Data: 06.11.98, horário: 09:45 horas:

Ao deixar a “sala de reuniões” da Delegacia-Geral para me dirigir até o andar térreo para um cafezinho fiquei pensando que nos últimos dias Guinevere estava mais simpática comigo. Ela procurava me cumprimentar com um olhar e sorriso discreto, isso sempre que me via chegar, sem mais deixar aquele seu jeito tenso e carregado, agora parecia mais solta, se bem que não deixava para trás aquele seu ar de autoconfiança que ficava na superfície. No meu íntimo tudo aquilo que compunha aquele ser belo poderia ser creditado ao  seu senso de profissionalismo e a vontade de dar sentido as coisas que fazia. Logo imaginei que Rita merecia um desconto nas suas considerações ácidas. Na verdade Guinevere era muito comprometida e competente, não se misturava e era discreta, falava com atitudes,  o que poderia incomodar muita gente. A bem da verdade imaginei que pudesse haver um choque cultural e social muito grande entre ela e os outros. Mas essa clivagem como ser social, seus matizes que se alternavam sem perder a sensibilidade, a sua visão multifacetada sem perder o seu foco, o ecletismo interior e sua sensibilidade percebida no ar e nas frações de seus movimentos, eram  condições imanentes à condição humana superior, o que transformava em silencia a vida em um desafio constante,  de superação e evolução e uma beleza infinita.  Pena que as pessoas nesse processo sofrem muito, se perdem, apenas sobrevivem os fortes,  mas isso também faz parte de todo esse complexo que é viver e não pude deixar de lembrar minha tia que dizia: “O tempo vence os campeões”.

E logo que estou tomando o primeiro gole de café fui surpreendido pela telefonista:

  • Doutor Felipe o doutor Jorge telefonou, quer falar com o Senhor.
  • Obrigado Gloria!

Horário: 09:50 horas:

Jorge Xavier queria saber das novidades e avisei que havia recebido o recado da  telefonista, sendo que meu celular estava desligado. Relatei a conversa que tive na noite anterior com Julio Teixeira e que não tinha nada definido ainda:

“(...)

  • Não te esqueces da reunião na segunda-feira, é às dez horas? (Jorge)
  • Sim.
  • Conversastes com o Garcez para ele ir?
  • Sim Jorge, inclusive, na última reunião ele esteve lá, só que chegou atrasado e desistiu.
  • Ele esteve lá?
  •  Sim. Quando é que a gente vai se reunir novamente? Não é hora de convidar o pessoal do nosso grupo?
  • Não, a gente se reúne lá,  na segunda-feira, depois da reunião e faz um balanço, oka?.
  • Mas então tá bom Jorge, a  gente se vê lá!
  • Certo.

Fiquei imaginando reunir o pessoal na resistência de Jorge como fazíamos na época do Candeias. Pensei que o importante no nosso grupo era a formação de vínculos que transcendiam a busca do poder, mas que pudessem estreitar nossos vínculos de amizade duradoura e verdadeira, uma possibilidade de se descobrir afinidades e fomentar empatias, enfim, para que haja uma aproximação num sentido amplificado e não para satisfazer interesses voláteis, pontuais, sazonais...

Horário: 12:45 horas, “Onde há Fumaça há Fogo?”

Mais uma vez o jornalista Vanio Bosle em seu comentário político na Rede Record questionou o concurso da Polícia Civil. Afirmou que já tentou vários vezes contato com o Delegado-Geral Jaceguay Trilha, sem que o mesmo se dignasse a atendê-lo e arrematou:

  • Esse silêncio já começa a preocupar demais. e lembra aquele ditado: “onde há fumaça há fogo...”.

Horário: 19:30 horas, “Sem Registro”:

De passagem pela Delegacia-Geral encontrei Walter assistindo televisão .sentado junto ao balcão, como sempre, na parte interna, de maneira que só dava para ver a sua cabeça:

  • E daí Walter como é que vai o nosso guarda-chuva velho?
  • Só sei que tem aí dezesseis que vão viajar.
  • Viajar? Prá onde?
  • Parece que vão para Miami e o Trilha é que vai comandando a turma.
  • Ah é?
  • Mas parece que quem está muito forte é aquele Coronel da Polícia Militar... como é mesmo o nome dele?
  • Coronel Backes.
  • Isso.
  • Mas ele é muito amigo do Amin, da Angela...
  • O quê? O Amin e a Angela não suportam policiais militares.
  • Como assim? Com base no quê dizes isso?
  • Eu trabalhei com eles lá na Prefeitura, quando tinha que passar algum serviço para militar eles me chamavam e diziam: “Walter, deixa esses caras bem longe”!
  • Olha Walter, sinceramente, eu acho que você fez um juízo errado sobre eles.
  • Ah é? Vai ver.

E fui saindo com rapidez porque já era hora de bater em retirada. Fui  caminhando até a Trompowsky para me obrigar a dar aquela caminhada e sair da minha zona de conforto. No trajeto fui meditando sobre a devoção e admiração que Walter emprestava a Esperidião e a Angela. Agora já sabia de onde vinha aquela ligação afetiva, sim, porque trabalhou na Prefeitura diretamente com eles nos anos que foram Prefeitos da Capital.