Data: 22.12.98, horário: 15:00 horas:

E resolvi ligar para o Mário Martins, Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Santa Catarina (Adpesc):

  • Alô!
  • Mário é o Felipe.
  • Tu tá bom?
  • E daí, mais alguma novidade?
  • Eu falei contigo ontem, tu já sabes...
  • Sim falastes...
  • Mas foi antes ou depois de eu ter falado com o Secretário?
  • Acho que foi antes.
  • Ontem a tarde ele me chamou e falei com ele, o nome do Moreto já estava indicado e ele disse que tinha dificuldades quanto a nomes, até me arrependo de ter contestado o nome do Moreto, mas quando ele disse que tinha dificuldades de nomes eu falei para ele que dificuldade quanto a nomes na Polícia Civil não existe. Eu poderia dar a ele uma relação de nomes aptos assumir o cargo de Delegado-Geral e que o Moreto representava a administração anterior. Eu disse que ele ficou três anos no cargo na atual gestão, até diminui para um ano o tempo que ele deixou o cargo. O Secretário trabalha com estimulação, ele começa o assunto e depois deixa tu falando, mas eu já sei como é que funciona isso, disse que tinha um Felipe Genovez, um Wilmar Domingues, um Mauro Dutra, todos  em condições de serem nomeados, mas então eu disse que pelo menos para o cargo de Corregedor-Geral que é quem substitui o Delegado-Geral eu tinha um nome que era o Felipe Genovez, não sei se fiz bem?
  • Bom Mário isso é uma indicação tua, eu não tenho controle sobre o teu julgamento, que deve ser respeitado, já que isso partiu de ti.
  • Claro, mas eu até queria te pedir reserva quanto a isso que estou te falando, sei que posso conversar contigo, o Moreto me decepcionou, não é que ele saiu por aí pedindo apoio de diretórios do PPB, partidos e de políticos para obter a indicação para o cargo de Delegado-Geral, tu sabias disso?
  • O quê? Mas eu pensei que tinha sido só a maçonaria?
  • Sim. Eu também Felipe Genovez, agora tu vê, uma pessoa como ele que já teve a época dele, que deveria saber o seu lugar, deveria dar vez a outros,  me faz um papel desses para voltar ao cargo, pode uma coisa dessas?
  • Olha foi uma surpresa, eu sinceramente não sabia disso.
  • Eu disse para o Secretário: “Mas Secretário como é que um homem que dizia estar cansado, que não aguentava mais o cargo, como  é que ele pode agora querer voltar?”
  • É, essa daí eu também não entendi, ele se fez de morto talvez.
  • Eu briguei com o Julio...
  • O quê?
  • Sim. Briguei com o Julio ontem,  telefonei para ele, nós somos colegas de turma e eu disse para ele: “Júlio Teixeira o teu lugar é em Rio do Sul, trata de arrumar um cargo  por lá para sair candidato a Prefeito”, é a única alternativa que ele tem de se manter vivo, pois mesmo que ele não consiga a Prefeitura ele depois pode sair candidato novamente a deputado estadual. Eu disse para ele: “larga isso de querer cargo aqui na Capital, o teu lugar é lá, onde tem voto” e vai acabar ele ainda tendo que disputar a Delegacia Regional.
  • É Mário o problema é que se ele for o Secretário Adjunto temos um Secretário do Ministério Púbico neutro, um Julio só para decoração e um Heitor Sché ocupando espaços na Delegacia-Geral. No final das contas vai ficar o Julio e o Heitor se batendo por espaços dentro da Polícia Civil,  enquanto o Secretário e a Polícia Militar ficam assistindo tudo de camarote, e nós como é que vamos ficar, heim?
  • É verdade, mas tu me entendesses? E no final eles dão um chute no Julio,  mandam ele embora e ele vai ter que disputar é a Regional lá de Rio do Sul, vê que situação?
  • Bom Mário, eu não estou disputando cargos, mas o que a gente vê é essa corrida desenfreada desse pessoal.
  • É a dança das cadeiras, o Secretário está lá com uma lista de duas páginas com nomes.
  • O quê?  Eu já conheço isso, já vi esse filme antes.
  • É Mário, ele está na fase de analisar nomes...

(...)”.

E finalizei a conversa com Mário pedindo uma força para manter Wildemir,  filho do Arno Vieira (Comissário aposentado e companheiro na luta que travamos na Fecapoc, quando da minha gestão como presidente), no cargo de mestre na Penitenciária de Florianópolis. Mário Martins estava filiado ao PSDB e a Pasta da Justiça ficou com os “Tucanos”. Mário se comprometeu de ir comigo até o ex-Deputado Kuster para conversarmos sobre o assunto.

Depois dessa nossa conversa lembrei o que Jorge Xavier havia me dito no nosso último contato, isto é, que Mário Martins estaria querendo só fazer média comigo ao dizer que tinha indicado meu nome para o Secretário Carvalho. Jorge Xavier quis me dizer que na verdade o que o Presidente da Adpesc quis fazer foi mais um serviço de “maquiagem” e pura “maquinação”. Eu, sinceramente, não estava acreditando nisso, mas seria possível que o meu  amigo de faculdade, colega de curso na Acadepol no ano de 1977, companheiro de Delegacia de Costumes e Menores quando iniciamos juntos nossos exercícios na Polícia Civil... seria capaz de tamanha proeza? Sim, é  certo que o poder transformava as pessoas, antes crianças e depois... e, a parte triste dessa história é que nunca mais voltam a ser o que já foram... Esses questionamentos passaram a me preocupar. Porém, entre o sim e o não, preferia dar o benefício da dúvida e acreditar na nossa amizade antiga, pois se dependesse de mim certamente que não o decepcionaria.

Horário: 17:20 horas, “Pandarecos”:

Estava na Delegacia-Geral da Polícia Civil e resolvi dar uma chegadinha até a sala do Escrivão Osnelito. Logo que acessei o andar térreo, primeiramente, Gloria – a telefonista – logo que me viu chegar deixou escapar esta: “Pensei que o senhor seria o nosso Delegado-Geral”. Respondi que não e que tinha gente mais forte na minha frente, depois chegou Osnelito meio cambaleante e com seu jeito “de vagar”:

  • Oi!
  • E daí Osnelito?
  • Foi uma surpresa o Moreto ser escolhido, como é que pode um homem desses voltar, ficou tudo a mesma coisa, não vai mudar nada!
  • É “Lito”, então você também vai ficar no cargo? Se não vai mudar nada...
  • Não, eu não! Ele não gosta de mim, quis até me tirar, na época que ele foi Delegado-Geral isso daqui estava tudo bagunçado, não tinha disciplina,  estava tudo em “pandareco”.
  • Mas é o jogo do poder, parece que houve influência da maçonaria, e também porque ele se mexeu, segundo consta disseram que ele foi atrás de apoio político aí pelo interior do Estado.
  • Não sei, foi?
  • Bom, foi o que me repassaram.
  • Outro dia o Cechetto esteve aqui e sentou bem aí, saiu com os ouvidos ardendo, ele quis defender a Academia e eu disse umas coisas para ele,  não tenho nada a perder mesmo e vou botar a boca, não tenho nada a perder, são tudo uma cambada de cretinos, de safados, eu disse para ele que esses concursos sempre foram manipulados, eles sempre passaram quem eles quiseram e eu perguntei por quê que eles não me colocaram lá dentro?
  • Osnelito, já tô de saída, dá licença.
  • Não, espera aí, e como é que vai ficar a tua situação? Agora eu até concordo que tu deves mesmo é ficar na tua, eu não sei o que será de mim.
  • Não estou pleiteando cargos, lembra quando eu te disse para rezar que o nosso grupo chegasse ao poder, justamente porque nós temos um projeto para a Segurança Pública, para as Polícias, éramos uma esperança para aqueles que querem uma instituição melhor e não o continuísmo. Não adianta querer aceitar “carguinhos” se não se tem um ideal porque se lutar, valeria a pena “Lito”? Se eu aceitasse como iriam me julgar?

(...)”.