A maioria de nós tende a procurar corresponder a expectativas a nosso respeito e, se são boas, isso traz vantagens inegáveis, mesmo quando aparentemente simples, como “fulano dança bem”, ou “cicrano é pontual”. A pessoa elogiada por suas habilidades de dança se sentirá à vontade para dançar, e dançará melhor, aquela que foi valorizada pela pontualidade terá mais estímulo para a disciplina nos horários. O importante é o reforço positivo -quem se sente observado de um ponto de vista favorável,busca merecer essa condição.

Infelizmente, as más expectativas também costumam ter influência – e, normalmente, muito destrutiva. Encontramos com frequência nas escolas, de todos os níveis, alunos cuja trajetória pessoal e acadêmica foi visivelmente influenciada por más “profecias” de professores, colegas, pais e outros. Quando escutam, de pessoas a que dão importância, ainda que na timidez normal de crianças e adolescentes não demonstrem, vereditos negativos e inapeláveis acerca de seu comportamento, resultados escolares, vestimenta, higiene, aparência, muitos jovens tendem a aceitá-los como uma condenação, algo de que não se pode escapar. Ouvindo frases como “você é burro”, “já se vê que não vai dar em nada”, “é preguiçoso”, passam a ter baixo autorrespeito, e agir como se autorizados a desistir de realizar esforços para um bom desempenho.

Os resultados podem comprometer irremediavelmente suas vidas, vinculando-os a autoimagens impostas de fora e, normalmente, com a boa intenção, na visão de quem a tem, de corrigir erros de conduta por meio da simples crítica. Uma personalidade em formação é susceptível ao seu ambiente, às condições de desenvolvimento ou, pelo contrário, de fenecimento. A condenação sumária do comportamento juvenil, atribuindo sentenças definitivas a procedimentos, muitas vezes eventuais ou típicos da faixa etária, pode significar um destino a ser cumprido.

O mecanismo da frustração é complexo. Quando algo que se quer muito não se realiza, tende-se a procurar culpados ou responsáveis fora do âmbito real dos fatos; assim, a derrota no futebol deve-se à má arbitragem, o malogro de uma ambição profissional é debitado à perseguição e inveja de outrem, um desentendimento amoroso é sempre culpa do parceiro. E, com a dificuldade em aceitar com normalidade o suposto fracasso de crianças e jovens em quem se deposita esperanças, tornam-se comuns as cobranças um tanto exageradas envolvendo juízos pessoais, que podem ser injustos - embora isso, paradoxalmente, possa até ser uma manifestação de amor daquele que cobra, decorrente de sua incapacidade de aceitar uma imperfeição que vê em si mesmo, mas que gostaria de ver superada em quem ama.

Mesmo assim, a acusação funciona como uma imposição. Exatamente para aceitar o dito, o jovem vai tentar adaptar-se a este veredito, tornando-se aquele que foi previsto pelo pai ou professor.O problema não é exatamente baixar a autoestima de outrem, mas sim de instigá-lo a cumprir tal desígnio, tornando-se aquilo pelo qual é definido. Uma das funções da educação é exatamente despertar e estimular o que de melhor possamos oferecer ao mundo, nossas melhores qualidades e talentos, bons prognósticos para maiores chances de bons resultados.

 

* Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.