Data: 22.12.98, horário: 17:30 horas:

Jorge Xavier me telefonou para saber o resultado de meu contato com o Julio Teixeira. Disse a ele que tentei, mas não consegui, apesar de ter conseguido conversar com Tereza. Jorge Xavier pediu que eu tentasse um contato com ele na sua residência.

Horário: 18:00 Horas, “A Lista”:

  • Alô, alô!
  • Larga o telefone aí! (ouvi a voz de Julio Teixeira falando com alguém)
  • Julio, Julio, é o Felipe.
  • Fala Felipe.
  • Escuta, parece que estão mapeando cargos.
  • Para com isso, isso já é uma paranoia, não tem nada, ainda hoje falei com o “Carvalho”, só depois que o Esperidião voltar é que vai ser decidido.
  • Bom, é o que o pessoal está comentando por aqui.
  • Não tem nada, isso parece paranoia, acabaram de me telefonar lá de Rio do Sul.
  • Tudo bem!
  • Tu me desculpa Felipe, mas tem uma lista com o Carvalhinho, o teu nome está na lista por indicação minha e só vai ser decidido depois do Natal. E depois tem uma coisa, se não estiver bom eu largo isso e assumo um outro órgão, eu sei fazer outras coisas e fica tranquilo porque eu te levo junto,  podes ter certeza disso.
  • Eu estou te telefonando porque o Jorge Xavier está preocupado, queria falar contigo pessoalmente.
  • Hoje não dá, estou com meus irmãos aqui em casa.
  • Tudo bem, e amanhã?
  • Amanhã  tá tudo bem.
  • A que horas?
  • Me telefona perto do meio-dia.
  • Escuta, onde é que tu moras?
  • Não. Tu me telefonas por volta de umas onze horas, certo?
  • Certo!

Horário: 19:15 horas, “A Paranóia?”

Encontrei “Marquinhos” já na saída do Café “Pão de Queijo” da Rua Jerônimo Coelho, ao lado do “Posto do Touring”. Logo que ele me viu gritou, fazendo sinal que queria conversar comigo:

  • Hei!.Hei!
  • E daí Marquinhos, estou com pressa!
  • Também estou descendo, pera aí.
  • Estou indo para o terminal.
  • Eu também estou indo prá aqueles lados...

(...)

E no caminho...

  • Sabia que proibiram lá na GEAP de dar a data em que o Moretto ingressou na Polícia Civil e o tempo de polícia, foi um alvoroço, a ordem veio de cima para não dar nada para a imprensa, ficamos proibidos, olha foi um alvoroço... (Marquinhos)
  • Olha, que quê é isso?
  • Eles estão acertando as lotações, estão procurando se acertarem....
  • É final de governo, né Marquinhos!
  • O pessoal estava crente que iria ser o novo Delegado-Geral, o pessoal estava querendo muito, puxa como pegou bem o teu nome, tinha um monte de gente torcendo, mas o Moretto não é ruim, apesar de ser meio parado,  entre ele e o Braga acho que o pessoal queria ver mudança, que mudança é essa? Que decepção, um governo que prometia mudanças!
  • É, acho que vai ser difícil alguma mudança.
  • Vai ocupar algum cargo?
  • Não sei Marquinhos, até agora não fui convidado, fui indicado, mas existe uma diferença entre ser indicado e aceitar, não é?
  • Sim, mas vai ficar assim?
  • Não sei, vou pensar, hoje estou fazendo o que acho prioridade, o que gosto de fazer, cumprindo um desígnio superior, escrevo, pesquiso, estou procurando deixar minha contribuição para a instituição.
  • É, o Lima esteve ontem lá no setor de pessoal e eu perguntei: “Como é que é doutor Lima, não deu para o nosso amigo” e ele respondeu: “Pois é, mas nós estamos acertando uma situação para ele na Corregedoria, como corregedor”.
  • O quê? Ele falou assim: “que estão acertando a minha situação na Corregedoria”?
  • É, bem assim.
  • Ele deveria estar brincando Marquinhos.
  • Não sei, olha, depois daquela onda que seria o Delegado-Geral, quando o doutor Lima falou alto lá no setor e todo mundo ouviu, começou uma puxação de saco, até a Osvaldete...
  • É assim mesmo, o poder atraí as pessoas, elas ficam cegas.
  • Meu Deus! Escuta, é verdade que o Feijó vai ficar na GEAP? O pessoal está dizendo que ele é super amigo do novo Secretário, ele colocou ar condicionado lá, arrumou tudo, não dá para acreditar que ele permaneça, o pessoal não vai aguentar?
  • Não sei. Marquinhos, vamos fazer a nossa festa a semana que vem...?
  • Ah, sim, pode ser lá em casa.
  • Então tá.. Quarta-feira é um dia ótimo, avisa o pessoal.
  • Quem vai?
  • Nós, o pessoal da antiga diretoria da Fecapoc, o filho do Arno, pessoas contadas a dedo, vê se faz os contatos, eu volto a falar contigo...

(...)”.

Horário: 22:00 horas, “Iris 15 e a Lógica do MP”:

Na festa dos “Torres”, na Elase (Associação dos Funcionários da Eletrosul), no aniversário de quinze anos da filha, encontrei Saulo – Promotor de Justiça. Primeiramente me deu a notícia que seu filho havia sido classificado no concurso da Polícia Civil. Depois conversamos sobre a rebelião na Penitenciária (maio de 1997), dos fracos e dos fortes. A seguir, enveredamos sobre assuntos de natureza filosófica, lembrando o Delegado Garcez, quando passamos a questionar o confronto entre o  bem e o mal... também, sobre os novos ares na Secretaria de Segurança Pública com a chegada do Promotor “Carvalhinho”:

“(...)

  • Ah, o mal sempre leva vantagem sobre o bem, não adianta... (Saulo)
  • É, o que ocorre é que as pessoas de bem não possuem rabo preso, elas são do bem e isso basta, agora as pessoas que se prestam para o mal, ah, sim, essas têm muito a perder, têm que se defenderem porque se uma delas se vê na eminência de ser acusada logo ameaça abrir a boca e levar junto os outros, daí todos se unem... (Felipe)
  • É verdade... (Saulo)
  • Mas Saulo, o nosso Secretário que é teu colega parece que quer fazer currículo? (Felipe)
  • Como?(Saulo)
  • Ele já foi Secretário da Administração, agora entra na Segurança, dizem que quer chegar a Procurador de Justiça e suceder o Albertom, é verdade?
  • Tu conheces o Albertom? (Felipe)
  • Conheço só de nome... (Saulo)
  • Ele estava no CPC,  tu precisas ver que pessoa competente, mas no Ministério Público não funciona assim, uma pessoa que está muito tempo afastada não leva, tem que estar lá dentro, o pessoal geralmente vota em três nomes já afinados com o governo que entra, assim fica fácil escolher o futuro Procurador-Geral.(Felipe)
  • É uma questão de lógica...(Saulo)
  • Sim, claro, porque o governador não vai escolher alguém que não tenha ligação com ele, evidente, no caso do Albertom ele tem afinidade com o Amin, então tá tudo bem, a classe sabe perceber isso, nós Promotores quando votamos já temos isso em mente, temos autonomia financeira, o  repasse do duodécimo assegurado na Constituição, então fica mais fácil.
  • Realmente, já na Segurança Pública é uma loucura, como é no resto do governo, uma corrida desenfreada por cargos, não existe ética, princípios,  cada um quer saber de si. Nesse sentido trabalhamos num projeto para consertar essa encrenca, mas é muito difícil, um Secretário tem que estar comprometido também com a instituição, tem que se extirpar a política da Polícia, acabar com esse negócio de vereador, prefeito, deputado perseguir policiais... (Felipe)
  • Mas para mudar isso é muito difícil...(Saulo)
  • É!

(...)”.

Depois que deixei o evento social e já estava me dirigindo para minha residência fiquei pensando na conversa que tive com Saulo, o que me encheu de esperanças, sabia que existiam pessoas que poderiam dar o seu melhor pela nossa causa, pelo fim de uma “polícia” de governos e na luta por um modelo de “polícia de Estado”, em defesa da sociedade...

Deu na coluna do Moacir Pereira:

Reajuste

O novo secretário da Administração (sic), promotor de Justiça Luiz Carlos, estava indignado ontem com a notícia de que o governador Paulo Afonso tinha assinado decreto reajustando os salários de policiais civis e militares, com aumento de 28 milhões de reais nas despesas da folha. Comunicou  o fato ao novo procurador geral de Justiça Walter Zigelli (sic), e ao novo secretário da Administração, Ubiratam Rezende. Além dos aspectos legais, Carvalho constata: ‘O governador quer inviabilizar o Estado’. 

Segurança

O  delegado de Polícia Evaldo Moretto é o novo Delegado-Geral de Polícia da Secretaria de Segurança Pública. Foi escolhido pelo futuro secretário Luiz Carlos de Carvalho. Com 27 anos de serviços prestados à pasta, entrou no serviço público como agente de polícia. Luiz Carvalho pretende um trabalho integrado e mais eficaz entre as Polícias Civil e Militar do Estado, a partir de janeiro do próximo ano.

(O Estado, 22.12.98, pág. 02)

“Evaldo Moretto: experiência na PC”:

E na página de polícia, uma foto de Moretto (passando a mão na cabeça e sobre ela a frase acima):

Secretário anuncia o novo Delegado-Geral

O futuro secretário da Segurança Pública, promotor de Justiça Luiz Carlos Schmidt de Carvalho confirmou ontem o nome do novo Delegado-Geral da Polícia Civil: trata-se do delegado Evaldo Moreto, 49 anos, natural de Nova Prata (RS) e atualmente lotado na Corregedoria Geral da Polícia Civil.

O novo Delegado-Geral está há 27 anos nos quadros da Polícia Civil. Iniciou sua carreira em Lages como agente policial. No início da década de 70 formou-se em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e prestou concurso público para a carreira de delegado de polícia. Já trabalhou em várias comarcas do estado. Desempenhou também as funções de Delegado Regional de Polícia de Lages, Itajaí e São José. Foi Diretor de Polícia do Interior e no período de 1995 a 1997 exerceu o cargo de Delegado-Geral da Polícia, na gestão da secretaria  da Segurança Pública, Lúcia Maria Stefafonovich.

Evaldo Moreto assume a Delegacia Geral da Polícia Civil no próximo dia 1° de janeiro. Ele  pretende manter a política de integração entre as polícias civis que compõem o Codesul, além de buscar a valorização do policial civil. Outro nome já confirmado na estrutura da segurança pública é o do delegado Paulo Koerich, de Blumenau, que deve assessorar o secretário junto ao gabinete.

(‘O Estado, 22.12.98, pág. 14)