PROFESSOR COMO SUJEITO PESQUISADOR

Ludmilla Paniago Nogueira

Neide Figueiredo de Souza 

A relevância acadêmica e científica da pesquisa está na proposição de contribuir para compreender a construção da identidade do docente para o nosso tempo. Ainda a escola pode ser considerada um dos espaços privilegiados para a construção de conhecimento e de transformação de realidade. É nesse espaço que o/a docente forma e transforma sua identidade profissional e, de algum modo, igualmente sua identidade pessoal. Assim, a pesquisa pretende contribuir com o debate acerca da construção da identidade dos/das docentes diante dos desafios do mundo contemporâneos, sob o viés do compromisso social. A pesquisa pode contribuir com a problematização da formação da identidade docente em enfrentamento aos desafios que a sociedade contemporânea lega e aos reconhecimentos necessários que implicam no compromisso social docente

 

Realizando o caminho de aproximação da temática investigada no presente artigo a partir da leitura de teóricos que abordam o tema eleito. De início foi realizada uma primeira aproximação compreensiva; ao longo da leitura foram estabelecidos diálogos com outros/as pensadores/as que são referências para o assunto. Desde a primeira aproximação percebemos e com o aprofundamento da leitura confirmamos que a formação de professores é compreendida como construção, vir a ser, considerando as influências históricas e as transformações no tempo, ocasionadas pela relação com o mundo, com a sociedade e com outro.

Acerca do recorte metodológico da pesquisa, delineamos os caminhos que nos permitiram realizá-la cientificamente em atenção aos critérios da comunidade acadêmica, segundo o Programa de Educação da URI e das normas em vigência.

Sendo muitas as compreensões sobre pesquisa e seus métodos, de acordo com Lüdke e André (2014), é certo que toda pesquisa exige do pesquisador o confronto entre dados, evidências e informações produzidas sobre um determinado assunto e seu diálogo com o conhecimento teórico construído a respeito dele.  Esse movimento se faz, de acordo com as autoras, “[...] a partir do estudo de um problema, que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento.” (LÜDKE; ANDRÉ, 2014, p. 02).

Entendemos que esta investigação, assim como qualquer outra pesquisa, se orienta a partir de um campo teórico e metodológico e, como tal, requer orientação do início às considerações finais. Isso implica a identificação com um campo teórico, perpassando as concepções, um tipo de pesquisa, técnicas de produção, procedimentos de análise e interpretação de dados, de forma a compor o percurso da pesquisa na investigação de um determinado fenômeno.

Seguindo o caminho teórico e metodológico descrito por Gil (2010), em relação à natureza ou finalidade, esta pesquisa será básica. Em relação aos objetivos, será exploratória. Quanto ao método ou procedimentos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Para Gil (2010, p. 26), a pesquisa básica “reúne estudos que têm como propósito preencher uma lacuna do conhecimento”. Segundo o mesmo autor, a pesquisa bibliográfica tem como principal vantagem, a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. A pesquisa exploratória “têm como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.” (GIL, 2010, p. 27).

Segundo Prestes (2008, p. 26), a pesquisa bibliográfica “[...] se efetiva tentando-se resolver um problema ou adquirir conhecimentos a partir do emprego predominante de informações provenientes de material gráfico, sonoro ou informatizado”. Para tanto, nesse tipo de pesquisa se faz um levantamento dos temas abordados por estudiosos, assimilando e explorando os conceitos e demais elementos acerca do problema a ser investigado. No caso dessa pesquisa, ela investiga os saberes docentes, catalogados em bibliotecas virtuais, entre outras fontes, com a intenção de estudar os saberes requeridos pela identidade docente ante os desafios da educação contemporânea. De acordo com Prestes (2008, p. 26-27), a pesquisa bibliográfica atende aos objetivos da pesquisa,

 

[...] na construção de trabalhos inéditos que objetivarem rever, reanalisar, interpretar e criticar considerações teóricas ou paradigmas, ou ainda criar novas proposições na tentativa de explicar a compreensão de fenômenos relativos às mais diversas áreas do conhecimento.

 

Na construção de nosso aporte teórico consideram-se, somente, as publicações científicas que dizem respeito ao tema a ser explorado, disponível em distintas fontes, como periódicos, artigos, dissertações e teses – eletrônicos e/ou impressos.

Com vistas a atendermos a temática e os objetivos propostos para a pesquisa, o desenho metodológico dessa investigação compreende uma abordagem qualitativa, recorrendo a uma pesquisa descritiva. Toledo e Gonzaga (2011) definem pesquisa qualitativa como uma “expressão genérica”, que busca atividades de investigação com características/peculiaridades comuns. Triviños (1987) afirma que a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave. Na pesquisa descritiva os/as pesquisadores/as se preocupam com o processo e não somente com os resultados e o produto, e tendem a analisar seus dados indutivamente – a partir da literatura; por fim, o significado é a preocupação essencial.

Além dessas características, a pesquisa qualitativa não segue uma sequência rígida nas etapas de desenvolvimento da investigação, devendo o/a pesquisador/a iniciá-la, “apoiado numa fundamentação teórica geral, numa revisão aprofundada da literatura em torno do tópico em discussão”, como afirmam Toledo e Gonzaga (2011, p. 130). A pesquisa descritiva destina-se a descrever um determinado fenômeno ou objeto mais conhecido. Está direcionada, segundo Toledo e Gonzaga (2011), a sistematizar dados sobre fatos e fenômenos já estudados, e trata principalmente de temas de ordem social, como os fenômenos educacionais.

Conforme mencionado, esta pesquisa classifica-se como básica. Quanto à tipologia, a pesquisa é bibliográfica. Esta, segundo Gil (2007, p. 17) “é desenvolvida mediante o concurso de conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos”. A pesquisa bibliográfica é feita a partir de bibliografia variada (publicada), e engloba: livros, revistas, jornais, publicações técnicas, dentre outras fontes escritas. Toledo e Gonzaga (2011, p. 89) advertem que “a qualidade da pesquisa não depende apenas dos procedimentos técnicos, mas, abarca outros fatores, tais como o conhecimento que o/a pesquisador/a já dispõe e as possibilidades de análise que são próprias do objeto de estudo”.

A leitura inicial do material bibliográfico, segundo Toledo e Gonzaga (2011, p. 93) é muito importante, devendo ser compromissada e focada na compreensão e resolução do problema. Ressaltam a necessidade de realizar “análises de cunho textual, temática e interpretativa. A análise textual deve iniciar o processo, incitando o/a pesquisador/a a conhecer as características da sua fonte, iniciando a familiarização com a obra”, ao que se denomina leitura exploratória. Acrescentam que “Atualmente, com os avanços tecnológicos, tem se popularizado o uso de sistemas informatizados, como banco de dados e o/a pesquisador/a realiza a ordenação dos textos em arquivos que são armazenados em meios digitais, como pendrives [...]”. (TOLEDO; GONZAGA, 2011, p. 94).

Assim, esta pesquisa bibliográfica foi elaborada com base no material de domínio público, por meio de livros, artigos, revistas, teses, dissertações, materiais disponíveis em meios digitais e físicos. Portanto, através da revisão de literatura, fizemos a seleção cuidadosa dos/as autores/as que trabalham especificamente com a temática dos saberes e da identidade docente. Por fim, após a análise exploratória/textual e a análise da temática, partimos para uma leitura interpretativa dos saberes requeridos pela identidade docente ante os desafios da educação contemporânea.

Conforme mencionado, realizamos uma busca utilizando as palavras-chaves - saberes docentes, identidade docente - em bibliotecas virtuais. Coletado o material, passamos à análise e seleção daqueles que são parte de nosso trabalho. Para coleta de dados de uma pesquisa bibliográfica utilizamos a técnica de fichamento, no qual se destaca: a referência - autoria/fonte -, as palavras-chave, os objetivos, os principais resultados, seguidos de comentários.

Após a coleta dos dados, os mesmos foram organizados por categoria de análise visando alcançar aos objetivos propostos.  Foram consideradas as seguintes categorias: identidade docente; conhecimentos e saberes docentes; saberes docentes na contemporaneidade – que serão discutidos ao longo da dissertação. Em uma pesquisa qualitativa, a análise inicia-se juntamente com a produção dos dados. Por essa característica, não tem como separar análise e interpretação.

De acordo com Toledo e Gonzaga (2011), a análise qualitativa trabalha com significados, valores, crenças, com as particularidades e não se preocupa com a quantificação. As informações coletadas interpretadas de maneira ampla, não se restringem apenas ao significado imediato do dado objetivo. Sendo uma pesquisa qualitativa descritiva, serve-se preferencialmente de informações descritivas para interpretar o fenômeno estudado, pois o vê num determinado contexto.  A forma de análise qualitativa sugere dividir o texto em partes, isolar as variáveis significativas para a pesquisa e sintetizar as variáveis em unidades de análise. Assim, as categorias de análise - variáveis - serão: identidade docente; conhecimentos e saberes docentes; saberes docentes na contemporaneidade.

O estudo que se apresenta é atual e importante, pois, sabemos que não basta apenas a formação inicial para o exercício da docência. A compreensão profunda do processo de (re)construção do conhecimento pedagógico também é relevante, pois, se constitui em um fator determinante na contemporaneidade. Destaca-se a necessidade dos/as professores/as em aprimorar suas habilidades e competências, que se constituem como referências para a qualidade do seu desempenho profissional. Embora, saibamos que essa formação é complexa e implica em plurais interferências de ordem pessoal, mas também, sócio-cultural.

A educação não é estática, tampouco as aprendizagens acerca do exercício da profissão. Nesse contexto, Durand (1998), apresenta três dimensões requeridas para o exercício da docência: conhecimentos (saber o que fazer); habilidades (saber como fazer) e atitudes (querer fazer), englobando aspectos cognitivos, técnicos, sociais e afetivos relacionados ao trabalho. Esses aspectos da profissão docente estão presentes em documentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997) e Base Nacional Comum Curricular – BNCC. (BRASIL, 2017).

Reportando-nos à justificativa e contextualização da investigação, entendemos que os/as professores/as possuem identidades próprias, personalidades características pelo exercício docente e, também, pelas construções das identidades pessoais e subjetividades. A discussão da identidade profissional contribui no sentido de compreender que atuar na docência demanda dos/das professores/as características/exigências específicas com atributos que anunciam o seu modo de ser e fazer profissional.

 

  REFERÊNCAIS

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017.

DURAND, Thomas. Estratégias para inovação: análise de competências na avaliação de mudanças estratégicas. In: Saches, Ron; Heene, Aimé. Competence-based strategic management. Chichester. Inglaterra: John Wiley & Sons, 1998. Tradução: Professora Simoni.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2010.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli A. S. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 15ª ed. São Paulo: EPU, 2014.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento aos textos, da escola à academia. 3. ed. 1. reimp. São Paulo: Rêspel, 2008.

TOLEDO, Cézar de Alencar Arnaut; GONZAGA, Maria Teresa Claro Gonzaga (org.). Metodologia e técnicas de pesquisa: nas áreas de Ciências Humanas. Maringá - PR: Eduem, 2011.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.