Apresentação 

            Este trabalho visa levar ações educacionais e culturais aos alunos não só em relação à escola, mas ao que diz respeito à memória da cidade. Especificamente o nosso projeto por ser interdisciplinar espera promover ações educacionais que envolva o patrimônio como um todo, visando preservar a memória do local onde se vive. Através de um trabalho interdisciplinar que conta com a participação de profissionais de todas as áreas do conhecimento, ou seja, todas as disciplinas; almejamos despertar a consciência dos alunos para a valorização do Patrimônio. O projeto conta com vários enfoques com o objetivo de construir conjuntamente com os alunos e consequentemente com a população olhares sobre o “seu” patrimônio; desta forma, este trabalho irá focar uma destas facetas, a Memória. A memória nos confere identidade, e uma pessoa ou localidade é composta por seu presente e passado. Assim, os patrimônios materiais e imateriais constituem-se em fragmentos de memória, e ao observarmos o que uma dada sociedade elege como representação do seu passado, podemos tentar compreender a identidade social que esta localidade deseja que apareça, ou mesmo que fique obscura. Portanto, esta pesquisa pretende demonstrar um breve olhar sobre o Projeto Educação Patrimonial, destacando a questão da memória e quais as metodologias aplicadas para a compreensão da sociedade.

            O termo educação patrimonial designa atualmente ações, projetos e programas que têm por finalidade promover o conhecimento sobre o patrimônio cultural. Portanto, aspiramos desenvolver este projeto tendo em mente que os educadores e órgãos de proteção ao patrimônio e memória têm que garantir que a identidade da população seja preservada e compreendida, evitando o que os historiadores chamam de silêncios da história. Devemos salientar que a compreensão da memória é tão essencial para o homem, sem o referencial do passado nos sentimos pedidos e incompletos. Contudo, é um trabalho complexo reconstruí-lo e mensurar qual sua importância, a memória é um movimento pendular que remete ao passado e projeta o futuro.

            Neste sentido, almejamos despertar nesse projeto um olhar mais demorado destinado ao patrimônio particular de cada estudante, que este venha a repensar sua identidade e sua função enquanto cidadão perante a sociedade. Como podemos perceber em relação à memória não pode ser desvinculado às questões políticas e sociais, pois olhando por este ângulo, o que a história deve preservar, muitas vezes é eleito por órgãos vinculados à política que selecionam sem uma preocupação de consultar a população.

            Além disso, a massificação da educação, em detrimento da qualidade, impossibilita uma conscientização voltada para a compreensão que levaria o estudante brasileiro a construir sua própria identidade coletiva cultural. Desta forma, é uma luta constante dos educadores para criarem projetos que integrem alunos com suas comunidades, para que haja uma possibilidade de ensino e entendimento mais abrangente de sua cultura e história. Por meio da articulação do patrimônio memorial com ações educacionais, pretendemos compreender as diversas vozes sociais e suas memórias, com o intuito de legitimar identidades. Desejamos aqui, uma exposição de experiências de um imaginário popular que tentaremos decodificar e demonstrar para constitui um patrimônio cultural. Neste sentido, procuremos desenvolver com os alunos uma consciência patrimonial, que é um elemento fundamental para a manutenção/transformação de poderes, sendo           essencial na constituição de uma prática cidadã efetiva.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                   

 

 

 

 

Descrição

 

 

            A pesquisa será desenvolvida inicialmente com dois roteiros pela escola, que reunirão o patrimônio religioso (com enfoque na diversidade) e o patrimônio dos principais ofícios (que estão se perdendo devido à rotina moderna). O produto final serão um folder informativo dos roteiros constando histórico e localização para visitação, está incluso no projeto que promoveremos visitações guiadas pelos roteiros.

            Por fim, serão realizadas oficinas de Educação Patrimonial com pessoas de três instituições diferentes, sendo localizadas em áreas bem diferenciadas da cidade para abarcarmos a diversidade desses setores. Pretendemos ministrar 08 encontros de aproximadamente 02 horas com o envolvimento dos professores das escolas. Ao montarmos a estrutura dessas oficinas nos concentramos nas seguintes temáticas:

  • História de Vida/Bairro;
  • Memória e Identidade;
  • Memória e Patrimônio;
  • História e Cidadania;
  • Herói Histórico;
  • Montagem do Painel e Exposição.

            Esses tópicos serão trabalhados através de dinâmicas dentro de sala de aula, além de outras atividades extraclasse, como entrevistas com a população, para aproximar os estudantes de sua realidade, permitindo que eles próprios possam elaborar sua visão de patrimônio.

           

 

 

 

 

 

 

 

 

Metodologia

 

Análise de observação

            Exemplo, perguntar aos alunos o que entendem por patrimônio e as respostas, com certeza, serão bem interessantes: “É algo de valor”, “É o que se deixa de herança”, “É da pátria”. É importante, Considerar todas satisfatórias como ponto de partida, porque nesta etapa do trabalho interessa deixar com que se movam livremente em torno do conceito, realizando articulações com suas experiências de vida e observar as contextualizações que os alunos fazem para o vocábulo patrimônio. Serão apresentados aos alunos dispostos em roda, objetos ou imagens que registram bens culturais materiais e imateriais e bens naturais enumerados: fotografia de edificações e paisagens, pinturas, artesanato, instrumento musical, etc. Durante o contato sensorial dos alunos com os objetos dispostos, pedir que façam um registro bem simples:

- Para vocês, quais destes objetos e imagens podem ser considerados patrimônio?

- Descreva o objeto ou imagem em uma palavra

- Você se lembra da história da cidade?

- O que mudou nos dias atuais?

- Havia algum patrimônio que não existe mais?

- Quais as festas, lendas e histórias que seus pais e avós contavam?

- O entrevistado possui fotos antigas da cidade? Quais?

- Você se lembra da história da cidade?

- O que mudou nos dias atuais?

- Havia algum patrimônio que não existe mais?

- Quais as festas, lendas e histórias que seus pais e avós contavam?

- O entrevistado possui fotos antigas da cidade? Quais?

Por fim, e não menos importante, o professor poderá conduzir os alunos a refletirem sobre a escola onde estudam.

Como ela está estruturada?

O que eles podem fazer por ela?

Qual a história da escola?

            A partir da análise dos registros feitos pelos alunos, iniciar uma conversa a fim de trabalhar o conceito de patrimônio. Com certeza, haverá divergências entre praticamente todos os bens culturais e naturais quanto ao questionamento, mas isso é enriquecedor - Para vocês, quais destes objetos e imagens podem ser considerados patrimônio? Deverá recolher a tarefa de discutir sobre os bens que os alunos listaram. É importante que se destaque que bens naturais (como cachoeiras, matas e montanhas) e os imateriais (como o folclore e festas, por exemplo) também constituem bens de uma localidade. Não somente as construções antigas (como casarios) são partes do patrimônio.

            Portanto, é importante considerar a priori patrimônio, aquilo que faz parte das suas vidas, das suas histórias. Patrimônio é o legado que recebemos do passado, vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações. Mas para que isso aconteça, é importante a preservação. Mas a história não é feita apenas do bonito e do rico. Existe a miséria, as injustiças, as desigualdades, as violências, as guerras... Estes acontecimentos devem sempre ser lembrados.

            Passar um filme: Exemplo, O grande Tambor ou/e Narradores de Javé, seguido de debate. O Filme O Grande Tambor colabora no sentido de trabalhar o conceito de patrimônio enquanto discurso e perceber que investe-se de importância um objeto, lugar, conhecimento, ritual, modo de vida, festas, comemorações, personagem... Os vestígios do passado são selecionados pelas sociedades para lembrar o passado que estas escolheram e o sentido do passado está em disputa por diferentes atores sociais. Os alunos reconhecerão a importância da preservação, assim como da produção de outras memórias e sua análise.

Registro

            Serão realizadas saídas de campo com os alunos com o objetivo de fotografar os bens culturais escolhidos por eles como Patrimônio da Comunidade.

 

 

 

Apropriação

            Dedicada à montagem de um Painel de Educação Patrimonial com o material recolhido em pesquisa de campo. Os alunos poderão desenvolver a atividade da maneira que acharem melhor, isto é, utilizando o Power-point, criando um blog na Internet, fazendo colagens em cartolinas ou, ainda, amarrando barbantes em pilastras da escola e pendurando a pesquisa, criando uma espécie de “varal” do patrimônio. Sistematização das informações pesquisadas em um blog - espaço virtual de memória comunitária e de socialização da experiência pedagógica, intitulado: O Poder da Memória.  

 

Como trabalhar nas disciplinas

 

História

Cultura, memória, Cidadania, cultura contemporânea e Cidadania: diferenças e desigualdades.

Sociologia

Cultura e diversidade cultural

Artes

Artes visuais: diversidade cultural e interculturalidade

Geografia

Estrutura e dinâmica de diferentes espaços urbanos e o modo de vida na cidade

Matemática

Percentual e estatísticas dos eventos, espaços culturais, entre outros.

Outros

Conquista do lugar como conquista da cidadania

 

 

 

 

 

 

Recursos didáticos

 

  • Trabalho em grupos e individual
  • Lousa e giz
  • Cartazes
  • Data show
  • Internet
  • Livros e revistas (textos literários, artigos, projetos e monografias)
  • Fotografias
  • Filmes
  • Dinâmicas
  • Conversas informais
  • Debates
  • Mensagens
  • Entrevistas
  • Pesquisas de campo e literária

Recursos Complementares

Material de apoio ao professor:

- Revista Ciência & Letras. Revista da Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras. Dossiê: Educação e Patrimônio Histórico-Cultural. Porto Alegre: Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras, n. 27, jan./jun. 2000.

- Site da UNESCO: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/

- Site do IPHAN: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaInicial.do

- MORAES, Allana Pessanha de. Educação Patrimonial nas escolas: Aprendendo a resgatar o patrimônio cultural. Disponível em:

http://www.cereja.org.br/arquivos_upload/allana_p_moraes_educ_patrimonial.pdf

- Atividades de Educação Patrimonial:

http://proteuspatrimoniocultural.blogspot.com.br/2006/11/atividades-de-educao-patrimonial.html

http://mestradoconexoesmidiaticas.blogspot.com.br/2011/05/formacao-em-educacao-patrimonial.html

Vídeos sobre o patrimônio:

Propaganda do IPHAN, disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=xnPJh6OdRZY

Observação: No link do YOUTUBE, o IPHAN tem vários vídeos sobre patrimônio.

Ver, especialmente, a entrevista de Sônia Regina sobre Educação Patrimonial, para a TV UFOP.

1ª. parte: http://www.youtube.com/watch?v=sRikhvqt664

2ª. parte:http://www.youtube.com/watch?v=oLkJ31UvJw8&feature=endscreen&NR=1

Portal do Professor:

- Aula sobre patrimônio imaterial, disponível em:

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=24146

- Coleção de aulas sobre a temática, disponível em:

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaColecaoAula.html?id=408

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Abrangência

            Será realizada a análise de todo material apresentado, pesquisa de campo e literária, entrevistas, debates, trabalhos em equipe e individual, fotografias dos bens culturais da comunidade tiradas pelos alunos, entre outros. Realizaremos pesquisa em livros e na internet sobre a história dos bens registrados. A leitura do material encontrado será realizada de diferentes formas: leitura de livros em grupo, leitura de histórias pela professora, leitura oral pelos alunos e leitura de textos localizados na internet. Buscaremos responder a inúmeros questionamentos. Muitas das perguntas gerarão novos questionamentos, teorias erradas poderão ser formuladas e depois esclarecidas e algumas questões permanecerão sem resposta. Neste sentido, esta etapa do trabalho se mostrará um processo, sem fim. Continuaremos levantando dados, realizando entrevistas, buscando preencher as lacunas da história.

Fundamentação Teórica

O que é memória patrimonial

 

         Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural.

            O conhecimento crítico e a apropriação consciente pelas comunidades do seu patrimônio são fatores indispensáveis no processo de preservação  sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania.

            A Educação Patrimonial é um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo leva ao reforço da autoestima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural.

            O diálogo permanente que está implícito neste processo educacional estimula e facilita a comunicação e a interação entre as comunidades e os agentes responsáveis pela preservação e estudo dos bens culturais, possibilitando a troca de conhecimentos e a formação de parcerias para a proteção e valorização desses bens.

            A metodologia específica da Educação Patrimonial pode ser aplicada a qualquer evidência material ou manifestação da cultura, seja um objeto ou conjunto de bens, um monumento ou um sítio histórico ou arqueológico, uma paisagem natural, um parque ou uma área de proteção ambiental, um centro histórico urbano ou uma comunidade da área rural, uma manifestação popular de caráter folclórico ou ritual, um processo de produção industrial ou artesanal, tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expressão resultante da relação entre indivíduos e seu meio ambiente.

O porquê de trabalhar educação patrimonial

            A educação patrimonial está prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN- 1997 e 1998) para o ensino de história. Os Parâmetros são referências para reorientação curricular e constituem o eixo norteador da política educacional no país. Uma das qualidades do documento é justamente a questão da memória, a incorporação das histórias locais e no interior delas a educação patrimonial. Existe hoje no interior dos PCN’s esse salto qualitativo, resultado da luta dos professores que participaram da elaboração dos Parâmetros. Na descrição dos conteúdos obrigatórios para o primeiro ciclo do ensino fundamental, por exemplo, o eixo temático é a história local e do cotidiano. O professor é orientado a enfocar preferencialmente diferentes histórias do local em que o aluno vive. Segundo o texto do documento, o objetivo é que os estudos da história local ampliem a capacidade do aluno de observar o seu entorno para a compreensão de relações sociais existentes no seu próprio tempo.

            O cenário cultural em que vivemos hoje valoriza o novo, o amanhã, o futuro. Com isso, ocorre uma anulação da dimensão do tempo e um enfraquecimento do passado e do presente. A educação patrimonial possibilita iluminar as relações sociais e econômicas que deram origem a lugares, monumentos, símbolos com os quais convivemos. Ao mesmo tempo, o conceito de patrimônio deve ir além dos monumentos arquitetônicos, trazendo à tona histórias de vida. Segundo Bovério, o diálogo com o patrimônio tem que ser feito a partir do presente, de modo a trazer contribuições para nossa vida de hoje. As contribuições capazes de alargar nossas concepções de vida, incluindo as diferenças. É um exercício político que se faz na educação patrimonial. A cidade tem espaços onde a população marginal não adentra, como se houvesse muros invisíveis. O direito à cidade inclui o direito de questionar o caráter público que a gente vem imprimindo às nossas relações hoje, caráter este que no fundo não é público, é privado. Ainda que, apesar dos avanços presentes nos PCN’s, na prática de educação patrimonial nas escolas ainda prevalece uma visão que tenta modelar, instruir o aluno de cima para baixo, desqualificando os saberes tradicionais e sua experiência de vida.

            A educação patrimonial deve gerar multiplicadores e a escola é o canal mais efetivo para isso, porque envolve professores que repassam seu conhecimento para os alunos, que repassam o que aprenderam para suas famílias e para a comunidade, possibilitando alcançar grande número de pessoas. A escolha dos temas transversais obedece a alguns critérios. Um deles é a abrangência nacional, isto é, a eleição dos temas deve contemplar questões que, em maior ou menor medida e mesmo de formas diversas, sejam pertinentes a todo o país.

                A sociedade atual apresenta uma contradição ao se produzir o conhecimento referente ao passado, hoje grupos sociais com maior autonomia e direitos, passam a exigir à produção de sua história, desta forma, a preservação da memória. Contudo esta atitude leva a profissão da História a um paradoxo, quanto mais se exigem a construção histórica mais se estimulam a desprofissionalização da história. O descontentamento desses profissionais, que se consideram os detentores do sagrado direito de recontar a história, descartam tudo que não for historicizante, rejeitando inteiramente a memória dos grupos que não se inserem na perspectiva estabelecida pelos seus pares. O autor Pierre Nora é pouco otimista quanto a este panorama que se descortina para a História: “Não somente guarda tudo, mas conservar todos os signos indicativos da memória, mesmo se não soubermos exatamente de que memória eles são indicadores. Mas produzir arquivos é imperativo de nossa época...” (apud DECCA, 1992, p. 132)

            A história é filha de seu tempo e o conhecimento produzido é sempre carregado de significados e atos políticos. Assim sendo, para o pesquisador é fundamental estar consciente de que suas escolhas não são aleatórias:

No caso da memória, sua face de elaboração significa, também, uma exposição de virtudes em disputa, que constituem ou silenciam determinados temas com os quais o conhecimento histórico se relaciona muito intimamente. (SILVA,1995, p. 69)

            Devemos entender que memória e história são consciências divergentes, que a velha lembrança querida, envolta por sentimentos e de seleções particulares, para história e poluída de “inverdades”, que necessita pauta-la em fatos. Novamente colocamos as palavras de Nora:

A memória é a vida, sempre guardada pelos grupos vivos e em seu nome, ela está em evoluções permanente, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todas utilizações e manipulações, suscetível de longas latências e de súbitas revitalizações. A história é reconstrução sempre problemática e incompleta daquilo que já não é mais. A memória é um fenômeno sempre atual, uma ligação do vivido com o eterno presente; a história é uma representação do passado. (apud DECCA, 1992, p.130)

           

            Ao observarmos as palavras acima, é possível evidenciar a diferença entre a produção de locais de memória e a reconstrução da história, ambos são direitos sociais, porém dependem de perspectivas divergentes, cuidados devem ser tomados para que não sejam erradicados os vínculos entre os mecanismos historicizante e a memória coletiva. Uma das preocupações constantes no Projeto Educação Patrimonial se refere à questão da historicização da memória, compreendemos que suprimir a população do seu patrimônio levaria a teatralização da memória. Neste sentido, a confecção de dispositivos para relatar o passado depende primeiramente do envolvimento dos agentes sociais que constituem a identidade cultural.

            Portanto, não devemos solicitar à memória individual a que esta venha salvaguardar o conhecimento produzido pelo homem, graças à relevância que a memória coletiva adquire e aos novos “locais da memória”. Nesse âmbito, uma gama de pesquisadores se vertem sobre o passado, tanto elegendo o que deve ser “guardado” na memória como relativizando a noção da linearidade histórica pela pluralidade oferecida. Somos cientes, entretanto que a relação entre história e memória, embora pretenda contribuir para a preservação dessa última, confere uma contradição: o pretenso rigor disciplinar da história em sua especificidade, ao se debruçar sobre a memória acaba por desconstruir, tirar à áurea “mágica” e espontânea pré-existente. (GUARINELO, 1994, p. 181).

            A educação e a academia foram às instituições que mais contribuíram para criação dos espaços imutáveis de memória, que ratificam a conservação, mas “infelizmente” então envoltos em uma camada idealizada de “ranço”, seriam bibliotecas, escolas, arquivos, museus, entre outros. Locais ditos público, ou comuns para toda população e muitas vezes estão imensamente distantes deste público popular. Desta forma, para o autor Sergio Castanho (2004) a conjunção da memória individual e coletiva leva construção da identidade nacional – ou mesmo a identidade social. Somente assim, constituiriam um passado comum da sociedade, para finalmente a população eleger seus os espaços de memória em que se reconheceria.

            Vale salientar, porém, que há significativas alterações no que tange a memória quando levamos em conta os embates de gerações distintas pelo fato de que nenhuma cultura é estanque; aquilo que para as gerações mais antigas é digno de um espaço na memória, já não mais corresponde aos vivenciados pelos mais jovens.

            A memória é uma janela para o passado ou, em termos técnicos, a percepção interna. Marilena Chauí denomina a memória de “introspecção” e afirma que são: “as coisas passadas lembradas, o próprio passado do sujeito e o passado relatado ou registrado por outros em narrativas orais e escritas.” (CHAUÍ, p. 138, 2004)

            Na atualidade, encontramos inúmeros mecanismos de preservação de memória como: computadores, filmes, vídeos, fitas cassete, DVDs, livros, etc. Ou seja, a memória artificial é mais valorizada em detrimento da capacidade humana. Deste modo, há uma desvalorização do uso da memória humana, afinal as máquinas podem fazer isso por nós, e a sociedade é estimulada a preferir o “novo”, principalmente pelos veículos de comunicação através das campanhas publicitárias. A realidade econômica alimentada pelas indústrias e comércios impõe, por motivos de lucro, que o “novo” é indispensável. As consequências dessas ações para Chauí seriam: “A desvalorização da memória aparece, por fim, no descaso pelos idosos, considerados inúteis e inservíveis em nossa sociedade, ao contrário de outras em que os idosos são portadores de todo o saber da coletividade, respeitado e admirado por todos.” (CHAUÍ, 2004, p.140)

            Neste sentido, almejamos despertar um trabalho com um olhar mais demorado destinado ao patrimônio particular de cada estudante, que este venha a repensar sua identidade e sua função enquanto cidadão perante a sociedade. Como podemos perceber este debate em relação à memória não pode ser desvinculado as questões políticas e sociais, pois olhando por este ângulo, o que a história deve preservar, muitas vezes é eleito por órgãos vinculados a política que selecionam sem uma preocupação de consultar a população, levando à perspectiva de:

“(...) um processo de exclusão material e simbólico que privilegia apenas um tipo de patrimônio,favorecendo uma seleção de memórias e identidades, impossibilitando que classes populares se identifiquem materialmente, negando-se a possibilidade de construção ou confirmação de identidade.” (SILVIA apud MAGALHÃES, p. 7, 2005)

            Além disso, a massificação da educação, em detrimento da qualidade, impossibilita uma conscientização voltada para a compreensão que levaria o estudante brasileiro a construir sua própria identidade coletiva cultural. Desta forma, é uma luta constante dos educadores para criarem projetos que integrem alunos com suas comunidades, para que haja uma possibilidade de ensino e entendimento mais abrangente de sua cultura e história.

 

Avaliação

 

         A avaliação consistirá na análise do professor com relação à participação do aluno nas atividades acima propostas. Os professores avaliarão a capacidade do aluno na assimilação do conteúdo pelas atividades propostas ao longo das aulas, principalmente na realização da última atividade, que deverá ser feita com o auxílio do professor. Evidentemente que, as atividades e conhecimentos que envolvem a Educação Patrimonial não se esgotam aqui. O trabalho com o tema, às vezes, torna-se árduo e de difícil execução nas escolas. Seria ideal que o professor organizasse passeios aos principais monumentos da localidade e que pudesse, em conjunto com os alunos, recuperar histórias da cidade. Seria importante, também, os alunos conhecerem os patrimônios brasileiros.

            Portanto, pretende-se aqui, em termos gerais, observar que o projeto poderá ser edificado em vários enfoques, pois se trata de um projeto interdisciplinar, objetivando de forma geral, promover o direcionamento de novos olhares sobre o patrimônio em congruência não só na escola com na população; desta forma, almejamos debater uma das facetas desenvolvidas durante este trabalho, a Memória do lugar onde se vive. A memória confere identidade a uma pessoa ou localidade, é composta por seu presente e passado e não fica concentrada em um objeto, fazendo uma conexão entre a objetividade e a subjetividade do homem. Assim, os patrimônios materiais e imateriais constituem-se em fragmentos de memória, e ao observarmos o que uma dada sociedade elege como representação do seu passado, podemos tentar compreender a identidade social que esta localidade deseja que apareça, ou mesmo que fique obscura. No caso do projeto, ambicionamos lançar luz em um patrimônio que fica muitas vezes na obscuridade. Vejamos nas palavras de Cássia Magald:

Nas cidades brasileiras, ainda com maior força, as ideias de progresso e modernidade têm levado a uma sistemática destruição das marcas do passado. A sintomática ausência de preocupação com o problema e a virtual fragilidade dos órgãos públicos de preservação e planejamento urbano têm criado uma situação de extrema gravidade no que diz respeito à necessária convivência entre o “antigo” e o “novo”. Se o “antigo” reside uma parcela importante da memória social e da identidade cultural dos habitantes da cidade, desconsiderar a questão do patrimônio histórico-ambiental urbano é exilar o cidadão, alijá-lo de seu próprio meio – fazer da cidade um ambiente hostil e estranho à maioria da população. (1992, p.21)

            Podemos atribuir à memória o poder de libertar ou aprisionar a consciência do homem. Como instrumento para a política, estabelece concepções, solidifica signos e significações, ao construir um sentimento de cidadania ou mesmo desconstruí-lo. Vejamos as palavras de Marilena Chauí:

A memória, seja como história da sociedade seja como crônica das classes sociais e de seus homens ilustres, tem papel de nos liberar do passado como fantasma, como fardo, como assombração e como repetição. (...) Uma compreensão política da memória é atenta à diferença temporal entre o passado e o presente, é atenta à diferença das memórias sociais que constituem o presente, é atenta à necessidade de liberar a memória e de explicitá-la para que o presente se compreenda a si mesma e possa construir/inventar o futuro. (Apud CABRAL, 2004, p.36)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Considerações Finais

 

           

            A educação patrimonial é um conjunto de ações com metodologia própria que promove o conhecimento sobre os bens culturais, permitindo o acesso direto às fontes, ou seja, aos objetos culturais, propiciando atitudes de preservação.

            Desta forma, trabalhar com a noção de memória seja ela individual ou coletiva da comunidade, conexão que serão estabelecidas durante as visitas aos roteiros será uma grande contribuição para reconstrução da história social da cidade. Contudo, a construção da identidade patrimonial e a composição da memória dos alunos na escola, e o primordial objetivo do projeto. Compreender como os alunos elegem, “guardam” do passado (sendo tão Jovens), e despertar a importância da identidade do bairro em que estão inseridos, é essencial. Um dos objetivos da Educação Patrimonial é envolver a comunidade e seus indivíduos no gerenciamento do patrimônio, pois somente quando se sente parte integrante de uma cidade ou comunidade é que o indivíduo irá valorizar e preservar as suas referências culturais. Nesse sentido, a Educação Patrimonial passa a ser um instrumento de prática da cidadania e, concomitantemente, de resgate da identidade e dignidade local dos grupos culturais. A Educação Patrimonial é de significativa importância para os membros de cidades com um reconhecido valor artístico e cultural.

            Com a articulação do patrimônio memorial com ações educacionais, pretendemos compreender as diversas vozes sociais e suas memórias, com o intuito de legitimar identidades. Através do trabalho desses alunos, desejamos uma exposição de experiências de um imaginário popular que tentaremos decodificar e demonstrar para constitui um patrimônio cultural. Neste sentido, procuremos desenvolver com os alunos uma consciência patrimonial, que é um elemento fundamental para a manutenção/transformação de poderes, sendo essencial na constituição de uma prática cidadã efetiva.

            Portanto, desenvolver este projeto visando que os educadores e órgãos de proteção ao patrimônio e memória tenham a garantia, a identidade da população preservada e compreendida, evitando que os historiadores chamam de silêncios da história. Devemos salientar que a compreensão da memória é tão essencial para o homem, sem o referencial do passado nos sentimos pedidos e incompletos. Todavia, é um trabalho complexo, reconstruí-lo e mensurar qual sua importância, pois a memória é um movimento pendular que remete ao passado e projeta o futuro, portanto, é imprescindível promovê-la e fazer com que seja reconhecida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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