Data: 21.12.98, horário: 23:45 horas, “A Dança Endiabrada das Autoridades e o Triunvirato:

Já estava recolhido na minha residência e apesar de ser tarde resolvi ligar para Julio Teixeira, já que não me ligou e eu queria registrar os acontecimentos. Além disso Jorge Xavier já deveria estar bastante ansioso aguardando um retorno: 

  • Alô!
  • É da residência do Julio?
  • Sim. Quem deseja falar com ele?.
  • É o Felipe, ele está?

 E antes que eu pedisse para chamá-lo, do outro lado da linha aquela que deveria ser a sua esposa se adiantou... A seguir, do outro lado ouvi uma voz fraca e sonolenta dando sinal de vida:

  • Alô!
  • Julio é o Felipe.
  • Fala Felipe!

Era sempre assim, essa era uma característica do ainda deputado que por atender muita gente e como seus contatos eram exponenciais, toda vez que atendia alguém, dependendo do nível de importância do interlocutor, ele poderia começar de meio desligado a turbinado, de qualquer maneira, na medida em que o assunto prospera ele vai para a se animar e exaltar, porém, o início da conversa parecia sempre um desafio:  

  • Estavas dormindo?
  • Tudo bem, tudo bem!
  • Te tirei da cama, eu sei, também olha a hora que eu fui te ligar, mas tinha telefonado antes para ti e não tinhas ainda chegado.
  • É, acho que foi a empregada, não me deram o recado.
  • Não. Foi um amigo do teu filho que estava por aí.
  • Ah, bom, pode ser.
  • Mas Julio, como é que estão as coisas, não te liguei mais, estava viajando.
  • É, a coisa está desse jeito, era uma coisa, e teve um encaminhamento que não era bem o esperado, mas ...
  • O Moreto então é o novo Delegado-Geral?
  • É!
  • Tu participasses da reunião na sexta-feira?
  • Sim, quase que brigamos, o Heitor colocou o nome do Braga, ele queria porque queria que o Braga fosse o Delegado-Geral e daí apareceu o nome do Moreto. Não sei como, eu intervi e aí o Paulinho, não sei bem, disse que eu poderia ser o adjunto da Secretaria de Justiça, brincadeira! Eu disse a ele: “Paulinho o teu pai me conhece bem, me convidou até para assumir uma assessoria no senado...”, mas o negócio não é cargo.
  • É.
  • Fui um otário, quisera eu que tivesse dois processos de impeachment, fui um tolo, nunca mais vão me pegar nessa!
  • Mas Julio, essa situação do Moreto acho que foi coisa da maçonaria, não sei se tu te lembras do Narbal, aquele nosso colega de turma que é da Fazenda?.
  • Sim, claro que lembro,  claro!
  • Pois é, um tempo atrás eu encontrei o Narbal que me disse que quando era Superintendente da mesma Loja Maçônica que estava o Moreto, isso em 1994, foram eles que o ajudaram a chegar ao cargo de Delegado-Geral, foi decisiva a intervenção deles e agora parece que o filme se repetiu, e não sei se esse negócio de indicar o Braga não foi uma forma de jogar um primeiro nome na fogueira, mas já estava tudo acertado, foram queimando nomes...
  • É, então o filme é o mesmo, repetiram, com certeza!
  • E deu certo, acho que foi isso mesmo que aconteceu agora. Hoje falei com o Mário e ele estava querendo que eu tentasse reverter esse quadro, disse a ele que não estava pleiteando cargos. Ele até falou que tinha indicado o meu nome para o Secretário, para o “Carvalho”.
  • É, na reunião de sexta se trabalhou nomes, eu fiz indicação, mas a coisa teve um encaminhamento difícil, o Heitor não concordava com nada, tudo que eu apresentava ele dava contra.
  • Pois é, essa reunião está famosa, dizem que está todo mundo comentando e a tua situação como adjunto?
  • Está bem, eu estou em contato direto com o “Carvalhinho”, ainda hoje falei com ele, tem me telefonado todo dia, na indicação dele o Esperidião me ouviu, não sei se tu sabes, eu tinha indicado o Napoleão?
  • Sim, mas o Napoleão parece que não aceitou.
  • Sim, ele não aceitou, para nós era o melhor nome, mas tudo bem.
  • Escuta, qual é o perfil político do “Carvalhinho”?
  • Como assim?
  • Ele é de linha dura, um democrata, é  radical?
  • Ele é bom, eu acho que vamos ter uma agradável surpresa com ele, na verdade ele quer currículo, já foi secretário de Estado da Administração e o negócio dele é chegar a Procurador de Justiça, quer ser o Procurador-Geral de Justiça, quer suceder o Albertom.
  • E tu achas que tu tá garantido como Secretário Adjunto?
  • Sim, o Amin telefonou, disse que queria me homenagear, veio novamente à tona àquela situação... A Polícia Militar voltou para a Secretaria de Segurança e o Backes estava pleiteando o cargo de Secretário Adjunto para eles, e numa dessas eu tenho que fazer valer  o meu passado dentro do partido, meus vinte mil votos, a minha situação como adjunto já está praticamente acertada, é noventa por cento.
  • Que bom!
  • Só que eu espero não estar lá com asas cortadas, tu entendes, se for assim não serve.
  • Mas e o Moreto? Como fica a situação dele? E os cargos lá na Delegacia-Geral?
  • O Moreto é mais cosmético, cosmético e ele não vai colocar ninguém.
  • Será?
  • É sim!
  • Mas como é que ele me aceita uma situação dessas?
  • Olha Felipe numa dessas conversas que eu tive com o “Carvalhinho” eu falei do projeto e ele não tem como implantar aquilo sozinho, vai precisar de gente.
  • Tu chegasses a falar pessoalmente sobre o nosso projeto?
  • Sim, inclusive, nominando as pessoas que subscreveram o material.
  • E ele? Será que vai ter algum interesse nisso?
  • Sim.
  • Mas Julio tu acreditas ainda no nosso projeto?
  • Sim.
  • Que bom! Só que eu tenho sérias dúvidas, com essa corrida por cargos,  tem Delegados Substitutos pleiteando Delegacias Regionais, não sei...
  • É...
  • Mas de qualquer maneira, o grande desafio que tu tens é voltar em dois mil e dois para a Assembleia Legislativa e isso passa pela Secretaria de Segurança e pela tua região lá em Rio do Sul.
  • Sim!
  • E no caso do Moreto como Delegado-Geral a coisa fica um pouco difícil porque dos Delegados Especiais que eu saiba o único que te apoiou fui eu?
  • Sim, eu sei disso  e eu trabalhei nomes.
  • Mas é isso Julio, qualquer coisa a gente se fala.
  • Tá bom Felipe, vamos aguardar as definições, pode ficar tranquilo, tem coisas que nos precisamos conversar pessoalmente, depois nós vamos conversar, tá bom Felipe, um abraço.
  • Outro.

“Muito Trabalho e  Mesa Farta”:

Já era passado da meia-noite e fiquei pensando no “triunvirato”, a começar pelo Secretário “Carvalhinho”, uma figura  independente, sem partido... Depois, nosso Julio Teixeira se fosse confirmado como Secretário Adjunto, certamente que iria querer ocupar espaços políticos, tendo que acertar situações de seu pessoal. Do lado do Heitor Sché havia um canal com “Moreto”, um homem de confiança e disposto a servir, até pela sua condição de parlamentar... Certamente que a gestão “Carvalhinho” não iria ceder muitos espaços, além do que seriam gerados uma série de impasses em razão de projetos (ou não),  cuja repercussão era imprevisível, a começar pelas nomeações para os cargos comissionados. Além disso, com “Moreto” poderíamos ter nomes ávidos por cargos, talvez Ademar Rezende, o próprio Braga, Sell... E como ficaria a instituição e nosso “Plano” no meio desse tiroteio? Bom, do lado da Polícia Militar espera-se muito trabalho e a mesa farta...