PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE CLVI: “CARTA BRANCA?” (Felipe Genovez)
Por Felipe Genovez | 16/04/2018 | HistóriaData: 23.12.98, horário: 10:00 horas, “Isso é uma vergonha?”
Considerando o que tinha conversado com Julio Teixeira no dia anterior achei que já era hora de ligar para Jorge Xavier:
- Alô!
- Leninha, o Jorge está aí?
- Oi Felipe, não o Jorge saiu, está no Fórum, daqui a pouco ele volta.
- Ah, sim, então eu ligo mais tarde.
- Escuta, ele falou com o Júlio, disse uns desaforos para ele, onde é que já se viu, como é que puderam colocar o Moreto de volta como Delegado-Geral, o Jorge falou um monte de coisas para ele, precisas ver. (Leninha)
- É, eu tinha conversado com o Julio, o Jorge pediu que eu conversasse com ele para que hoje fôssemos recebidos.
- Que horas falastes ontem como o Julio?
- Foi à noite.
- Ah, bom, mas tu não achas isso uma vergonha?
- É, e deve ter o dedo da maçonaria por trás, depois o Moreto também se mexeu, né!
- Pois é, mas logo o Jorge está chegando, eu aviso a ele para ti telefonar.
- Certo Leninha.
Horário: 11:45 horas, “Passando batido”:
Jorge Xavier no Celular:
- Alô!
- Oi, eu liguei para tua casa, mas tu estavas na oficina.
- Sim, saí de manhã, estou viajando, olha falei com o Julio ontem e tinha acertado para irmos hoje por volta de meio- dia na casa dele.
- Pois é, agora tu vê como esse Julio é fogo, eu falei com ele e não me disse que tu tinhas conversado, que tinha sido acertado a nossa ida hoje ao meio- dia lá, brincadeira, ele disse que estava com os irmãos em casa, sei lá!
- Ficou acertado que eu telefonaria antes, ele disse realmente que tinha recebido os irmãos, sabe como é, época de Natal.
- Eu acho que nós deveríamos ir até a casa dele hoje à tarde.
- Jorge, tu não achas melhor eu ligar para ti depois, vamos economizar celular, queres que eu ligue em seguida?
- Não. Eu estou indo para o escritório, estou em trânsito.
- Então tá, eu ligo depois.
- Tá certo, te aguardo!
Pensei: “realmente, os contatos com Julio Teixeira só depois do Natal e quem sabe após o retorno do futuro Governador Amin”.
Horário: 15:45 horas, “Mas afinal, Quem Vai Dar as Cartas?”
O Delegado Braga numa ligação:
- Felipe?.
- Sim!
- É o Braga, tu te lembras daquelas nossas conversas, quando eu dizia que aceitaria um cargo se o Delegado-Geral fostes você ou o Wilmar Domingues? Mas nunca um homem do PMDB, como o Moretto que vai fazer tudo que a Lúcia quiser, isso eu não admito!
- Sim!
- Ninguém poderia imaginar isso, Felipe só um “instantinho”.
- Braga liga depois para minha residência, certo?
- Ah, tá, qual é o número daí? Eu te ligo daqui a cinco minutos.
- Certo!
Horário: 15:50 horas:
- Alô!
- E daí Braga?
- Então, como eu estava te dizendo eu não posso aceitar que uma pessoa como o Moreto que faz tudo que a Lúcia quer seja de novo o Delegado-Geral.
- Sim, mas vem cá, o Heitor não te indicou?
- Sim, ele me indicou na reunião.
- Pois é, teve uma reunião na sexta-feira, não?
- Sim, o Heitor tinha me indicado por escrito para ser o Corregedor-Geral na sexta.
- Por escrito?
- Sim, o Maurício seria o Delegado-Geral.
- Mas como?
- É, tem aquele projeto lá na Assembleia, não tem?
- Não sei, qual?
- Aquele que diz que o Corregedor-Geral pode ser de quarta entrância.
- O quê? Mas quem é o autor disso?
- Não sei.
- Mas como é que podem mandar um câncer desses para a Assembleia e ninguém saber quem é o autor?
- Parece que foi o Thomé.
- O quê?
- É o projeto do Thomé, mas como eu estava te dizendo eu não quero que tu me interpretes mal, na reunião de terça o meu nome foi indicado para ser o Delegado-Geral, o Carvalho me chamou lá, tinha o nome do Maurício, do Mauro e o meu, tu vê, até o Mauro estava fortíssimo, um homem do PMDB, eu não posso aceitar uma coisa dessas e aí um delegado foi lá dizer para o Secretário no edifício.
- Que edifício?
- Lá no Angelina, e esse delegado foi dizer que eu andava dizendo que eu só aceitaria ser Delegado-Geral se tivesse carta branca. Eu jamais iria dizer uma coisa dessas, nem o presidente tem carta branca.
- Ah, Sim, e quem era esse delegado, tu sabes?
- Sim, eu acho que era o Redondo, ele é amicíssimo do Carvalho, ele está fortíssimo, vai mandar.
- Mandar?
- Sim, deve assumir o Detran.
- Tu conseguisses falar com o Secretário?
- Sim, lá do Edifício Dona Angelina, mas foi durante só dois minutos, saí de lá arrasado, ele quase não disse nada e como é que se vai aceitar uma situação dessas? Até que o Secretário foi consciente, bateu o pé e não aceitou que o Corregedor-Geral fosse de Quarta Entrância, tem que ser um especial, mas quando ao Moreto eu gosto dele como pessoa, me dou bem com ele, só não posso aceitar que a Lúcia, Lourival, esse pessoal do PMDB continue mandando lá.
- Olha Braga é uma vergonha o que estão fazendo, no caso do Moreto eu acho que teve a mão da maçonaria e ele também se mexeu, parece que pediu apoio de diretórios do PPB, mas nessa corrida por cargos as pessoas vendem a alma até para o diabo e isso acontece na Polícia Civil, ainda ontem estava numa festa e conversei com um Promotor e ele estava falando como são as coisas no Ministério Público, lá quem manda são os Procuradores e aqui não dá para aceitar uma coisa dessas.
- Eu só estou te telefonando para te dizer isso, se tu assumires algum cargo, como acho que deves assumir, pelo Julio claro, queria que soubesses a minha posição.
- No meu caso eu já te disse noutras ocasiões que não estou pleiteando nada, nem pretendo, sei que fui indicado, mas nessas circunstâncias vai ser muito difícil, não posso aceitar o que estão fazendo, além disso estou comprometido com o nosso grupo.
- Mas eu só queria deixar registrado que só aceitaria um cargo se o Delegado-Geral fostes tu ou o Wilmar.
(...)”.
Horário: 19:45 horas:
Cheguei na residência de Jorge Xavier, ainda no hall de entrada escutei os latidos daquela sua cachorrinha e fiquei surpreso porque ele havia dito que às vinte horas tinha compromisso. Imaginei ter poucos minutos e para minha surpresa estava ele ainda bem à vontade, com disponibilidade de tempo, pois “Leninha” tinha ido a um salão de beleza. Tratei de me acomodar no sofá da sala e relatei o conteúdo da conversa com Julio Teixeira:
“(...)
- Ele disse que se quisessem cortar as asas dele como secretário adjunto que não aceitaria o cargo, assumiria outro órgão e me levaria com ele. (Felipe)
- Mas tu não tens mais compromisso com o grupo, o nosso esquema funcionou até um determinado momento e tem aqueles outros dois, o Wilmar e aquele menino.
- O Cláudio?
- Isso, eles ficaram mais distantes.
- Sim, mas todos emprestaram seus nomes à nossa causa Jorge e eu jamais poderia aceitar qualquer coisa se isso não passasse pelo grupo, não tenho consciência para lidar com isso, eu ficando bem e o restante do pessoal por aí, isso não, de maneira nenhuma, estamos todos juntos nisso e eu não vou dar uma de “esperto”, prefiro que o pessoal seja aproveitado e eu até fique de fora.
- É, acho que tu tens razão, não vai ficar bem tu aceitares um cargo e o restante do pessoal ficar de fora.
- Não tenho dúvidas disso Jorge, naquela época que tu eras o Delegado-Geral e que tu caístes foi diferente, porque eu te procurei e perguntei para ti se querias que eu pedisse exoneração para te acompanhar, se tu tivestes me solicitado certamente que eu também cairia fora.
(...)
E Jorge Xavier procurou manter essa conversação (como das outras vezes), mas quando chegava naquele ponto ele procurava concordar com minha posição (que o consultei previamente...), mas no seu íntimo parecia que conseguia ler o seu âmago, tipo: “naquele momento você não tinha que me consultar, isto é, tinha que cair fora junto comigo, sem hesitar, deverias ter sido solidário e fiel...”:
- É naquele caso foi diferente, foi outro momento... (Jorge)
- Sim Jorge, havia a lei complementar cinquenta e cinco que precisava ser regulamentada, estava tramitando o projeto da lei complementar noventa e oito e eu era o autor dessas legislações, se abandonasse a minha posição naquele momento estava tudo praticamente abortado, tive que ficar para que fosse dando andamento e vim aqui na tua casa te consultar.
- É, agora existe todo um plano de governo.
- Agora é bem diferente, estamos dentro de um projeto de governo para a Segurança Pública, e ninguém está no poder, podemos ser convidados, mas em que circunstâncias? Jorge, mas o Braga me falou que o nome do Mauro Dutra está fortíssimo.
- O quê? Mas como?
- Eu fiquei pensando no que o Mário me disse lá na Adpesc, de que tinha apoiado meu nome para Delegado-Geral, depois, quando eu voltei lá ele mudou e disse que indicou meu nome para Corregedor-Geral. O Braga também falou que inicialmente o nome dele estava indicado por escrito pelo Heitor para ser o Corregedor-Geral, mas aí o nome dele constava juntamente com o de Mauro e do Maurício para ser Delegado-Geral.
- Como? O Maurício para ser Delegado-Geral? Mas ele não é Quarta entrância?
- Sim, segundo o Braga o Secretário descartou essa possibilidade, teria que ser especial, aí o nome do Maurício parece que estava indicado para ser Corregedor Geral.
- Mas também não pode, tem que ser especial.
- Sim, mas aí eu entendi porque o Ademar andou me procurando, segundo ele me disse era para saber onde estava escrito que o Corregedor é o substituto do Delegado-Geral, eu acho que era isso.
- Mas o Mauro também constava da lista?
- Sim, o Braga disse que ele estava fortíssimo.
- Mas eu não entendo.
- Bom o Mauro é uma pessoa bem relacionada.
- Como? Ele faz o jogo de quem está no poder, quando trabalhou comigo ele se relacionava bem e assim é com todos que estão no poder.
- Bom, mas eu acho que isso tem o dedo do Mário.
- Claro. Ele é Vice-Presidente da Adpesc.
- Por isso que eu imagino que o Mário tenha indicado o nome do Mauro para ser Delegado-Geral e numa segunda opção o meu para Corregedor-Geral...
(...)
E já de saída, quando “Leninha” tinha acabado de chegar e pronto para embarcar:
- Este é o teu carro novo?
- Sim.
- Bom para a gente se despedir uma última, o Secretário da Fazenda anunciou no jornal agora da noite que estavam levantando recursos para pagar a diferença de setembro até o final do mês.
- O quê? Isso é verdade?
- Sim, escuta temos que nos reunir com o pessoal do grupo.
- Ah, sim, nós vamos fazer um jantar daquele pessoal da antiga diretoria da Fecapoc, vai ser a semana que vem e o pessoal do grupo poderia participar, só não sabemos ainda o local, poderia ser até lá na Cassol, não?
- Sim.
- Mas teríamos que falar com o Krieger, seria na terça ou quarta-feira, bom deixa passar o Natal, o objetivo é comemorarmos o nosso tempo, passar alguns filmes, mostrar algumas fotos.
- Certo, isso é muito bom!
(...)”.