Data: 10.11.98, horário: 19:30 horas:

Retornei da Biblioteca Pública do Estado e resolvi ainda dar uma passada na Delegacia-Geral quando encontrei Walter debruçado no balcão da Portaria,  como sempre, assistindo o jornal estadual na televisão:

  • E daí Walter alguma novidade aí?
  • Não! Só o que a gente já sabe... (pareceu responder com certa dificuldade..)
  • Surgiu mais algum nome para Secretário aí no jornal?..
  • Por enquanto não, só aqueles que a gente já conhece.
  • Sei.
  • São aqueles três nomes, não sei se tu conheces o Natalício,  policial, ele me disse que é noventa e cinco por cento certo que o Heitor vai ser o Secretário.
  • Olha!
  • Aquele teu  candidato, o problema é que o amigo dele já morreu, ele não tem força nenhuma, enquanto o cara estava vivo tudo bem, mas...
  • Ah, sim! Se o Kleinubing estivesse vivo certamente ele teria mais força.
  • É,  e ele não se elegeu. E aquele outro nome também não tem condições...
  • E para Delegado-Geral já tem algum nome?
  • Tem aquele lá que eu já te falei, mas tu dissestes que ele não quer sair do interior, né?
  • Quem? Tu estais falando do Grubba, Delegado Regional de Jaraguá do Sul?
  • Sim. É esse aí. Eu conversei com o Nilton, sobrinho do Heitor e o Valcir e eles falaram nesse nome aí.
  • É um bom nome, gosto muito do Grubba, só não entendo por que ele é Delegado Regional, detém cargo comissionado no atual governo e além disso, consta que é do PMDB, mas em política tudo é possível...
  • É, aí eu não sei de nada...
  • Mas me dou muito bem com ele e é um bom profissional... seria muito bom, mas há o nome do Braga, ele quer ser o Delegado-Geral.
  • Esse daí? De jeito nenhum, não tem a mínima chance.
  • Por quê?
  • Eles não querem! Mas tem aquele outro Delegado lá de Chapecó...
  • Ah, sei, o Natal?
  • Isso, mas parece que ele quer a Delegacia Regional.
  • É verdade.

(...)

E ao conversarmos sobre aposentadoria surgiu o Delegado Luiz Gonzaga Schmitz que segundo corria estava prestes a se aposentar, era Gerente de Armas e Munições e que parece estava do outro lado atento a nossa conversa...

(...)

  • Recebo só quarenta e seis por cento de meu líquido, mas já tenho a certeza de que vou me aposentar e vai haver um redutor, não tenham dúvida,  essa reforma da previdência não vai ficar assim... o governo vai mandar mais uma proposta de emenda constitucional para passar a aposentadoria para sessenta e cincoenta e cinco anos... (Schmitz)
  • Sim eu estava falando disso para o Walter aqui, eu que vou ter que trabalhar até quase os sessenta anos, se compararmos com um delegado que se aposentou como deverá ser o teu caso, vou ter que lutar para fazer valer essa diferença de cerca de dez anos a mais... (Felipe)
  • Concordo, mas se eu for alcançado por essas reformas não sei o que fazer, acho que não conseguirei mais voltar a trabalhar, não aguento mais, eu que ocupo cargo comissionado, este último ano para mim foi o pior ano da minha vida, pedi demissão duas vezes e eles não aceitaram o meu pedido... (Schmitz
  • Eu entendo, tu estais te referindo a este governo, mas acho que quase todo mundo pensa assim, é sem precedentes...(Felipe)

(...)

O celular tocou e, em seguida fui deixando a Delegacia-Geral em direção ao meu carro que estava como sempre na Trompowsky. No trajeto lembrei da reação do Delegado Schmitz (ex-parceiro do Deputado Gilmar Knaesel de noitadas no “Scuna”) e, também, que mais feliz teria sido o Delegado Ademar Rezende que pediu exoneração do cargo de “Assistente Jurídico”, o pedido foi aceito. E, não pude deixar de pensar nas palavras do Delegado Alberto Freitas quando estava na Presidência da Adpesc e nós no comando da Polícia Civil: “Felipe, este é o pior governo da nossa história!” (para mim aquele governo Pedro Ivo Campos sempre deixou saudades; depois o próprio Alberto  reconheceu isso também porque a seguir veio o Governo Kleinubing...).  E, quando encontrei Alberto reiterei a mesma pergunta de anos atrás (ainda na Presidência da Associação dos Delegados) e ele respondeu de forma ácida que estava abalado em razão da supressão da isonomia dos Delegados (Lei n. 7.720/89), e vaticinou: “.. Eu não imaginava, mas pior governo do que este jamais!” Bom, rememorei o desabafo do Delegado Schmitz, um comissionado revoltado contra o governo Paulo Afonso... e me perguntei: “E qual será o saldo do governo Amin daqui a quatro anos?”