PREPARO DE ADUBOS LÍQUIDOS UTILIZANDO RESÍDUOS ORGÂNICOS

 

1.INTRODUÇÃO

Atualmente, o padrão de produção de alimentos no mundo, baseia-se na utilização intensiva de insumos químicos (fertilizantes e defensivos agrícolas), uso de mecanização pesada e melhoramento genético, tendo em vista a obtenção de produtividade máxima, porém demandando um grande consumo de energia não renovável, proveniente especialmente dos combustíveis fósseis.

Atualmente esse padrão de produção de alimento vem sendo questionado no mundo devido aos altos custos ambientais, econômicos e sociais e a contaminação dos alimentos produzidos com alta carga de resíduos tóxicos, provenientes do excesso de aplicação de agroquímicos. Portanto, reduzir a dependência desses insumos é uma medida que representa não somente economia para o produtor, mas, também redução de riscos para o meio ambiente e a própria saúde do consumidor.

Diante dessa perspectiva de priorização dos recursos naturais, redução de custos de produção e segurança alimentar, muitos produtores tem se organizado no mundo inteiro, apresentando como alternativa viável o cultivo orgânico, reciclando resíduos orgânicos vegetais, animais, adotando práticas de Manejo Ecológico Integrado de Pragas e Doenças, mantendo o seu crescimento dentro dos limites abaixo dos níveis de danos econômicos.

Uma alternativa interessante seria a utilização do lixo orgânico e dos estercos, fermentados de forma aeróbia através de compostagem, ou anaeróbia por biodigestão, visando a reciclagem e aplicação desses resíduos, sólidos, líquidos ou pastosos, diretamente no solo ou via foliar suprindo assim, grande parte das necessidades nutricionais das plantas, melhorando a qualidade dos alimentos, reduzindo custos e a dependência de importação de fertilizantes minerais dos quais o Brasil é dependente.

O Brasil produz 241.614 toneladas de lixo por dia, onde 76% são depositados a céu aberto, em lixões, 13% são depositados em aterros controlados, 10% em usinas de reciclagem e 0,1% são incinerados. Do total do lixo urbano, 60% são formados por resíduos orgânicos que podem se transformar em excelentes fontes de nutrientes para as plantas.

Essa tecnologia de baixo custo pode ser produzida na própria fazenda pelo produtor, utilizando os recursos locais disponíveis e contribuindo para melhoria da qualidade dos alimentos e saúde dos consumidores.

 

2. O QUE SÃO BIOFERTILIZANTES LÍQUIDOS?

Os biofertilizantes são compostos bioativos, resultantes da biodigestão ou fermentação aeróbica ou anaeróbica de compostos orgânicos de origem animal ou vegetal em meio aquoso, que liberam nutrientes e metabólitos importantes para o crescimento e desenvolvimento das plantas.

A digestão dos resíduos orgânicos pode ser realizada por bactérias aeróbias ou anaeróbias, ou seja, na presença ou ausência de oxigênio. Na digestão anaeróbia há maior retenção de nitrogênio do que na decomposição aeróbia, no processo de compostagem. Isto ocorre pelo fato das bactérias anaeróbias utilizarem pequena quantidade de nitrogênio dos resíduos vegetais e animais para sintetizarem proteínas.

A digestão aeróbia requer maiores cuidados no processo de fermentação, pois exigem revolvimento constante para evitar odores desagradáveis.

A biodigestão de resíduos orgânicos, tanto aeróbia, quanto anaeróbia é feita por microorganismos diversos, liberando durante o processo, minerais (Nitrogênio, Fósforo, Potássio, Cálcio, etc.) e metabólitos constituídos de proteínas, enzimas, antibióticos, vitaminas, fenóis, ácidos, inclusive de ação fitohormonal (Santos e Akiba, 1996).

 

3. IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DE BIOFERTILIZANTES ORGÂNICOS

  • Fornecem os nutrientes que as plantas precisam para o seu crescimento e desenvolvimento.
  • Contém substâncias com potencial de funcionar como defensivos naturais no controle de doenças das plantas e como repelentes de pragas.
  • Estimulam o florescimento e o enraizamento em algumas plantas cultivadas, possivelmente pelos hormônios vegetais nela presentes.
  • Aumentam a produção e qualidade dos alimentos.

4. COMO PREPARAR O BIOFERTILIZANTE

Existem vários tipos de biofertilizantes, alguns mais simples outros mais complexos contendo uma misturar de fertilizantes solúveis, especialmente os micronutrientes. Os mais comuns são: Vairo, Agrobom, Agrobio, Supermagro e Fermentado Biológico.

Para preparação dos biofertilizantes são utilizados quatro grupos de ingredientes básicos: o componente orgânico (estercos frescos, frutas e/ou plantas, lixo), o componente mineral (água não clorada, fosfato de rocha, cinzas, calcário, farinha de ossos e micronutrientes) e o inoculante (leite, soro de leite sem sal e/ou um pé-de-cuba, material inoculante, utilizado para iniciar um processo de fermentação). Alguns biofertilizantes contêm energéticos, açúcar ou melado para aumentar a fermentação.

O biofertilizante mais utilizado e simples de ser feito é do tipo Vairo, o qual utiliza esterco fresco de vacas leiteiras que recebem dieta balanceada e que contém uma grande variedade de microorganismos, o que acelera a decomposição (Santos & Akiba, 1996; Vairo dos Santos, 1992).

O biofertilizante pode também ser preparado de forma anaeróbica, ou seja, sem a presença de oxigênio. Para a elaboração desse biofertilizante é necessário utilizar um tonel com tampa de rosca bem vedada, para evitar a entrada de oxigênio. Entretanto, em função da produção de gás metano durante a fermentação, é indispensável à colocação de um respiro, que pode ser feito com uma mangueira, onde uma extremidade fica acoplada na tampa do tonel e a outra é colocada num recipiente com água (tipo garrfa PET).

 

Materiais para construção do biodigestor:

- Um tambor ou tonel plástico de 200 litros; dois metros de mangueira de ½”; Um balde ou garrafa de plástico; válvula hidráulica.

Ingredientes para serem colocados em um tambor de capacidade de 200 litros:

  • Misturar o esterco e a água na bombona (processo anaeróbico). Aplicar os aditivos a partir da segunda semana, a cada 3 ou 4 dias. Depois completar o tambor deixando um espaço superior de 10 cm.

Tabela 1. Aditivos: IAPAR, no. 2001/1, modificado

1

Esterco fresco de bovinos

80 L

Em 8 aplicações temos:

2

Água

80 L

3

Soro ou leite

22 L

4

Melaço ou açúcar

3 kg

1 (*)

Ácido bórico

1,2 kg

150 g

2

Sulfato de zinco

1,6 kg

200 g

3

Sulfato de cobre

240 g

30 g

4

Fosfato de rocha natural

2,4 g

300 g

5

Calcário dolomítico

2 kg

250

6

Gesso agrícola

500 g

63 g

7

Farinha de ossos

2,4 kg

300 g

8

Cinzas

300 g

36 g

9

Cloreto de cálcio

850 g

106 g

10

Termofosfato magnesiano

143 g

18 g

11

Molibdato de sódio

30 g

3,75 g

12

Sulfato de manganês

240 g

30 g

13

Sulfato de magnésio

1 kg

130 g

  1. EM QUANTO TEMPO O BIOFERTILIZANTE ESTARÁ PRONTO?

Normalmente o biofertilizante ficará pronto de 30 a 40 dias, quando então, parar de sair borbulhas de gás na garrafa. Mas isto vai depender da temperatura do ambiente em que ele for preparado. No nordeste brasileiro pode ficar pronto em 15 ou 20 dias, já no inverno sulino pode demorar de 80 a 100 dias.  

Uma boa dica para verificar se o biofertilizante está pronto é abrir o tonel e observar se a superfície reflete, como um espelho; neste caso o biofertilizante já está pronto. O odor também é um bom indicador. Os biofertilizantes à base de esterco e de plantas tendem a perder o cheiro forte durante a fermentação.

Para separação da parte ainda sólida do produto, utiliza-se peneiramento e coagem. Após a fermentação (aproximadamente 30 dias), pode-se separar o líquido com uma peneira ou pano de tecido para utilização (Figura 2).

 

6. FORMAS DE APLICAÇÃO E DOSAGENS

Os biofertilizantes prontos podem ser aplicados diretamente na planta, via foliar ou no solo. Em aplicação foliar é recomendado à diluição em água numa proporção de 1,0 a 10%, dependendo do tipo de cultura. Para horta, se forem plantas de folhas mais macias (alface, almeirão), usar a concentração de até 3%, concentrações maiores podem ser uilizadas para plantas perenes.

Como defensivo utiliza-se em concentração de até 50% em diluição em água, para inibição de doenças de plantas, se o produto preparado for preparado apenas com estercos frescos, caso sejam acrescentados fertilizantes minerais poderá ocorrer queima das folhas. Pode ser utilizado puro em estacas, colmos e sementes como estimulante ao enraizamento, brotação ou germinação.

No solo são utilizados em concentrações superiores a 20% ou até puro, dependendo da disponibilidade do do biofertilizante, da cultura, do tipo de solo em quantidades que variam de 0,5 a 0,75 L m-2 (5.000 a 7.500 litros por hectare). A parte sólida poderá ser incorporada ao solo de acordo com a disponibilidade em doses de 3 a 4 Kg/m2 de canteiro.

 

Orientador: Prof. Antonio Anicete de Lima

Monitores: Camila Gomes Silva, Dionei Ribeiro e André Rafael Snagalli.

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

 

OLIVEIRA, A.M.G.; AQUINO, A.M de; CASTRO NETO, M.T. de. Compostagem caseira de lixo orgânico doméstico. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, 2005. (Circular Técnica, 76).

SANTOS, A. C.; AKIBA, F. Biofertilizantes líquidos: uso correto na agricultura alternativa. Seropédica: Imprensa Universitária/UFRRJ. 1996. 35p.

VAIRO DOS SANTOS, A. C. Biofertilizante líquido: o defensivo agrícola da natureza. 2 ed. rev. Niterói: EMATER-RJ, 1992. 16 p. (Agropecuária Fluminense, 8).