Data: 22.12.98, horário: 09:00 horas, “O Estilo ‘Negão’”:

Naquela manhã já estava demorando para ligar pois sabia que a qualquer momento Jorge Xavier estaria esperando o meu contato para saber dos  resultados:

  • Alô!
  • Ô Jorge, que coincidência, eu já estava para te ligar.
  • É mesmo, quando?
  • Agora, falei com o Júlio.
  • Quando? Hoje? Ontem?
  • Foi ontem à noite, já era quase de madrugada e nem quis ligar para te dar um retorno, já era muito tarde.
  • Mas e daí?

(...)

Fiz um relato sucinto da conversa que tive com Julio Teixeira:

  • Cosmético? Engraçado esse termo. (Jorge)
  • É, foi esse o termo que o Julio usou.
  • Mas o que quê é isso, o Moreto Delegado-Geral, mas ele é o PMDB.
  • Não sei, lembra que ele trabalhou conosco no governo Kleinubing, foi teu Diretor de Polícia do Interior.
  • Mas lá foi diferente, nós é que o aproveitamos.
  • Mas ele foi Delegado Regional de Lages na época do Heitor, lembra?
  • Como é que pode e a situação do Julio?
  • Ele disse que é noventa por cento que vai ser o Secretário Adjunto e nós dependemos disso agora, temos que continuar nessa condição de expectadores.
  • Eu acho que esse foi o nosso grande erro, ficamos o tempo todo esperando sermos lembrados e agora tá nisso, eu acho que é hora de nós colocarmos um terno e irmos até o Celestino Secco.
  • Para quê isso Jorge?
  • Ora, temos que pedir explicações, como é que pode uma coisa dessas, o que vai acabar acontecendo é tu ficares como “assistente jurídico” e eu fico ainda sobrando, é isso aí.
  • Olha Jorge tu já sabes como o que eu penso disso tudo, não vou decidir nada fora do nosso grupo.
  • Mas não é isso Felipe. 
  • Falei com o Ademar ontem e ele parecia muito seguro, entreguei um exemplar do meu Estatuto Anotado, na verdade ele veio sondar o ambiente depois que o nome do Moreto foi sacramentado.
  • Sim.
  • O Moretto é muito ligado ao Ademar, ele veio perguntar onde é que estava escrito que o Corregedor-Geral tinha que ser Delegado Especial, disse que tinha conversado com o Bahia.
  • Cruzes, mais isso todo mundo sabe quem tem que ser.
  • Pois é, mas onde é que está escrito isso? O Bahia teria dito para ele que tinha um decreto, mas não disse o número, então ele veio me perguntar,  acho que estão querendo colocar um Delegado de Quarta e o Ademar é contra isso, talvez seja alguma indicação política.
  • Mas o Ademar veio perguntar isso para ti? Não é ele que sabe tudo, que é o professor?
  • Ah, Jorge, pára! Não é bem assim, ninguém sabe tudo, a gente vive aprendendo, são tantas informações e ninguém pode saber tudo, né? Mas eu falei que era no antigo regimento interno da Polícia Civil.
  • Ah, sim!
  • O Mário disse que conversou com o Carvalho e ponderou sobre a indicação do Moreto era complicada porque trabalhou no governo anterior e que com ele viria o pessoal da velha guarda. Ele disse que indicou o meu nome para o cargo de Delegado-Geral.
  • Ele fez isso? Não acredito!
  • Pelo menos foi o que ele disse, eu acredito até pela nossa amizade, e. que motivos ele teria para me dizer isso, se preocupar com a minha situação?
  • O que ele quis fazer foi média, ele sabe que tu tem cacife para pegar um cargo.
  • Ele não precisa disso Jorge, não o Mário!
  • O quê? Do jeito que ele está desacreditado.
  • Bom, não vou questionar.
  • Se nós não formos aproveitados eu vou até o Palácio e vou dizer poucas e boas para o Amin, onde é que já se viu uma coisa dessas, pensam que a gente é palhaço e vou dizer para eles que num mais me procurem, não quero mais saber de planos de governo, de política, acabou!
  • Jorge não é bem assim, calma!
  • Não Felipe, é isso mesmo, onde é que já se viu fazerem uma coisa dessas,  o nosso azar foi o Julio não ter conseguido se eleger, se eu soubesse que o Gervásio estava naquela reunião, eu que trabalhei adoidado para ele,  meu Deus!
  • É, eu só não sei se era o Gervásio Maciel ou o Gervásio Silva, mas acho que era o Silva, mas Jorge se tu quiseres a gente pode tentar falar com o Julio, o que tu achas?
  • Eu acho que é muito bom, eu só não sei se devemos ir só nós dois ou levar alguém mais?
  • Não sei Jorge, acho que só nós dois ...
  • Tá bom, tá bom Jorge!
  • É, assim a gente fica mais a vontade porque eu quero dizer algumas coisas para o Julio e se for alguém mais já fica difícil.
  • Tudo bem, deixa que eu faço contato e depois eu te dou um retorno.
  • Vê se marca para às dezessete horas porque eu tenho a tarde de hoje muito cheia.
  • Tá certo, depois te dou um retorno.

"Inclusive?"

Depois de encerrar a ligação com Jorge Xavier, diante da sua exaltação, na verdade, por mais que eu nutrisse uma boa amizade com Mário Martins,  a gente nunca sabia o que estaria acontecendo nos bastidores... O Delegado Mauro Dutra era da diretoria da Adpesc e Mário Martins era muito ligado ao Gabinete da Secretária, ao Lourival, ao Thomé e depois, tem o fato que seu filho também ingressou na Polícia Civil no último concurso polêmico e parecia esquisito o Secretário estar ouvindo o Presidente da Adpesc naquela altura do campeonato, sobre a indicação de nomes para cargos e me perguntei se realmente teria falado a verdade, se estaria disposto a defender o meu nome,  inclusive...? Só o Mário mesmo para confirmar isso um dia...não agora!