Tudo indica que até o século XIX o comércio funcionava sem o uso exagerado de marketing, e existia mais moderação e equilíbrio nos negócios. Isto é, as pessoas compravam apenas os produtos que precisavam; não existia marketing forçando as pessoas a serem consumidoras. O uso do marketing como principal ferramenta do atual sistema é algo para se avaliar, com seus benefícios e prejuízos.

A industrialização, que num processo atenuado tinha proporcionado várias melhorias na vida dos povos, mudou o cenário quando entrou na fase de superprodução. Assim, problemas complicados e irreversíveis se instalaram, a exemplo de poluição do meio ambiente, destruição de recursos naturais e desequilíbrio de ecossistemas.

A produção demasiada, apoiada no poder da propaganda, e a influência dos meios de comunicação criaram a cultura de amontoar objetos desnecessários nos cantos de cada casa, exagero de roupas nos armários, e acúmulo de lixo nos arredores das cidades.

Os mecanismos de mercado para obter o maior lucro contribuíram na distorção de hábitos corretos e saudáveis até então aprendidos pelas gerações anteriores. Um exemplo é o estímulo de consumo de alimentos, muito maior do que o necessário. Pior que o abuso de consumo de alimentos é o desencadeamento de muitas doenças e outros males como obesidade, depressão e alcoolismo. Isso mostra o lado negativo de um sistema que aposta no consumismo e abastece o mercado além das necessidades reais da população.

O conceito original de trabalho consistia na prática de atividades que aperfeiçoassem as habilidades humanas e conseqüentemente produzissem as coisas que atendiam às necessidades ou realizassem serviços com o objetivo de promover o bem-estar das pessoas. Portanto, com a aceleração nos ritmos de trabalho, este conceito pouco a pouco tem sido mudado, e muitos dos princípios já consagrados durante milhares de anos sobre a ética do trabalho foram abolidos. Nesse meio, a essência e o conceito original de trabalho perderam a sua importância para as novas gerações.

Isso aconteceu, justamente porque o planejamento das organizações atualmente se concentra na operacionalização das metas mirabolantes de aumento de produtividade e lucro. Até os programas de capacitação de recursos humanos têm como principal preocupação o “aumento da produção”. As empresas determinaram, como eixo principal, objetivos longe do conceito original de trabalho. A produtividade se tornou algo mais importante do que todos os outros parâmetros que a idéia de trabalho impregnava.

Por exemplo, no modelo atualmente estabelecido, as empresas fabricam até produtos fantasiosos, com uma única intenção: a de vender ao maior número possível de pessoas, com mero objetivo de aumentar o lucro.

O que se observa é que muitos destes produtos não têm utilidade relevante, ou até podem ser prejudiciais, a exemplo de certos produtos alimentícios. Os fabricantes tentam vender tais produtos através da força de propaganda.

Foi criada ainda uma corrida sem precedentes atrás de tudo que possa ser traduzido como ganho. Um dos exemplos mais flagrantes de distorção nos rumos de empresas, em busca de ganhos imediatos, é quando estas sacrificam os recursos naturais que pertencem a inúmeras gerações do futuro; mesmo assim, agem muitas vezes contra a sua própria geração, como por exemplo, na fabricação e no comércio de produtos tóxicos e armas.

Do livro “Trabalho e o Reencontro de Interesses” da autoria de Felora Daliri Sherafat