Data: 11.11.98, horário: 16:00 horas:

Estava caminhando pela Rua Nereu Ramos (centro de Florianópolis) e encontrei o Comissário de Polícia aposentado Sebastião Carpes que ostentava aquele seu velho sorriso e estilo mexicano (só falta o sombreiro), continuava “gorduchote”, “bonachão”, cabelos à moda índia, aparentando estar sempre de bem com a vida, mas atento ao que se passava no universo policial:

“(...)

  • A situação do policial aposentado não dá mais, depois que a Lúcia fez aquele acerto lá e nos deixou de fora... (Carpes)
  • Ah, sim, é verdade, a situação do policial aposentado não é fácil.
  • É só seiscentos reais e deu, estou tentando me virar por aí, não vale a pena retornar para receber só duzentos reais, isso a gente gasta só de transporte.
  • É verdade.
  • Vamos ver como é que vai ficar a política,  trabalhei para o Heitor, ele foi lá em casa e pediu para mim ajudá-lo, foi o único que me procurou.
  • Carpes, com certeza ele foi o grande vencedor nessas eleições.
  • Para mim teve dois deputados que foram uma negação na Assembleia, foi o Júlio e o Jair, não fizeram nada pelos policiais.
  • Bom, eu agora vou dar uma de advogado, dá licença, conheço os dois, me responde a seguinte pergunta: “Imagina que você foi eleito deputado pelo PT e os  policiais trabalharam na tua campanha, mas o governo é de outro partido, então você fica na condição de ser oposicionista, certo? Depois de quatro anos você só trabalhou contra o governo, malhou em ferro frio, acompanhando o teu partido nas decisões, como é que tu achas que os policiais vão te julgar, heim?
  • Bom, aí é difícil.

(...)

Relatei a Carpes que Júlio Teixeira não foi eleito pelos policiais civis e sim pela região de Rio do Sul (claro que alguns policiais ajudaram na sua campanha...) e que nunca teve uma oportunidade, inclusive, que poderia ter negociado com o governo o seu voto na Assembleia no caso das “Letras”, mas que preferiu manter uma postura de honestidade, até porque seria cobrado pelos eleitores da sua região. Quando ao Deputado Jair Silveira (Escrivão de Polícia aposentado),  fiz um breve relato sobre o episódio que envolveu a apresentação da emenda à LC 55/92 que acabou suprimindo a possibilidade de se nomear como “Delegados Calças-Curtas”  para funções de Delegados de Polícia..., cuja atuação desse parlamentar foi de alta relevância e histórica. Relatei mais, ainda, que no ano seguinte (1993), Jair apresentou outra emenda na “Lei Especial de Promoções” (LC 98 de 1993) que resultou na criação da gratificação “vintenária” (anteriormente vetada na LC 55/92 a pedido do Secretário de Segurança Pública Sidney Pacheco). E, por último, registrei que Heitor foi um Secretário forte no primeiro governo de Esperidião Amin, e que  enquanto comandava a Polícia Civil foi uma espécie de “Sansão” que depois que perdeu o prestígio e mudou o governo não teve mais força. “Tião Carpes” acabou concordando com minhas opiniões e completei dizendo que Júlio Teixeira nunca teve uma oportunidade de ser um Secretário com força. Ao final da conversa argumentei que Heitor poderia ter um projeto pessoal para o futuro, ou seja, ser candidato a Senador em 2002 e que teria o nosso apoio, , mas isso só seria possível se ele realmente tivesse um bom projeto e fosse um  Secretário de Segurança forte como no passado:

“(...)

  • Mas quem sabe tai, ele e o Júlio se acertam...? (Carpes)
  • Eu sei Carpes, mas não é fácil, o Heitor poderia até assumir como Secretário e o Júlio como Adjunto...

(...)

  • Carpes, você que tem contato com os policiais por aí, como é que está o clima?
  • A revolta é geral, tu fala com o pessoal é uma loucura,  nunca se viu uma coisa dessas...
  • É, o momento é bastante difícil.
  • Eles nem querem falar, o nosso pessoal tá muito revoltado...

(...)

E nisso chegou Braga que ao nos ver conversando, já próximo disse:

  • Que dupla, heim?.
  • Olha, dupla não, agora é tripla. (Felipe)
  • É tripla! (Braga)
  • Eu gosto é dessa velha guarda, escuta como é que ficou aquele caso do “Maguila”, tá todo mundo me cobrando. (Carpes)
  • Uma vergonha, e o Maguila andava lá naquela “Corregedoria” livremente,  o Trilha qualquer coisa chamava ele, dizia: “Seu Maguila prá cá, Seu Maguila prá lá, e olha aí o que ele aprontou...(Braga)

(...)

Depois que Braga nos deixou continuei nossa conversa e fiz um relato a sobre meu trabalho na Fecapoc. Enfatizei que na minha avaliação o Júlio Teixeira tinha um projeto institucional e o Heitor estaria mais voltado para um projeto pessoal. E, finalmente, depois de rememorar meus feitos à frente da luta classista, convidei-o para um jantar que iríamos realizar depois de alguns dias com o pessoal da antiga diretoria da entidade federativa, o que foi aceito de pronto.

Horário: 17:00 horas, “Os Cordioles”:

Passei pelo Setor de Recursos Humanos da Delegacia-Geral (em frente da “sala de reuniões” e procurei mais uma vez pela policial civil  Cristina Cordiole ( Comissária de Polícia) que atuava naquele local, inclusive, sendo secretário de meu irmão que era o médico do ambulatório que funcionava anexo ao Setor de Recursos Humanos. Depois de iniciarmos uma conversa a convidei para dar uma chegada até o meu “refúgio”. Inicialmente, como ela já tinha me solicitado uma cópia do “Plano” assegurei que providenciaria, coisa que ainda não havia feito. Para compensar fiz um relato sumário das ideias nele contidas e ela como era uma pessoa muito singular e especial apenas ouviu atentamente. E, depois,  entreguei a cópia de um boletim de ocorrência (um acidente de trânsito) para que ela repassasse a seu marido – Celito Cordiole – Perito Criminalístico e presidente da Acrisc (Associação Catarinense de Criminalísitica), para que desse um parecer sobre a culpabilidade (o casal  Cordiole era muito especial para mim). Alias, de certa forma Cristina lembrava um pouco Tereza (secretária de Julio Teixeira), com seu olhar profundo, parecendo que também era dotada de uma “terceira visão”. 

Horário: 18:15 horas:

Braga entrou na “sala de reuniões”:

  • Doutor Felipe conta tudo e não esconde nada!

Cliquei uma das teclas do meu computador  para acionar o temporizador e voltei minhas atenções à visita:

  • Por enquanto não se tem nada.
  • O Thomé lançou um livro lá sobre a rebelião, mas ele não cita nem o meu nome nem o teu.
  • Um livro sobre a rebelião?
  • É, ele trata sobre gerenciamento de crise, o que ele entende sobre o assunto, heim?
  • Ele é Diretor de Planejamento, mas que bom...
  • O livro não é sobre a rebelião, mas ele cita o que ocorreu lá? Eu tenho o livro ali...
  • Certo. Mas escuta Braga eu estava conversando ontem à noite com o Walter, com o Schmitz ali embaixo e surgiu o nome do Grubba para Delegado-Geral, tu sabes alguma coisa?
  • Sim, o nome do Grubba começou a surgir, mas eu acho difícil, ele trabalha para o Ivo Konell lá em Jaraguá,  não fez nada para o Heitor, como é que pode...?
  • Ele também é Delegado Regional atualmente.
  • Pois é, mas eu acho muito difícil.
  • Talvez em razão da maçonaria.
  • Também o pessoal tem falado no nome do Renato Ribas, até do Moretto...
  • É o Renato tudo bem, ele é filiado ao PFL, é vereador, além de ser o Delegado Regional, mas acho difícil em razão disso tudo ele sair lá de Itajaí. O Moretto também eu acho difícil ele querer retornar, mas ele é da maçonaria também.
  • Ele é o vice lá na loja dele.
  • Não sei, mas acho difícil ele aceitar.
  • Mas ele pode, por quê não? Pode haver um pedido irrecusável e daí?
  • Realmente, mas acho que se depender dele, já passou e sabe como é.
  • Eu tenho conversado com os policiais por aí e eles citam o teu nome e o meu, são os mais fortes. Com relação ao Wilmar eles têm algumas resistências, não sei por quê?
  • Olha Braga eu já te disse que a chance de eu assumir qualquer coisa vai depender do Julio, em razão daquele nosso projeto, fora disso é muito difícil, estou mais próximo de uma assistência jurídica ou coisa assim.
  • Não, mas se tu fores convidado tens que aceitar, não vai deixar qualquer um outro assumir a coisa, já pensou?
  • Tudo bem, tudo bem, mas tem que se pensar muito, não é assim fácil.
  • Eu só não admito é um Thomé querer ficar num cargo, assim como tu dissestes ontem que condicionava aceitar o cargo se não perdermos o Detran, recuperarmos a Isonomia... Eu condiciono a minha participação a questão do Thomé, ele não gosta de mim, nem de ti, como é que um cara desse vai ser aproveitado, como o Sala que nunca foi Delegado...?
  • Olha Braga eu nunca tive problema algum com o Thomé, com relação ao Sala eu já o conheço ele o suficiente, trabalhamos juntos no sistema prisional...
  •  Eu estava conversando com o Trilha e ele veio dizer para mim que se nós assumíssemos o comando tínhamos que dar um jeito de aproveitamos o Sala. Quando eu fui exonerado do cargo de Diretor de Polícia do Litoral o que ele deveria ter feito no mínimo era não ter aceito o cargo, ele traiu a corporação...
  • Tu queres dizer que ele como Delegado de Terceira Entrância, que nunca trabalhou numa Delegacia,  não deveria ter aceito o convite?
  • Sim, e logo que chegou já ameaçou dar uma porrada num Delegado, onde já se viu? Nesse ponto eu concordo contigo, tem que se respeitar todo o Delegado...
  • Sim, não só Delegados, mas todos os policiais merecem respeito e o problema dele é que ele sempre trabalhou com presos, com aquele pessoal do Sistema Penitenciário. Ele acha que todo mundo aqui é igual lá, acho que o que faltou para ele foi acima de tudo ter vindo de baixo como nós viemos...
  • Sim!
  • Mas como eu te disse estou perto é aqui da Assistência Jurídica, não tenho nenhuma ambição fora disso se o nosso “Plano” não vingar.
  • É, mas se for o Júlio ou o Heitor tu tens chance de ser o Delegado-Geral,  só que tem uma coisa Felipe tu tens que fortalecer o DPL, ele é que é tudo, tem que dar estrutura para ele. Na minha época ele é que comandava tudo,  o Sala está todo dia com a Secretária...
  • É, talvez o que deveria acontecer é que o Sala deveria assumir a Delegacia- Geral e o Trilha o lugar dele...

(...)

E Braga, ainda, fez uma consideração no final:

(...)

  • Mas uma coisa que eu tenho muita curiosidade de saber é como o Moretto veio a ser Delegado-Geral, tinha tudo para ser eu, não queriam ele e como é que acabou sendo o escolhido?
  • Deve ter sido por influência da maçonaria.
  • Eu não sou da maçonaria. Tu és?
  • Não. Não sou!
  • Mas o Veraldo me contou...

(...)”.