Data: 23.12.98, horário: 10:00 horas, “Isso é uma vergonha?”

Considerando o que tinha conversado com Julio Teixeira no dia anterior achei que já era hora de ligar para Jorge Xavier:

  • Alô!
  • Leninha, o Jorge está aí?
  • Oi Felipe, não o Jorge saiu, está no Fórum, daqui a pouco ele volta.
  • Ah, sim, então eu ligo mais tarde.
  • Escuta, ele falou com o Júlio, disse uns desaforos para ele, onde é que já se viu, como é que puderam colocar o Moreto de volta como Delegado-Geral, o Jorge falou um monte de coisas para ele, precisas ver. (Leninha)
  • É, eu tinha conversado com o Julio,  o Jorge pediu que eu conversasse com ele para que hoje fôssemos recebidos.
  • Que horas falastes ontem como o Julio?
  • Foi à noite.
  • Ah, bom,  mas tu não achas isso uma vergonha?
  • É, e deve ter o dedo da maçonaria por trás, depois o Moreto também se mexeu, né!
  • Pois é, mas logo o Jorge está chegando, eu aviso a ele para ti telefonar.
  • Certo Leninha.

Horário: 11:45 horas, “Passando batido”:

Jorge Xavier no Celular:

  • Alô!
  • Oi, eu liguei para tua casa, mas tu estavas na oficina.
  • Sim, saí de manhã, estou viajando, olha falei com o Julio ontem e tinha acertado para irmos hoje por volta de meio- dia na casa dele.
  • Pois é, agora tu vê como esse Julio é fogo, eu falei com ele e não me disse que tu tinhas conversado, que tinha sido acertado a nossa ida hoje ao meio- dia lá,  brincadeira, ele disse que estava com os irmãos em casa, sei lá!
  • Ficou acertado que eu telefonaria antes, ele disse realmente que tinha recebido os irmãos, sabe como é, época de Natal.
  • Eu acho que nós deveríamos ir até a casa dele hoje à tarde.
  • Jorge, tu não achas melhor eu ligar para ti depois, vamos economizar celular,  queres que eu ligue em seguida?
  • Não. Eu estou indo para o escritório, estou em trânsito.
  • Então tá, eu ligo depois.
  • Tá certo, te aguardo!

Pensei: “realmente, os contatos com Julio Teixeira só depois do Natal e quem sabe após o retorno do futuro Governador Amin”.

Horário: 15:45 horas, “Mas afinal, Quem Vai Dar as Cartas?”

O Delegado Braga numa ligação:  

  • Felipe?.
  • Sim!
  • É o Braga, tu te lembras daquelas nossas conversas, quando eu dizia que aceitaria um cargo se o Delegado-Geral fostes você ou o Wilmar Domingues? Mas nunca um homem do PMDB, como o Moretto que vai fazer tudo que a Lúcia quiser, isso eu não admito!
  • Sim!
  • Ninguém poderia imaginar isso, Felipe só um “instantinho”.
  • Braga liga depois para minha residência, certo?
  • Ah, tá, qual é o número daí? Eu te ligo daqui a cinco minutos.
  • Certo!

Horário: 15:50 horas:

  • Alô!
  • E daí Braga?
  • Então, como eu estava te dizendo eu não posso aceitar que uma pessoa como o Moreto que faz tudo que a Lúcia quer seja de novo o Delegado-Geral.
  • Sim, mas vem cá, o Heitor não te indicou?
  • Sim, ele me indicou na reunião.
  • Pois é,  teve uma reunião na sexta-feira, não?
  • Sim, o Heitor tinha me indicado por escrito para ser o Corregedor-Geral na sexta.
  • Por escrito?
  • Sim, o Maurício seria o Delegado-Geral.
  • Mas como?
  • É, tem aquele projeto lá na Assembleia, não tem?
  • Não sei, qual?
  • Aquele que diz que o Corregedor-Geral pode ser de quarta entrância.
  • O quê? Mas quem é o autor disso?
  • Não sei.
  • Mas como é que podem mandar um câncer desses para a Assembleia e ninguém saber quem é o autor?
  • Parece que foi o Thomé.
  • O quê?
  • É o projeto do Thomé, mas como eu estava te dizendo eu não quero que tu me interpretes mal, na reunião de terça o meu nome foi indicado para ser o Delegado-Geral, o Carvalho me chamou lá, tinha o nome do Maurício, do Mauro e o meu, tu vê, até o Mauro estava fortíssimo, um homem do PMDB, eu não posso aceitar uma coisa dessas e aí um delegado foi lá dizer para o Secretário no edifício.
  • Que edifício?
  • Lá no Angelina, e esse delegado foi dizer que eu andava dizendo que eu só aceitaria ser Delegado-Geral se tivesse carta branca. Eu jamais iria dizer uma coisa dessas, nem o presidente tem carta branca.
  • Ah, Sim, e quem era esse delegado, tu sabes?
  • Sim, eu acho que era o Redondo, ele é amicíssimo do Carvalho, ele está fortíssimo, vai mandar.
  • Mandar?
  • Sim, deve assumir o Detran.
  • Tu conseguisses falar com o Secretário?
  • Sim, lá do Edifício Dona Angelina, mas foi durante só dois minutos, saí de lá arrasado, ele quase não disse nada e como é que se vai aceitar uma situação dessas? Até que o Secretário foi consciente, bateu o pé e não aceitou que o Corregedor-Geral fosse de Quarta Entrância, tem que ser um especial, mas quando ao Moreto eu gosto dele como pessoa, me dou bem com ele, só não posso aceitar que a Lúcia, Lourival, esse pessoal do PMDB continue mandando lá.
  • Olha Braga é uma vergonha o que estão fazendo, no caso do Moreto eu acho que teve a mão da maçonaria e ele também se mexeu, parece que pediu apoio de diretórios do PPB, mas nessa corrida por cargos as pessoas vendem a alma até para o diabo e isso acontece na Polícia Civil, ainda ontem estava numa festa e conversei com um Promotor e ele estava falando como são as coisas no Ministério Público, lá quem manda são os Procuradores e aqui não dá para aceitar uma coisa dessas.
  • Eu só estou te telefonando para te dizer isso, se tu assumires algum cargo,   como acho que deves assumir, pelo Julio claro, queria que soubesses a minha posição.
  • No meu caso eu já te disse noutras ocasiões que não estou pleiteando nada, nem pretendo, sei que fui indicado, mas nessas circunstâncias vai ser muito difícil, não posso aceitar o que estão fazendo, além disso estou comprometido com o nosso grupo.
  • Mas eu só queria deixar registrado que só aceitaria um cargo se o Delegado-Geral fostes tu ou o Wilmar.

(...)”.

Horário: 19:45 horas:

Cheguei na residência de Jorge Xavier, ainda no hall de entrada escutei os latidos daquela sua cachorrinha e fiquei surpreso porque ele havia dito que às vinte horas tinha compromisso. Imaginei ter poucos minutos e para minha surpresa estava ele ainda bem à vontade, com disponibilidade de tempo, pois “Leninha” tinha ido a um salão de beleza. Tratei de me acomodar no sofá da sala e relatei o conteúdo da conversa com Julio Teixeira:

“(...)

  • Ele disse que se quisessem cortar as asas dele como secretário adjunto que não aceitaria o cargo, assumiria outro órgão e me levaria com ele. (Felipe)
  • Mas tu não tens mais compromisso com o grupo, o nosso esquema funcionou até um determinado momento e tem aqueles outros dois, o Wilmar e aquele menino.
  • O Cláudio?
  • Isso, eles ficaram mais distantes.
  • Sim, mas todos emprestaram seus nomes à nossa causa Jorge e eu jamais poderia aceitar qualquer coisa se isso não passasse pelo grupo, não tenho consciência para lidar com isso, eu ficando bem e o restante do pessoal  por aí, isso não, de maneira nenhuma, estamos todos juntos nisso e eu não vou dar uma de “esperto”, prefiro que o pessoal seja aproveitado e eu até fique de fora.
  • É, acho que tu tens razão, não vai ficar bem tu aceitares um cargo e o restante do pessoal ficar de fora.
  • Não tenho dúvidas disso Jorge,  naquela época que tu eras o Delegado-Geral e que tu caístes foi diferente, porque eu te procurei e perguntei para ti se querias que eu pedisse exoneração para te acompanhar, se tu tivestes me solicitado certamente que eu também cairia fora.

(...)

E Jorge Xavier procurou manter essa conversação (como das outras vezes), mas quando chegava naquele ponto ele procurava concordar com minha posição (que o consultei previamente...), mas no seu íntimo parecia que conseguia ler o seu âmago, tipo: “naquele momento você não tinha que me consultar, isto é, tinha que cair fora junto comigo, sem hesitar, deverias ter sido solidário e fiel...”:

  • É naquele caso foi diferente, foi outro momento... (Jorge)
  • Sim Jorge, havia a lei complementar cinquenta e cinco que precisava ser regulamentada, estava tramitando o projeto da lei complementar noventa e oito e eu era o autor dessas legislações, se abandonasse a minha posição naquele momento estava tudo praticamente abortado, tive que ficar para que fosse dando andamento e vim aqui na tua casa te consultar.
  • É, agora existe todo um plano de governo.
  • Agora é bem diferente, estamos dentro de um projeto de governo para a Segurança Pública, e ninguém está no poder, podemos ser convidados, mas em que circunstâncias? Jorge, mas o Braga me falou que o nome do Mauro Dutra está fortíssimo.
  • O quê? Mas como?
  • Eu fiquei pensando no que o Mário me disse lá na Adpesc, de que tinha apoiado meu nome para Delegado-Geral, depois, quando eu voltei lá ele mudou e disse que indicou meu nome para Corregedor-Geral. O Braga também falou que inicialmente o nome dele estava indicado por escrito pelo Heitor para ser o Corregedor-Geral, mas aí o nome dele constava juntamente com o de Mauro e do Maurício para ser Delegado-Geral.
  • Como? O Maurício para ser Delegado-Geral? Mas ele não é Quarta entrância?
  • Sim, segundo o Braga o Secretário descartou essa possibilidade, teria que ser especial, aí o nome do Maurício parece que estava indicado para ser Corregedor Geral.
  • Mas também não pode, tem que ser especial.
  • Sim, mas aí eu entendi porque o Ademar andou me procurando, segundo ele me disse era para saber onde estava escrito que o Corregedor é  o substituto do Delegado-Geral, eu acho que era isso.
  • Mas o Mauro também constava da lista?
  • Sim, o Braga disse que ele estava fortíssimo.
  • Mas eu não entendo.
  • Bom o Mauro é uma pessoa bem relacionada.
  • Como? Ele faz o jogo de quem está no poder, quando trabalhou comigo ele se relacionava bem e assim é com todos que estão no poder.
  • Bom, mas eu acho que isso tem o dedo do Mário.
  • Claro. Ele é Vice-Presidente da Adpesc.
  • Por isso que eu imagino que o Mário tenha indicado o nome do Mauro para ser Delegado-Geral e numa segunda opção o meu para Corregedor-Geral...

(...)

E já de saída, quando “Leninha” tinha acabado de chegar e pronto para embarcar:

  • Este é o teu carro novo?
  • Sim.
  • Bom para a gente se despedir uma última, o Secretário da Fazenda anunciou no jornal agora da noite que estavam levantando recursos para pagar a diferença de setembro até o final do mês.
  • O quê? Isso é verdade?
  • Sim, escuta temos que nos reunir com o pessoal do grupo.
  • Ah, sim, nós vamos fazer um jantar daquele pessoal da antiga diretoria da Fecapoc, vai ser a semana que vem e o pessoal do grupo poderia participar, só não sabemos ainda o local, poderia ser até lá na Cassol, não?
  • Sim.
  • Mas teríamos que falar com o Krieger, seria na terça ou quarta-feira, bom deixa passar o Natal, o objetivo é comemorarmos o nosso tempo, passar alguns filmes, mostrar algumas fotos.
  • Certo, isso é muito bom!

(...)”.