mas o problema...
  • Certo. Você quer dizer que existe o antigo e o novo?
  • Não é isso Felipe, você tem que entender que esse pessoal que é do grupo do Moreto é ultrapassado, e nós termos que trabalhar com o moderno.
  • Pois é, o que você quer dizer é que esse pessoal é conservador e nós representamos uma ponta de esperança para inovar, mudar as coisas?
  • Exatamente!
  • Mas com relação a isso eu quero dizer que por razões de princípios,  valores e até por ética, não vou me manifestar, serei apenas um expectador.
  • Você que sabe Felipe, se é isso que tu queres?
  • Veja bem, como é que a gente vai se contrapor a uma maçonaria? E, também, aceitar uma situação, um cargo simplesmente para estar, isso não me basta, eu sempre defendi ideias que justamente vão contra isso tudo,  como por exemplo, a gente vê hoje a corrida dos delegados substitutos para permanecerem nos cargos de Delegados Regionais, pode isso continuar?
  • Não vai permanecer ninguém, todos sairão!
  • Não! Eu estou falando é dos atuais Delegados Substitutos que aspiram por ocupar um cargo de Delegado Regional, sou contra isso, compromete a instituição, não se vê isso na magistratura, no Ministério Público e até na Polícia Militar. E nós estamos atrasados no tempo, não dá mais, eu que sempre fui um defensor dessas ideias, só falta agora aceitar um carguinho e aceitar o continuísmo disso tudo que sempre critiquei? Bom Mário esta conversa que estamos tendo é reservada, mas vou ter que pensar muito.
  • Mas Felipe, o passado é o passado, temos que virar a página.
  • Mas de qualquer forma eu agradeço a tua preocupação, foi  bom a título de informação, mas como te disse não vou fazer nada, mesmo porque estou esperando para ver como vai ficar a situação do Julio.
  • Bom, tu que sabes, mas precisamos conversar mais pessoalmente, por telefone não dá.
  • Tá certo Mário, eu te procuro aí!

“Quem é Julio Teixeira?”

Ao desligar o telefone fiquei pensando no que Mário Martins gostaria de me dizer e que não disse? Lembrei do projeto que tratava sobre as lotações, da situação dos Delegados Especiais e talvez estivesse aí o significado do “rasgar nossa legislação”, acabar com a hierarquia na instituição, lotar Delegado Especial onde bem entenderem, suprimir nossas garantias.., coisa que o Ministério Público talvez pudesse fazer.  Talvez residisse aí a preocupação de Mário Martins com os retrocessos e de como iria explicar isso depois, um prejuízo incalculável e fiquei a imaginar o sonho que simbolizava nosso projeto dentro desse contexto, seria utopia da minha parte?

Por último, pensei se valeria a pena esperar uma ligação de “Julio Teixeira” que sempre me disse que quando tivesse alguma coisa de concreto eu seria uma das primeiras pessoas a ser contatadas. Manteria ele a sua palavra? Havia dias que não falava com Julio Teixeira... depois, essa reunião no “PFL” e nada dele me ligar até agora... seria um “homem” de palavra? Seria um “amigo” de verdade? Um Deputado diferenciado? Um Delegado comprometido com o nosso “Plano”? O jeito é esperar para ver...