Problema

 

O problema do problema não está na ausência da solução, mas no caminho para se fazer a resolução. É o caminho da resolução que permite chegar à solução. Por quê?

Primeiro porque nem todo problema tem solução. Qual a solução para o problema do sentido da existência? Ou, dizendo de outra forma: a vida tem sentido?

Para resolver esse problema temos que analisar nossa vida. O que fazemos todos os dias? Levantamos, normalmente, de manhã. Preparamo-nos e nos lançamos em um dia de trabalho. No final do dia, cansados, queremos o descanso porque sabemos que no dia seguinte repetiremos a mesma operação. É aí que nasce a indagação: qual o sentido disso?

Essa é uma das dimensões do problema do sentido da existência. E a existência, dessa forma ou encarada dessa forma, não tem sentido. Por isso o problema do sentido da existência é que a existência não tem sentido. Mesmo assim, existimos! Então precisamos dar ou criar um sentido para ela.

Segundo porque uma solução pode ser problemática. Ao problema do sentido da existência (a falta de sentido para a vida) criamos um sentido; damos uma resposta. Ou seja, solucionamos esse problema dizendo que o sentido de nossa vida é, por exemplo, nossa família. Dessa forma nos dedicamos ao trabalho e, cada dia mais, nos empenhamos em trabalhar mais para dar melhores condições de vida à nossa família. Mas aí constatamos: estamos nos matando no trabalho e não estamos tendo tempo para viver nem para conviver com a família que é o sentido de nossa existência ou, neste caso, o sentido do trabalho que está dando sentido à nossa existência. Com isso, aquilo que dá sentido à nossa vida acaba nos tirando a vida ou tirando de nós a capacidade e as condições de experimentar, viver, conviver com aqueles que são o sentido de nossa existência, ou que lhe dão sentido.

Terceiro porque cada resolução pode propor novos ângulos para o problema ou recolocar o problema a partir de outras questões. O sentido da existência sendo a família e a ligação com a família exigindo dedicação ao trabalho, o trabalho deixa de ser um sacrifício para ser algo feito não por obrigação, mas por sublimação. A finalidade do trabalho não é o trabalho, mas aqueles pelos quais trabalhamos. A dedicação ao trabalho acaba sendo um meio de tornarmos sublime algo penoso em razão da dedicação à família. Com isso o sentido da existência que havia sido colocado como sendo a família, acaba sendo, também o trabalho. Por isso o trabalho ganha novo sentido e significado. Deixa de ser um fardo a ser conduzido para se converter em uma ponte pela qual transitamos não mais de um ambiente a outro, mas de um espaço de realização (a família) para outro (o trabalho).

O que fazer ou como proceder quando nos cansamos do trabalho ou quando a família se torna um peso? Talvez você possa dizer que “isso não acontece comigo”, mas existem situações dessa natureza: existem pessoas que vivem maldizendo seu trabalho e pessoas que sonham com o dia em que se livrarão de suas famílias. Para esses, qual o sentido da vida?

Portanto a solução do problema nem sempre é uma solução universal. E se essa solução não se universaliza, para os problemas daquela natureza, não podem ser apontados como solução do problema. Podem ser apontados como solução para o meu problema, mas não como solução da essência desse problema.

E com isso voltamos a nos colocar a afirmação inicial: O problema do problema não está na ausência da solução, mas no caminho a ser trilhado na construção da resolução. É o caminho da resolução que permite chegar à solução. Coloquemos a questão de outra forma: em que consiste isso que chamamos de problema? Qual a natureza do problema? Ou seja, o problema é o processo, por isso, se faz necessário saber qual o caminho da resolução.

Entenderemos melhor isso quando entendermos a palavra em seu sentido literal. O prefixo “Pro”, indica a ideia de ir adiante, seguir em frente. Indica a ideia de movimento. Daí, por exemplo, a palavra “Progresso”. E o complemento vem de “ballein”, que em grego indica a ideia de lançar, colocar. Também indica a ideia de movimento. Daí a palavra “balística” que, na física, se refere ao movimento de um corpo no ar.

Então, o que é o problema. Algo que nos arremete para a frente. Nesta concepção o problema passa a ser um propulsor, não só do ponto de vista de sua etimologia, como também do ponto de vista da situação existencial de quem está com o problema. O fato de se ter ou de se estar numa situação-problema indica a necessidade de solução. E o processo de resolução é um processo propulsor, que obriga a sair da situação problemática na busca da situação de conforto. O desconforto do problema obriga a buscar o conforto da solução. Embora o processo da resolução possa até ser mais dolorido que o próprio problema. Daí que a busca da solução, o caminho, é o problema do problema. Daí a afirmação inicial, de que o o problema não é o problema, mas sim o processo, o caminho.

O problema pede solução que gera a busca. Entretanto o medo da procura e o próprio processo pode ser dolorido por isso problemático. Mas o fato é que o problema, por ser situação desconfortável, exige o processo. Por isso que o problema do problema está no caminho, o processo. Esse processo impulsiona, produz a desacomodação e leva à solução.

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO